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TRABALHO E ESTRESSE

No documento Odontologia: temas relevantes (páginas 57-60)

Bruxismo e atividades laborais: como se relacionam?

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A reação do organismo ao estresse busca a sua própria proteção, preparando-o para enfrentar ou fugir de uma situação ameaçadora. Em um organismo sob estresse, sofrem alterações a frequência cardíaca, a frequência respiratória, a concentração de glicose no sangue e a quantidade de energia armazenada como gordura, e esses parâmetros devem retornar aos limites normais após cessarem os estímulos.22

O estresse, ao mesmo tempo em que promove a adaptação do ser humano a diferentes situações, se mantido por longos períodos de tempo em níveis elevados, pode produzir consequências nocivas para o organismo, acarretando diversos problemas à saúde do indivíduo.22, 23

Segundo Rodrigues e colaboradores23, o estresse ocupa atualmente

uma posição importante entre as causas de doenças conhecidas, que vão desde problemas cardiovasculares a psicológicos, incluindo ainda alterações no sistema imunológico, as quais, por sua vez, podem desencadear diversas outras complicações.

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De acordo com os conhecimentos atuais sobre o estresse, o estresse ocupacional pode afetar a saúde dos trabalhadores através de dois mecanismos distintos. O primeiro mecanismo do estresse pode afetar as respostas psicofisiológicas (sistemas nervoso autônomo, neuroendócrino e imunológico) relacionadas a patologias e à vulnerabilidade do hospedeiro, reduzindo a resistência a patógenos ou estimulando mecanismos da doença. O segundo, indiretamente, através das decisões comportamentais individuais ou hábitos de pessoas expostas ao estresse no trabalho. Dessa maneira, o estresse ocupacional pode levar o trabalhador à adoção de comportamentos nocivos à saúde, como o tabagismo, o consumo de álcool, o sedentarismo e a dieta não-saudável.24

Estudo de Macedo e colaboradores22 concluiu que os homens, em

atividades com alto potencial estressor, apresentaram prevalência da interrupção das atividades habituais duas vezes maior do que aqueles cujas atividades não foram classificadas nessa categoria. Isso demonstra que os fatores que provocam o estresse no trabalho, como, por exemplo, carga horária excessiva e condições de trabalho inadequadas, podem ser fonte de absenteísmo e, consequentemente, de redução da produtividade laboral. Battiston, Cruz e Hoffmann25, em estudo conduzido com uma

amostra de 21 motoristas do sistema de transporte coletivo da cidade de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, demonstraram que a atividade de dirigir é desgastante, pode causar fadiga, e sua eficácia está relacionada, sobretudo, a fatores ambientais do local de trabalho e à maneira como os motoristas lidam com esses fatores. Há ocorrência de distúrbios orgânicos (dores de cabeça, nas pernas e problemas auditivos) e psíquicos (como estresse, irritabilidade e fadiga), que afetam não só a atividade de dirigir, mas também a vida social e familiar desse profissional.

Estudo de Ferrareze, Ferreira e Carvalho26 investigou a ocorrência de

estresse entre enfermeiros que atuam em um hospital universitário, na assistência a pacientes críticos de uma Unidade de Cuidados Intensivos. Em uma amostra composta por 12 enfermeiros, em que a carga horária de trabalho varia entre 10 e 12 horas diárias, mais da metade dos trabalhadores (66,7%) que assistem pacientes críticos mostrou sinais de sofrimento físico e (ou) psicológico característicos da fase de resistência ao estresse, o que sugere a necessidade de atenção a esses profissionais. Nessa mesma categoria profissional, Cavalheiro, Moura Junior e Lopes27 observaram que o estresse

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pois foram achados sintomas relacionados a alterações cardiovasculares, ao aparelho digestivo e ao sistema músculo-esquelético.

O trabalho policial tende a ser considerado como caracteristicamente estressante, devido ao alto risco pessoal de exposição à violência e da participação cotidiana em incidentes traumáticos. Logo, altos níveis de sintomas relacionados ao estresse emocional podem ser esperados nessa população28, 29. Situações de perigo real e alto risco à integridade física,

com alto potencial gerador de estresse, também podem ser encontrados nas atividades laborais desempenhadas por bombeiros militares30 e por

oficiais do exército29, respeitando-se as peculiaridades de cada profissão.

O estresse pode estar associado até mesmo a profissões que aparentemente não oferecem grandes riscos ao indivíduo, como mostra o estudo de Haq, Iqbal e Rahman31, realizado em uma população de 150

agentes comunitários de saúde do Paquistão. Cerca de 25% dos trabalhadores apresentavam níveis significantes de estresse ocupacional. Os principais fatores associados ao estresse, no relato sobre esse grupo de trabalhadores, incluíram baixo nível socioeconômico e status social, necessidade de percorrer grandes distâncias para trabalhar, rendimentos inadequados, falta de um plano de carreira e falta de preparo para se comunicar eficazmente com as famílias assistidas.

O trabalho em instalações marítimas de petróleo é geralmente considerado como uma ocupação estressante. Além de estarem expostos a fatores estressores comuns à maioria das áreas terrestres similares, os trabalhadores também estão expostos a estressores que são específicos do trabalho embarcado. Os estressores físicos incluem ruídos, vibração, iluminação e ventilação deficientes, confinamento e espaço reduzido de trabalho, condições de tempo adversas, longas horas de trabalho32 e

revezamento por turnos. Entre os estressores psicossociais, destacam-se as peculiaridades do trabalho (carga de trabalho elevada, variedade de funções, controle), o risco percebido (explosão, fogo, viagens em helicópteros e barcos, etc), alta periculosidade e aspectos da interface entre trabalho e família. Em estudo realizado por Chen, Wong e Yu24, com uma população

de 561 trabalhadores chineses de instalações marítimas de petróleo, os achados sugerem que os fatores psicossociais do estresse ocupacional e as condições de suporte social em trabalho embarcado podem afetar a saúde dos trabalhadores, bem como os hábitos de saúde relacionados, de diferentes maneiras.

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Poucos estudos na literatura fazem uma comparação direta entre populações de trabalhadores embarcados e não-embarcados da indústria do petróleo. Os dados disponíveis na literatura sugerem que, em relação a seus colegas não-embarcados, os trabalhadores embarcados são submetidos a níveis significativamente maiores de ansiedade33, a mais distúrbios de

sono e a uma maior carga de trabalho. Na população embarcada, fatores objetivos (por exemplo, tamanho, idade, tipo de instalação, etc.), percepções subjetivas do trabalho, diferenças individuais (idade e personalidade) e a manutenção de hábitos saudáveis seguem modelos em relação a resultados de saúde e segurança. 34, 35

É possível verificar, a partir da revisão de literatura realizada, que o trabalho pode estar associado a fatores que geram estresse. Porém algumas ocupações têm uma maior capacidade para tal, de acordo com as peculiaridades de cada profissão. Torna-se evidente que ocupações que envolvem um considerável risco de morte – policiais e militares em geral, trabalhadores de plataformas de petróleo, mergulhadores profissionais –, ou ocupações em que o grau de exigência cognitiva é elevado – enfermeiros e médicos de UTI –, ou ainda profissões onde o contato com pessoas é frequente – motoristas de ônibus urbano, agentes comunitários de saúde – apresentam um maior potencial gerador de estresse emocional.

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