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5. Aspectos Éticos da Pesquisa

1.4 Unidade Funcional

A unidade funcional é a "equipe de terapeutas, com diferenciação ou não de papéis e funções, que realizam juntos, no mesmo espaço e tempo, uma atividade" (Neto, 1999, p. 59). Ela tem a função de potencializar o aprendizado terapêutico do grupo (Moreno, 1987). Normalmente é composta por diretor e ego-auxiliar em que ambos devem ajudar os personagens a atuarem na cena de maneira comprometida (E2). Ambos integram o corpo grupal, contribuindo da criação que será realizada no momento (E1).

Algumas unidades funcionais apresentam sintonia grande (E3). Para a especialista, um "casamento bacana" (E3) acontece quando um complementa o outro, acontece quase uma leitura de pensamento em que um consegue trazer o conteúdo do outro intuitivamente e o ego- auxiliar consegue fazer o que o diretor está pensando. Nesse tipo de relação pressupõe-se uma grande confiança no papel um do outro. Para Nery (2010), é importante que haja comunicação entre a equipe, no sentido de reformular os sentimentos e projetos dramáticos para que se desenvolva cada vez mais empatia um com o outro.

Na estrutura clássica do Psicodrama, os papéis são bem definidos. Contudo, "não existe um sujeito individuado que detêm uma certa posição e talvez a gente até brinque de ocupar essas posições na hora, né, mas isso não é o mote principal, assim, isso é mais um efeito assim, é mais consequência" (E1). O importante é criar rede de conexão entre o grupo e o que vai acontecer na hora independente dos papéis definidos (E1).

A especialista E6 traz um alerta para a codireção, que consiste nas duas pessoas no comando. Ela afirma que muitas vezes essa maneira de conduzir pode levar os participantes para caminhos diferentes, um atrapalhando o raciocínio do outro (E6). Para E6, o raciocínio "concorrente" do codiretor pode desviar o grupo e não trazer benefícios para o desenrolar do grupo. Por outro lado, uma unidade funcional dinâmica, em que os membros da equipe se

alternam no papel de diretor e ego-auxiliar e se sintam à vontade de sugerir a partir do seu lugar, pode funcionar (E3, E6). Se a dupla apresenta uma sintonia grande para o jogo de troca de papéis, sem que o grupo careça de qualquer um dos elementos, a experiência pode ser rica, como observamos nos grupos realizados para esta pesquisa.

Para E1, um jeito diferente de fazer Psicodrama é "desmontar um pouco esse lugar já dado, quem é diretor, quem é o ego" (E1). Para os especialistas E1, E3, E5 e E7 os egos auxiliares devem ter autonomia, ser mais espontâneo, ser livres para propor. "Tem muito trabalho que o diretor fala, agora faz tal coisa, pro ego-auxiliar. Aí já não é mais ego-auxiliar, é um obediente da direção, eu acho isso, eu acho que o trabalho de ego-auxiliar é muito importante porque ele, de algum modo, ele exige um nascimento, vamos chamar assim, um surgimento da espontaneidade, né? (E7). "O ego auxiliar é aquele cara que tá vendo na parcialidade e ele na parcialidade eu acho que ele tem que se sentir à vontade de propor" (E3). A unidade funcional que realizou os grupos desta pesquisa é fruto de uma escolha sociométrica mútua, em que as duas possuem grande sintonia e gosto por trabalhar juntas. Já conduziram diversos grupos juntas, e compartilham a direção dos Encontros Terapêuticos desde 2015, de forma a terem sintonia na prática. Não trabalham com papéis definidos, inicialmente por conta da insegurança de assumir um papel, com o tempo se estabilizaram dessa maneira e aprenderam a embarcar na proposta uma da outra. Quando uma entra em um papel da cena espontaneamente, a outra assume a direção, ou quando uma sugere um caminho, a outra entra como ego-auxiliar. Ao longo de todo o encontro procuramos desenvolver o vínculo com os participantes de forma igualitária, de modo que eles possam sentir que podem contar com as duas terapeutas e com os dois elementos do diretor e do ego-auxiliar.

Como exemplo dessa troca de papéis, na cena do primeiro grupo, Ana Luísa começa dirigindo propondo a montagem da cena, até o momento que ela entra no papel de ego-auxiliar, interagindo dentro da cena com o personagem. Clara se movimenta para próximo da

protagonista e questiona como ela está se sentindo, assumindo a direção. Outro exemplo, na segunda cena do segundo grupo, Ana Luísa está ao lado do protagonista no papel de diretora, quando Clara sugere uma atividade. "Eu pensei em você definir um lugar da sala que você quer colocar o seu foco e a gente ir colocando as almofadas lá" (Clara), e assim assume a direção e dá continuidade à cena, enquanto Ana Luísa entra como ego-auxiliar nos papéis que surgem a partir da intervenção de Clara. Para realizar a troca, as duas terapeutas trabalham com confiança e entrega à proposta da outra, embarcando na ideia e entrando no vacante.

2. Ato Terapêutico

O ato terapêutico foi o foco da observação e investigação ao longo de toda a pesquisa. Os primeiros itens (2.1 e 2.2) irão ilustrar e caracterizar o ato, conteúdo obtido nas entrevistas em que foram feitas perguntas quanto às características, objetivos e diferenciação do processo. Na sequência, os especialistas trouxeram questões relativas à diferenciação entre Psicodrama clínico e socioeducacional, e sobre a relação do Psicodrama com as artes, que também foram descritas em itens (2.3 e 2.4). Tanto a espontaneidade, quanto o aqui agora, foram aspectos da teoria psicodramática bastante comentados e relacionados com o ato pelos especialistas, portanto ganharam seus itens próprios (2.5 e 2.6).

No intuito de buscar atitudes e atividades que colaborem com o desenvolvimento do ato foi investigado nas entrevistas, comportamentos relativos ao aquecimento, tanto da unidade funcional, como do grupo (2.7), manejos do grupo (2.8), fenômeno protagônico (2.9) e a influência de um tema previamente estipulado ou não (2.10). Em busca da resposta quanto ao fator terapêutico, ainda nas entrevistas, foi investigado sobre o sucesso do ato e sua avaliação (2.11 e 2.12).

Os relatos dos grupos aparecem em alguns itens, sendo levantados pontos pertinentes ao tema em questão. Eles não foram descritos na íntegra, tendo em vista o foco da pesquisa em ilustrar o ato terapêutico, mais do que trazer o conteúdo do que foi trabalho. Assim como a opinião da pesquisadora, que se funde com as frases escolhidas pelos especialistas para ilustrar o conhecimento levantado.