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Terremoto e tremor são conceitos diferentes?! O que diz o Relatório de Reprovação:

No documento Com a palavra, o autor (páginas 88-96)

1. Veiculação de informação incorreta, imprecisa, inadequada e desa­ tualizada.

A Coleção contém diversos conceitos e informações incorretos e/ou ina­ dequados, que induzem aprendizagens equivocadas, como ilustram alguns exemplos abaixo.

1.4. No livro do 5o ano, [...] na p. 124 há erro conceitual com a não

diferenciação entre tremor de terra e terremoto.28

Caro leitor, por incrível que pareça, os avaliadores do PNLD 2010 não fundamentaram nem apresentaram bibliografia pertinente para comprovar que “tremor de terra” e “ter­

remoto” são termos que denominam conceitos diferentes. Nem poderiam, pois não há dis-

tinção conceitual entre “tremores de terra” e “terremotos”. Segundo ASSUMPÇÃO (2001): Embora a palavra ´terremoto´ seja utilizada mais para os grandes eventos destrutivos, enquanto os menores geralmente são chamados de abalos ou tremores de terra, todos são resultado do mesmo processo geológico de acúmulo lento e liberação rápida de tensões.29

Ao contrário do que afirmam os avaliadores do PNLD 2010 no Relatório de Repro- vação, os termos e expressões “terremoto”, “abalo”, “abalo sísmico”, “sismo”, “tremor” e “tremor de terra” são usados sem uma diferenciação formal nos livros -texto de Geologia.

27   Como já destacamos anteriormente, o direito de recurso estabelecido pelo Decreto nº 7.084/2010 só terá efeito  a partir do PNLD 2013 e com uma grave limitação: o julgamento do recurso pela própria equipe avaliadora. Mais infor- mações sobre o assunto nos Capítulos 1, 2 e 7.

28   UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Relatório de Reprovação PNLD

2010 – Coleção Caminhos da Ciência. Brasília: Ministério da Educação, maio/2009, p. 3. [grifos nossos].

29   ASSUMPÇÃO, D. N. Sismicidade e estrutura interna da Terra. In: TEIXEIRA, W. et al. (Org.). Decifrando a Terra. São  Paulo: Ofi cina de Textos, 2001, p. 45.

A correção conceitual do livro reprovado é atestada por diversos tratados como, por exemplo:

‹

‹ PRESS, F. et al. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. ‹

‹ TEIXEIRA, W. et al. (Org.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos. 2001. ‹

‹ LEINZ, V.; AMARAL, S. E. Geologia Geral. 8. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1980.

A correção do livro injustamente reprovado fica ainda mais evidente nas palavras de WICANDER e MONROE (2009):

Os geólogos definem um terremoto [grifo no original] como um abalo ou tremor causado pela liberação repentina de energia, normalmente como resultado da falha que envolve o deslocamento das rochas. […]

Após um pequeno terremoto, os abalos secundários geralmente cessam dentro de alguns dias, mas após um grande terremoto, eles podem continuar por meses.30

Ou seja, o erro conceitual é dos avaliadores do PNLD 2010 e não do livro que eles reprovaram! E pior: além de realizarem uma avaliação incorreta, os avaliadores exigem que a obra confira status de conceito científico a termos do cotidiano. Com base em qual literatura de referência eles justificam essa exigência? Configura -se, portanto, uma afronta direta aos critérios estabelecidos no Edital do PNLD 2010 que, em sua página 60, estabe- lece especificamente que o livro didático de Ciências deverá (sic) “privilegiar a apresentação da terminologia científica, fazendo uso, quando necessário, de aproximacões adequadas, sem, no entanto, ferir o princípio da correção conceitual”.

Os avaliadores do PNLD 2010 provam, assim, o seu desconhecimento do fato de que é apropriado e conceitualmente correto usar as expressões “terremoto” e “tremor de terra” tanto para um sismo de grau 8 na escala Richter (um grande terremoto ou um grande tremor de terra) como para um sismo de grau 2 (um pequeno terremoto ou um pequeno tremor de terra). A imperícia dos avaliadores do PNLD 2010 resultou na re- provação infundada da Coleção Caminhos da Ciência (ERRO TIPO 2).

É mais uma vez pertinente destacar que o texto sobre sismos é o mesmo das edições anteriores da Coleção Caminhos da Ciência, aprovado e recomendado nas avaliações dos PNLD 2001, 2004 e 2007. Configura -se, portanto, mais um caso de ERRO TIPO 4.

Matéria ocupa lugar no espaço

O que diz o Relatório de Reprovação:

2. Conteúdo indutor de aprendizagem equivocada

2.1. No livro do 4o ano, pp. 12 ­14, a concepção de que a matéria ocupa

lugar no espaço não pode ser justificada com o princípio da impenetra­

30   WICANDER, R.; MONROE, J. S. Fundamentos de Geologia. São Paulo: Cengage Learning, 2009, p. 185. [grifos  nossos].

bilidade. Essa explicação traz uma concepção aceita até o século XIX de que a matéria é formada por átomos e que os átomos são bolas com­ pactas indivisíveis. Hoje sabemos que a matéria é formada por grandes vazios. Portanto, a propriedade da matéria de ocupar lugar no espaço

não pode ser justificada dessa forma.31

Os avaliadores do PNLD 2010 reprovaram o livro do 4º ano da Coleção Caminhos da Ciência acusando -o de justificar a propriedade da matéria ocupar espaço pelo “princí­

pio da impenetrabilidade”. A verdade é outra. Em nenhuma passagem do nosso livro

reprovado se enuncia ou se refere ao princípio da impenetrabilidade. Mais ainda, o livro não apresenta qualquer justificativa ou explicação para a propriedade da matéria ocupar espaço. A acusação de que o livro apela para o “princípio da impenetrabilidade” é falsa

(ERRO TIPO 1), não passa de uma ilação sem qualquer fundamento32.

Nas páginas 12, 13 e 14 (reproduzidas neste capítulo como Figuras 3.2, 3.3 e 3.4) solicita -se ao aluno que faça algumas observações simples nas quais ele pode verificar que a matéria ocupa lugar e, posteriormente, afirma -se que isso é uma propriedade das coisas materiais, o que, por sinal, é absolutamente correto do ponto de vista da ciência moderna, como demonstram diversos tratados de Química adotados em várias universidades brasi- leiras e do exterior. ATKINS e JONES (2006) ensinam:

Sempre que tocamos, despejamos ou pesamos alguma coisa, estamos trabalhando com a matéria. As propriedades da matéria são o objeto de toda a química, particularmente a conversão de uma forma da matéria em outra. Mas, o que é matéria? A matéria é, na verdade, muito difícil de ser definida com precisão sem o apoio das idéias avançadas da física das partículas elementares, porém uma definição operacional simples é que matéria é qualquer coisa que tem massa e ocupa espaço.33

Repare, leitor, que ATKINS e JONES destacam que a definição de matéria exige o apoio de ideias avançadas da Física, mas que não há problema algum com a definição ope- racional adotada nos nossos livros. RUSSELL (1994) adota uma abordagem equivalente:

Matéria é “essência” – esta não é uma definição muito sofisticada, mas um meio para introduzir a idéia de que a matéria tem existência física real. É dito com frequência que matéria é tudo que tem massa e ocupa espaço. O conceito de algo ocupando espaço não causa dificuldade […].34

31   UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Relatório de Reprovação PNLD

2010 – Coleção Caminhos da Ciência. Brasília: Ministério da Educação, maio/2009, p. 3. [grifos nossos].

32   Logo após fazer a falsa acusação, os avaliadores do PNLD 2010 assumem um tom professoral e “ensinam” que  “essa explicação traz uma concepção […]”. A verdade, caro leitor, é que o nosso livro não fornece explicação nenhu- ma. Os ensinamentos dos avaliadores são, portanto, impertinentes e irrelevantes, como demonstraremos mais adian- te. Trata -se apenas de um recurso retórico que visa dar substância a uma acusação infundada. 33   ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006, p. 31. [grifos nossos]. 34   RUSSELL, J. B. Química Geral. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994. v. 1, p. 8. [grifos nossos].

Os avaliadores do PNLD 2010, portanto, reprovaram o livro do 4º ano da Coleção Ca- minhos por apresentar uma definição “operacional simples” (ATKINS e JONES, 2006, p. 31) e que “não causa dificuldade” (RUSSELL, 1994, p. 8). O erro dos avaliadores do PNLD 2010 é evidente. O livro que reprovaram adota uma definição simples, didática, adequada às observações cotidianas dos alunos e adotada e defendida por cientistas de reconhecida com- petência conceitual e didática. Ao condenar como errado um texto conceitualmente correto e didaticamente adequado, os avaliadores do PNLD 2010 repetem o ERRO TIPO 2.

Há que se considerar também que os conteúdos das páginas 12, 13 e 14 do livro do 4º ano são praticamente os mesmos desde a primeira edição da obra. Os avaliadores dos PNLD 2001, 2004 e 2007 não identificaram neles nenhum erro conceitual ou indução a erro. Como é possível explicar pareceres tão diferentes para uma questão tão simples e objetiva como essa? Os avaliadores do PNLD 2010 por acaso sugerem que três equipes de avaliação sob responsabilidade da USP “comeram bola” ou estão no século XIX? Conclusões incompatíveis com as conclusões das equipes de avaliação precedentes requerem, no mínimo, a caracterização inequívoca do erro e a apresentação de sólida fundamentação para justificar o parecer. Nova- mente os avaliadores do PNLD 2010 omitiram-se e reincidiram no ERRO TIPO 4.

No documento que apresentamos à SEB, nós refutamos o Relatório de Reprovação com os fatos e os argumentos que acabamos de descrever. Na sua resposta, os avaliadores do PNLD 2010 reconheceram que o texto não faz menção ao princípio da impenetrabilidade e não contestaram as referências bibliográficas apresentadas. Também não disseram nada a respeito das avaliações positivas da Coleção Caminhos nos PNLD 2001, 2004 e 2007. Entretanto, ao invés de reconhecer seu erro, os avaliadores do PNLD 2010 tentaram justificar seu parecer alegando agora que (sic): “o procedimento proposto no livro de empurrar objetos

contra outros explora implicitamente o tal ‘princípio’ [da impenetrabilidade]”35.

O caro leitor há de concordar que é necessário ter paciência para responder aos avalia- dores do PNLD 2010. Toda vez que seus erros são revelados eles apelam para subterfúgios. Desta vez, pela sugestão de que o procedimento proposto nas atividades do livro exploram (sic) “implicitamente” o princípio da impenetrabilidade. Ora, isso não passa de uma

ilação sem fundamento. Um reles recurso retórico, uma aleivosia que não altera em nada o descabimento da reprovação deste trecho do livro e da exclusão da obra no PNLD 2010.

Existe uma enorme distância entre uma instrução para o aluno “empurrar objetos

contra outros” e “justificar” o princípio da impenetrabilidade. O procedimento

não traz implícito o princípio da impenetrabilidade. Este fato é particularmente evidente quando se considera que a Coleção não tenta “justificar” as propriedades da matéria e não faz sequer uma referência ao “tal ‘princípio’ [da impenetrabilidade]”.

Importante recordar que, no Relatório de Reprovação, os avaliadores do PNLD 2010 relacionam o princípio da impenetrabilidade a uma (sic) “concepção aceita até o sé­ culo XIX de que a matéria é formada por átomos e que os átomos são bolas compactas indivisíveis. Hoje sabemos que a matéria é formada por grandes

35   BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Ofício nº 1.028/2009. Brasília: Ministé- rio da Educação, 15/jun/2009, p. 8. [grifos nossos].

vazios. Portanto, a propriedade da matéria de ocupar lugar no espaço não

pode ser justificada dessa forma.” Ora, em nenhuma passagem da Coleção se afirma

ou se faz qualquer alusão à alegação de que a matéria “é formada por átomos e que os

átomos são bolas compactas indivisíveis”. A ilação não procede, consequentemente,

os comentários dos avaliadores são irrelevantes e impertinentes.

A objeção que os avaliadores do PNLD 2010 fazem ao “procedimento proposto no

livro de empurrar objetos contra outros” merece comentários adicionais. A censura

dos avaliadores do PNLD 2010 ao “procedimento” não muda as observações coti-

dianas dos alunos, é claro. Tudo o que os alunos tocarem ou empurrarem contra outros objetos será formado por matéria e continuará a ocupar lugar no espaço. Felizmente, a brincadeira da dança das cadeiras continuará divertida e jamais caberão 50 pessoas em um fusca… Aparentemente, os avaliadores do PNLD 2010 não aprenderam com ATKINS e JONES (2006), o que nos obriga a repetir seu ensinamento:

A matéria é, na verdade, muito difícil de ser definida com precisão sem o apoio das idéias avançadas da física das partículas elementares, porém uma definição operacional simples é que matéria é qualquer coisa que tem massa e ocupa espaço.36

Os avaliadores do PNLD 2010 por acaso sugerem que ATKINS e JONES também apelaram para o princípio da impenetrabilidade?

Há que se comentar também que “empurrar objetos contra outros” é um proce-

dimento indispensável no ensino de Ciências, em particular no trabalho com o “princípio de Arquimedes” (eureka!)37, com o cálculo de volumes de objetos com formato irregular,

com segurança no trânsito (por que é mesmo que os carros têm de parar no sinal verme- lho?), com o uso do cinto de segurança (por que será que as pessoas devem usar o cinto?). A conclusão inevitável, caro leitor, é que, na melhor das hipóteses, a objeção dos avaliado- res do PNLD 2010 ao procedimento de “empurrar objetos contra outros” é indicativa

de sua imperícia para avaliar o trabalho acerca desse assunto nos anos iniciais do Ensino Fundamental (ERRO TIPO 2, mais uma vez).

A insistência dos avaliadores do PNLD 2010 na aleivosia de que o nosso livro apela ao princípio da impenetrabilidade é um fato grave e indício de que a nossa Coleção não foi avaliada com a isenção exigida pelo Edital do PNLD 2010. Essa hipótese é corroborada pela constatação de que livros de coleções aprovadas no PNLD 2010 utilizam o procedi- mento “de empurrar objetos contra outros” que, segundo os avaliadores do PNLD

2010, “explora implicitamente o tal ‘princípio’ [da impenetrabilidade]”.

Os autores fazem questão de enfatizar que esta constatação não é uma crítica à aprovação dessas obras aprovadas e incluídas no Guia de Livros Didáticos PNLD 2010 – Ciências visto que, nessa questão pelo menos, elas apresentam conteúdo correto e adequado. A crítica é ob- viamente dirigida aos avaliadores do PNLD 2010 que, ao aprovar essas coleções e reprovar a

36   ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006, p. 31.

Coleção Caminhos da Ciência, julgaram de modo distinto conteúdos iguais ou semelhantes, uma clara afronta ao princípio da isonomia entre as coleções avaliadas (ERRO TIPO 6).

Inércia e massa

O que diz o Relatório de Reprovação:

2. Conteúdo indutor de aprendizagem equivocada

2.1. No livro do 4o ano [...] na p. 18, a frase A massa de um corpo é

a medida de sua inércia pressupõe um desenvolvimento de conceito que

não é feito no texto. E é discutível se deveria ser feito nessa idade.38

No Relatório de Reprovação, os avaliadores do PNLD 2010 condenaram a frase do nosso livro porque ela (sic) “pressupõe um desenvolvimento de conceito que não é

feito no texto. E é discutível se deveria ser feito nessa idade”. A acusação

consta sob o título “2. Conteúdo indutor de aprendizagem equivocada”. Entretanto,

os avaliadores do PNLD 2010 não indicaram sequer a qual aprendizagem equivocada a

“frase” induz! Os avaliadores do PNLD 2010 também acusam o livro da Coleção Cami-

nhos da Ciência de não desenvolver o conceito e vão mais além, afirmando ser “discutí­

vel se [o desenvolvimento de conceito] deveria ser feito nessa idade”. Analisare-

mos cada uma das acusações por vez.

O último argumento é, para dizer o mínimo, curioso. Ora, se o desenvolvimento do tema nessa idade é discutível, então os próprios avaliadores do PNLD 2010 admitem que existem especialistas que são a favor ao trabalho do conceito assim como existem os que são contra. Ao reconhecer que o assunto é “discutível”, eles também consentem que nenhum

dos pontos de vista dispõe de fatos ou dados incontestáveis para rejeitar a opinião contrária. O leitor deve concordar conosco que um relatório de reprovação de uma coleção inscrita no PNLD não é o momento e tampouco o espaço apropriados para essa discussão, assim como a presença de um conteúdo “discutível” não é motivo para reprovar e excluir a Coleção

Caminhos da Ciência. Afinal, o Edital do PNLD 2010 dá ampla liberdade aos autores na escolha dos conteúdos dos livros. Mais uma vez, os avaliadores do PNLD 2010 tecem co- mentários tão impertinentes quanto irrelevantes, uma característica predominante nos seus argumentos em prol da reprovação e exclusão da nossa obra.

Os textos, conteúdos e atividades em pauta são praticamente os mesmos desde a pri- meira edição da obra. A aprovação da Coleção Caminhos nos PNLD 2001, 2004 e 2007 atesta que as três equipes de avaliação precedentes discordam dos avaliadores do PNLD 2010 uma vez que não consideraram “discutível” o desenvolvimento de conceito “nes­

sa idade” e tampouco apontaram o conteúdo como indutor de aprendizagem equivo-

cada. O leitor já deve estar cansado, mas a culpa não é nossa, é dos avaliadores do PNLD 2010. Eles teimam em repetir o ERRO TIPO 4.

38   UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Relatório de Reprovação PNLD

As contradições já apontadas são suficientes para descartar as alegações do Relatório de Reprovação de Caminhos, mesmo assim, decidimos aprofundar mais a análise para revelar outros equívocos dos avaliadores do PNLD 2010.

O erro mais grave e mais evidente dos avaliadores do PNLD 2010 é a inverdade por trás da acusação que o “desenvolvimento de conceito não é feito no texto” (ERRO

TIPO 1). Entre as páginas 14 e 23 do livro do 4º ano39, os conceitos de massa e inércia

são intensamente trabalhados por meio de situações problematizadoras, de observações, de comparações (medidas) e de experimentação, complementadas por discussões sobre segurança no trânsito, entre outras.

Quando confrontados pela evidente inconsistência do Relatório de Reprovação, os res- ponsáveis pela avaliação do PNLD 2010 mudaram seu discurso. O desenvolvimento do conceito deixou de ser “discutível nessa idade” e a “frase” da página 18 foi alçada à

categoria de “inadequada como definição de massa mesmo para estudantes de ní­

vel superior”40. O ardil é, mais uma vez, meramente retórico. Ao invés de defenderem o

ponto de vista expresso no Relatório de Reprovação, os avaliadores do PNLD 2010 aban- donam a acusação original, substituindo -a por outra, nova e extemporânea. O estratagema é claro: desviar a atenção das contradições do Relatório de Reprovação por meio de uma acusação ainda mais grave e radical.

A resposta é claramente inadequada e impertinente. Contrariando seu próprio parecer, o desenvolvimento do conceito deixou de ser “discutível” para os anos iniciais do En-

sino Fundamental, passando agora à condição de “inadequado mesmo para estudantes

do ensino superior”. Pior, o novo discurso aumenta o fosso que separa as opiniões dos

avaliadores do PNLD 2010 das opiniões das três equipes avaliadoras sob responsabilidade da USP.

Finalmente, só nos resta informar ao leitor que ambas as alegações dos avaliadores do PNLD 2010 (“discutível” para o Ensino Fundamental e “inadequado” mesmo para o

Ensino Superior) são refutadas por especialistas no ensino de Ciências e pelos próprios Parâmetros Curriculares Nacionais, o documento oficial de referência para o ensino de Ciências no Brasil. Segundo ESHACH e FRIED (2005):

But, if children are not mature enough to understand scientific concepts, which are often subtle and sometimes complicated, can we truly gain much from exposing them to science?

True, scientific concepts may be hard to grasp even to adults; however, this does not mean that children cannot think abstractly about scientific concepts. On the contrary, literatu- re shows that children are able to think about even complex concepts.41

39   O trecho correspondente às páginas 14 a 23 do livro do 4º ano da Coleção Caminhos da Ciência pode ser consul- tado, na íntegra, no site da Editora Sarandi.

40   BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Ofício nº 1.028/2009. Brasília: Ministé- rio da Educação, 15/jun/2009, p. 9. [grifos nossos].

41   ESHACH, H.; FRIED, M. N. Should Science Be Taught in Early Childhood?. Journal of Science Education and Tech-

[Mas, se crianças não são suficientemente maduras para compreender conceitos científicos, que são frequentemente sutis e às vezes complicados, podemos verdadei- ramente ganhar muito ao expô -las à ciência?

Verdade, conceitos científicos podem ser difíceis de compreender até para adultos; entretanto, isto não significa que crianças não pensam abstratamente sobre concei- tos científicos. Ao contrário, a literatura mostra que crianças são capazes de pensar até mesmo sobre conceitos complexos.]

Esta opinião está em pleno acordo com VYGOTSKY (1986) que afirma:

[…] introduzir um novo conceito significa apenas iniciar o processo de apropriação. A introdução deliberada de novos conceitos não impede o desenvolvimento espontâneo, porém, mais precisamente, delineia novos caminhos para isso.42

Os PCN – Ciências Naturais, em total sintonia com os especialistas citados, estabele- cem:

Objetivos Gerais de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental […]

O ensino de Ciências Naturais deverá então se organizar de forma que, ao final do en- sino fundamental, os alunos tenham as seguintes capacidades: […]

– saber utilizar conceitos científicos básicos, associados a energia, matéria, transforma- ção, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida […].43

Constata -se, assim, que os avaliadores do PNLD 2010:

‹

‹ reprovaram os nossos livros com base em um fato inexistente;

‹

‹ não indicaram as aprendizagens equivocadas induzidas pela suposta inadequação; ‹

‹ não sustentaram suas alegações originais; ‹

‹ não apontaram ou demonstraram o erro das três equipes de avaliação anteriores; ‹

‹ contrariaram o ponto de vista de estudiosos do ensino de ciências, indício de imperícia

(ERRO TIPO 2); e

‹

‹ contrariaram até mesmo os PCN (ERRO TIPO 3)!

Tudo isso, “num golpe só”, sem citar sequer uma referência para fundamentar sua opinião.

42   VYGOTSKY, 1986, p. 194 -195, citado por ESHACH e FRIED, opus cit., p. 324. [grifos nossos].

43   BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências. Brasília: Mi- nistério da Educação, Secretaria de Ensino Fundamental, 1997, p. 39. [grifos nossos].

No documento Com a palavra, o autor (páginas 88-96)

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