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3. Fundamentação teórica e principais conceitos

3.4. Todos mobilizados?

Destacamos anteriormente que o Programa Estadual de Combate à Dengue, elaborado pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas, foi estruturado em alguns eixos de atuação e um deles era o da comunicação social e que este se dividia em duas grandes ações: as campanhas publicitárias e a mobilização social. Embora nosso foco de pesquisa sejam as campanhas publicitárias, não podemos desconsiderar que estas duas ações se influenciavam profundamente, conforme podemos atestar nos slogans das campanhas de 2010 a 2014: Agora é Guerra. Todos contra dengue (final de 2010 e 2011); A guerra continua. Todos Contra dengue (final de 2011 e 2012); Dengue tem

que acabar. É hora de todo mundo agir (final de 2012 e 2013) e Dengue. Ou a gente acaba com ela ou ELA acaba com a gente (final de 2013 e 2014), que remetiam à ideia

de envolvimento, engajamento e mobilização das pessoas.

Dessa forma, entendemos que o conceito de mobilização social foi uma das referências teóricas utilizadas na campanha publicitária de combate à dengue. A definição mais usual para o termo mobilização social tem origem na obra “Mobilização Social: um modo de construir a democracia e a participação”, de José Bernardo Toro e Nísia Maria Werneck, que remete à noção de convocação de vontades para um objetivo comum.

A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando cotidianamente, resultados decididos e desejados por todos. Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados. (TORO e WERNECK, 2004, p.13).

Toro e Werneck reconhecem a mobilização como um ato de comunicação, que não se confunde com propaganda ou divulgação, mas que “exige ações de comunicação no seu sentido amplo, enquanto processo de compartilhamento de discursos, visões e

direcionada a algum objetivo ou um propósito comum. Dentro dessa lógica, para que a ação mobilizadora contribua com o bem estar da sociedade, ela deve apontar para um projeto de futuro, mas, se for um propósito passageiro, torna-se um evento ou uma campanha e não mobilização social. Eles também pontuam que participar de uma mobilização é uma escolha, já que a participação é um ato livre. Já Henriques et al. (2004) complementam a perspectiva afirmando que,

a mobilização social é uma reunião de sujeitos que definem objetivos e compartilham sentimentos, conhecimentos e responsabilidades para a transformação de uma dada realidade, movidos por um acordo em relação à determinada causa de interesse público. (HENRIQUES et al. 2004, p.36).

Henriques ressalta que o processo de mobilização não se resume à simples participação das pessoas em alguma ação, “compreende um processo amplo e permanente de engajamento dos cidadãos e das instituições no processo político

democrático”. (HENRIQUES, 2010, p.71).

Hoje em dia, é comum notar o uso da expressão mobilização para várias situações do cotidiano, como dizer que esta ou aquela torcida de um time de futebol está mobilizada para ir ao jogo. Porém quando se fala em mobilização e é acrescentado o adjetivo social, é possível eliminar algumas ações que não são consideradas mobilização social. Henriques, et al. (2010) ressaltam que a mobilização social pode se referir tanto a movimentos sociais de massa, quanto a várias formas associativas, como projetos de ação voluntária, trabalho cooperativo, fóruns de participação popular institucionalizada, militância partidária, dentre outros.

Eles também compreendem que o sentido de mobilização social no Brasil está fortemente ligado aos processos participativos. Assim, é possível acreditar que a mobilização social ganha força, quando há participação popular, porque ela é capaz de promover o engajamento e o envolvimento das pessoas com a causa. Contudo, eles também ponderam que mobilização não é apenas participação, porque se trata de um processo bem mais amplo e contínuo de engajamento das pessoas e das instituições.

Para Mafra (2011), a mobilização social é um processo comunicativo e um tipo de ação coletiva, que funciona em paralelo a outras ações (institucionais, pessoais, dentre outras). Para ele, os processos mobilizadores são formas de interpretar os problemas públicos, mas não são as únicas maneiras de entender ou resolver essas questões.

Ele observa que a simples convocação de vontades não garante, por si só, a resolução de um problema público. Mesmo porque, é um “convite” a participar, o que não garante a adesão ou envolvimento das pessoas. Mafra também indaga o uso da mobilização social apenas como ferramenta estratégica de ação e questiona o fato de se convocar as pessoas para uma ação específica, mas sem garantir a oportunidade desses mesmos sujeitos participarem efetivamente da organização do processo de comunicação, que é anterior a essas ações de mobilização social.

Henriques (2012) destaca que nas sociedades democráticas contemporâneas, o termo mobilização social ganhou novos significados e sua aplicação também tem se expandido.

Como prática, deixa de ter um caráter extraordinário, para assumir um sentido ordinário – já que corresponde às muitas formas de movimentação que objetivam transformações sociais, inseridas no correr da vida comum do dia a dia, o que se complementa com um quadro de inovação institucional. (HENRIQUES, 2012, p. 4).

Ao adotar este sentido de uma atividade mais corriqueira, a ação coletiva é ampliada e não fica restrita aos movimentos de massa ou os projetos de ação política, por exemplo. Henriques lembra que o uso do termo já se estendeu a todo tipo de processo participativo, sejam eles próprios da sociedade civil, sejam aqueles acionados pelas instituições. Ele também aponta que o reposicionamento conceitual do termo gera dificuldades para delimitar e classificar os variados tipos de mobilização que uma sociedade é capaz de estabelecer. É mais comum identificar as manifestações públicas, que têm algum tipo de repercussão, como sendo mobilização social, pois elas contam com maior visibilidade. Porém, “o processo mobilizador não pode ser explicado apenas por sua face visível”. (HENRIQUES, 2012, p. 5).