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Uma nova força política: o surgimento da Abag nos anos de 1990 18

A industrialização da agricultura durante a ditadura do grande capital produziu conflitos no âmbito da representação dos interesses agrários. A especialização/diversificação da produção decorrente da modernização gerou um processo de diferenciação, econômica e política da classe de proprietários agroindustriais. As associações civis de produtores ganharam maior proeminência com relação às federais rurais estaduais e com relação à Confederação Nacional da Agricultura (CNA), assumindo a liderança da representação dos setores mais beneficiados pela modernização. (PINTO, 2010, p. 27).

Neste processo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), criada em 1969 em São Paulo, ganhou importância, defendendo o cooperativismo empresarial. Desde seu surgimento, a entidade se colocou a frente das tradicionais Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), criada no Rio de Janeiro em 1897; e Sociedade Rural Brasileira (SRB), nascida em 1919, em São Paulo – bem como da Confederação Rural Brasileira (CRB), fundada em 1928, que representou um modelo corporativista de representação dos interesses empresariais, com verticalização do associativismo empresarial no campo.

18 Neste tópico me beneficio largamente do trabalho de PINTO, 2010. Assim, me limitarei a indicá-lo apenas no

51 A OCB representou um tipo moderno de empresariado rural, diferentemente da CNA, criada por decreto-lei em 1964, sob a tutela do estado ditatorial – como também foi o caso da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag). (Iglesias, 2007).

Durante a Assembléia Nacional Constituinte (ANC), a partir de 1987, a entidade assumiu função dirigente entre as frações de classe que se formavam em torno dos interesses do campo19, com uma proposta de cooperativismo empresarial. A formação da Frente Ampla da Agropecuária (FAAP), ainda em 1986, se deu sob a hegemonia da OCB, que soldou interesses agrários e, ao mesmo tempo, buscou combater a União Democrática Ruralista (UDR) que, por seu turno, havia sido articulada por pecuaristas das regiões de Goiás, Minas Gerais e São Paulo para disputar a hegemonia do I Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), de 1985, e da Constituição Federal de 1988 e, por outro lado, para assassinar trabalhadores e trabalhadoras que organizavam a luta pela terra ao longo da década de 1980, sobretudo o MST.

Da experiência da OCB nasceu a mais acabada forma de representação do empresariado associativista, vinculada ao processo mais largo de modernização e reestruturação produtiva da economia política do campo: a Associação Brasileira do

19 Na homenagem a Flávio Páscoa Teles de Menezes, jurista que esteve à Frente da Sociedade Rural Brasileira

no período da Assembléia Nacional Constituinte que recebeu o prêmio anual concedido pela Abag “Personalidade do Agronegócio 2010”, Roberto Rodrigues relata um momento importante da Assembleia Constituinte instalava a partir de 1987, indicando a hegemonia da OCB naquele processo. Diz ele: A Abag, quando escolhe o homenageado, considera o conjunto da obra. Não é o trabalho de um ou dois anos. O Alysson colocou muito bem isso. Como um empreendedor rural brasileiro, Flávio enfrentou momento complicadíssimo. Como advogado, estabeleceu um padrão para todos: a defesa do Estado de Direito. Diante de qualquer diversidade, foi a fonte de iluminação dos nossos caminhos o tempo inteiro. A ANC tomou posse no dia 1° de fevereiro de 1987. Alysson tinha sido eleito constituinte. Na segunda-feira, dia 2 de fevereiro, não houve a abertura da Assembleia. Enquanto se discutia quem ia fazer o quê, a Assembleia ficou fechada para o público. No dia 3, primeiro dia de funcionamento da ANC, a reunião foi coordenada pelo Alysson Paolinelli, na Comissão de Agricultura, presidida pelo deputado Jorge Viana, da Bahia. Lá constituímos a FPA. Quando começou o funcionamento da Constituinte, a primeira Assembleia constituída foi a da Agricultura. Para isso, preparamos um ideário sob a égide liberal, sob a luz do Flávio Páscoa Teles de Menezes. Pela sua inteligência e vivência, na ótica da justiça e do direito, Flávio deu origem ao ideário da FPA, redigido mais tarde por Alberto Veiga, que tempos depois deu origem à Abag, por inspiração do Ney Bittencourt de Araújo A FPA teve um trabalho extraordinário na Constituinte. Naquele primeiro dia, fomos chamados, o Flávio, o Fernando Vergueiro e o Gilman Viana Rodrigues, Secretário da Agricultura do Estado de Minas Gerais, então presidente da Sociedade Mineira da Agricultura. Fomos à sala de um senador da República, de Mato Grosso do Sul, que nos disse o seguinte: “Olha, vocês têm de organizar o papel da Comissão de Agricultura, presidida pelo deputado de Pernambuco, Oswaldo Lima Filho”. O relator era o deputado de Minas Gerais, Arnaldo Rosa Prata. E completou o seguinte: “Vocês preparam o documento para o Arnaldo ler na Comissão daqui a dois dias”. A partir do nada, saímos daquela reunião, e o Flávio falou: “Puseram no nosso colo uma responsabilidade realmente histórica. Precisamos fazer isso acontecer”. Saímos para a OCB, escrevemos o capítulo da política agrícola e entregamos para o Rosa Prata, que foi para o microfone e leu o papel. Isso mostra a responsabilidade do Flávio na condução desse processo. Com sua confiança no time que o cercava, o relator sequer discutiu o papel antes de lê-lo. Isso deu origem a uma Constituição cheia de problemas, mas com muitas coisas positivas e uma vertente favorável à agricultura brasileira naquele tempo (ABAG, 2010, p. 39-40).

52 Agronegócio (Abag)20. Sua fundação se deu durante a realização da primeira edição da Agrishow, em 1993, uma Feira Internacional de Tecnologia Agrícola, inspirada na norte- americana Farm Progress Show e na argentina Expochacra, realizada no município de Ribeirão Preto-SP, com o objetivo de dinamizar o agronegócio brasileiro.

A Abag também foi lançada em um evento realizado no dia 6 de maio de 1993, no Congresso Nacional e, novamente, no Seminário de Agribusiness, ocorrido em São Paulo, em 14 de junho do mesmo ano. No primeiro evento, a Associação se propõe a solucionar quatro problemas que identificava no Brasil: (a) organização do processo de desenvolvimento sustentado; (b) integração à economia internacional; (c) eliminação das profundas desigualdades de renda e dos bolsões de miséria; (d) respeito ao meio ambiente. No evento de São Paulo, um mês depois, foram debatidos quatro temas principais: (a) segurança alimentar; (b) agribusiness – conceitos e abrangência; (c) tamanho e custo do estado e infraestrutura e o

agribusiness Brasileiro. (ABAG, 2003, p. 4).

A associação assumiu a função política de reunir todos os participantes das cadeias produtivas do agronegócio, empresas de insumos e fatores de produção, proprietários rurais, processadores industriais de alimentos e fibras, traders, distribuidores e núcleos afins das áreas financeira, acadêmica e de comunicação, imprimindo uma perspectiva de desenvolvimento capitalista dinamizado pelos agronegócios21.

20 Apesar da Abag possuir referência na OCB é preciso considerar que seus quadros-fundadores vêm da histórica

SRB. Tal é o caso, por exemplo, de seu primeiro presidente, Ney Bittencourt de Araújo; além de um de seus mais importantes ideólogos da atualidade, o professor e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

21 Seus associados são: ADM do Brasil Ltda; AGCO do Brasil; Agroceres Nutrição Animal Ltda; Agropalma

S.A.; Algar S.A. Empreendimentos e Participações; Amyris Brasil S.A.; Aprosoja Brasil; ArboGen Tecnologia Florestal Ltda; Associação Brasileira das Industrias da Alimentação-ABIA; Associação Brasileira dos Criadores de Zebu-ABCZ; Associação da Indústria de Açúcar e Álcool-AIAA; Associação Nacioanl de Defesa Vegetal- ANDEF; Associação NAcioanl dos Exportadores de Sucos Cítricos-CITRUSBR; Banco Cooperativo Sicredi S.A.; Banco do Brasil S.A.; Banco Itaú BBA S/A; Banco Rabobank Internacional Brasil S/A; Banco Santader S.A.; Basf S.A.; Bayer S.A.; Bolsa de Mercadorias e Futuros-BM&F; Bunge Alimentos S.A.; Buranello e Passos Advogados; Caramuru Alimentos S.A.; Cargill Agrícola S.A.; Ceres Consultoria S/C. Ltda.; CNH Latin America Ltda.; COCAMAR Cooperativa Agroindustrial; Companhia de Tecidos Norte de Minas-COTEMINAS; Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano-COMIGO; Cooperativa Agropecuária de Araxá Ltda.-CAPAL; Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé-COOXUpÉ; Dow Agrosciences Industrial Ltda; Du Pont do Brasil S.A.; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA; Evonik Degussa Brasil Ltda.; Federação das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul-Fecoagro/Fecotrigo; FMC Química do Brasil Ltda.; Fundação de Estudos Agrários de Queiroz-FEALQ; Globo Comunicação e Participações S.A.; Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias-INPEV; IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional; John Deere Brasil S.A.; Malteria do Vale S.A.; Máquinas Agrícolas Jacto S.A.; Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas Tatu S.A.; Monsanto do Brasil Ltda.; MRS Logística S.A.; Pirelli Pneus S.A.; PricewaterhouseCoopers; Sadia S.A.; Safras & Mercado; Sindicato Nacional da Indústria de Defensivos Agrícolas-SINDAG; Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal-SINDAN; Syngenta; Trademaq-Eventos e Publicações Ltda.; União da Indústria de Cana-de-Açúcar-ÚNICA; União dos

53 Hoje, seu núcleo central é constituído por empresas de capital transnacional, como Cargill, Bunge, Monsanto, Sadia, Abracem, Agroceres22. E desde seu surgimento a entidade patronal assumiu duas tarefas:

Primeira:

De conscientizar os segmentos decisórios do país – os políticos, os empresários, os trabalhadores organizados, os acadêmicos, os líderes de comunicação – para a importância e complexidade da cadeia do agribusiness, a relevância de seu papel no desenvolvimento econômico e social e a necessidade de tratá-lo sistematicamente, sem o que se torna impossível otimizá-lo.

Segunda:

De tornar o Agribusiness ciente e entendido. É a falta de conhecimento mais elementar de seu funcionamento, e dos seus elementos mais importantes, eclipsa a visão de conjunto e as importantes interações que ocorrem dentro do sistema (ABAG, 2003, p. 4).

E dois princípios fundamentais:

- de abrigar, no plano interno, representantes de todo o espectro do agronegócio, mesmo às vezes aparentemente conflitantes, sem exercer lobbies localizados. As suas ações se norteiam nas ferramentas das informações estruturadas e, na racionalidade, manejadas com grande espírito público.

- de assumir papel importante de apoio às organizações, nacionais e estrangeiras, para que as políticas fiscais, tributárias e de créditos, dentre outras, contribuam para o melhor funcionamento do agronegócio, desde a renda condizente para o campo e preços acessíveis ao consumidor. Da mesma forma, participar na defesa dos interesses das cadeias produtivas no comércio internacional. (ABAG, 2003, p. 5).

A Abag atua como um verdadeiro intelectual orgânico coletivo, buscando condições para a expansão dos interesses do conjunto do agronegócio, dedicando-se a elaboração teórica, ideológica para a unidade política dos interesses do capital transnacional com os demais participantes da cadeia produtiva.

Já em seus primeiros anos de existência a associação publicou livros, difundindo sua compreensão de Estado e sociedade, de agribusiness, de agricultura e desenvolvimento; elaborou documentos para os presidentes da República dos pleitos de 1994; assumiu a organização anual da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola-Agrishow; organizou missões no exterior; celebrou convênios com entidades públicas e privadas, inclusive Produtores de Bioenergia-UDOP; Usina Alto Alegre S/A – Açúcar e Álcool; Vale S/A (FCA – Ferrovia Centro Atlântica). (http://www.abag.com.br/index.php?mpg=01.04.00).

54 universitárias, com vistas ao desenvolvimento de pesquisas para o agronegócio (Convênio DENACOOP-MAARA e Abag; Convênio Abag-FGV; Convênio Abag-IEAg e RBS; Acordo Abag-Ciee); realizou fóruns (Fórum Nacional dos Secretarios de Agricultura de Ribeirão Preto, Fórum Rural de Porto Alegre, Fórum Nacional da Agricultura; Fórum de Negociações Agrícolas Internacionais, em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura-CNA), seminários internacionais (Agro nas Américas, com apoio do Ministério da Agricultura e da Embrapa), entre muitas outras atividades. (ABAG, 2003, p. 6-20).

Em quase dez anos de existência, a associação já havia se desenvolvido substantivamente, constituindo-se como uma das principais forças políticas do agronegócio brasileiro, representando a nova forma de reprodução do capital no campo. Em 2002, quando realizou o I Congresso Brasileiro de Agribusiness, ocorrido em São Paulo, nos dias 12 e 13 de junho sob o título “Para onde vai o maior negócio do Brasil?”, a associação compreendia que a conjuntura político-econômica brasileira e internacional colocava o agronegócio como parte do projeto de desenvolvimento que seria vitorioso na década seguinte.

Como escrevi antes, desde 1999 havia um conjunto de medidas político-econômicas em curso que elevavam o agronegócio no plano político e econômico. Assim, sob o clima criado em torno do pleito para a Presidência da República do ano de 2002, a entidade patronal elaborou seu Projeto Estratégico de Desenvolvimento do Agribusiness Brasileiro, que culminou no I Congresso Brasileiro de Agribusiness, realizado com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e coordenado pela Associação Brasileira dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil.

Naquele momento, a Abag propôs um projeto político que articulasse o capital de empresas dominantemente brasileiras com o capital de origem estrangeira, unificando interesses econômicos de frações da burguesia, participando da luta pela hegemonia, à medida que desempenhava funções diretivas e conectivas no Estado em sentido ampliado (sociedade civil e sociedade política). Daquele evento, resultou a “Carta do Agribusiness na Perspectiva 2010” – ou “Projeto Estratégico do Agribusiness Brasileiro 2002-2010” - encaminhado ao então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e aos candidatos ao seu cargo no pleito daquele ano, além de empresários, entidades patronais, entidades de trabalhadores, entre outras.

55 1 Um conjunto de metas de produção, consumo e comércio exterior das principais cadeias produtivas do agronegócio no horizonte 2010, destacando- se o aumento de 3,9% ao ano da produção agropecuária.

2 As recomendações de políticas e medidas dos setores público e privado para a viabilização das metas estabelecidas e o fortalecimento da competitividade do agronegócio brasileiro.

3 A importância da maior coordenação dos interesses e da imagem do agribusiness e do País; a definição das estruturas e plano de ação nos níveis federal, estadual e municipal,; o estabelecimento de compromissos entre os setores público e privado, e dentro do setor privado.

4 A necessidade de formulação de políticas públicas isonômicas em relação aos concorrentes e a firme determinação nas negociações internacionais. 5 A modernização e a definição de instrumentos legais que removam as restrições à competitividade e proporcionem a expansão das atividades produtivas. (ABAG, 2003, p. 21).

Segundo o Projeto Estratégico do Agribusiness Brasileiro 2002-2010, em 2010 o setor deveria gerar um saldo de US$ 29 bilhões na balança comercial. Para tanto, o governo federal deveria assumir o agronegócio como parte do programa econômico do país à longo prazo. Assim foi que a Abag construiu, gradualmente, uma importante e decisiva relação política com o Partido dos Trabalhadores, vinculando o capital transnacionalizado que opera no campo aos interesses do partido político que, mais tarde, implementaria um programa ideologicamente concebido como neodesenvolvimentista, oferecendo aos agronegócios as condições políticas necessárias para sua expansão.

Conforme pronunciou em o deputado do partido Democratas, em 2010:

Quando o Lula se elegeu, estávamos com as espadas prontas e as facas amoladas: armados até os dentes, porque achávamos que seríamos triturados, definitivamente. Quando vimos o anúncio do ministro da Agricultura, acabou toda a valentia: era o Roberto Rodrigues, o pai de todos nós, que ensinou a fazer política desde a Constituinte, com a sua capacidade organizacional de juntar, unir, agregar. Ele teve a bancada ruralista de um governo de oposição a seu serviço no ministério. Graças a ele, não houve a turbulência que se esperava. Por isso, obrigado, ministro Roberto Rodrigues, por tudo o que o senhor representou para nós23 (ABAG, 2010, p. 9).

Desde o primeiro dia de Lula da Silva no Executivo Federal, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foi presidido pela Abag, com Roberto Rodrigues à frente, passando, mais tarde, por Luis Carlos Guedes Pinto, Reinhold Stephanes e Wagner

23 Palavras proferidas pelo então deputado federal Abelardo Lupion, do DEM/PR e então presidente da Comissão

de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara Federal, no 9° Congresso Brasileiro do Agronegócio: “Cenários 2011: Comunicação e Governança”, realizado em 9 de agosto de 2010, pela ABAG.

56 Rossi. Assim, durante todo o governo de Lula da Silva – pelo menos! - a Abag ditou as políticas do MAPA.

Para tanto, a entidade possui uma estrutura de produção e difusão ideopolítica e técnico-administrativo de larga monta, composta pelo Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone), formado em 2003, e pelo Instituto para o Agronegócio Responsável (ARES), constituído em 2007.

O Ícone opera como um centro que produz conhecimentos técnicos especializados sobre comércio exterior, como tarifas, legislações ambientais, regras de origem, barreiras sanitárias, fitossanitárias e técnicas, biotecnologia, demandas ligadas à sustentabilidade, emissões de gás carbono e outros gases de efeito estufa, entre outros temas. O Instituto fornece subsídios para as empresas das cadeias produtivas do agronegócio brasileiro atuarem no mercado internacional, defendendo seus interesses nas negociações comerciais, como aquelas que se dão no âmbito do Acordo União Européia-Mercosul ou nas rodadas de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). (ABAG, 2008, p. 43). Em outros termos, trata-se de um centro produtor e difusor de conhecimentos instrumentais para a expansão econômica e financeira dos agronegócios.

O ARES, por seu turno, representa diversas cadeias produtivas do agronegócio, como as do algodão, do café, da cana-de-açúcar, de carnes, da citricultura, da madeira, do milho e da soja, com uma estrutura organizacional autônoma, formada por conselhos deliberativo, consultivo e fiscal. (ABAG, 2008, p. 44). O Instituto prioriza temas (a) trabalhistas e relacionados à terceirização; (b) agricultura familiar, desalojamento econômico e segurança alimentar; (c) relacionamento com a sociedade civil organizada, ONGs, processos

multistakeholders, rastreabilidade, verificação, certificação e selos; (d) conversão de

ecossistemas; (e) impactos ambientais como GMOs, uso de agroquímicos e manejo de pragas, impactos no solo e plantio direto; (f) resíduos em alimentos e sanidade animal; (g) emissões de gases com efeito estufa , balanço energético e biocombustíveis; (h) ordenamento fundiário, legislação ambiental e monitoramento; (i) conflitos intra e inter SAGs, integração lavoura– pecuária e adição de valor; (j) comércio internacional e sustentabilidade. E tem como objetivos estratégicos: (a) geração de conhecimento e consolidação de informações; (b) diálogo e comunicação para a sustentabilidade no agronegócio brasileiro. (ABAG, 2008, p. 45).

57 Também de importância capital para a Abag é o Instituto de Agribusiness (IEAg), ligado diretamente à diretoria da associação. Segundo Raphaela Giffoni Pinto, é seu “braço direito”, que desenvolve pesquisas, estudos e análises, coordena e executa trabalhos sobre e para o setor, em parceria com instituições públicas e privadas. Boa parte de seus membros são professores e pesquisadores ligados ao Programa de Estudos e Negócios do Sistema Agroindustrial (PENSA), mantido pela Faculdade de Economia e Administração, da Universidade de São Paulo, campus Ribeirão Preto. Ambos, IEAg e PENSA, nasceram juntos, antes mesmo da Abag, ainda em 1990, na esteira da constituição de uma representação política convergente com os processos socioeconômicos dos agronegócios e como parte de seu projeto de hegemonia.

O PENSA24, inspirado no Programa de Agribusiness da Universidade de Harvard (fundado por Ray Goldberg, quem crivou o conceito de agribusiness em 1957) fornece “...o escopo teórico e metodológico às ações do agribusiness brasileiro” (PINTO, 2010, p. 68). Nesses termos, o PENSA seria o núcleo de elaboração de sua hegemonia. É financiado por empresas privadas e por fundações de direito privado que atuam junto a Universidade de São Paulo, como a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Cultura Contábil, Atuarial e Financeira (FIPECAFI), Fundação para a Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Economia e Contabilidade (FUNDACE) e, principalmente, pela Fundação Instituto de Administração (FIA). “Dentre as fundações que atuam na USP, as financiadoras do PENSA encontram-se no topo da lista tanto do universo total das fundações, quanto da faculdade onde atuam. A FIA, por exemplo, em termos de arrecadação é a primeira em receita dentro da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA)...” (PINTO, 2010, p.72).

Este Programa não só interage com a Abag, como é constituinte desta, no sentido teórico, político e ideológico. Aliás, o intercâmbio entre a entidade patronal e as instituições públicas e privadas de pesquisa é bastante intenso: a associação tem convênios, entre outros, com o International Agribusiness Management Association (IAMA), com a International

Society of New Institucional Economics (ISNIE), com a Food and Agriculture Organization

24 A autora faz importante discussão sobre a atuação das fundações de direito privado junto a Universidade de

São Paulo e as relações entre elas e o PENSA, além das relações entre as fundações e o setor privado, especialmente a FIA. E também destaca os inúmeros “estudos de casos” feitos pelo Programa, de empresas privadas que envolvem estudantes e empresários, que podem ter contado com financiamento do capital privado. Muitos dos coordenadores do PENSA e membros associados estiveram, inclusive, envolvidos em pesquisas ou estudos de casos de empresas privadas e também em seus quadros de “funcionários”, sendo que alguns transitam ora pelo setor privado ora pelo Estado, ocupando cargos de confiança no executivo, junto a Secretarias e

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of the United Nations (FAO), com a Universidade Federal de São Carlos (UFScar), com a

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG), o governo do Estado do Maranhão, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A maioria de seus profissionais