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UM DINHEIRO, UM MUNDO,

No documento O Caminho para a Ruína.pdf (páginas 70-75)

UMA ORDEM.

Grandes progressos têm acontecido nos últimos cinco anos, graças à crise. Eu espero, pessoalmente, que outra crise não seja necessária para progredirmos ainda mais.

Christine Lagarde, Diretora-Gerente do FMI Davos, Suíça, 22 de janeiro de 2015

Não se deve desperdiçar uma crise profunda.

Rahm Emanuel, 21 de novembro de 2008

ABC

SPECTRE É UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA FICTÍCIA CRIADA PELO AUTOR Ian Fleming. O nome é um acrônimo para Sociedade Política Especializada em Contra-Espionagem, Terrorismo, Rapina- gem e Extorsão. Ela apareceu pela primeira vez no romance Chanta-

gem Atômica, de Fleming, de 1963, como a antagonista do herói espião

James Bond, agente 007 do MI-6, com permissão para matar.

Mesmo que a SPECTRE seja criminosa, ela é organizada de forma semelhante a uma ONG moderna ou ao FMI. Trata-se de uma organi- zação transnacional com sede em Paris. A SPECTRE tem um conselho executivo de vinte membros (o conselho do FMI tem vinte e quatro), com representação em países ao redor do mundo; ela não está alinha- da a qualquer país ou ideologia. Em Chantagem Atômica, os escritórios da SPECTRE escondem-se atrás de uma organização de fachada que oferece assistência a refugiados.

A mais recente representação fictícia da SPECTRE aparece no fil- me epônimo de 2015, com Daniel Craig como 007. No filme, a Dire- toria Executiva da SPECTRE é retratada sentada a uma grande mesa de madeira escura, em uma sala de reuniões com pé direito alto, em Roma. A Diretoria é étnica e culturalmente diversa, incluindo mulhe- res em importantes cargos de liderança. Sua agenda inclui relatórios de executivos sobre o desempenho e os lucros de áreas distintas de negócios. Nesses relatórios, as áreas de atuação das empresas crimi- nosas e das legítimas parecem facilmente se confundir.

Ponderando sobre o funcionamento das elites monetárias globais atuais, a imagem da SPECTRE salta irresistivelmente à mente. Sua ontologia top-down combina com a organização elaborada. Às vezes, a vida parece imitar a arte, como nas reuniões anuais da elite do Grupo

Bilderberg, que são fechadas, secretas e acontecem nos melhores lu- gares. Mas se o Grupo Bilderberg é real, há escassas evidências de que um comitê central subjugue a humanidade. Além disso, um processo

top-down é desnecessário para controlar o mundo por meio do dinhei- ro. O processo real é mais sutil.

As verdadeiras elites operam dentro de esferas de influência. Essas esferas incluem finanças, mídia, tecnologia, o setor militar e a política. Os habitantes de cada esfera têm seus momentos e lugares favoritos para se encontrar. As elites da mídia se reúnem em julho na confe- rência Allen & Company Sun Valley, em Idaho. Os banqueiros centrais se reúnem em agosto, no Jackson Hole, Wyoming, numa conferência patrocinada pela Reserva Federal da Cidade do Kansas. As elites mili- tares e as da Inteligência se reúnem na Conferência de Segurança de Munique, no início de fevereiro. Líderes de opinião e intelectuais pú- blicos podem escolher entre o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, a Conferência Global do Instituto Milken, em Beverly Hills, e a conferência TED (Tecnologia, Engenharia, Design), em Vancouver.

Esses pontos de encontro da superelite não são convenções rotinei- ras das indústrias. Eles são apenas para convidados ou para aqueles que tenham condições de admissão e patrocínio que os permitam participar da elite do poder. São eles chefes de Estado, funcionários de gabinetes, CEOs e bilionários. Pessoas comuns nem precisam se inscrever.

O encontro mais exclusivo, e o que gera mais teorias da conspi- ração, é o Bilderberg Meeting, realizado anualmente, desde 1954, em vários locais. O Bilderberg tem um grupo central de cerca de quarenta participantes regulares, e um grupo maior de cerca de cem convida- dos, que variam de ano para ano, dependendo da urgência dos temas ou de ascendências políticas. O núcleo do grupo são, principalmen- te, as elites financeiras e industriais; o grupo mais amplo tende a se aproximar de formuladores de políticas e dos intelectuais públicos.

Quando eu instruí, em particular, o chefe do Bilderberg, no Ro- ckefeller Center, há alguns anos, ele foi educado e extremamente in-

teressado nas minhas opiniões sobre o euro. Eu garanti a ele e a seus associados que o euro estava aqui para ficar, numa época em que mui- tos economistas proclamavam a iminência de sua morte. Ao final da nossa discussão, ele, gentilmente, deu-me um presente, um vaso sue- co projetado em um vórtice translúcido azul profundo, que eu mante- nho à vista no meu estúdio de redação. Ele não mostrou suas garras.

Nessa e em reuniões semelhantes, as diferenças ideológicas são postas de lado. A conferência Sun Valley, em julho de 2016, incluiu o proprietário da Fox, Rupert Murdoch, e Brian Roberts, dono da MS- NBC. A ideologia da elite compartilhada por Murdoch e Roberts é mais poderosa do que os embates de gritos políticos que as emissoras transmitem para o consumo da massa. Eles são apenas entretenimen- to. Sun Valley trata-se de poder.

As atividades importantes da elite, não ocorrem, nessas confe- rências, em painéis programados, mas em jantares confidenciais, com bebidas em suítes e chalés isolados próximos ao principal ponto de encontro. Quando eu estive na Milken Institute Global Conference, percebi haver conversas mais significativas no bar do Peninsula Hotel, a uma quadra do evento principal, do que nos palcos.

As esferas da elite flutuam e se sobrepõem como o diagrama inte- rativo tridimensional de Venn. As interseções emergem, misturam-se e desaparecem. Nos interstícios existem elites que canalizam o poder de uma esfera para outra. Chris Dodd é um bom exemplo. Como senador americano, com cinco mandatos, e patrocinador de Dodd-Frank, ele está ancorado em ambas as esferas, política e financeira. Como Diretor da Motion Picture Association of America, ele também está ancorado na esfera da mídia. Quando as elites da mídia e as elites políticas pre- cisam se conectar, Dodd é um dos canais.

Essa estrutura de esferas separadas, interseções e vias designadas é como a elite do poder global governa. Esse modelo tem maior poder ex- plicativo do que um comitê coeso, hierárquico, imaginado para governar o mundo. Tal comitê, se existisse, seria relativamente fácil de identificar,

monitorar e expor. Em contrapartida, um modelo de esferas flutuantes é amorfo, difícil de definir. Se um membro individual é desacreditado por escândalo ou reversão de fortuna, ele é rapidamente sacrificado (com posterior possível reabilitação), enquanto o sistema sobrevive. A mídia não tem interesse em elucidar esse sistema; os repórteres não conse- guem imaginar isso, e os CEOs da mídia participam dele.

Outro meme defendido por teóricos da conspiração é que a eli- te global é malévola. Um problema muito mais sério do que as elites fazerem o mal é que elas acreditam que fazem o bem. Essa crença as impede de realizar uma autocrítica.

Enquanto a elite global é amorfa, há indivíduos, como George So- ros, com acesso direto aos mundos financeiro e político, que funcio- nam como superporta-aviões do programa da elite. Enquanto Soros não é o presidente informal da elite do poder (não há ninguém res- ponsável), seu acesso às elites em todos os lugares e seu paciente abraço à engenharia social fragmentária de Karl Popper fazem dele um belo exemplo do que é a elite. Outros exemplos dos superporta- -aviões da elite incluem Christine Lagarde, Michael Bloomberg e Warren Buffett. Os presidentes e os primeiros-ministros não são in- significantes, mas eles vêm e vão. Os superporta-aviões de elite per- manecem influentes por décadas.

Qual é o objetivo da elite? Ele é imutável. Foi perseguido, nos sé- culos passados por César e Napoleão, e, no século XX, pelas dinastias Rockefeller, Roosevelt e Bush. Esse objetivo reina, ainda hoje, em ins- tituições com nomes anódinos, como Nações Unidas e Fundo Monetá- rio Internacional. O objetivo é simples: dinheiro mundial, tributação mundial e ordem mundial.

No documento O Caminho para a Ruína.pdf (páginas 70-75)