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Terapêutico ou Pedagógico?

5. Aspectos Éticos da Pesquisa

2.3 Terapêutico ou Pedagógico?

Os anos 1980 "criou uma cisão histórica no Psicodrama" (E1) que separou a formação terapêutica da pedagógica. Para nosso especialista E1, separar os dois criou uma ruptura no Psicodrama, estabelecendo uma hierarquia entre as duas áreas, com prevalência no terapêutico. Essa opinião é compartilhada na literatura por Bareicha (1999), que afirma que "particularmente não concordamos com as nomenclaturas "psicodrama terapêutico" e "psicodrama pedagógico", que classicamente diferenciam suas utilizações. O psicodrama, como o entendemos, é sempre terapêutico, artístico e educativo" (p. 133). Atualmente a terminologia “pedagógico” foi substituída por socioeducacional. Em 2002 a nomenclatura de pedagógico mudou para socioeducacional.

Há quem diga que o terapêutico é mais profundo que o socioeducacional, contudo, segundo E1, "a ética do Psicodrama é uma só, é favorecer esse surgimento do homem espontâneo, criativo". Não se pode falar em psicodrama clínico porque é incompleto (E7). Todo trabalho socionômico carrega, além das dimensões terapêutica e pedagógica, como explica E7: "A primeira rama, digamos assim, o primeiro elemento, se for falar numa árvore, o primeiro ramo da árvore do psicodrama não é o terapêutico, é o chamado exploratório-experimental, ou seja, puxando o (...) que o sujeito pode fazer psicodrama, ele pode fazer psicodrama para explorar o mundo, para explorar determinada realidade, ou para experimentar, (...) com sentido de detectar, pra saber até que ponto a pessoa tá preparada para tal coisa. Isso é experimental. Isso não tem nada a ver com terapia, não está se falando em curar ninguém de nada, tá claro isso? Bom, aí você tem o tronco, o ramo, que é considerado como principal, que é o terapêutico,

no ramo terapêutico, Moreno fala em quatro ramos, que precisam ser levados em conta, (...) a prevenção é a primeira, quem faz terapia tem que saber prevenção, como é que faz para prevenir que a pessoa fique doente, tá? Prevenção. Segundo, diagnóstico, já que não conseguiu prevenir, então agora vamos ver qualé o problema que você tem, né? Então você faz psicodrama para estabelecer um diagnóstico. Depois faz psicodrama para tratar, pro tratamento, e se não der certo, e tiver recaída, (...) aí você faz a tal reabilitação. Tá? Então, no, aí você tá no campo da terapia, agora vamos pegar o terceiro, o terceiro é didático pedagógico. Para que você faz um psicodrama didático pedagógico, para ensinar e para aprender, alguma coisa, você não está preocupado se vai se curar, se ela é maluca, se ela é maníaco depressiva, você não tá nada preocupado com isso, você tá preocupado em que a pessoa possa aprender e ensinar" (E7).

"Espera que seja terapêutico sempre, né?" (E5), apesar de existirem diferentes contextos e propostas de trabalho que possam ser denominadas, a priori ou a posteriori, terapêuticas ou pedagógicas, o caráter terapêutico e pedagógico está presente em qualquer prática psicodramática (E5). "Ele tem a potência de ser terapêutico, sócio, porque se trata entre pessoas e educativo, eu aprendo coisas, eu transformo coisas, e é sempre na relação que isso acontece" (E3). Da mesma forma que ocorrem muitos aprendizados em uma prática terapêutica, a transformação gera conhecimento (E1). Todo psicodrama carrega todos os aspectos (E3).

Aprender é terapêutico (E4). Ser terapêutico significa ajudar as pessoas a avançar, superar, se perceber mais, servindo para a pessoa avançar, se perceber mais, encontrar seu equilíbrio (E7). Pra E4, o efeito dos dois é o mesmo. Terapêutico é pedagógico, pedagógico é terapêutico "a coisa educativa é justamente a atitude de aprender" (E4). E7 demonstra isso pegando uma folha de papel, denominando a parte de cima como pedagógico e a de baixo como terapêutico e falando: "Você consegue separar?" (E7). "Nada me garante, que aquele, as minhas intervenções socioeducativas não serão terapêuticas" (E3), na prática não tem diferença o tipo de abordagem, o ponto a ser focado é a demanda da pessoa. A metodologia de trabalho é sempre a mesma seja para terapêutico quanto pedagógico (E3).

O contexto e a demanda do grupo vão influenciar para uma tendência terapêutica ou pedagógica (E1), assim como um determinado tema (E7). A formação do diretor também influencia na maneira como ele entende o indivíduo (E3), "essa adjetivação depende igualmente da intenção adotada pelo diretor e da interpretação e significado atribuído por quem participou da vivência" (Bareicha, 1999, p. 133). Cada um tem sua forma de conduzir e entender o sujeito (E7). Mesmo assim, nada garante que um contexto pedagógico não provoque efeitos terapêutico ou vice-versa.

Mesmo não concordando com a divisão, afirmando sua multiplicidade, E3 coloca que o psicodrama denominado terapêutico é voltado para questões pessoais. O foco é mais a história

pessoal do indivíduo, mesmo ela não sendo tão individual assim (E3). O grupo irá "pesquisar dentro do próprio sujeito, dentro da própria história, né, as questões que estão gerando algum tipo de psico-sociopatologia" (E3). Para a especialista, quanto mais se criam espaços de abertura, mais terapêutico o efeito. Já o psicodrama socioeducacional, de modo geral, é realizado em contextos públicos ou educacionais (E5). Ele é voltado para um problema do todo, da comunidade (E5). Para E6, a prática socioeducacional se constitui, geralmente, por sociodrama e jogos dramáticos, com temas do grupo e da sociedade. A construção grupal será voltada para um problema do todo, em que as pessoas vão se expor, mas até tal ponto (E6).

Quando em um treinamento de empresa, como por exemplo, colocado por E4, ou trabalho em escolas e instituições, em que o resultado é previsto, pronto e esperado, pode-se atribuir um caráter socioeducacional a priori, sem excluir a possibilidade daquela intervenção também apresentar um caráter terapêutico. Segundo E2, "é interessante você produzir umas ceninhas conservas, de pessoas com a mesma questão", ou seja, trazer cenas prontas voltadas para o grupo, sociedade, papel de cidadão, dentro da demanda previamente estipulada, ou daquilo que o grupo constrói no dia, porque "se você já traz a empacação e o conflito dali, às vezes você consegue potencializar muito a eficiência do seu trabalho" (E2).