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1.2 As Teorias Modernas da Comunicação Social

1.2.6 A Teoria Crítica ou Escola de Frankfurt

A Filosofia e a Sociologia começaram a estudar a Comunicação como um fenômeno humano, mas com o tempo surgiram teorias próprias. Dentre elas encontra-se a chamada Teoria Crítica. O grupo de pensadores, formado por sociólogos, economistas, pesquisadores nas áreas das ciências sociais e políticas, fundndo, em 1923, o Instituto de Pesquisas Sociais (Institut für Sozialforschung) na cidade alemã de Frankfurt. O grupo dispersou-se em função do nazismo em 1933 e voltou a reunir-se em 1950. Neste período, seus integrantes imigraram para a França e Estados Unidos da América, fixando-se, a maioria deles, no Institute of

Social Research. A Escola de Frankfurt foi descoberta no Brasil através dos Estados

Unidos, a primeira obra a ser traduzida para o português era norte-americana e não alemã.

A Escola de Frankfurt buscou desde o seu início consolidar uma postura crítica em relação à ciência e à cultura, propondo uma reorganização política da

39 WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Coleção leitura e crítica, p. 57.

sociedade, baseada na razão, mas não na razão instrumental vigente, que fragmenta o conhecimento humano e a visão social de mundo. “(...) toda ciência social que se reduz a mera técnica de pesquisa, de seleção, de classificação de dados ‘objetivos’ impede a si mesma a possibilidade da verdade, uma vez que ignora programaticamente as próprias mediações sociais”40. A Teoria Crítica propõe uma nova razão, uma teoria da sociedade que implique uma avaliação crítica da própria construção científica.

A Escola aponta como responsável pela separação e oposição entre indivíduo e sociedade, a divisão de classes. Elabora a partir deste posicionamento uma teoria originária de uma abordagem marxista, que considera a organização da sociedade como modo de produção econômica (que determina a ideologia, os modos de ver a realidade). O Marxismo tem uma perspectiva dialética, fazendo com que diferentes pensamentos se tencionem entre si.

Alguns teóricos se destacaram nesta Escola com relação à comunicação, ao pensar a estrutura social em razão de sua produção simbólica: Walter Benjamin, Max Horkheimer, Theodor Adorno, Jürgen Habermas, Herbert Marcuse. A expressão

cultura de massa, muito usada nas décadas de 30 e 40, foi substituída pelo termo Indústria Cultural, com o objetivo de eliminar a interpretação usual de que a cultura

nasce espontaneamente das próprias massas. No campo da cultura falava-se em

popular art, popular culture, mass culture. Estes seriam termos falsos, não haveria

cultura popular. Ela é produzida por poucos e consumida pelas massas. Isso é forma de dominação. Os meios de comunicação de massa constituem a Indústria Cultural,

40 WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Coleção leitura e crítica. p. 74.

formam um sistema onde cada setor mantém congruência com os demais e com o todo.

A comunicação é uma prática humana simbólica mediadora da sociedade e deve ser compreendida dentro de determinados contextos históricos. A visão dialética da história, se encontra em constante movimento, em virtude dos tensionamentos entre tese e antítese que geram síntese. A comunicação está vinculada à linguagem, que é um veículo de ideologia, permitindo a constituição de discursos, e, ao mesmo tempo, explicando, justificando, legitimando a ideologia. As diferentes tecnologias também são produzidas dentro de determinados conceitos que afetam a comunicação.

No sistema da indústria cultural, o processo de trabalho integra cada elemento, ‘desde a trama do romance, que já tem em vista o filme, até o último efeito sonoro’ (...).

Evidentemente esse sistema condiciona por completo a forma e a função do processo de fruição e a qualidade do consumo, bem como a autonomia do consumidor. Cada uma dessas instâncias é englobada na produção.41

Walter Benjamin foi o autor mais divulgado, e um dos mais otimistas. Ele defende que a narrativa oral, verificada na televisão, no cinema e no rádio, é diferente da escrita, acrescenta mais informações, dá maior capacidade de interpretação ao receptor (através dos gestos, dos silêncios). Também mostra que a obra de arte, no princípio, era uma obra única, de difícil acesso para os indivíduos.

Mais tarde as obras tornaram-se monumentais, milhares de pessoas podiam ver, e em seguida, as obras adquiriram dimensões menores outra vez, mas que

41 WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Coleção leitura e crítica. p 76.

podiam ser reproduzidas, graças à evolução da tecnologia, alcançando mais consumidores. Mesmo assim, as obras monumentais não deixaram de existir. Continua-se usufruindo individualmente, mas com circulação mundial, sem perda de qualidade. Nesse sentido há uma popularização, uma democratização da arte. O melhor exemplo desta evolução seria o cinema. O filme é um produto coletivo, a obra de arte torna-se um processo, não há um único autor. A tecnologia é democratizadora.

Theodor Adorno e Max Horkheimer, principalmente, tinham uma visão muito crítica sobre todos os processos de industrialização e massificação. As tecnologias produzem os modos operacionais da classe dominante para ampliar seu poder social, são instrumentos de dominação e alienação. Com o cinema e a TV, o homem começa a ficar mecanizado, sem iniciativa. As obras massificadas, defendidas por Behjamin, não são as mesmas que seriem mostradas para um público restrito.

Esta Escola desperta-nos especial interesse por representar o ponto de partida na construção teórica de Jürgen Habermas, pensador que nos servirá de base na análise desenvolvida nesta dissertação. Foi ele o responsável por reunir e publicar os textos produzidos pelo grupo (final de 1964), e dá um “salto teórico” ao constituir a Teoria Comunicativa.

A Teoria da Razão Comunicativa, de Habermas, que veremos mais adiante, diz que é natural ao ser humano a comunicabilidade, as pessoas a buscam, querem estabelecer o diálogo. A Teoria da Ação Comunicativa pressupõe que se pode provocar determinados comportamentos nas pessoas.