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CAPÍTULO 3: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

4.5. Teoria sócio-cognitiva

A teoria sócio-cognitiva, inicialmente foi denominada como teoria da aprendizagem social. A sua renomeação, proposta por Bandura (1986), está relacionada com o aumen- to do destaque dado a fenómenos psicossociais. Estes vão para além dos aspectos tradi- cionais de aprendizagem e do condicionamento. Assim, um dos principais objectivos desta teoria é o estudo da influência do pensamento auto-referente no funcionamento humano (Lent, Brown & Hackett, 1994).

De acordo com a Teoria Sócio-Cognitiva, a pessoa é não só produto, mas também pro- dutor dos sistemas sociais. Em vez de atribuir um papel primordial a variáveis pessoais ou situacionais na determinação dos comportamentos, a teoria sócio-cognitiva defende um modelo de reciprocidade triádica, onde as variáveis pessoais (tais como estados

afectivos, cognitivos e atributos físicos), os factores ambientais externos e o comporta- mento, operam como determinantes interactivos, influenciando-se mutuamente (Bandu- ra, 1986, 1997).

Para Bandura (1986, 1997), um dos mecanismos pelos quais a pessoa exerce influência sobre as suas acções é através das crenças de auto-eficácia (conceito central nesta teo- ria). Estas são definidas como a confiança na capacidade pessoal para organizar e desenvolver/realizar certas acções, ou seja, as crenças de auto-eficácia são um ―julga- mento das próprias capacidades de executar cursos de acção exigidos para se atingir um certo grau de performance‖ (Bandura, 1986: 391), ou seja, trata-se de crenças pessoais acerca das capacidades para mobilizar a motivação, os recursos cognitivos e os cursos de acção necessários para se exercer controlo em acontecimentos que ocorrem ao longo de uma trajectória de vida (Wood & Bandura, 1989).

As crenças de auto-eficácia são muito importantes, uma vez que influenciam as escolhas das pessoas, a quantidade de esforço necessário à prossecução dos próprios objectivos, o tempo de que se dispõe face aos obstáculos encontrados e fracassos vividos, os padrões de pensamento de auto-impedimento ou de auto-suporte, assim como o nível de realização a alcançar.

A auto-eficácia compreende um conjunto dinâmico de crenças de capacidade, que são específicas de domínios de desempenho particulares e que interagem de uma forma complexa com outros factores pessoais, comportamentais e contextuais. Estas crenças são, então, construídas com base em informação multidimensional, ou seja, a partir do processamento cognitivo das referidas fontes de informação (Bandura, 1986). Deste modo, o efeito desta informação nas percepções de eficácia pessoal depende de como é cognitivamente processada, envolvendo dois aspectos distintos: por um lado, o tipo de informação a que se está atento e se utiliza como indicador de eficácia pessoal e, por outro, a informação tal como ela é entendida, depois de seleccionada, ponderada e inte- grada (Bandura, 1997).

Para que as crenças de auto-eficácia funcionem é necessário que as pessoas acreditem que podem obter os resultados desejados através do seu comportamento. Consequente- mente, as pessoas envolvem-se nas actividades que acreditam ser capazes de realizar e

sobre as quais prevêem alcançar resultados positivos. Isto porque, em termos gerais, não basta que o sujeito possua determinadas capacidades/competências. O necessário é que acredite que as possui. Por outro lado, porque se trata de capacidades direccionadas para o agir, significa que a pessoa possui a expectativa de ―eu posso fazer‖ … Por fim, há a componente de finalidade, uma vez que contempla as exigências de uma determinada situação que carecem de ser cumpridas. Sintetizando, os sujeitos com crenças de auto- -eficácia consideram, mentalmente, as suas potencialidades, o objectivo da situação e as acções que levam à concretização do objectivo.

Bandura (1997) refere que os tipos de resultados que as pessoas prevêem alcançar com o seu comportamento dependem daquilo que elas julgam ser capazes de fazer em determinadas situações. Aqueles que se julgam altamente eficazes irão esperar resulta- dos favoráveis, enquanto os indivíduos com baixa auto-eficácia esperarão desempenhos fracos e, consequentemente, resultados negativos. Assim, nas áreas nas quais o sujeito possui crenças de auto-eficácia mais favoráveis, tenderá a apresentar expectativas de resultado positivas e, desse modo, isso poderá influenciar os comportamentos apresen- tados ou ainda as escolhas consideradas pelo próprio como importantes.

Segundo Bandura (1981, 1986, 1995) são quatro as fontes de auto-eficácia: as expe- riências de mestria (experiência pessoal), a aprendizagem vicariante, a persuasão verbal e os indicadores fisiológicos.

Relativamente à experiência pessoal, o autor refere que há indicadores directos de com- petência por meio do sucesso na realização das acções, ou seja, consiste nas experiên- cias reais de êxito em actividades anteriores da mesma natureza. Tal sucesso propicia à pessoa informação importante de que possui as capacidades necessárias para enfrentar desafios idênticos. Assim, uma vez consolidadas as crenças de auto-eficácia, nem mes- mo fracassos que, ocasionalmente, ocorram são suficientes para alterá-las.

Por sua vez, a aprendizagem vicariante envolve a percepção de que, se as outras pessoas são capazes de realizar certas actividades, a pessoa em questão também poderá fazê-lo, desde que sinta que se encontra ao mesmo nível do sujeito observado, ou seja, pela observação de modelos que, em situações semelhantes, chegaram a êxito, a pessoa con- clui também ser capaz de realizar o mesmo.

Em relação à persuasão verbal a mesma ocorre por meio de ―feedbacks‖, podendo aju- dar a reforçar ou a enfraquecer a crença na capacidade pessoal, isto é, através da comu- nicação verbal, outras pessoas podem convencer alguém de que pode dar conta de determinada tarefa.

Por fim, os indicadores fisiológicos são os sinais físicos usados como meio para avaliar a capacidade ou incapacidade numa dada actividade como, por exemplo, um humor favorável ou alguma ansiedade. Assim, quando a pessoa se sente altamente ansiosa perante uma determinada tarefa, tal estado com os seus componentes psicofiológicos propicia informação de baixa capacidade. Por essa razão, caso a pessoa não supere essa condição emocional negativa, a previsão é de não envolvimento na actividade, por não acreditar ser capaz de cumpri-la.

De acordo com Bandura (1997), nenhuma dessas quatro fontes terá influência directa na formação das crenças de auto-eficácia, mas todas elas dependem ainda de um proces- samento cognitivo de interpretação e avaliação tanto das capacidades como da tarefa em questão. Por outras palavras, é a própria pessoa que pondera sobre as suas capacidades de exercer acções pertinentes na contingência de uma determinada tarefa, num certo contexto.

4.5.1. Motivação e auto-eficácia

De entre os factores que fazem parte dos mecanismos psicológicos da motivação encon- tram-se as crenças de auto-eficácia, as quais pertencem à classe das expectativas ― expectativas ligadas ao ―self‖.

De acordo com a teoria de Bandura (1986, 1989, 1993), os julgamentos de auto-eficácia de uma dada pessoa determinam o seu nível de motivação, ou seja, é em função dos julgamentos que faz, que a pessoa tem o incentivo para agir, imprimindo uma determi- nada direcção às suas acções. Se o sujeito possuir crenças de auto-eficácia bastante for- tes, o esforço estará presente desde o início e ao longo de todo o processo, mesmo que o sujeito se confronte com dificuldades. O sujeito está motivado! Consequentemente, nes- ta perspectiva, as crenças de auto-eficácia possuem uma força motivacional.

Esta força motivacional é extremamente importante em todos os ciclos de desenvolvi- mento do sujeito. Isto porque, no desenrolar das suas vidas, as pessoas continuam a pla- near, a reajustar as suas prioridades e a estruturar as suas vidas. Ao regularem o seu comportamento através das expectativas de sucesso, adoptam cursos de acção passíveis de produzir resultados positivos (Bandura, 2001). O autor acrescenta, ainda, que as pes- soas não só fazem escolhas e planos, mas também direccionam, de modo apropriado, os seus cursos de acção, motivando-os e regulando-os.

Ao estabelecer objectivos pessoais, o indivíduo organiza, orienta e sustenta o seu com- portamento, mesmo no decorrer do tempo, sem haver recompensas externas. Deste modo, o indivíduo está a ser agente (Lent, Brown & Hackett, 2002). Bandura (1986) indica que existe uma grande interacção e influência mútua entre as variáveis auto- -eficácia, expectativas de resultados e objectivos na auto-regulação do comportamento.

ESTUDO