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4.2 Etapas III e V: A complexidade na base

4.2.5 Todas as entrevistas e as avenidas da complexidade

Os Quadros 3, 4, 5, 6 e 7 trazem seleções das 21 entrevistas e uma tentativa de

correspondência com as avenidas ou caminhos da complexidade, propostas por Morin:

Irredutibilidade do acaso e da desordem; União do singular, do local e do temporal;

Complicação; Organização como uma unidade e uma multiplicidade; Crise de conceitos. Em

cada trecho é indicado, entre parênteses, o número da entrevista/entrevistado correspondente.

Existem dois itens que não constam dessa relação, mas que são também avenidas da

complexidade: Relação antagônica e complementar e Observador. O item relação

antagônica e complementar não consta nesta discussão, por já ter sido feito de forma

detalhada a partir dos antagonismos de Perrenoud. E o item observador não aparece pelo fato

de que, em todas as falas, está a presença do observador, com sua observação, sua percepção e

sua concepção das coisas.

Quadro 3: Irredutibilidade do acaso e da desordem

Trechos Selecionados

Os alunos dos cursos são diferentes (5) / Tem sempre alunos que não querem estudar, que não gostam. Mas, é uma minoria (10) / A questão das estatísticas fora do comum que eles inventam. Inventam do nada (15) / Uma minoria que seria fundamental no andamento da escola, que não fazem e porque não fazem, desanda tudo (18) / Existem variantes porque não é máquina, é ser humano (18) / Quando algum aluno tem um nível de entendimento diferente dos outros (18) / É uma coisa extremamente dinâmica, não é tão simples como a gente pensa (19) / Os professores não comprometidos, os alunos que não querem nada, é uma minoria (20) / Porque cada dia há uma nova situação. Por mais que você tenha uma experiência, sempre tem uma novidade (21) / Chegam aqui, pensam que é uma bagunça a escola pública (21).

Quadro 4: O singular, o local e o temporal

Trechos Selecionados

Seria melhor se a escola tivesse mais condições (3) / A falta de respeito dos adolescentes (4) / Salas sem condições físicas (5) / Os alunos dos cursos são diferentes (5) / As aulas são diferenciadas daquelas turmas que estão entrando aqui para fazer o seriado (7) / Falta valorização do profissional (8) / Mas, essa escola tem um espírito, alguma coisa diferente, tem uma alma (9) / As dificuldades são materiais (9) / Os professores estão sempre dispostos a colaborar (10) / Aqui eu acho que os alunos são bastante interessados (10) / É uma escola com muitas turmas (11) / Eu acho que a escola tem um grave problema de comunicação (11) / Graças a Deus, eu posso dizer que a maioria é muito cumpridora (11) / Falta de autonomia (12) / O hospital é o lugar do médico e a escola é o lugar do professor (13) / Em seis meses, um ano, muda a política, joga tudo aquilo fora e inventam outra coisa (14) / A área tecnológica depende de sazonalidade (18) / A gente tem problemas sérios de instalações físicas (19) / A escola tem uma imagem de fazer tudo certinho na Faetec (20) / Os professores são de primeira qualidade, é excelente mesmo (20) / Os alunos vêm pra cá e só querem ensino médio (20) / Só que é complicado, os apelos da sociedade hoje são imensos (20) / Porque cada dia há uma nova situação. Por mais que você tenha uma experiência, sempre tem uma novidade (21) / É diferente, só você estando ali, no dia-a-dia, que você vai entender essa necessidade (21) / Cada escola é uma realidade (21) / Aqui na escola, são três escolas diferentes (21) / Cada turno é uma realidade (21) / A equipe aqui do corpo docente é muito boa (21) / A clientela aqui é heterogênea (21) / Dentro dos cursos, têm coisas que são peculiares (21) / O que eu sinto é que é uma escola carismática, uma escola alegre, que te dá liberdade pra trabalhar, que é envolvente (21) O que a gente peca é nessa parte aí de recursos (21) / A comunicação, a informação na escola é falha (21).

Quadro 5: Complicação

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Faço 21 matérias (1) / Muita correria (2) / É complicado trabalhar aqui, dar notícias aqui (9) / Porque a escola é muito grande (10) / É uma escola com muitas turmas (11) / Muita quantidade de papel pra dar conta (15) / As atribuições da gente são muitas porque a gente lida com todo tipo de solicitação do aluno (15) / Uma quantidade de componentes muito grande dentro da área (18) / Pela quantidade de alunos, temos quase uma estrutura de uma empresa (18) / A diversidade de funções, de horários, de atendimentos, das rotinas mesmo (21) / Faz um monte de coisas ao mesmo tempo (21) / Uma carga horária muito grande (21).

Quadro 6: A organização: uma unidade e uma multiplicidade Trechos Selecionados

Fazer a ponte entre o aluno e a coordenação, supervisão (4) / Não é possível, é claro, a escola deixar de reproduzir a sociedade, já que não está isolada da realidade (6) / É um trabalho de parceria (13) / A secretaria, por si só, é um setor muito complexo, muito generalizado, muito aberto a tudo (14) / Como somos um todo (14) / Ele finge que me paga e eu finjo que trabalho (16) / O grande mal é isso, o cara tá e não está (16) / Você tem que formar o aluno e fazer efetivamente que ele entre no mercado (18) / Nós temos três escolas (18) / A gente acaba aqui, um se envolvendo no trabalho do outro (19) / Pequena parte que age dessa forma, acaba causando um transtorno enorme (19) / A desmotivação do professor acaba gerando, é o efeito cascata, vai disseminando pro aluno, que perde o interesse, a motivação (19) / Todos nós sabemos o que o outro faz, todos nós damos sugestões para melhorar o trabalho (20) / A escola reproduz a sociedade (20) / Ser diretor geral é você acumular um pouquinho de cada função, pra você conciliar o administrativo com o pedagógico (21) / Não creio que a gestão democrática se aplique totalmente à escola (21) / Cada um puxa pro lado porque acaba vendo seus próprios interesses (21) / Toda essa vivência dele de fora, ele traz pra escola (21).

Quadro 7: Crise de conceitos

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Você se torna um cidadão (1) / A escola tem duas opções: impor a disciplina, ou pôr em discussão essa disciplina (6) / Com qualidade física haverá qualidade no ensino (6) / A falta de autonomia (12) / A secretaria, por si só, é um setor muito complexo, muito generalizado (14) /Como nós não temos autonomia aqui na escola (18) / A finalidade da escola, isso é a minha ótica, é a formação do cidadão (18) / Isso trouxe uma complexidade muito grande (18) / A qualidade mexe com muita coisa (18) / É uma pergunta complexa, porque é muita coisa. Pra gente falar em qualidade, tem que voltar, ver qual é o nosso objetivo, que é formação, não só no âmbito da educação profissional, mas no âmbito da cidadania (19) / Não creio que a gestão democrática se aplique totalmente à escola. Não aqui, nesta unidade (21) / Nós não temos autonomia pra tomar as nossas decisões (21) / A coisa fica meio que assim muito complexa (21).

Dos Quadros 3, 4, 5, 6 e 7, emergiram algumas suposições:

• O Quadro 3 mostra como pode ser percebido o aspecto da complexidade

irredutibilidade do acaso e da desordem, na escola. Diante de um cenário de

incertezas e de acaso, muitas vezes se busca ainda uma simplificação ou uma

generalização de situações, pois isso traz um certo controle. Daí, uma situação fora

dos padrões é vista como exceção, minoria. Exemplos: Tem sempre alunos que não

querem estudar, que não gostam. Mas, é uma minoria (10); Quando algum aluno tem

um nível de entendimento diferente dos outros (18).

• O Quadro 4 mostra o singular, o local e o temporal, através da união desses, tendo no

contexto da escola, a percepção das singularidades, em vários níveis: nos alunos, nos

turmas, no Ferreira Viana, na educação pública. Alguns exemplos:

o Falta valorização do profissional (8): singularidades na escola pública

o Mas, essa escola tem um espírito, alguma coisa diferente, tem uma alma (9):

singularidades no Ferreira Viana

o Dentro dos cursos, têm coisas que são peculiares (21): singularidade nos cursos

o Porque cada dia há uma nova situação (21): singularidades diárias, na escola

o A área tecnológica depende de sazonalidade (18): singularidades nos cursos

técnicos, de acordo com o mercado

• O Quadro 5 mostra uma das avenidas da complexidade mais conhecidas pelas

pessoas que é a complicação, através de um aspecto mais quantitativo, como uma

quantidade grande de alunos, de matérias, diversos professores. São alguns

exemplos: Faço 21 matérias (1) e Uma quantidade de componentes muito grande

dentro da área (18).

• No Quadro 6, a escola pode ser entendida sob três princípios: é mais ou menos que

a soma das partes; é como um holograma, no qual a parte está no todo e o todo,

nas partes; é recursiva, pois é produto e produtor ao mesmo tempo. Exemplos:

o Mais que a soma das partes: É um trabalho de parceria (13)

o Menos que a soma das partes: A desmotivação do professor acaba gerando, é o

efeito cascata, vai disseminando pro aluno, que perde o interesse, a motivação

(19); O grande mal é isso, o cara tá e não está (16)

o Organização recursiva: Não é possível, é claro, a escola deixar de reproduzir a

sociedade, já que não está isolada da realidade (6); Você tem que formar o aluno

e fazer efetivamente que ele entre no mercado (18).

• O Quadro 7 mostra a crise de conceitos, ao apresentar termos amplamente usados

pelas pessoas entrevistadas, mas que guardam definições imprecisas e distintas, para

cada um deles. Exemplos: cidadania, autonomia e complexo.

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