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Capítulo II: Contributos Teóricos

2.3. Teoria Tripolar de Formação: Conceito de Gaston Pinau

Gaston Pineau elaborou a teoria tripolar da formação em 1989, identificando aqueles que considera serem os três pólos chave do processo formativo de cada pessoa: a autoformação (as aprendizagens que cada um adquire por si), a hetero-formação (em contacto com os outros) e a eco-formação (nos diversos contextos em que se insere).Estas três vertentes, interferem na formação como a transacção entre três pólos: a pessoa, os outros e as coisas, exercendo influência entre si.

31 Ludovina Pereira, 2009, ao abordar a Teoria Tripolar refere que Gaston Pineau foi inspirado em Rousseau que considera três mestres fundamentais na educação, a própria pessoa, os outros e as coisas, Pineau concebe três pólos, indivíduo, sociedade e meio, que se articulam e interagem entre si, estabelecendo transacções. Estas transacções e interacções ocorrem a todos os níveis do sujeito, físico, psicológico e social, articulam todas as suas dimensões, o formal e o informal, o social e o pessoal e, graças às suas várias facetas, afectivas, emocionais, relacionais, intelectuais e outras, desdobra-se devido aos olhares que cada uma delas suscita.

A mesma autora prossegue expondo os princípios da teoria tripolar referindo que o sujeito experimenta-se e constrói a sua identidade, ao longo da vida, na busca constante de si próprio, plenamente capaz de realizar a sua auto-formação Este processo, para Pineau (1991), constitui a “apropriação completa do poder da própria

formação” (Couceiro, 2000, p.92 cit. in Pereira, 2009), isto é, o sujeito apreende,

transforma, elabora sentidos e integra em si “aquilo que é objecto exterior” (Couceiro, 2000, p.92 cit. in Pereira, 2009).

Dias (2009 p.36), indica que o processo de autoformação constitui um “processo de autoconstrução da pessoa ao longo da vida” (Canário, 1998a, p.3), no qual o indivíduo reflecte sobre as experiência e os conhecimentos já adquiridos no sentido de se reapropriar da sua experiência de vida. Este pólo está relacionado com o desenvolvimento da pessoa de si para si, no qual o indivíduo se confronta consigo mesmo, tornando-se sujeito e objecto de si próprio (Januário, 2006).

O pólo referente à heteroformação corresponde à interacção social em que a pessoa é Influenciada pelos outros, podendo ocorrer em qualquer dos contextos sociais em que o sujeito interage com os outros (situações de trabalho, contexto familiar, escolar e/ou social). O poder dos outros sobre o sujeito é evidenciado e é ao outro que é atribuído o poder da formação. No pólo referente à ecoformação, a pessoa é influenciada pelo contexto ou ambiente em que vive, atribuindo-lhes um sentido que transforma essa relação de utilidade numa relação de conhecimento.

32 De referir que a relação que estabelece com os outros, pela multiplicidade e variedade de experiências que oferece, constitui um enorme potencial formativo e oportunidades para a apropriação e desapropriação do seu poder de formação.

Embora as relações sociais tendam a ser determinadas por lógicas do poder que procuram moldar as formas de ser, estar e agir dos indivíduos, as dinâmicas que se estabelecem entre os três pólos, auto, hetero e eco, possibilitam sempre a transformação dos contextos. Em suma, o adulto é um ser com especificidades próprias, independente, autónomo, produto da sua experiência, capaz de investir na aprendizagem que conduza a resolução de problemas do seu interesse, com capacidade retrospectiva e prospectiva, capaz de fazer emergir o seu passado, tomando como referência a sua história de vida. O seu desenvolvimento é possível pela aprendizagem, um processo que lhe permite a auto-realização e a construção da sua identidade, através de experiências com sentido, isto é, todas aquelas que constituem problemas que pretende resolver e em cuja solução se implica holisticamente, em interacção com o contexto social e relacional. (Pereira, 2009, p.11)

Segundo Moraes (2007), ao reflectir sobre o modelo de Pineau, nos processos formativos, nenhum dos pólos deve ter prioridade em detrimento do outro. Mas a sua dinâmica tripolar, de natureza complexa, é que deve ser estudada ao longo da vida do adulto. Há períodos em que uma dimensão prevalece sobre a outra. Isto depende do momento existencial de cada um, das condições em que se encontra e das oportunidades oferecidas.

Pinau (1997) cit. in Januário (2006 p. 68), refere que o reconhecimento de adquiridos não formais, suporta-se em duas ideias simples, por um lado, os saberes são adquiridos fora da escola, na vida, em acção, pela experiência, por outro esses adquiridos necessitam de ser reconhecidos em contexto de formação ou de trabalho. As necessidades em termos de conhecimentos na sociedade que é hoje são de tal forma que, qualquer que seja a sua origem, não pode ser negligenciada.

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Conclusão do Capítulo

Enquanto “construção social, que se reveste de significados cultural e socialmente

construídos”, o conceito de competência põe em evidência dois conceitos partilhados

com o campo da educação: autonomia e responsabilidade. (Pires, 2002 cit. in Januário, 2006)

Mas competência é também um conceito polissémico. Utilizado em várias disciplinas, cruza práticas e teorias e serve uma multiplicidade de contextos. Compreendido, muitas vezes, como capacidade, aptidão, faculdade, conhecimento, ou ainda skill, nenhuma destas noções lhe serve como sinónimo, embora todas se encontrem presentes no conceito de competência. Nas várias noções aqui expressas estão presentes vários domínios: cognitivo, afectivo, ético, psicomotor, emotivo, de personalidade, enfim, tantas quantas as dimensões do sujeito A reflexão sobre si- mesmo, a acção sobre o meio e a interacção com os outros enquadram-se numa linha de pensamento idêntica à defendida por Pineau, na Teoria Tripolar da Formação. (Ludovina Pereira, 2009)

Os processos de aprendizagem de adultos, são vistos como estando em articulação com o desenvolvimento pessoal, com a motivação e a centralidade no sujeito ao longo do processo de aprendizagem. É um processo abrangente, pois envolve a pessoa em todas as suas dimensões, tornando-se catalisador de uma transformação social.

É atribuído um papel activo ao adulto na sua própria formação. As noções de escolha, autonomia, responsabilidade do adulto na condução das suas aprendizagens aparecem como base de uma ética de educação permanente em construção (Januário, 2006, p.29).

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Capítulo III: Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de