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A espetacularização da violência pela mídia

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Academic year: 2023

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Nome(s) completo(s) do(s) autor(es): Thamires Calandrini Rodrigues Silva Título da obra: A espetacularização da violência pela mídia. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Educação (FE), Psicologia, Goiânia, 2023.

A PSICANÁLISE NA MODERNIDADE E A RELAÇÃO ENTRE SUJEITO E CULTURA

INTRODUÇÃO

Dessa forma, a psicanálise aparece como uma perspectiva teórica com grande contribuição para pensar a relação entre o sujeito e a cultura, que a mídia apresenta com as contribuições freudianas sobre a cultura e a subjetividade. Para tanto, discutiremos a psicanálise na modernidade e a relação entre sujeito e cultura no primeiro capítulo por meio das leituras de Sigmund Freud, Joel Birman, Renat Mezan e Vladimir Safatl, a fim de compreender o surgimento da psicanálise como um estudo da psique humana, bem como um estudo da teoria das pulsões com o propósito de assimilar a agressividade como componente da subjetividade do sujeito.

Diante disso, Birman (1994) apresenta que a constituição do sujeito se dá por meio da relação com o Outro, simbolizado pela cultura, e ao mesmo tempo aponta para a desarmonia entre o sujeito e a cultura causada pela alteridade do o corpo pulsante. perante outras instâncias do campo social. Assim, o mal-estar na cultura é visto como resultado da tensão entre a sexualidade e a lei, que representa a condição de registro do sujeito como tal e, ao mesmo tempo, a necessidade de limitar o instinto. Assim, segundo Safatla (2016), é possível pensar como os afetos mobilizam a vida social do sujeito e também as experiências políticas.

Assim, a impotência está relacionada à vulnerabilidade do sujeito aos perigos e às necessidades impostas pelo Outro. Nesse sentido, Birman (1997) levanta a questão do desamparo relacionado à fragilidade do sujeito diante das ameaças da natureza e sua relação com o Outro e seus instintos. Assim, Freud (1930) apresenta que o sentido da vida do sujeito advém do princípio do prazer, ou seja, a busca por experiências intensas de satisfação enquanto se espera a redução da tensão.

Segundo Freud (1930), entende-se assim que são justamente tais restrições impostas à vida do sujeito que geram sintomas neuróticos, que nada mais são do que uma forma de satisfação substitutiva de tal repressão. O paradoxo que os atravessa é constante, pois o homem precisa da cultura para existir, mas é ela que proíbe a realização de seu desejo, e isso justamente porque, segundo Freud (1930), a cultura impõe à sexualidade e à agressividade do sujeito maiores limitações . Nesse sentido, poder-se-ia supor que a forma de combater a tendência agressiva do sujeito seria por meio de Eros - o aparente oposto da pulsão de morte - visto que Freud (1932) sugere que o que promove vínculos entre os sujeitos - a identificação - seria produzir efeitos em contraste com a hostilidade da guerra.

Dessa forma, o ódio ou repulsa pelo diferente é projetado no grupo versus a massa e assim o narcisismo das pequenas diferenças, segundo Freud (1930), torna-se uma forma de exteriorizar a agressividade do sujeito. Como resultado desse distanciamento das predisposições pulsionais que a cultura exige do sujeito, o que o leva ao máximo de tensão, segundo Freud (1915) nota-se que os instintos inibidos estão sempre dispostos a alcançar a satisfação.

PSICANÁLISE, MÍDIA E VIOLÊNCIA

Além disso, a repressão excessiva e desenfreada dos impulsos acaba gerando violência, pois o desejo reprimido se transforma de várias formas em uma ameaça constante devido à hostilidade interna ao homem. Nesse sentido, a guerra trouxe para Freud (1915) a noção de que não há povos tão civilizados que, diante das diferenças, não haja eclosão da barbárie. É como se a cidade fosse palco das mais diversas e brutais formas de violência, apesar da promessa de que pode ser um símbolo de civilização, um reino de liberdade, uma obra de arte coletiva.

Isso acontece de forma tão sutil que passa a ideia de que o pensamento construído vem do indivíduo e ele é o sujeito desejável, quando na realidade, segundo Duarte (2003, apud. LOSSO, 2005), tanto quem produz quanto quem quem produz. que consomem o conteúdo da indústria cultural nada mais fazem do que reproduzir construções pré-determinadas. Dessa forma, o conteúdo apresentado pela indústria cultural parece dar aos sujeitos a ideia de que há escolha e escolha, ou seja, o que é valorizado, seja como mídia ou como arte, é único e exclusivo do indivíduo , enquanto na verdade essa escolha já foi planejada pela própria indústria. Além disso, Souza (2020) propõe a ideia de que a indústria cultural funciona por meio da mídia e produz uma certa racionalidade e objetividade sobre a realidade que não é verdadeira, desde a existência e a sociedade.

Junto com esse crescimento, o algoritmo que monitora os interesses dos telespectadores está se tornando cada vez mais preciso, de forma que os aplicativos sempre passam a indicar conteúdos semelhantes aos vistos anteriormente, criando a ideia de que o interesse é somente do cliente e não o que muitas vezes está sendo feito. oferecido. E como a grande mídia e a televisão, como agências socializadoras, moldam as formas de subjetivação do sujeito moderno por meio das constantes representações da violência. Assim, com base nessa ideia, acredita-se que as imagens veiculadas na televisão - e outras mídias - promovem uma cessação do pensamento justamente por conseguirem encontrar algum tipo de simbolização para o objeto perdido, promovendo assim o contentamento e o prazer gerados. para o assunto. .

Portanto, ao pensar na banalização da violência, é preciso olhar e questionar como se dá esse processo e quais os fatores responsáveis ​​por ele. Nesse sentido, ciente do poder que a mídia como um todo tem de incluir o telespectador em sua narrativa e, segundo Kehl (2003), equipar o imaginário para tornar o sujeito sujeito à dominação, é possível perguntar em que formas como a espetacularização da violência constitui a subjetividade dos sujeitos, ao mesmo tempo em que considera a hostilidade como parte do laço social.

Como sempre, a alucinação do desejo é a condição de sua materialização possível, assim como é a condição de possibilidade para que o horizonte de novos mundos se desvende. Então o que se percebe é o desaparecimento do médium do pensamento, já que o sujeito é absorvido pelas imagens que acompanha. Essa violência decorre daquilo que o autor sugere ser "a impossibilidade de reconhecer e conviver com a alteridade, que se fundamenta no horror da experiência da diferença".

Assim, a violência surge pela ideia de que um é melhor que o outro e coloca o sujeito como predador do outro para obter seu próprio prazer. Então, o que você vê é a busca incessante do prazer pelo corpo do outro, seja pelo que você vê - na televisão, por exemplo - seja pela forma como você interage com o outro. Não há, portanto, mais espaço para afeto e desejo nesse contexto, mas há a busca incessante de satisfação por meio do corpo do outro, que se torna cada vez mais um objeto, que se despersonaliza.

Dessa forma, podemos pensar a violência presente no laço social como consequência da relação do sujeito com a cultura na qual está inserido, pois segundo Birman (1996, p. 302). Com isso em mente, pode-se entender que o sujeito representa essa tendência hostil e agressiva dentro de si e que, segundo Freud (1930), pode ser revelada em contextos favoráveis. Portanto, percebe-se que a cultura moderna não apenas permite a violência, mas também a incentiva em sua estrutura.

Isso pode ser percebido na reprodução de cenas de violência e agressão em diversos tipos de mídia que se tornaram uma forma de entretenimento em detrimento do sofrimento do outro, colocando-o ao invés de objeto de sua fruição e violência espetacular. O que se forma assim são subjetividades reificadas, isto é, objetivadas, de modo que, ao perder sua subjetividade, o sujeito perde a capacidade de criticar o que lhe é oferecido – fruto de um embotamento do pensamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse sentido, é fato que nada reproduzido pela indústria cultural é acidental, tudo tem uma razão de ser e, segundo Birman (1997), as cenas representadas na mídia informam muito sobre o que paira no campo social . ficcional e essa ideia prova ainda mais, além do fato de que, se a violência e o terror são temas recorrentes na televisão, de alguma forma está inserido no laço social. Assim, a partir da compreensão dessas contradições é possível questionar as formas como a indústria cultural configura as relações de produção e a percepção que o sujeito tem delas. Isso se dá através da transformação de todo elemento cultural em mercadoria, para impedir as formas de simbolização e elaboração do que se vê e se ouve, e assim, o valor da arte deixa de estar no seu sentido e na sua possibilidade de abstração que ela faz. oferece e torna-se simplesmente o valor financeiro e o prestígio social que oferece.

Esse fato altera a percepção do sujeito sobre a realidade naquilo que a indústria deseja, de modo que tanto produtores quanto consumidores se limitem ao que a indústria cultural oferece e se sustentem a partir de imagens reproduzidas. Desse ponto de vista, entende-se que a indústria cultural produz sujeitos que não são capazes de elaborar seu próprio desejo e se responsabilizar por ele, inclusive o que há de irrealizável nele. Nesse sentido, se entendermos a agressividade como intrínseca ao sujeito, é dado que ela necessita de formas de autossatisfação, embora a satisfação não implique uma realização imediata, mas sim a possibilidade de simbolizar os opostos inerentes à tensão entre desejo e desejo . incluindo a transmissão do pensamento.

Porém, o que se observa é que na sociedade neoliberal globalizada a violência invade o laço social pois o próprio sistema é de natureza violenta e desigual e assim o sujeito entra em um clima de banalização e naturalização da violência principalmente através das diversas formas de mídia. a possibilidade de mediação do pensamento no que diz respeito à compreensão da relação entre realidade e ficção. Estas, por sua vez, reproduzem cenas de horror e barbárie e permitem uma espécie de realização de desejos por meio de imagens, que - em um caso particular - permitem formas de elaboração, embora tantas vezes não mediadas. Porém, no contexto da indústria cultural e da sociedade do espetáculo, as imagens tornam-se mercadorias e os sujeitos, meros espectadores, e assim o cinema e a televisão adquirem valor de fetiche, deixando de ser uma forma de simbolizar a própria violência do cinema. sujeito e torna-se a única forma possível.

Considerações Contemporâneas sobre Guerra e Morte (1915) In: "Cultura, Sociedade, Religião: A Insatisfação com a Cultura e Outros Escritos." Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2021. Disponível em < https://www.hbomax.com/br/pt/series/urn:hbo:series:GYsA- _gaARC8TnQEAAAAV > Acesso: 7 de janeiro de 2023. Disponível em Acessado em: 12 de janeiro de 2023.

Referências

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Então, essa forma de ser aberto e também ter um certo orgulho de sua figura, sua voz, sua maneira de ser, acho que isso já é inte- ressante para quem trabalha como eu, porque eu