(234) José: Isso é uma visão linear da coisa, não é?
(235) Tutora-orientadora: É uma visão linear, é. Que não descreve a...
Ao mesmo tempo, falam o José e a tutora-orientadora, respectivamente, falas (236) e (237):
(236) José: Realidade
(237) Tutora-orientadora: ...situação. Mas, é uma forma que você tem para
prever.
(238) Maria Estela: Isso. E aí a gente pode fazer, inclusive, essa previsão, para
cinco ou dez anos, é só multiplicar.
(239) José: Projetar, fazer uma projeção.
(240) Maria Estela: Agora me deixa entender aqui. Como é que a gente pode
colocar isso aqui no cálculo?
(241) Tutora-orientadora: Como assim?
Nesse momento, Maria Estela pegou o caderno, abriu na parte da matéria e começou a explicar a partir do que estava escrito em seu caderno, cópia do que a professora escreveu no quadro durante as aulas:
(242) Maria Estela: Porque aqui ela [a professora da disciplina Matemática A]
fez basicamente isso, não foi? Essa parte aqui é isso aqui que a gente fez. Aí quando chega aqui, ela chamou de G o ano que a gente já tem. O ano tal. É, G’, G.
(243) Tutora-orientadora: Ahram! A Maria Estela continuou:
(244) Maria Estela: G e G’, né. Então, o que nós fizemos foi o G, nós não fizemos o G’.
A Maria Estela estava expressando sua inquietação de ter chegado à função e não ter calculado a derivada. Então, em seguida, questionou a tutora-orientadora se é possível obter a derivada daquela função:
(245) Maria Estela: Mas, a gente pode fazer isso com isso, para eu aprender
isso?
(246) Tutora-orientadora: Pode.
(247) Maria Estela: Então, deixa-me achar os dados. Calma, calma, calma. Vou
aproveitar você estar aqui.
Nesse mesmo momento da fala acima, ela fechou o caderno rapidamente. E, posteriormente, pegou o livro que estava sendo utilizado na disciplina Matemática A e começou a explicar o que estava no livro:
(248) Maria Estela: Aqui, ó, que a gente fez [Apontava para o que estava escrito no livro]. Ela pegou os anos, só que ela pegou os gastos em vez de utilizar as
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relações de É, é, é [...]. Em vez de fazer aquelas relações de comparações, ela não comparou nada, né? Aqui, ela pegou ano, gasto, ano, gasto per capita, ano, gasto per capita, [...]. Seria interessante a gente fazer isso aqui também. [...]. Veja bem o que eu vou fazer, quando chegar em casa: vou achar a população de Minas, vou pegar o percentual que de fato foi investido em Saúde, segundo o CNS [...]. Vou seguir exatamente esse passo aqui e vou fazer isso72.
Nesse momento, a tutora-orientadora voltou a explicar sobre a função, até que a Maria Estela tornou a falar sobre o que queria fazer, utilizando uma questão do livro como modelo:
(249) Maria Estela: O que eu estou pensando em fazer aqui é pegar a
população de Minas, dividir pelo gasto por parte da saúde; vou achar o gasto per capita. Depois o que é que eu vou fazer: exatamente esses passos aqui. E aí sim, eu vou ter aquele dado que ela talvez queira, um cálculo “desses cabulosos” no meu trabalho.
Após essa fala acima, a tutora-orientadora alerta sobre o tempo para a apresentação do trabalho:
(250) Tutora-orientadora: Pense que é na segunda-feira, é pra dar conta.
Imagine se você pensar em fazer mais cálculos ainda. Vamos tentar resolver esses, Maria Estela.
(251) Maria Estela: Você acha que esse contempla a proposta dela? (252) Tutora-orientadora: Contempla.
(253) Maria Estela: Mas, não tem nenhuma derivada. Não tem nada.
(254) Tutora-orientadora: Não. Mas, o que foi que eu tentei explicar. Eu não sei
se expliquei para, não sei se foi para vocês ou para o outro grupo, que em nenhum momento é para contemplar aqueles conteúdos, não necessariamente.
(255) Maria Estela: Ahram, entendi!
A tutora-orientadora continua argumentando da não necessidade de buscar contemplar os conteúdos da disciplina Matemática A. Até que conseguiu convencer a Maria Estela:
(256) Maria Estela: Ah. Então, não tem tanto mais coisa para fazer [...]. A partir desse momento, a Maria Estela direcionou para o fim desta reunião.
72 Refere-se a uma questão do livro que, parece, já estava resolvida. Sobre essa questão, não
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6.3.3.4- Análise
É possível perceber que houve uma divisão de tarefas para o desenvolvimento do projeto de modelagem por este grupo. Mais que isso, essa divisão consistiu em dividir o projeto em diferentes demandas e uma delas é a parte matemática73. O José
explicitou isto na segunda reunião, como pode ser percebido a partir do primeiro episódio desta categoria, especificamente pela fala (89):
Naquela divisão de tarefas eu fiquei de fazer os gráficos.Os gráficos praticamente vão ficar prontos aqui, né? [Fala (89)]
Na entrevista com o José, ele explicou tal divisão:
Nas listas de e-mail, nas conversas, outras conversas, reuniões rápidas do grupo, eu me propus e falei... ah, não! As pessoas falaram assim: _estamos precisando fazer revisão, gráficos, referências ainda... a gente ia... eu faço isso, eu faço aquilo; eu falei: _os gráficos podem deixá-los comigo, na lista de e-mails. (JOSÉ, ENTREVISTA, 04/11/2011)
Essa divisão de tarefas teve a ver com a relação dos sujeitos com a matemática, no sentido que pode encorajar ou desencorajá-los a assumir o desenvolvimento da parte matemática. No caso do José, que ficou responsável por essa parte, ele explicou que sempre teve uma boa relação com a matemática:
Ah! Eu sempre fui um bom aluno em matemática. Como eu fiz um curso técnico de Processamento de Dados, então, tinha muita lógica, estatística, matemática. É uma coisa que eu tenho mais afinidade afinidade... eu tenho bastante afinidade com a matemática. (JOSÉ, ENTREVISTA, 04/11/2011)
Dessa forma, entendo que a relação com a matemática, constituída ao longo da história de vida do José, portanto, relacionada ao seu background (SKOVSMOSE, et. al., 2009), encorajou-o a assumir a responsabilidade de desenvolver a parte matemática do projeto de modelagem.
O foreground (SKOVSMOSE, et. al., 2009) do José em relação ao projeto de modelagem envolvia não somente desenvolver a parte matemática, mas também entender sobre o tema do projeto. Isso pode ser entendido a partir da fala (91):
Então, aí eu vou, acho que eu vou me debruçar mais em entender a lei. [Fala (91)]
73 Quando menciono parte da matemática não é uma forma de tratamento minha e sim como
os participantes do grupo trataram. Dessa forma, acabou fazendo parte das expressões utilizadas por todos os envolvidos.