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TERRORISMO NO BRASIL E SUA LEGISLAÇÃO

No documento MOACYR DE MATTOS JUNIOR Cel Art (páginas 17-0)

O Brasil não faz parte do rol de países atingidos atualmente pelo terrorismo.

Em que pese encontrarmos vasta literatura que se refere aos atos cometidos pelos movimentos de guerrilha de esquerda durante as décadas de 1960 e 1970, o atual caso brasileiro é um interessante objeto de pesquisa para os estudos de terrorismo e violência política. A presença de ex-participantes de movimentos de esquerda que utilizaram da violência política no governo e parlamento, uma pesada estrutura jurídica e burocrática, uma grande fragilidade institucional, além da persistência de movimentos sociais e sérias questões ligadas ao crime organizado justificam uma discussão mais profunda sobre o terrorismo no Brasil.

17 Atualmente a nação brasileira não é ameaçada por nenhum grupo terrorista internacional. Esta afirmação é pertinente se compararmos o dia a dia dos brasileiros com os dos nascidos nos Estados Unidos ou mesmo dos que vivem no Afeganistão e Nigéria. Assim, o Brasil se situa no índice mais baixo de impacto do terrorismo (Índice Global de Terrorismo) sem nenhum ataque de destaque nos últimos trinta anos. É o que afirma Jorge Mascarenhas Lasmar em seu artigo “A legislação brasileira de combate e prevenção do terrorismo quatorze anos após 11 de setembro: limites, falhas e reflexões para o futuro”, de 2014.

A literatura sobre o assunto costuma colocar um ataque terrorista dentro de um ciclo de fases que se inicia com o recrutamento, radicalização e difusão de idéias, financiamento, treinamento, logística, administração de recursos materiais, compartilhamento de conhecimento e materiais, planejamento, vigilância etc. Após o ataque o grupo terrorista se ocupa com a fuga e evasão dos extremistas sobreviventes, difusão e propaganda dos fatos e ideologias radicais do grupo ou indivíduo, exploração política e ideológica dos atentados etc. Mas a novidade trazida pelo Estado Islâmico, utilizando as mídias sociais como instrumento de recrutamento e radicalização não presencial, uma “educação a distância” do futuro terrorista, quase sempre um lobo solitário, armado com fuzis, pistolas ou até mesmo facas de cozinha e caminhões de coleta de lixo, desmontou este ciclo.

Diante de aspectos tão diversos, o Brasil promulgou em 2016 a lei nº 13.260, conhecida como lei Antiterrorismo. Surgiu da pressão exercida pela comunidade internacional quando das XXXI Olimpíadas de Verão do Rio de Janeiro que reuniu delegações de mais de duzentos países na Cidade Maravilhosa. Além disso, o Brasil é signatário da Convenção para Prevenir e Punir Atos Terroristas – 1973, ratificada em 1999, da Convenção Interamericana contra o Terrorismo – 2003, ratificada em 2005 e da Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do Terrorismo – 2002, ratificada em 2005. Assim, a Lei 13.260/2016 fortaleceu a posição brasileira nestes protocolos.

Mas a Lei Antiterrorismo assinada pela presidente Dilma Roussef não foi a primeira norma a tratar do assunto no Brasil. Em 17 de janeiro de 1921 o presidente Epitácio Pessoa assinou o Decreto Nº 4.269 – Lei Adolfo Gordo, tratando do assunto. Era uma resposta as greves operárias orientadas por elementos

18 anarquistas que praticavam atividades ilegais como fabricação e lançamento de bombas, além de depredações entre 1917 e 1920.

Com o fim da política de “café-com-leite”, a Revolução de 1930 levou ao poder Getúlio Vargas. A fim de controlar a oposição a seu governo revolucionário promulgou em 4 de abril de 1935 a lei Nº 38 tratando sobre os crimes “contra a ordem política, além de outros definidos em lei”. Em outubro de 1935 esta lei seria usada para julgar os integrantes da Intentona Comunista ou Revolta Vermelha de 35. Dois anos depois surge o Estado Novo em 10 de novembro de 1937, nacionalista, anticomunista e autoritário.

Em 31 de março de 1964, ao tentar instaurar um regime radical socialista o presidente João Goulart foi deposto. O movimento revolucionário que tomou o poder a partir de então teve que combater insurgentes que desde 1961 estavam se preparando para o apoio armado a Jango. Assaltos a banco, seqüestros, atentados a bomba eram julgados ainda sob a ótica da lei nº 38/1925. Apenas em 14 de dezembro de 1983, o presidente João Batista de Figueiredo assinou a Lei Nº 7.170 tratando dos atos terroristas. Mesmo assim, a “Lei de Segurança Nacional” como ficou conhecida, chama mais atenção pelas sanções políticas que trás em seu conteúdo.

A Constituição Federal de 1988 faz menção ao terrorismo em seu Art. 5º, XLIII:

“XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitem.”

É dado o peso de crime hediondo ao terrorismo pelos constituintes brasileiros naquele momento. Desta forma,torna-se inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Como também é criminalizado, o que significa dizer que o legislador ordinário deve criar o crime de terrorismo, o que aconteceu em 16 de março de 2016.

19 2.3 NARCOTRÁFICO NO RIO DE JANEIRO

O narcotráfico afeta todos os países de forma significativa e se projeta no território brasileiro levando os Estados a desenvolverem políticas em relações às quais tanto os segmentos sociais do Brasil, quanto seu governo teve que se posicionar. Em outra perspectiva, o tráfico de drogas se alimentou das mudanças e problemas sociais, como o enfraquecimento estatal e desemprego, que levou a diversificação da economia informal. Assim, a deterioração crescente da condição econômico-social de parte da população, a marginalização de segmentos sociais no processo de desenvolvimento e o acentuado crescimento dos centros urbanos fomentou o comércio da droga com aumento significativo da violência.

É possível apontar dois grandes segmentos do narcotráfico no Brasil: um que se dedica ao tráfico internacional, movimentando enormes quantidades de drogas e recursos financeiros, concentrando-se principalmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Amazonas, por conta dos portos e aeroportos internacionais residentes nestes estados da federação. Noutro segmento estão aqueles dedicados à distribuição e venda de drogas no mercado doméstico, principalmente nas grandes e médias cidades. Segundo o Departamento de Narcóticos do Estado do Rio de Janeiro cerca de cem mil pessoas estão envolvidas nas atividades de distribuição e venda de drogas. São vinculados a organizações criminosas como o Terceiro Comando dos Amigos (união dos Amigos dos Amigos com Terceiro Comando Puro) e Comando Vermelho. Atualmente os órgãos de inteligência descobriram a associação entre o Terceiro Comando dos Amigos (TCA) com o Primeiro Comando da Capital (PCC) de São Paulo o que está sendo chamado de TCA1533, para combater o Comando Vermelho (CV).

O negócio tráfico de drogas, no Rio de Janeiro, movimenta cerca de R$ 15,5 bilhões por ano. São dados da Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados que em 2106 estudou o movimento financeiro da atividade criminosa. A maconha participa com R$ 6,68 bilhões, a cocaína com R$ 4,69 bilhões, o crack com R$ 2,95 bilhões e o estacsy com R$ 1,189 bilhão neste mercado. Daí o interesse incomum das organizações criminosas no negócio de entorpecentes e a ferocidade na defesa de seus interesses, com o uso extremo de violência.

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Ilustração 1: Mapa das áreas dominadas pelo narcotráfico

Ilustração 2: Distribuição das facções no Rio de Janeiro

21 3. AS AÇÕES DO NARCOTRÁFICO NO RIO DE JANEIRO E O TERRORISMO INTERNACIONAL: COMPARAÇÕES

3.1 AÇÕES DO NARCOTRÁFICO NO RIO DE JANEIRO

A imprensa brasileira costuma se referir aos conflitos entre traficantes da cidade do Rio de Janeiro como “A Guerra sem fim”. Os tiroteios constantes variam em intensidade e não raro vitimam inocentes, geralmente moradores das comunidades dominadas por estas facções. A fim de manter o controle, os narcotraficantes disciplinam seus membros e determinam regras de conduta para a sua organização e para a comunidade. Em que pese a intenção para a atuação violenta dos traficantes de drogas seja negar a ordem legal para aumentar seus lucros, seus inimigos são mutáveis e circunstanciais, assim como podemos considerar seus objetivos como políticos.

Assim, vejamos alguns exemplos de atos praticados por narcotraficantes no Rio de Janeiro que exemplifiquem as afirmações anteriores.

Na edição de 03 de maio de 2017 do Jornal Extra, o reporter Ricardo Rigel conta que traficantes do ainda Terceiro Comando Puro (TCP) que atuavam na favela Parada de Lucas assumiram o controle da venda de drogas na região, expulsando o Comando Vermelho (CV). Desde então, este grupo tenta reaver o controle da portava um fuzil e uma pistola. A ação foi realizada por um grupo de homens que fugiu do local.

No dia 13 de julho de 2016, o jornal O Globo noticiou a morte de Andressa Cristina Cândido. Segundo a reportagem, a jovem de 19 anos foi torturada, estuprada por oito homens, apedrejada e jogada em um rio. Morreu tão cruelmente por morar em Costa Barros, comunidade rival a Favela do Chaves onde foi parar ao pegar um ônibus errado.

22 Numa outra reportagem publicada em 11 de fevereiro de 2017, o repórter Leslie Leitão entrevistou o traficante “Playboy” então chefe do complexo da Pedreira.

Nesta ocasião foram publicadas três informações importantes sobre o líder da comunidade: a primeira é que todas as normas do morro é ele quem dita. A segunda diz que o traficante distribui centenas de cestas básicas e botijões de gás, mensalmente na região. E a terceira que o mesmo é o mediador dos conflitos entre os moradores, atuando como juiz, e pune quem cometer assaltos na favela. Em uma faixa simples de tecido, se lê “Proibido carro roubado no complexo da Pedreira”.

Naturalmente a pena para a desobediência é a morte, da maneira mais cruel possível.

A seguir, uma relação das punições mais freqüentes e seus “delitos”:

Decapitação: esta punição é aplicada para aqueles que tentam desafiar o poder do tráfico. Seja por disputa de território ou até mesmo por dívida. Após a decapitação, as cabeças são exibidas na comunidade;

Tiro no rosto: praticado contra aqueles que tem dívidas com o tráfico. Depois do assassinato, o corpo e deixado na rua e não pode ser retirado até que seja autorizado pelo “tribunal”;

Esquartejamento:pena aplicada aos que de alguma forma, atrapalham o tráfico na comunidade. Ocorre também por dívida;

Amputação: são retiradas as mãos daqueles que roubaram o tráfico, seja retirando a droga ou dinheiro. A amputação pode ser seguida de morte.

Cremação: acontece, geralmente por vingança. Os “X9”, são normalmente mortos desta forma. O caso mais conhecido deste tipo de execução aconteceu em 02 de junho de 2002. O repórter Tim Lopes que estava disfarçado na Vila Cruzeiro, fazendo uma matéria sobre os bailes funk patrocinados pelos traficantes. Foi preso, torturado e morto ao atearem fogo ao seu corpo, no chamado “microondas”.

Não é só a violência contra a pessoa que é perpetrada pelos traficantes. No início da década de 1990 o traficante Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, mandou atacar os postos da Polícia Militar do Rio de Janeiro, bem como às delgacias de Polícia nos subúrbios cariocas.

23 Réporteres de “O Globo” em 29 de julho de 1995, escrevem que o serviço reservado da Polícia Militar investigava o treinamento de guerrilha que traficantes estavam recebendo em acampamentos na floresta da tijuca. Entre 2000 e 2003 são descobertas ligações entre Fernandinho Beira-Mar, Leonardo Dias Mendonça e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o que garantia drogas para o Rio de Janeiro e armas para os terroristas. Surgem indícios de guerrilheiros colombianos nos morros do Cariocas. Com este apoio, Fernandinho Beira-Mar inicia o ataque explícito às instituições do Estado. Em fevereiro de 2002 ocorre o atentado contra o centro administrativo da Prefeitura do Rio de Janeiro. Foram efetuados tiros de fuzis e granadas foram arremessadas. O então prefeito César Maia pede que seja decretado Estado de Defesa na cidade. Em junho desse mesmo ano são assassinados seletivamente promotores de justiça do Estado carioca, com o simples intuito de intimidar. No mês de setembro de 2002, no dia trinta, Beira-Mar manda que as lojas de mais de quarenta bairros da Cidade Maravilhosa sejam fechadas.

Além delas indústrias são obrigadas a interromper suas atividades causando um prejuízo de R$130 milhões. Ao mesmo tempo, os criminosos inauguram sites na internet onde ensinam a fabricar bombas como também técnicas básicas de terrorismo. O Palácio da Guanabara e a Torre do Shopping Rio Sul são atacadas com tiros e granadas. A delegacia de Cidade Nova é atacada com granadas no dia seguinte.

3.2 AÇÕES TERRORISTAS NO MUNDO

Quando se fala em ação terrorista, logo surgem as imagens dos aviões se chocando com as torres gêmeas do “World Trade Center”. Mas o terrorismo não é um evento recente.

Os primeiros atentados terroristas modernos, já que se consideram terrorismo atos feitos desde a era bíblica, aconteceram um pouco antes da década de 1880 na Rússia. Anarquistas assassinavam oficiais das forças armadas, funcionários públicos e oponentes de movimentos nacionalistas. A onda anarquista foi a primeira experiencia internacional do terrorismo. A ela se seguiram as ondas anticolonial, da nova esquerda e religiosa, como intuiu David Rapoport.

24 A passagem de uma onda para a outra do terrorismo leva em consideração alguns fatores. O alvo do ato, os meios de comunicação usados em cada época, a motivação etc. Na onda anarquista as notícias levavam um dia ou mais para chegar de um país até outro. Isso numa Europa com telégrafos e jornais periódicos com grande circulação. Os anarquistas tentavam por intermédio dos seus homicídios sensibilizar outros agitadores no mundo para levantar sua revolução em todo mundo. Estes indivíduos não se consideravam criminosos. Numa tentativa de realizar um atentado em 24 de janeiro de 1878, a anarquista Vera Zasulich foi cercada por policiais russos e ao ser presa, jogou sua arma no chão e disse ser uma “terrorista, não uma assassina”. Acabou sendo absolvida em seu julgamento com aplausos da multidão que assistia a audiência. O ato terrorista mais importante deste período foi o assassinato do arquiduque do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, em 28 de junho de 1914. Ele foi assassinado junto com sua esposa Sofia em Sarajevo, pelo membro do grupo nacionalista bósnio Gravrilo Princip. Sua morte foi a gota d'água para a Primeira Guerra Mundial.

Nos anos de 1920 surge a segunda onda terrorista, a onda anticolonial. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versailles obrigou a dissolução dos impérios coloniais dos vencidos e os vitoriosos introduziram o conceito de autodeterminação das nações. Estes países não perceberam que este conceito não sepultava apenas os impérios coloniais das nações européias do Eixo, derrotadas na “Guerra das Guerras”. Legitimava a insurreição em suas próprias colonias. A Segunda Grande Guerra também fragilizou os impérios restantes, reforçando a idéia de autodeterminação dos povos. Assim, durante este período, o terrorismo anticolonial ajudou no surgimento de países como Índia, Irlanda, Israel, Argélia, Ethiópia, Paquistão, e Egito. Um modelo de organização deste período são os Etzel. Dissidência do Hanagá, lutaram pela formação do estado de Israel entre 1931 e 1948. Em novembro de 1942 assassinaram o Lorde Moyne, Secretário do Estado Colonial Britânico. Já em 22 de julho de 1946, foram os responsáveis pela morte de 91 pessoas num ataque a bomba contra o King David.

No contexto da Guerra Fria emerge a terceira onda do terrorismo. Conhecida como “New Left”, Nova Esquerda em português, surgiu num contexto onde a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas começaram a financiar e patrocinar grupos

25 com o intuito de desestabilizar governos pró estadunidenses. Assim sugiram grupos em todo o mundo como as Brigadas Vermelhas na Itália, Ação Direta Francesa, Exército Vermelho Japonês, Sandinistas na Nicarágua, entre tantos outros. Para ilustrar este momento do terrorismo, é citado o sequestro e morte do primeiro ministro italiano Aldo Moro. Capturado em 16 de março de 1978 por integrantes das Brigadas Vermelhas acabou sendo morto em 09 de maio do mesmo ano. Os brigadistas nunca iniciaram uma negociação, apesar de permitir que Moro escrevesse cartas endereçadas aos dirigentes do governo, de seu partido, Democracia Cristã e até mesmo ao Papa Paulo VI. Após a instauração de um

“tribunal revolucionário”, o político italiano foi sentenciado a morte. Seu corpo foi encontrado no porta-malas de um Renaut 4, de cor vermelha.

A Revolução Islâmica no Irã em 1979, é o marco inicial da quarta onda do terrorismo. Elementos religiosos sempre foram importantes no terrorismo moderno tendo em vista a superposição entre ética e religião. Os armênios, irlandeses, israelenses e palestinos, podem ilustrar este ponto de vista. Este tipo de terrorismo não é exclusivo de uma religião. Permeia cristãos, bomba em Oklahoma City em 1995; budistas, gás sarin no metrô de Tóquio também em 1995; islâmicos, aviões nas Torres Gêmemas em 11 de setembro de 2001. Atualmente, mobiliza a comunidade internacional o combate ao Estado Islâmico. É um grupo terrorista, dissidente da Al Qaeda, que perpetraram assassinatos violentos como a decapitação de James Foley, repórter norte-americano. A execução utilizou as mídias sociais para divulgação de sua mensagem contra a civilização ocidental, personalizada pelos Estados Unidos da América e seus aliados. São mortos todos que não se enquadrem em suas regras, baseadas numa interpretação radical da

“Sharia”, a lei islâmica. Praticantes de outras religiões são sumariamente mortos se não se converterem. Mesmo muçulmanos de outras seitas são eliminados. As mortes são espetáculos divulgados nas mídias sociais da “world wide web” num esforço de propaganda para conquistar simpatizantes e simplesmente aterrorizar inimigos e os submetidos a seu domínio. Homossexuais são arremessados do terraço de prédios. Ladrões são amputados. Mulheres que não se vestem apropriadamente são chicoteadas. Comerciantes desonestos são espancados em

26 praça pública. Inimigos queimado em gaiolas. Terror para subjulgar e manter o controle do “califado”.

3.3 SIMILARIDADES E DIFERENÇAS ENTRE AS AÇÕES DO NARCOTRÁFICO CARIOCA E O TERRORISMO INTERNACIONAL

Violência. É a primeira característica comum entre os narcotraficantes do Rio de Janeiro e os terroristas. Tanto um quanto o outro se esforçam em passar mensagens em seus atos de selvageria. Em que pese que a mensagem seja um dos fins das ações violentas dos terroristas, ela também está presente nas ações dos narcotraficantes. James Foley, jornalista norte-americano, decapitado. Tim Lopes, jornalista brasileiro, queimado vivo. Mesmo ato, assassinato de repórteres.

Mensagens distintas. “Sou capaz de desafiar sua nação”, escuta-se no caso de Foley. “Não quero ninguém investigando meus interesses”, é visto no caso de Lopes.

O Comando Vermelho atira nas mãos dos que roubam em suas comunidades. O Estado Islâmico amputa aqueles que fazem o mesmo em seu território. Mesmo ato. Significado parecido. “Eu sou a lei aqui”.

Em 15 de setembro de 2017 uma bomba explodiu numa estação de metrô de Londres. Vinte e nove pessoas ficaram feridas num atentado reivindicado pelo Estado Islâmico, noticiou o Estado de São Paulo.

Em 03 de maio de 2017 oito ônibus e dois caminhões foram incendiados em vias expressas da cidade do Rio de Janeiro por ordem do Comando Vermelho, estampa o El País.

As duas ações, em Londres e no Rio de Janeiro, foram transmitidas em tempo real na internet. Desta vez era simplesmente a mensagem. Propaganda foi o objetivo a alcançar.

As estruturas das organizações terroristas são hierarquizadas e verticalizadas. Bin Laden como comandante da Al Qaeda e Martin McGuinness como chefe do “Irish Republican Army” ilustram a afirmação. Do lado do narcotráfico, seguem o mesmo padrão. Fernandinho Beira-Mar a frente do Comando Vermelho e Uê que comandava a facção Amigos dos Amigos interpretam o mesmo papel.

27 As ordens devem ser seguidas a risca. A traição e deserção são pagas com a morte.

Dolores Gonzales Catarain, conhecida como “Yoyes”, dirigiu o Exército de Libertação Basco, o ETA. Famosa por ser a primeira mulher a comandar uma organização terrorista, resolveu abandonar as armas. Foi considerada traidora por seus antigos companheiros e assassinada em 10 de setembro de 1986. Lia-se

“Yoyes traidora” pixado nas paredes de Ordizia, cidade onde nasceu e morreu.

Da mesma forma, Enaldo Pinto de Medeiros, o Uê, foi morto no complexo presidiário de Gericinó. Em 13 de junho de 1994, Uê assassinou, numa emboscada, seu antigo chefe e amigo Orlando da Conceição, o Jogador. Assim assumiu o comando daquele grupo do Comando Vermelho. Mas seu ato acabou por expulsá-lo da facção criminosa, sendo sua cabeça coexpulsá-locada a prêmio.

Ilustração 4: Assassinato de Uê

Ilustração 3:

Assassinato de Yoyes

28 4. AS AÇÕES DO NARCOTRÁFICO NO RIO DE JANEIRO E A LEI ANTITERRORISMO BRASILEIRA

4.1 CONCEITO BRASILEIRO DE TERRORISMO (LEI Nº 13.260/2016)

A Lei Nº 13.260/2016 promulgada em 16 de março de 2016 pela presidente Dilma Rousseff. O cenário daquele momento exigia uma lei que garantisse a execução dos XXXI Jogos Olímpicos de Verão no Rio de Janeiro. A comunidade

A Lei Nº 13.260/2016 promulgada em 16 de março de 2016 pela presidente Dilma Rousseff. O cenário daquele momento exigia uma lei que garantisse a execução dos XXXI Jogos Olímpicos de Verão no Rio de Janeiro. A comunidade

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