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A TORÁ DE YHWH ACABOU OU É ETERNA?

No documento JUDAÍSMO NAZARENO TSADOK BEN DERECH.pdf (páginas 85-164)

CAPÍTULO II TORÁ: A INSTRUÇÃO QUE DURA PARA SEMPRE

II- A TORÁ DE YHWH ACABOU OU É ETERNA?

Apregoa o Cristianismo que a “Lei foi abolida na cruz”; enquanto historicamente os netsarim (nazarenos) sempre creram que a Torá (“Lei”) vigora para todo o sempre. Quem está com a razão? Estudemos o tema.

A palavra “TORÁ” é comumente traduzida em nossas Bíblias por “Lei”. Porém, qual é o real significado do vocábulo “Lei”? A palavra hebraica TORÁ (הרות)

significa orientação, instrução (STRONG 8451). TORÁ vem da raiz hebraica do verbo

YARAH, que significa instruir. YARAH foi um termo antigo que se referia a acertar um alvo, e dá o sentido de “estabelecer os fundamentos, a base”.

A Torá é a orientação, tal como o caminho em linha reta de uma flecha para atingir o alvo. A Torá é nossa fundação e isto é importante para se entender o real significado da palavra hebraica “TORÁ”. Atualmente, muitas pessoas dizem que “a Lei (Torá) do ETERNO não é para hoje”, porém, ninguém ousaria dizer que “a orientação e a instrução do ETERNO estão desatualizadas”.

A presente lição é sobre a Torá, ou seja, sobre como Elohim deseja nos instruir, orientar. Versa sobre os fundamentos (a base) e sobre a definição de nós mesmos como flechas que devem acertar o alvo. Esta lição dará objetivo, direção, fundamentos e o alvo.

Comumente, usa-se também a palavra “Torá” para designar os cinco livros escritos por Moshé (Moisés), ou seja, os 5 (cinco) primeiros livros da Bíblia: 1) Bereshit (Gênesis), 2) Shemot (Êxodo); 3) Vayikrá (Levítico); 4) Bemidbar (Números) e 5) Devarim (Deuteronômio).

A palavra grega usada no lugar de TORÁ pela Septuaginta (antiga tradução grega do Tanach/“Antigo Testamento”) e no “Novo Testamento” grego foi “NOMOS”. Esta possui um paralelo com a Bíblia em Aramaico (a Peshitta) que usou o vocábulo “NAMOSA”, que vem da raiz semita “NIMMES”, que significa “civilizar”, bem como um paralelo com a moderna palavra hebraica “NIMOS” (ou “NIMUS”), que significa “ser polido” (educado, gentil).

Assim, no núcleo da Torá estão os preceitos fundamentais da civilização. Do ponto de vista do ETERNO, sem a Torá nós somos incivilizados.

Então, enquanto a palavra “Torá” significa “instrução”, referindo-se a tudo aquilo que o ETERNO ensinou nos 5 (cinco) primeiros livros da Bíblia, todos escritos por Moshé (Moisés), as versões em Língua Portuguesa terminam traduzindo “Torá” por “Lei”. Em verdade, a Torá é muito mais do que Lei de YHWH, pois se relaciona com sua eterna instrução, sabedoria e ensino, ou seja, com sua própria Palavra.

Nos cinco livros escritos por Moshé (Moisés), existem vários mandamentos prescritos pelo ETERNO e que, de acordo com o Judaísmo, perfazem o total de 613 24.

Atribui-se a Moshé Ben Maimon25 (Maimônides) a obra de sistematizar o catálogo de

613 mandamentos, dividindo-os em positivos (quando o ETERNO exige uma ação do homem) e negativos (quando se exige uma abstenção de algo). Dos 613, há 248

24 Alguns estudiosos perceberam que existem mais do que 613 mandamentos na Torá. Logo, pode-se

dizer que os 613 mandamentos reconhecidos pelo Judaísmo consistem em um rol exemplificativo, e não taxativo.

mandamentos positivos (“faça”/“obrigações”) e 365 negativos (“não faça”/“proibições”). Explicam os rabinos que os 248 mandamentos positivos se referem ao número de ossos ou órgãos importantes do corpo humano, como se cada osso ou membro dissesse ao homem: “cumpra um preceito comigo”; já os 365 mandamentos negativos dizem respeito ao número de dias do ano, como se cada dia falasse ao ser humano: “Não cometa uma transgressão hoje”.

Exemplificam-se alguns dos mandamentos positivos (obrigações) que se extraem da Torá: crer na existência de Elohim; temer a Elohim; saber que Ele é um; amar YHWH; santificar Seu nome; reprovar um pecador; estudar a Torá; descansar no shabat (sábado); deve o ladrão restituir o que roubou; tratar os litigantes igualmente diante da lei; fazer tsedaká (“caridade”); salvar a vida dos perseguidos; honrar os pais; amar ao próximo; amar o estrangeiro; etc.

Eis exemplos de mandamentos negativos (proibições): não crer em falsos deuses; não fazer imagens de ídolos para adoração; não curvar-se diante de um ídolo; não adorar a ídolos; não praticar feitiçaria; não estudar práticas idólatras; não beneficiar- se de ornamentos que ornaram um ídolo; não praticar adivinhação; não praticar bruxaria; não consultar os astros; não profetizar falsamente; não consultar os mortos; não casar-se com heréticos; não blasfemar contra o nome de YHWH; não comer um animal impuro; não comer sangue; não praticar o homossexualismo; não oprimir um empregado atrasando o pagamento de seu salário; etc.

Os 613 mandamentos (mitsvot) da Torá são classificados em três categorias: 1) MISHPATIM (juízos, julgamentos, acórdãos) – Strong 4941. Os MISHPATIM são os mandamentos éticos e morais e apontam fundamentalmente para o que está certo e o que está errado.

2) EDYOT (testemunhos) – Strong 5715. EDYOT são mandamentos que dão testemunho de YHWH. Ex: shabat, as festas do ETERNO, a mezuzah, a tsitsit etc.

3) CHOKIM (estatutos, decretos) – Strong 2706. Os CHOKIM são mandamentos que aparentemente não possuem razão de existir. Ex: o mandamento de não misturar lã com linho, não acender fogo no shabat etc.

Já vimos que, quando estudarmos a B’rit Chadashá (Aliança Renovada/“Novo Testamento”), deveremos nos perguntar se seus ensinos possuem por base o Tanach (Primeiras Escrituras). Se houver alguma contradição entre ambos, então, existirá algum erro de interpretação.

Muitas pessoas não entendem as lições da B’rit Chadashá porque acreditam erroneamente que a Torá foi abolida. Vamos ser como os bereanos e olhar para o Tanach a fim de verificar se isto é realmente verdade (Atos 17: 11).

Sha’ul (Paulo) afirmou que a Escritura é “valiosa para ensinar a verdade, convencer do pecado, corrigir erros e treinar no viver correto” (2 Tm 3:16). Esta

Escritura mencionada por Sha’ul é o Tanach, tendo em vista que, quando escreveu a Timóteo, ainda não existia o conjunto de livros hoje conhecidos como “Novo Testamento”. Assim, se seguirmos o conselho de Sha’ul (Paulo), deveremos estudar o Tanach, pois é Escritura “valiosa para ensinar a verdade” (2 Tm 3:16).

O que o Tanach prescreve? Diz o Tanach que a Torá é para todas as gerações e para sempre? Ou será que diz que um dia a Torá seria abolida?

Se está correto o ensino cristão de que a Torá foi extinta, então, devemos procurar onde este ensino está escrito no Tanach (Primeiras Escrituras/“Antigo Testamento”). Tal como os nobres bereanos, devemos investigar para sabermos se estas coisas que foram ensinadas possuem respaldo no Tanach. Em contrapartida, se a Torá não foi abolida, ou seja, se existe por todas as gerações e para sempre, então, devemos ser capazes de encontrar tal informação no Tanach.

Se “a Escritura (Tanach) é valiosa para ensinar a verdade” (2 Tm 3:16), vamos buscar a verdade a partir do próprio Tanach, aqui e agora.

Após entregar a Torá a Moshé (Moisés) no Monte Sinai, o ETERNO ordenou que seu povo deveria guardar a Torá para sempre:

“YHWH ordenou que guardássemos todas essas leis, o temor

a YHWH, nosso Elohim, sempre para o nosso bem, para que ele nos guardasse com vida, como nos encontramos hoje. A obediência cuidadosa de todas essas mitsvot [mandamentos] diante de YHWH, nosso Elohim, como ele nos ordenou a fazer, será a nossa justiça.” (Devarim/Deuteronômio 6:24-25).

Foi desejo do ETERNO que seu povo obedecesse à Torá para sempre: “Oh, como eu queria que o coração deles permanecesse desse

jeito para sempre, que eles me temessem e obedecessem a todas as minhas mitsvot [mandamentos], para que tudo

corresse bem para eles, bem como para os seus filhos, para

sempre” (Devarim/Deuteronômio 5:26, ou verso 29 nas traduções

cristãs).

Enquanto o ser humano viver, deve obedecer à Torá, como afirmou o ETERNO:

“Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e juízos que mandou YHWH teu Elohim se te ensinassem, para que os

mandamentos que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam

prolongados.” (Devarim/Deuteronômio 6:1-2).

Da mesma maneira, escreveu o Salmista que a Palavra do ETERNO duraria para sempre (Sl 119: 160). Ora, quando foi escrito o referido Salmo, não havia “Novo Testamento”, então, deduz-se facilmente que a Palavra do ETERNO se refere às Escrituras do Tanach (“Antigo Testamento”). Eis o Salmo 119: 160:

“A principal coisa sobre tua palavra é que ela é a verdade; e

todos os seus justos mandamentos duram para sempre”.

No mesmo Salmo, consta dos versos 97 e 98:

“Como amo tua Torá! Medito nela todo o dia. Sou mais sábio que meus inimigos, Porque tuas mitsvot [mandamentos] são

minhas para sempre”.

Ainda no Salmo 119, confira-se o verso 44:

“Guardarei tua Torá para sempre, para todo o sempre”.

Além disso, o Tanach afirma que nada da Torá poderia ser mudado ou retirado:

“A fim de obedecer às mitsvot [mandamentos] de YHWH, o seu Elohim, que estou dando a vocês, não acrescentem nada ao que

digo, e nada subtraiam delas.” (Devarim/Deuteronômio: 4: 2).

“Cuidem de fazer tudo que ordeno a vocês. Não acrescentem

nada nem retirem nada.” (Devarim/Deuteronômio 13:1, sendo

que nas traduções cristãs o capítulo é o 12:32).

Existem muitas passagens em que o ETERNO estabelece estatutos para todas as gerações e para todo o sempre (Ex: 27:21; Ex: 28:43; Ex: 29:28; Ex: 30:21; Ex: 31:17; Lv: 6:18, 22; 7:34, 36; 10:9, 15; 17:7; 23:14, 21, 41; 24:3; Nm: 10:8; 15:15; 18:8, 11, 19, 23; 19:10 e Dt: 5:29)26.

26 O que muitas pessoas confundem é que existem certas regras na Torá que são verdadeiras “leis

temporárias e circunstanciais”, ou seja, foram estabelecidas para vigorarem durante certo período de tempo e em determinadas circunstâncias. Exemplos de regras temporárias: 1) Quando a mulher estava em

Se somos “nobres bereanos”, encontraremos passagens do Tanach afirmando que a Torá não seria abolida, mas duraria por todas as gerações e para sempre.

Este ensinamento foi repetido pelo Mashiach (Messias):

“Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim

para abolir, mas para cumprir. Sim, é verdade! Digo a vocês:

até que os céus e a terra passem, nem mesmo um yud ou um traço da Torá passará – não até que todas as coisas que precisam acontecer tenham ocorrido. Portanto, quem desobedecer à ‘menor’ dessas mitsvot [mandamentos] e ensinar outras pessoas a agirem da mesma forma será chamado menor no Reino dos Céus.” (Mt 5:17-19, vide também Lc 16:17).

Esclareceu Sha’ul (Paulo):

“Segue-se então que abolimos a Torá por meio dessa fé? De

maneira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a Torá” (Rm

3:31).

Apesar de David ter sido salvo pela fé (Rm 4:5-8), ele amou a Torá e tinha prazer em cumpri-la (Sl 119: 97, 113 e 163):

“Oh! quanto amo a tua Torá! É a minha meditação em todo o

dia”.

“Odeio os pensamentos vãos, mas amo a tua Torá”. “Abomino e odeio a mentira; mas amo a tua Torá”.

Sha’ul (Paulo) também tinha prazer na Torá e a chama de “santa, justa e

boa”:

“Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na Torá de

Elohim.” (Rm 7:22).

período menstrual, ninguém poderia tocar nela ou em sua cama (Lv 15:23). Esta norma foi estabelecida para fins higiênicos, evitando-se a contaminação por doenças transmissíveis pelo sangue, já que não havia absorvente íntimo e água em abundância. 2) As regras sobre compra de escravos não se aplicam mais (Lv 25:44), uma vez que hoje não existe escravidão, fruto da maldade humana. Esta nunca foi a vontade do ETERNO, que chegou a criar normas para benefício dos escravos estrangeiros, dizendo que os senhores deveriam amá-los como a si próprios (Lv 19:34). Não obstante a existência de algumas leis temporárias,

“E assim a Torá é santa, e o mandamento santo, justo e bom.” (Rm 7:12).

Não existe nada de errado com a Torá que faça com que o ETERNO queira aboli-la ou destruí-la, pois tanto o Tanach (“AT”) quanto a B’rit Chadashá (“NT”) afirmam expressamente que a Torá é perfeita:

“A Torá de YHWH é perfeita, e refrigera a alma...” (Tehilim/Salmos 19:8; versões cristãs: Sl 19:7).

“Aquele, porém, que atenta bem para a Torá perfeita da

liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas

fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.” (Ya’akov/Tiago 1:25).

Ora, algo que é perfeito nunca se tornará melhor do que já é. Logo, se a Torá é perfeita, conclui-se facilmente que seus mandamentos (mitsvot) são eternos e duram para sempre!

Yeshua HaMashiach não trouxe uma “Nova Torá” (Mt 5:17), mas ensinou como o homem realmente deveria interpretar e guardar a Torá dada pelo ETERNO, excluindo todos os mandamentos criados por homens legalistas e não por ELOHIM. Por tal razão, a B’rit Chadashá (“NT”) chama a Torá de “Torá do Messias” (Gl 6:2), ou seja, a Torá verdadeira, que nada tem a ver com a Torá ensinada por falsos mestres - estes existem até hoje, e são especialistas em distorcer a Palavra do ETERNO, apesar de nunca admitirem que isto fazem.

Outro ensinamento popular na igreja cristã afirma que o ETERNO só deu a Torá a Israel para provar que eles não conseguiriam cumpri-la. Por exemplo, um livro cristão leciona:

“... Israel, na cegueira, orgulho e autojustiça, pediu a lei. E Deus lhe concedeu o seu pedido, para mostrar-lhes que eles não podiam guardar a sua lei ...” (God’s Plan of the Ages; Louis T. Tallbot; 1970; página 66).

Agora, vamos pensar no texto acima por um momento. Elohim deu a Torá para Yisra’el (Israel). O ETERNO disse que colocaria maldições sobre Yisra’el caso o povo falhasse em cumprir a Torá (Lv 26 e Dt 28 e 29). Elohim mandou profetas para advertir Yisra’el da destruição pendente em razão da contínua incapacidade de guardar a Torá. Finalmente, permite o ETERNO que os babilônios invadam Jerusalém e os judeus sejam levados ao cativeiro, porque eles falharam no cumprimento da Torá. Então, Ele

diz: “Ah, eu estava brincando. Eu dei a Torá e mandei que vocês a cumprissem para

provar que vocês não iriam conseguir. Agora estou castigando vocês”. Que tipo de

ELOHIM faria isso? É óbvio que o ETERNO não daria mandamentos com o intuito de castigar o homem pela desobediência. Não! O ETERNO é bom e estabeleceu mandamentos com o desiderato de que o homem os obedecesse. Como nobres bereanos, nós podemos simplesmente olhar para o Tanach para verificar se o popular ensino cristão é verdadeiro.

Vejamos o que o Tanach diz sobre este assunto:

“Pois esta mitsvá [mandamento] que hoje entrego a vocês não é

muito difícil, não está fora do seu alcance. Ela não está no céu,

para que vocês precisem perguntar: ‘Quem subirá ao céu por nós, a trará até nós e nos fará ouvi-la, para que lhe possamos obedecer?’. Da mesma forma, ela não está no além-mar, para que vocês precisem perguntar: ‘Quem atravessará o mar por nós, a trará até nós e nos fará ouvi-la, para que lhe possamos obedecer? ’. Ao contrário, a palavra está bem perto de vocês – em sua boca e em seu coração; portanto, vocês podem praticá-la!’” (Devarim/Deuteronômio 30:11-14).

Como se observa facilmente no texto acima, o próprio ETERNO afirma que a Torá pode e deve ser cumprida, o que não é considerado muito difícil e nem está fora do alcance do ser humano.

O fato de que a Torá possa ser cumprida e praticada está confirmado também na B’rit Chadashá (“Novo Testamento”), pois esta afiança que Yeshua “foi

tentado em todas as áreas, como nós, com a diferença de que nunca pecou” (Hb 4:15),

ou seja, Yeshua conseguiu observar a Torá, mesmo sendo tentado. Apesar de sermos imperfeitos, nós devemos nos esforçar para guardar o máximo possível da Torá, lembrando-se que podemos derrotar a tentação, pois “Elohim não permitirá que vocês

sejam tentados além do que podem suportar” (1 Co 10:13). Em outras palavras, ainda

que pequemos, já que somos falíveis, isto não nos impede de tentar viver em obediência aos mandamentos do ETERNO. Aliás, ensinou Yeshua que aqueles que o amam iriam guardar os mandamentos (Yochanan/João 14:15).

III - YESHUA VEIO PARA CONFIRMAR A TORÁ

Uma das maiores declarações do Mashiach no sentido de que a Torá permanece em vigor reside no livro de Matityahu/Mateus, no qual disse Yeshua:

18. Sim, é verdade! Digo a vocês: até que os céus e a terra passem, nem mesmo um yud ou um traço da Torá passará – não até que todas as coisas que precisam acontecer tenham ocorrido. 19. Portanto, quem desobedecer à ‘menor’ dessas mitsvot [mandamentos] e ensinar outras pessoas a agirem da mesma forma será chamado menor no Reino dos Céus.” (Mt 5:17-19).

No verso 17, Yeshua assevera que não veio para abolir a Torá, mas para cumpri-la. Muitas pessoas não entendem que neste texto o Mashiach estava se valendo de expressões idiomáticas de seu tempo. No primeiro século, quando alguém ensinava a Torá incorretamente, dizia-se que esta pessoa estava “abolindo” a Torá. De fato, se cidadão distorcer a Palavra do ETERNO a tal ponto de transformá-la em “outra palavra”, isto equivale à invalidação da primeira. Isto é um fenômeno que ocorre até mesmo nos dias de hoje, pois há líderes religiosos que ensinam erroneamente que a Bíblia autoriza o homossexualismo, razão pela qual esta lição antibíblica termina por invalidar, na prática, o preceito que veda as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo (Vayikrá/Levítico 18:22 e 20:13). Em suma, em Matityahu/Mateus 5:17, “abolir” significa ensinar contrariamente à Torá, invalidando-a. Por outro lado, “cumprir” tem o sentido rabínico de instruir alguém corretamente conforme a Torá.

A explicação ora bosquejada conta com o apoio do rabino James Trimm: “Para começar, deve-se saber que essa referência a ‘cumprir’ a Torá versus ‘destruir’ a Torá é realmente uma utilização comum de uma expressão hebraica usada ainda hoje por rabinos nas yeshivas [escolas rabínicas]. ‘Cumprir’ a Torá é uma expressão que significa ‘ensinar o significado da Torá e observá-lo corretamente’, este é o verdadeiro significado para se cumprir. Enquanto ‘destruir’ a Torá é uma expressão que significa ‘ensinar de forma incorreta o significado da Torá e/ou violar a Torá’. Isto é destruir o verdadeiro significado da Torá. Ainda hoje nas yeshivas e nos Beit Midrashes, os rabinos entram em debates acalorados um com o outro, batendo um punho na mesa e declarando ‘você destruiu a Torá’, ou elogiando outro rabino dizendo: ‘você cumpriu a Torá’. Vale ressaltar que nos próximos versículos Yeshua pesa sobre as controvérsias sobre a interpretação de vários mandamentos da Torá e nos dá o seu significado verdadeiro e correto, então, o uso de Yeshua do termo ‘cumprir a Lei’ versus ‘destruir’ a Lei é totalmente de acordo com o normal uso idiomático da língua hebraica para esses termos.” (What do you Mean...Yeshua "Fulfilled the Law"? (Mt. 5:17))

Infere-se daí que as palavras de Yeshua podem assim ser interpretadas: “Não vim para abolir...” equivale a “não vim ensinar incorretamente a Torá”. E a expressão “mas para cumprir” tem o sentido de lecionar a Torá da forma adequada.

Eis uma tradução interpretativa da mensagem do Mashiach em Mt 5:17: “Não pensem que eu vim distorcer a Torá e os Profetas. Eu não vim para distorcê-los, mas para ensiná-los do modo correto”.

Nas boas novas (evangelho) de Matityahu/Mateus em hebraico, o verbo que aparece e geralmente é traduzido como “cumprir” é אלמ (male). Este possui plurivalência semântica: confirmar, encher, realizar, executar e completar. Algo interessante no hebraico é que uma palavra possui vários sentidos e o locutor pode querer transmitir todos ao mesmo tempo, ou seja, não existe um sentido certo e outro errado, todos são admissíveis simultaneamente. Então, pode-se retraduzir Matityahu/Mateus 5:17 com várias nuances:

a) “Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para confirmar (אלמל)”. Yeshua confirmou a Torá, ratificando-a. Logo, é totalmente inconsistente o ensino cristão de que a Torá foi extinta;

b) “Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para encher (אלמל)”. Yeshua veio para encher o mundo da Torá, ou seja, propagá- la

o máximo possível;

c) “Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para realizar/executar (אלמל)”. Yeshua realizou (=concretizou) a Torá em todas as suas ações, visto que nunca pecou;

d) “Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para completar (אלמל)”. Yeshua ensinou a Torá de uma forma muito mais profunda do que qualquer mestre, acrescentando (=completando) explicações em nível de maior elevação espiritual. Dizendo de outro modo, o Mashiach tornou a Torá plena em nossos corações.

Todos os sentidos e interpretações citadas acima são admissíveis, e são claras no sentido de que o Mashiach nunca aboliu a Torá!

Já no verso 18 de Matityahu/Mateus 5, o Mashiach assevera que nem mesmo um yud seria tirado da Torá. Yud é a menor letra do alfabeto hebraico, assim se escrevendo: י. Conseguiu enxergar caro leitor? Apesar de ser bem pequenino o yud, Yeshua garantiu que nem mesmo esta letra poderia ser subtraída da Torá. Se nem o que é minúsculo pode ser destruído, que dirá todo o resto? Em suma, nada da Torá pode ser retirado “até que os céus e a terra passem” (Mt 5:18). O mesmo conceito aparece em Lucas:

“É mais fácil o céu e a terra desaparecerem que se tornar vazio um traço de uma letra da Torá” (Lc 16:17).

Já que os céus e terra não passaram, permanece em pleno vigor a Torá!!! Talvez Yeshua tenha mencionado o yud (Mt 5:18) em lembrança à famosa história rabínica acerca do rei Shlomoh (Salomão), retratado se imiscuindo da Torá:

“Ele disse: ‘Porque YHWH Todo-Poderoso – bendito seja, disse [referindo-se ao rei], ‘Ele não multiplicará [הברי] suas mulheres’ [(Dt 17:17]? Apenas para que ‘o coração do rei não se desencaminhe’. Eu [Salomão] as multiplicarei [הברא], mas meu coração não se desencaminhará.

Nossos sábios disseram: Naquele momento, a letra yud levantou- se e se prostrou diante de YHWH – bendito seja – e disse: Senhor do Universo, não dissestes que nenhuma letra da Torá será jamais destruída? Vede, Salomão me destruiu, substituindo um yud por um álef, quer dizer, mudando הברי por הברא. Uma letra hoje, outra amanhã até que toda a Torá seja destruída. YHWH – bendito seja – respondeu: Salomão e outros mil como ele podem tentar destruir, mas eu não permitirei que um traço da Torá seja

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