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Vigilância Econômica Estadunidense: os interesses econômicos estadunidenses no

3. A Ascensão Político-Econômica do Brasil e a Vigilância Estadunidense

3.1 Esfera Econômica: Neodesenvolvimentismo, crescimento econômico e novo estado de

3.1.1 Vigilância Econômica Estadunidense: os interesses econômicos estadunidenses no

Em 2007, além do clima positivo na economia brasileira, foi descoberto o Pré-Sal, um largo campo de petróleo na camada de pré-sal brasileira, com imenso potencial para ser uma

das maiores reservas de petróleo do mundo (NUNES, 2020). A descoberta do Pré-Sal aumentou as expectativas do governo com seu projeto neodesenvolvimentista, que visualizava nessa oportunidade a possibilidade de explorar os novos campos de petróleo com um risco quase zero, além de poder traduzir a renda gerada na exploração em fortificações para os pilares do mercado nacional e impulsionar suas políticas de distribuição de renda.

Seguindo essa perspectiva, o Partido dos Trabalhadores decidiu mudar a regulamentação sobre a exploração do petróleo no Brasil de maneira que a sociedade civil fosse incluída nos ganhos petrolíferos (MAGALHÃES, 2021). Lula aprovou a Lei nº 12.351/2010 permitindo que as receitas da exploração do Pré-Sal fossem traduzidas em investimentos na sociedade civil, principalmente na saúde e educação, contribuindo para as suas diretrizes de distribuição de renda, diminuição das desigualdades sociais e desenvolvimento de setores estratégicos produtivos (SAUER; RODRIGUES, 2016). Além disso, o novo regime de exploração forneceu a Petrobrás maior participação nas explorações de petróleo, mantendo o Pré-Sal quase exclusivo da estatal e garantindo maiores ganhos para o governo e a nação. No entanto, como o regime anterior permitia a maior penetração de empresas privadas estrangeiras e nacionais no mercado petrolífero brasileiro, garantindo-as a maior parte da arrecadação da produção de petróleo, o novo regime de exclusividade à Petrobras gerou desavenças desses setores com o governo, devido a limitação imposta a esses setores ao conhecimento geral de que o Pré-Sal garantiria o acesso a uma grande quantidade de recursos petrolíferos (SAUER;

RODRIGUES, 2016).

Segundo Pecequilo (2014), os Estados Unidos possuem interesse em explorar a camada de Pré-Sal brasileira devido a sua grande riqueza em petróleo, recurso energético essencial para o funcionamento da sociedade estadunidense, e seu fácil acesso para a exploração, devido o Brasil ser considerado uma “nação amiga”. Dessa maneira, caso conseguissem acesso ao Pré-Sal, suas atividades em outros tabuleiros geopolíticos como o Oriente Médio, Ásia Central, e África poderiam ser reduzidas, pois estes ambientes são considerados ambientes hostis e exigem uma alta movimentação de recursos militares e estratégicos. Além disso, ao obter controle da reserva energética do Pré-Sal, seria possível dissuadir a atuação de seus adversários econômicos, como a China que despertou interesse em contribuir na exploração dos campos.

Em viagem ao Brasil, em Junho de 2014, o então vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ressaltou que seu país estava veemente interessado em formar uma parceria estratégica para a exploração dos recursos energéticos do Pré-Sal.

As empresas norte-americanas de petróleo têm sido ativas no setor de petróleo e gás em águas profundas no Brasil há muitos anos e a Petrobras tem um histórico de operações em águas profundas nos EUA. Essa é uma área que cada país pode contribuir com expertise e pode se beneficiar de engajamento bilateral técnico e comercial. O que temos aprendido com a parceria no SED é que empresas norte-americanas de serviços estão ávidas para explorar as oportunidades de parceria para o desenvolvimento de reservas de petróleo e gás no Brasil, incluindo as não- convencionais (LOPES, 2014).

Em 2013, ocorreu o leilão do Campo Libra, parte do Pré-Sal, sendo obtido pelo consórcio formado pela Petrobrás, Shell (Holanda), Total (França), CNPC e CNOOC (China), garantindo para o Brasil uma parcela na exploração do campo em conjunto de um bônus dos outros contribuintes do consórcio (PECEQUILO, 2014). Não houve a participação de empresas de origem inglesas ou estadunidense, devido as tensões com o governo brasileiro sobre o caso de espionagem divulgado por Edward Snowden, que evidenciava esquemas de espionagem estadunidense na Petrobras e outras empresas nacionais do setor energético, e também devido o desinteresse das empresas de exploração energética no tipo de partilha proposto pelo Brasil (TRINKUNAS, 2013). O interesse das empresas multinacionais no Pré-Sal não diminuiu, o petróleo continua sendo a base da matriz energética estadunidense, apenas ainda não era considerada a hora e o momento certo de investir para a abertura de exploração de todos os campos do Pré-Sal para o mercado internacional, como foi posteriormente promovido por Michel Temer.

Para além do Pré-Sal, os Estados Unidos concentram seu interesse econômico em obter acesso na “Amazônia Azul”, ou seja, na área marítima brasileira sobre o oceano Atlântico (PECEQUILO, 2012). Além de abrigar o petróleo nacional, a área possui alta relevância econômica, política e estratégica, devido as suas rotas de navegação para outros continentes, que são de suma importância para a dinâmica da economia nacional. As rotas da Amazônia Azul dão acesso à África Ocidental, com destaque para a rota do Cabo, que fornece uma rede estratégica de conexão entre a Ásia e África com o Hemisfério Norte (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2012). Ademais, a parte do cabo de São Roque ao rio Oiapoque fornece uma importante plataforma de projeção econômica para o Brasil que permite seu acesso ao norte da África, Europa Ocidental, e América Central e Norte (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2012).

Permitir que outro ator internacional se aproprie da Amazônia Azul isolaria o país de suas conexões marítimas, reduziria sua capacidade de projeção e neutralizaria sua soberania nacional.

Visando seus interesses no Pré-Sal brasileiro, devido a sua abundância em recursos energéticos, e na Amazônia Azul, em razão do seu acesso a rotas marítimas de projeção

internacional, os Estados Unidos reativou a Quarta Frota do Atlântico Sul, com a finalidade de supervisionar seus interesses e manter o reconhecimento do território almejado (PECEQUILO, 2014). A reativação da Quarta Frota também corresponde a penetração chinesa e indiana na América Latina, além da aproximação entre Venezuela e adversários estadunidenses, como Rússia e Irã (PECEQUILO, 2014). Ademais, os Estados Unidos também inserem em 2008 um novo mecanismo de projeção para o Oceano Pacífico, com o estabelecimento do Comando Africano. A área de atuação do Comando Africano sobrepõe-se ao Atlântico Sul e ocupa as áreas correspondentes do Comando Sul, tendo seu objetivo direcionado em neutralizar as parcerias entre China e Brasil e os avanços da Índia no continente africano (PECEQUILO, 2012).

Em nossa próxima seção, iremos explorar as atividades e o plano de ação dos governos brasileiros no sistema internacional que fizeram a imagem do Brasil ascender em plano regional e internacional. Além disso, iremos elencar as principais razões que fizeram despertar nos Estados Unidos um sinal de alerta em meio a emergência do Estado brasileiro, considerando que sua ordem regional estava sendo ameaçada e que a existência de um rival regional, mesmo de caráter reformista, poderia desestabilizar a região e interferir na realização de seus interesses estratégicos.

3.2. Esfera geopolítica: Autonomia pela Diversificação, Cooperação Sul-Sul e Brasil como