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O intuito desta parte da dissertação é compreender o desenvolvimento das pesquisas que foram apresentadas durante a realização de cada ENEM. Não temos pretensão de fazer uma avaliação, mas um panorama das produções11 (artigos científicos) que tratam da História da Educação Matemática. O objetivo é lançar luzes sobre as perspectivas de consolidação da Educação Matemática como campo de pesquisa. Para tanto, algumas inquietações precisam ser esclarecidas para entendermos os porquês da importância deste evento para a sociedade que trabalha com Educação Matemática, seja como pesquisador e/ou professor que leciona matemática. Nesse sentido, quais abordagens emergem desses trabalhos durante as dez edições do evento? Como se configurou a área de História da Educação Matemática? Quais foram as principais contribuições das pesquisas?

O quadro 03, a seguir, como já mencionado anteriormente, apresenta as produções (comunicações científicas e relatos de experiências) que foram aceitas e disponibilizadas nos Anais dos Encontros Nacionais de Educação Matemática. Neste espaço, destacamos as pesquisas relacionadas com a História da Matemática e Educação Matemática.

10 Nos estudos e pesquisas realizados por Mendes entre 2008 e 2014 a esse respeito dessa temática

(conforme consta nas referências), encontramos diferentes expressões como História e Pedagogia da Matemática, História na Educação Matemática e História no Ensino da Matemática correspondendo ao mesmo significado. Assim optamos por utilizar nos quadros uma única expressão História no Ensino da Matemática.

11 O estudo foi feito por meio dos relatos de experiências e das comunicações científicas, por

Quadro 03: trabalhos que abordaram a história da Matemática e Educação Matemática nos ENEM (1987-2010)

Encontros Realizados

Tendências dos Estudos e Pesquisas (No de

Trabalhos) Total de Trabalhos A B C 1º ENEM - 1 2 3 2º ENEM - - 2 2 3º ENEM - - 1 1 4º ENEM 2 2 2 6 5º ENEM 4 - 1 5 6º ENEM 1 7 2 10 7º ENEM - 6 1 7 8º ENEM - 6 1 7 9º ENEM 1 4 2 7 10º ENEM 8 30 7 45 Total 17 56 21 93

Fonte: elaborado pelo autor, com base nas categorias propostas por Mendes (2008) e artigos dos ENEM (1987-2010).

Legenda:

A - História e epistemologia da matemática. B - História da educação matemática. C - História no ensino da matemática.

De acordo com o quadro 03, é possível verificar a quantidade de trabalhos que apresentavam pesquisas relacionadas com a História da Matemática e Educação Matemática. Ressaltamos que a organização dessas publicações se deu em decorrência da familiaridade dos autores em relação ao campo de pesquisa. Neste contexto, caracterizamos a seguir cada artigo deste quadro, de modo a apresentarmos o desenvolvimento da História da Matemática ao longo dos dez encontros. Para tanto, descrevemos as principais informações obtidas por meio da leitura das comunicações

orais e dos relatos de experiências. Em seguida, analisamos e qualificamos os trabalhos de acordo com estudos desenvolvidos por Mendes (2008, 2012, 2014).

De posse dos artigos que compuseram os Anais dos ENEM (1987-2010), apresentamos as principais características que abordaram as reflexões sobre a História e Epistemologia da Matemática, caracterizadas por mostrar os pressupostos teóricos de um determinado conceito, temas específicos de Matemática, relações entre Matemática e outras áreas, aplicações da História da Matemática, História da Matemática nos livros didáticos e desenvolvimento de produções sobre História da Matemática.

Como consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), “conceitos abordados em conexão com sua história constituem veículos de informação cultural, sociológica e antropológica de grande valor formativo” (BRASIL, 1998, p. 42), por isso, a utilização da história da matemática se torna importante, tanto para compreendermos quais os mecanismos usados para chegar a determinados conhecimentos, quanto para sabermos as necessidades que os grupos sociais tiveram para formar estes conhecimentos, exercendo o papel de um recurso para se estudar a matemática, com a capacidade de resgatar a própria identidade cultural.

Além dessa categoria, destacamos em conformidade com Mendes (2008, 2012, 2014), os artigos que apresentavam a História da Educação Matemática (objeto de estudo desta dissertação). Para tanto, verificamos as abordagens que emergiram ao longo dos encontros, a saber:

1) Biográfica ao retratar a trajetória de professores/pesquisadores da Matemática, concedendo um olhar para o desenvolvimento da prática em sala de aula, a buscar na formação continuada e a sua importância no processo de consolidação da área de Educação Matemática, especificamente, no Brasil; o estudo de obras (relato sobre a importância da obra para o ensino de matemática – contribuições);

2) História e Memória caracterizadas por analisar documentos de diferentes formas de produção da história. Conservam-se certas informações, propriedade que se refere a um conjunto de funções e permite o indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passadas. A memória alicerça a História, confundindo-se com o documento, com o monumento e com a oralidade (LE GOFF, 1992);

3) História Oral trata-se da prática de registro de histórias transmitidas oralmente nas diferentes sociedades, como estratégia de dominação e normatização dos comportamentos coletivos. No processo, o testemunho oral de indivíduos fornece novas perspectivas para o entendimento do passado recente, constituindo como meio de trabalho investigativo com respaldo em outros referenciais teóricos, principalmente os que discutem sobre as relações entre escrita, oralidade, memória e história, tradição oral, bem como sobre os conceitos apontados pelos colaboradores (BARALDI, 2003);

4) História das Instituições Escolares que discutem as relações dialéticas entre o universal e o particular, referenciado por prédios e espaços ocupados pelas escolas, analisando as possibilidades de apropriação desses espaços escolares pelos atores e as relações entre as representações dos espaços e a identidade institucional. Consideramos a reflexão acerca das categorias de espaço, região, percurso, lugar e mapas como elementos para a inteligibilidade e construção da História das Instituições Escolares (CERTEAU, 1996). Neste sentido, observamos o que se passa no interior da instituição (ciclo de vida – criação, desenvolvimento, crises e extensão), corpo docente, entre outros;

5) História das Disciplinas Escolares que compõem na apresentação de documentos produzidos no passado que podem ser acessados nos arquivos escolares. Esses documentos contribuíram na elaboração dessa história por permitir uma análise dos conteúdos. Neste contexto, o estudo sobre as disciplinas escolares foi importante para entendermos as finalidades escolares, que segundo Chervel (1990) comporta-se não somente como práticas docentes em sala de aula, mas também finalidades que presidiram sua constituição e o fenômeno de aculturação;

6) Abordagem Mista constituindo-se em artigos que envolveram mais de um dos tipos de abordagens.

Os demais artigos inseriram-se na História no Ensino da Matemática, caracterizados pelo uso da história da matemática em sala de aula, como recurso para a aprendizagem dos conceitos matemáticos. Esses trabalhos possibilitaram a disseminação da matemática, com base nas informações históricas que enfatizaram o caráter investigativo. Assim, concordamos com Mendes (2009) ao afirmar que:

[...] à dimensão histórica pode conduzir a investigação em sala de aula, dando maior significação à matemática escolar. Isso porque o conhecimento histórico pode, muitas vezes, estar implícito nos problemas suscitados na atividade ou, até mesmo, explícito nos textos históricos resgatados de fontes primárias (textos originais, documentos ou outros artefatos históricos) ou secundárias (informações de livros de história da Matemática ou de livros paradidáticos). O princípio que dá a dinâmica vital às atividades históricas, para que elas se constituam em um processo ativo-reflexivo, vem dos pressupostos construtivistas (MENDES, 2009, p. 93).

Desse modo,

O conteúdo histórico surge como um elemento motivador e gerador da matemática escolar, pois se apresenta como um fator bastante esclarecedor dos porquês matemáticos tão questionados pelos estudantes de todos os níveis de ensino. É nas informações históricas que estão plantadas as raízes cotidiana, escolar e científica do conhecimento matemático a ser (re)construído pelos estudantes e, por isso, precisam ser bem explorado pelo professor (BRITO; et. al., 2009, p. 58).

Neste sentido, os artigos que possuíam tais características foram inseridos na categoria de análise correspondente a História no Ensino da Matemática. Esses artigos apresentaram propostas concretas de uso didático da história da Matemática em sala de aula e suas contribuições para a superação de dificuldades conceituais.