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Este capítulo tem como objetivo analisar a categoria trabalho e sua representação na materialidade cotidiana dos trabalhadores do Serviço Social, particularmente do assistente social que atua na esfera pública estatal, entendendo sua história, cultura e processos de trabalho.

Definir a categoria trabalho constitui uma tarefa árdua, considerando as polêmicas em torno desta categoria. Contudo, vale considerar que os significados que o trabalho assumirá historicamente estão condicionados diretamente pelo modo como cada sociedade se organiza em torno da produção e reprodução da vida.

Habituamos-nos a nos referir ao trabalho como aquela atividade desenvolvida com a intenção de mantermo-nos vivos, ou seja, reproduzir nossa existência através da venda da força de trabalho em troca de um salário. Entretanto, vale ressaltar que essa é apenas uma das expressões do trabalho e com certeza, na contemporaneidade, é a mais conhecida, pois é vivenciada no cotidiano de todos aqueles que lutam por sua sobrevivência.

Objeto de reflexão no plano filosófico, político, econômico e nos espaços da psicologia, da administração e tantas outras áreas do saber, ‘trabalho’ pertence, efetivamente, àquele universo de termos sobre os quais não existe consenso, pois expressa sempre uma categoria conceptual que se liga de forma direta a determinadas visões de mundo. Superar as visões ideologizadas e do senso comum sobre o significado do trabalho é condição para avançar no entendimento de uma

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das questões que mais diretamente diz respeito à vida humana e à vida em sociedade (SILVA, 1997:10).

Para definir o homem que trabalha, precisamos transcender a noção de que o homem é somente aquele que pensa e fala e, portanto, se distinguiria dos demais animais. É preciso pensar que o homem é aquele que produz o mundo transformando- o e, desta forma, transforma sua própria natureza.

O filosofo húngaro George Lukács, ao dedicar-se ao estudo da categoria trabalho, a compreende como categoria fundante do ser social, afirmando que a única maneira do homem poder viver seria estabelecendo uma contínua transformação da natureza, sendo que essa transformação é “teleologicamente posta, seu resultado final é previamente construído na subjetividade sob a forma de uma finalidade que orientará todas as ações que virão a seguir” (Lukács, 1979:124). A essa transformação, teleologicamente posta pelo homem, Lukács denomina de trabalho.

Somente o trabalho tem na sua natureza ontológica um caráter claramente transitório. Ele é em sua natureza uma inter-relação entre homem (sociedade) e natureza, tanto com a natureza inorgânica (...), quanto com a orgânica, inter-relação (...) que se caracteriza acima de tudo pela passagem do homem que trabalha, partindo do ser puramente biológico ao ser social (...). Todas as determinações que, conforme veremos, estão presentes na essência do que é novo no ser social estão contidas in nuce no trabalho. O trabalho, portanto, pode ser visto como um fenômeno originário, como modelo, protoforma do ser social (...) (LUKÁCS, 1979:134).

Para Lukács (1979: 31) “O ir-além da animalidade por meio de um salto humanizador conferido pelo trabalho, o ir-além da consciência epifenomênica, determinada de modo meramente biológico, adquire, então, com o desenvolvimento do trabalho, um momento de refortalecimento, uma tendência em direção à universalidade” (LUKÁCS, 1979: 35). O trabalho humano possui em si uma ação consciente e, portanto, deliberada, intencional e transformadora, que permite ao homem atuar sobre a natureza e garantir desta forma sua sobrevivência. Assim, através do trabalho o homem se autoproduz.

pressupõem uma atividade relacional, com vistas a compor novas formas de ação e agregar conhecimento a saberes anteriores. Essas relações permitem aos homens desenvolver suas capacidades emocionais conhecendo a si e a outras pessoas, estabelecendo relações imprescindíveis para seu pleno conhecimento e domínio da natureza, de forma que enquanto a conhece transforma sua própria natureza, humanizando-se.

(...) pelo trabalho o homem se autoproduz: desenvolve habilidades e imaginação; aprende a conhecer as forças da natureza e a desafiá-las; conhece as próprias forças e limitações; relaciona-se com os companheiros e vive o afeto de todas as relações; impõe-se uma disciplina. O homem não permanece o mesmo, pois o trabalho altera a visão que ele tem do mundo e de si mesmo (ARANHA, 1993: 09).

O trabalho é, portanto, o elemento mediador que se dá entre a esfera da necessidade e a da realização desta. “Dá-se uma vitória do comportamento consciente sobre a mera espontaneidade do instinto biológico quando o trabalho intervém como mediação entre necessidade e satisfação imediata”. (Lukács, 1979:41) Para o autor é neste processo de auto-realização da humanidade, de avanços do ser consciente em relação ao seu agir instintivo, bem como do seu avanço em relação à natureza, que se configura o trabalho como referencial ontológico fundante da práxis social.

A vinculação do homem com a terra, o desenvolvimento de novos instrumentos de trabalho e as alterações no modo de produção vão possibilitando que os homens passem a estabelecer outra relação com o trabalho. Com o advento do capitalismo, transformaram-se as bases materiais de produção da riqueza. A classe que emerge neste momento (a burguesia) busca novos mercados, estimulando o comércio e incentivando aberturas de novas rotas para escoar seu produto, sobretudo através do desenvolvimento marítimo.

A expansão capitalista, que viabilizou novas descobertas e o aperfeiçoamento tecnológico, também permitiu o avanço das forças produtivas e o acúmulo de capitais. Assim configurou-se uma nova forma de organização social, na qual os trabalhadores que atuavam em pequenas manufaturas e corporações viram-se obrigados a vender a

sua força de trabalho em troca de salário, de modo a garantir sua sobrevivência. Restava então ao trabalhador livre ir ao mercado e alienar sua força de trabalho ao capital.

Uma nova forma de organizar o trabalho emerge deste contexto, impondo-se uma divisão de trabalho com horários e ritmos estabelecidos pela produção. O resultado do trabalho que antes pertencia a seu produtor é agora alheio a ele, pertencendo aos donos dos meios de produção. Lançavam-se as bases de uma produção com caráter cada vez mais social e a apropriação cada vez mais privada de seus resultados.

Para entendermos melhor essa noção, vale a pena relembrar que o trabalho enquanto categoria que fundamenta a relação social entre os homens tem uma dupla dimensão: é uma atividade natural a partir da qual o homem busca atender suas necessidade de sobrevivência transformando a natureza; e a outra dimensão é como atividade criadora de valor de uso e de troca que deve ser pensado num contexto determinado, o que faz do trabalho uma atividade historicamente determinada. (TEIXEIRA, 1995: 49).

Ao contrário do que postulam os economistas clássicos, o trabalho não é apenas um mero “fator” técnico de produção. “Ele é o princípio de socialização das formas históricas de produção” (TEIXEIRA, 1995: 49). Ainda segundo Teixeira, é toda atividade produtiva: o dispêndio de energia, mensuração do tempo de trabalho e a sua distribuição entre as diferentes esferas da produção material.

A realização do trabalho pressupõe, portanto, três elementos indispensáveis: o trabalhador, os objetos de trabalho e os meios para a efetivação desse trabalho. Eles constituem os objetos do estudo de Marx em “O Capital” no capítulo denominado: “Processo de trabalho e processo de valorização” (MARX, 1985). É o momento em que o objeto sofre transformação para chegar a converter-se em produto útil. Esta transformação se realiza mediante a atividade humana do trabalho, utilizando-se para isso instrumentos que podem ser mais ou menos aperfeiçoados, dependendo do grau de desenvolvimento das forças produtivas.

Trabalho, portanto, seria toda atividade humana desenvolvida no processo de produção de bens materiais. Para sua realização depreende-se o que Marx denominou força de trabalho, ou seja, a energia humana despendida no processo de trabalho. Assim, após o período (jornada) de trabalho haverá um cansaço que, exigirá um tempo para a reposição dessa força. Vale reforçar a distinção que Marx faz entre trabalho e força de trabalho, pois cada um se refere a realidades absolutamente diferentes: o trabalho não é senão o rendimento da força de trabalho, ou seja, o produto final originário do emprego da força de trabalho sobre os elementos do processo de trabalho (instrumentos e matérias primas).

(...) um complexo de coisas que o trabalhador coloca entre si mesmo e o objeto de trabalho e que lhe serve como condutor de sua atividade sobre esse objeto. Ele utiliza as propriedades mecânicas, físicas e químicas das coisas para fazê-las atuar como meios de poder sobre outras coisas, conforme seu objetivo (MARX, 1985:152).

O que o pensador alemão deixa claro é que o processo de trabalho é orientado para um fim, sendo uma atividade consciente que busca um objetivo e, portanto, é projetada anteriormente na mente de seu realizador, que pretende produzir valores de uso23. Para Marx o trabalho é antes de tudo um processo entre homem e natureza onde aquele, ao atuar sobre esta que lhe é externa, modificando-a, estaria modificando sua própria natureza. Ele ainda concebe o trabalho como uma forma de atividade que pertence exclusivamente ao homem, justificando:

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele constitui o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural, realiza ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que

23 Por ‘valor de uso’ Marx entende: toda matéria natural adaptada às necessidades humanas mediante

transformação da forma... Quando um valor de uso sai do processo de trabalho como produto, outros valores de uso, produtos de processos anteriores de trabalho, entram nele como meios de produção. O mesmo valor de uso constitui o processo desse trabalho, e o meio de produção daquele. Produção é, por isso, não só resultados, mas ao mesmo tempo condições do processo de trabalho. (MARX, 1985:151)

determina, como lei, como espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem que subordinar sua vontade (MARX, 1985:149-150).

O trabalho em seu processo, como já vimos, é orientado sempre para a criação de valores de uso com vistas a atender as necessidades humanas. Para tanto o homem utiliza-se de sua força de trabalho, que é o elemento vivo do processo, gerando novos valores. Portanto, pode-se concluir que só o trabalho humano gera valor. Entretanto, sob a lógica capitalista, o processo de produção permanece encoberto, aparece mistificadamente invertido em suas relações, retirando de seu produtor o mérito pela produção; as relações que antes se estabeleciam entre homens, agora aparecem entre coisas, ou seja, entre mercadorias: a força de trabalho e o capital. O trabalhador vende a sua força de trabalho ao capitalista que tem sobre ela total controle, podendo usufruí-la da forma que melhor lhe convier, dentro dos limites estabelecidos pelo contrato que rege a jornada de trabalho.24

O produto é propriedade do capitalista, e não do produtor direto, do trabalhador. O capitalista paga por exemplo, o valor de um dia da força de trabalho. A partir do momento em que ele entrou na oficina do capitalista, o valor de uso de sua força de trabalho, portanto, sua utilização, o trabalho, pertence ao capitalista. O capitalista, mediante a compra e venda da força de trabalho, incorporou o próprio trabalho, como fermento vivo, aos elementos mortos constitutivos do produto, que lhe pertence igualmente (...) A força de trabalho por ele comprada, que só pode, no entanto, consumir ao acrescentar-lhe meios de produção. O processo de trabalho é um processo entre coisas que o capitalista comprou, entre coisas que lhe pertence. O produto desse processo lhe pertence de modo inteiramente igual ao produto do processo (...) (MARX, 1985:154).

O que se percebe é uma contradição dialética, ou seja, o capital só pode se materializar sob a forma de mais capital se submeter o trabalho humano à condição de mercadoria. Essa forma é necessária, pois encobre as relações que passam a aparecer invertidas, ou seja, a relação aparece entre mercadorias, embora expresse

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Jornada de trabalho - segundo a compreensão de Marx “a jornada de trabalho não é uma grandeza fixa pode variar somente dentro de certos limites. Seu limite fixo é, entretanto indeterminável. Em contraposição, a jornada de trabalho possui um limite máximo. Uma pessoa pode durante o dia natural de 24 horas, despender apenas um determinado quantum de força vital” (MARX, 1985:188).

um intercâmbio entre classes sociais antagônicas. O trabalho, por sua vez, só se viabiliza no contexto capitalista, quando pela intermediação do mercado converte-se em trabalho remunerado e tem o seu valor estimado pela possibilidade que oferece de agregar valor ao bem produzido.

A classe que detém o capital detém a propriedade dos meios de produção e, portanto, os meios de subsistência, em contraposição aos trabalhadores que se encontram desprovidos das condições materiais para concretizar seu trabalho. A venda da força de trabalho se torna, portanto, condição sine qua non para que o trabalhador continue sobrevivendo. O capital supõe o trabalho assalariado e esse o capital. (MARX, 1985).

As relações vão se estabelecer entre os homens a partir da troca de objetos que materializam seus trabalhos, estando o caráter social de sua atividade expresso em sua produção, independente de seus produtores. Assim, o produto esconde o processo da relação social necessária para sua produção, subsumindo o homem e fetichizando a mercadoria.

A forma mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho em que esta forma se corporifica não têm nada a ver com seu caráter físico nem com as relações materiais que deste caráter se derivam. O que aqui reveste, aos olhos dos homens, a forma fantasmagórica de uma relação entre objetos materiais não é mais que uma relação social concreta estabelecida entre os mesmos homens. Por isso, se quisermos encontrar uma analogia a estes fenômenos teremos que remontar às regiões nebulosas do mundo da religião, onde os produtos da mente humana assemelham-se a seres dotados de vida própria, de existência independente e relacionados entre si e com os homens. Assim acontece no mundo das mercadorias com os produtos da mão do homem. A isto eu chamo de fetichismo, sob o qual se apresentam os produtos do trabalho, tão logo se criam na forma de mercadorias, e que é inseparável, conseqüentemente, deste modo de produção (MARX, 1985:38). A relação entre capital e trabalho pressupõe, portanto, uma relação de assalariamento, em que o trabalhador tendo vendido a força de trabalho ao capitalista, aliena-se ele próprio do produto de seu trabalho. Assim o trabalhador já não se

reconhece mais no resultado de seu trabalho. E, ao se alienar do produto de seu trabalho, aliena-se de si mesmo.

As relações sociais determinantes, baseadas na propriedade privada capitalista e no assalariamento da força de trabalho, geram condições para que a atividade humana produza alienação ao invés de humanização25. A vivência destas relações produz uma alienação que, segundo Meszários (apud ANTUNES,1999:57) se expressa em três níveis.

O autor, a partir de seus estudos acerca dos Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1884, desenvolve o primeiro nível quando afirma, em linhas gerais, que ao viver o trabalho alienado o ser humano se aliena da sua própria relação com a natureza, pois é através do trabalho que o ser humano se relaciona com ela, a humaniza e assim pode compreendê-la. Vivendo relações onde ele próprio se coisifica, onde o produto de seu trabalho lhe é algo estranho e que não lhe pertence, a natureza se distancia e se fetichiza.

Num segundo aspecto, o ser humano aliena-se de sua própria atividade. O trabalho se transforma, deixa de ser a ação própria da vida para converter-se num “meio de vida”. Ele trabalha para outro, contrafeito, o trabalho não gera prazer, constituindo-se em atividade imposta que gera sofrimento e aflição. Assim, alienando- se da atividade que o humaniza o ser humano aliena-se de si próprio (auto-alienação).

E, finalmente, o terceiro aspecto destacado pelo autor é que alienando-se de si como ser humano, tornando-se coisa, o indivíduo afasta-se do vínculo que o une à espécie. Ao invés do trabalho tornar-se o elo do indivíduo com a humanidade, a produção social da vida metamorfoseia-se num meio individual de garantir sobrevivência particular. A materialidade destas relações que produzem a alienação é

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expressa no universo das idéias como Ideologia. São, nas palavras de Marx, as relações materiais concebidas como idéias.

Ao viver as relações particulares os homens as interiorizam como verdadeiras e naturais. A generalização da vivência particular não apenas baliza em valores, como deforma a representação de realidade pela transposição de juízos presos à particularidade. Construímos nossos parâmetros a partir da vivência concreta de nossas relações. Os valores são mediatizados por pessoas. As pessoas que servem de veículo de valores são “modelos”. Não se trata de identificação com a “sociedade”, com “as relações capitalistas” ou suas idéias, mas de relações de identidade com seres humanos, seus “modelos”, que as pessoas assumem os valores dos outros como sendo os seus.

O homem se vê e se reconhece primeiro em seu semelhante, a não ser que já venha ao mundo com um espelho na mão ou como filósofo fichtiano para quem basta o “eu sou eu”. Através da relação com o homem Paulo, na condição de seu semelhante, toma o homem Pedro consciência de si mesmo como homem. Passa a considerar Paulo – com pele, cabelo sem sua materialidade paulina- a forma em que se manifesta o gênero homem (MARX, 1985:60).

Assim o indivíduo vai construindo uma visão de mundo que julga como sendo própria. Apesar de sua utilidade prática, de sua aparente coerência, esta visão caracteriza-se, como afirma GRAMSCI (1991), por ser ocasional e desagregada, não formando um todo unitário e coerente, mas somando seus aspectos componentes de forma arbitrária e bizarra. A essa visão acrítica, desistoricizada, GRAMSCI chama de senso comum.

Pela própria concepção de mundo, pertencemos sempre a um determinado grupo, precisamente o de todos os elementos sociais que partilham de um mesmo modo de pensar e de agir. Somos sempre conformistas de algum tipo de conformismo, somos sempre homens-massa ou homens coletivos... Quando a concepção do mundo não é crítica e coerente, mas ocasional e desagregada, pertencemos a uma multiplicidade de homens-massa, nossa própria personalidade é composta de uma maneira bizarra:

nela encontram-se elementos das cavernas e princípios da ciência mais moderna e progressista... Criticar a própria concepção do mundo, portanto significa torná-la unitária e coerente e elevá-la até o ponto atingido pelo pensamento mundial mais desenvolvido. Significa, portanto, criticar também toda a filosofia até hoje existente, na medida que ela deixou estratificações consolidadas na filosofia popular. O início da elaboração crítica é a consciência daquilo que somos realmente, isto é hoje desenvolvido, que deixou em ti uma infinidade de traças recebidas sem benefício, no inventário. Deve-se fazer, inicialmente este inventário (GRAMSCI, 1991:12).

Esse conjunto desordenado e contraditório de elementos que compõem o senso comum apresenta-se como alienação não porque se desvincula da realidade, mas, pelo contrário, exatamente por partir de uma relação particularizada com esta realidade, tornando-a natural e desvinculando-a dos elementos de seu contexto e de sua história, o que nos leva à alienação do sujeito. A manutenção e reprodução dessa forma de organização da sociedade dependem da continuidade desse processo, de reprodução da dominação de uma classe sobre a outra. A forma pela qual se organiza a produção da riqueza no capitalismo é aquela na qual o trabalho é cada vez mais socializado entre os trabalhadores e que a apropriação da riqueza produzida é cada vez mais privada.

A contradição entre a produção e apropriação do que é produzido sob a forma de mais-valia, é vista pelo pensamento conservador e, sobretudo liberal, como justa e natural, pois permite o desenvolvimento das sociedades, ao conceder a todos, igualdade de oportunidades. Assim, de acordo com seu empenho pessoal, aptidões e força de vontade, as pessoas poderiam passar de trabalhadores a capitalistas.

Os conflitos, segundo essa ótica, poderão ser superados se cada um entender

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