• Nenhum resultado encontrado

as orientações para criação de fundo patrim

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "as orientações para criação de fundo patrim"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

AS NOVIDADES E CONTINUIDADES DO PROJETO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO BANCO MUNDIAL: as orientações para criação de fundo patrimonial no Brasil

Autora: Viviane de Queiroz1 RESUMO: Esse artigo tem como objetivo analisar as políticas do Banco Mundial para a educação superior no Brasil, a partir das novidades e continuidades das diretrizes de reformulação desse nível de ensino em resposta a crise estrutural do sistema capitalista e do ajuste fiscal. Analisaremos um documento do Banco Mundial. Assim como, as orientações da burguesia local e internacional para a criação de fundo patrimonial para as instituições públicas de ensino superior no Brasil, e às ações do governo brasileiro em resposta a agenda educacional do capital. Esse arcabouço jurídico compromete a autonomia e ataca o caráter público da educação superior.

Palavras-chave: Educação Superior; Banco Mundial; Fundo Patrimonial; Endowment Fund; Parceria Público-Privada.

ABSTRACT: This article aims to analyze the policies of the World Bank for higher education in Brazil, based on the novelties and continuities of the guidelines for reformulation of this level of education in response to the structural crisis of the capitalist system and fiscal adjustment. We will look at two World Bank documents. As well as the guidelines of the local and international bourgeoisie for the creation of a fund for public institutions of higher education in Brazil and the actions of the Brazilian government in response to the educational agenda of capital. This legal framework compromises autonomy and attacks the public character of higher education.

Keywords: College education; World Bank; Patrimonial Fund;

Endowment Fund; Public-private partnership.

1. INTRODUÇÃO

Esse artigo se constitui a partir das dimensões que integram o objeto de pesquisa da tese de doutorado que está sendo desenvolvida e será apresentada ao Programa de Pós- graduação em Política Pública e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, e do estudo coletivo realizado no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Serviço Social (GEPESS), vinculado à Escola de Serviço Social e ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social e Desenvolvimento Regional, da Universidade Federal Fluminense – UFF.

1 Assistente Social, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Política Pública e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. E-mail: vivianequeiroz@id.uff.br

(2)

O objetivo desse artigo é apresentar e analisar as políticas do Banco Mundial para a educação superior no Brasil, a partir das novidades e continuidades das diretrizes de reformulação desse nível de ensino em resposta a crise estrutural do sistema capitalista e do ajuste fiscal. E as orientações da burguesia local e internacional para a criação de fundo patrimonial (endowment fund) para as instituições públicas de ensino superior brasileiro.

Para atingirmos o objetivo proposto analisaremos o seguinte documento do Banco Mundial: “Do Confronto à Colaboração - Relações entre a Sociedade Civil, o Governo e o Banco Mundial no Brasil” (2000). Assim como, apresentar às ações do governo brasileiro em resposta a agenda educacional do capital.

2. Banco Mundial e as diretrizes de reformulação do papel do Estado e da educação superior: a atuação mercantil-filantrópica

Em julho de 2019, a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, completa setenta e cinco anos. É no cenário do final da Segunda Grande Guerra Mundial, a Conferência de Bretton Woods, realizada nos Estados Unidos em 1944, foi criada o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) com o objetivo de reconstruir e recuperar os mercados dos países afetados pela guerra em curso. O Banco Mundial, sujeito político do capital, desde sua criação atende aos interesses estadunidenses seguindo as premissas fundamentais estabelecidas pelos mesmos. Assim, diante das disputas entre projetos antagônicos de sociabilidade (capital e trabalho), a burguesia busca estratégias para manter a sua hegemonia, elaboradas e difundidas por esses importantes sujeitos políticos do capital.

É a partir da gestão do presidente do BM, Robert McNamara (1968 – 1981) ex- secretário de Defesa dos EUA durante a Guerra do Vietnã, que ocorre um reforço do poder financeiro do Banco. O BM cria o poder de intervenção nas economias nacionais fazendo com que os países periféricos demandem por seus serviços e empréstimos. Segundo Virgínia Fontes (2011, p. 19), essa gestão inaugura a “pobretologia”, “com o fito de eliminar as análises totalizantes sobre as condições internacionais de produção da desigualdade e estimulando financeiramente estudos limitados a mensurá-la, capturando-a como alvo prioritário de atuação “coletiva” mercantil-filantrópica e de expansão do capital imperialismo”.

Nesse sentido, visando conter a expansão do comunismo, o BM passa a construir um “novo estilo” de projetos para “aliviar a pobreza”, no qual “os projetos de educação e de saúde tornaram-se também pela primeira vez uma parte significativa do portfólio do Banco Mundial” (TOUSSAINT, 2002, p. 179). Para não por em risco a ordem hegemônica

(3)

(capitalista) o BM passa a defender que para atingir o desenvolvimento os países periféricos deveriam implementar políticas de “alívio a pobreza”.

A reconfiguração das políticas educacionais dos países periféricos, direcionada pelo BM a partir desse período considera, desta forma, o papel da educação estrategicamente como um instrumento de controle e dominação para garantir a segurança da ordem burguesa e conter a crise do capitalismo.

O desenvolvimento do capitalismo é a história de um ciclo de crises econômicas.

Para controlar a crise de acumulação capitalista foram tomadas algumas medidas, como: a reestruturação produtiva, o reordenamento do papel dos Estados nacionais e a formulação de um novo projeto de sociabilidade, reconfigurando a participação dos Estados nacionais nas implementações das políticas sociais e diminuindo consequentemente, a alocação de verbas públicas para as áreas sociais.

Nos anos de 1980 ocorre a crise do endividamento dos países periféricos, causada pelo aumento das taxas de juros dos empréstimos do BM e do FMI aos países devedores. O BM sob gestão de McNamara, contribuiu ativamente para criar a crise da dívida, na medida em que fortaleceu a subordinação e a dependência dos países subordinados aos países credores. E é quando, justamente, a ideologia neoliberal ganha força nos países da América Latina.

A partir desse contexto econômico e político, que esses organismos internacionais, sujeitos políticos do capital, elaboram, monitoram e implementam as contrarreformas nos países periféricos, no qual está inserido o Brasil e como estratégia desse processo temos o avanço da ideologia neoliberal, enquanto uma nova fase do capitalismo monopolista. E burguesia brasileira compartilha historicamente essas ações.

É nesse sentido, que se configura a reforma neoliberal da política educacional, especificamente, a contrarreforma da educação superior, como uma importante estratégia de ampliação do campo de exploração lucrativa do capital em crise e de difusão do projeto de sociabilidade burguesa.

O Consenso de Washington reuniu um grupo de economistas para pensar estratégias políticas para que a América Latina saísse da crise “(estagnação, inflação, dívida externa)”, elaborando novas formas de organização do capital e do trabalho, indicando reconfigurações na luta de classes, tendo como eixos políticos centrais: “a) a defesa da liberdade individual como um dos fundamentos básicos do pensamento liberal; b) a concepção do mercado como instância de ordenação da vida social e c) a crítica à excessiva intervenção do Estado nas atividades econômicas.” (LIMA, 2005, p. 86).

(4)

É nessa conjuntura que a contrarreforma do Estado encontra-se inserida, sendo parte de um conjunto de ações do capital visando a reconstituição do Estado, especialmente, o seu papel de provedor de políticas e serviços sociais focalizados no “alívio da pobreza” e a difusão de um novo projeto de sociabilidade nos marcos do capital. Assim, a reformulação da educação superior em curso faz parte de um processo maior que é o reordenamento do Estado capitalista nos anos de neoliberalismo.

Segundo Lima (2005), essas reformulações serão norteadas a partir do caráter atribuído à educação escolar pelos organismos internacionais. Tais organismos entendem a educação escolar como: i) “alívio da pobreza” nos países periféricos; ii) uma política internacional de segurança do capital; iii) uma nova e promissora área de investimento do capital em crise; e iv) uma forma de difusão da concepção de mundo burguesa.

Conforme Ugá (2003) a partir dos anos de 1990 o conceito “pobreza” passa ser central tanto nos relatórios dos organismos internacionais, especialmente o Banco Mundial, que insere esse conceito na reformulação das políticas sociais dos países periféricos.

Seguindo o direcionamento da ideologia neoliberal, e assumindo um caráter de políticas focalizadas e compensatórias.

É nessa dinâmica política e econômica que se inscreve a reforma neoliberal da política educacional. Uma importante referência da centralidade adquirida pela educação escolar neste período foi a Conferência Mundial de Educação para Todos que aconteceu na Tailândia, organizada pelos organismos internacionais, tais como, Banco Mundial, UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Nesse contexto, no final da década de 1990 e início do novo século, ocorre à intensificação da privatização na educação superior, a partir do projeto neoliberal de educação: “privatização, desregulamentação e desnacionalização da educação farão parte da pauta política dos organismos internacionais para os países periféricos” (Lima, 2005, p.90). Sob o discurso de "democratização do acesso” os organismos internacionais como o BM indicam a eliminação das fronteiras entre o público e privado, a compra de vagas públicas em instituições privadas, fazendo com que a formação da classe trabalhadora se dê em instituições nas quais impera a lógica do lucro e do ensino massificado.

Este processo de privatização da educação superior nos países periféricos conduzido pelas políticas elaboradas, difundidas e monitoradas pelos organismos internacionais, como BM na década de 1990 e início do novo século, ocorrerá, pelo menos,

(5)

de duas formas: 1) a expansão do setor privado seja pelo aumento de vagas e/ou matrículas; 2) a privatização interna das IES públicas (Lima, 2005).

Em meados da década de 1990 os organismos internacionais intensificaram sua atenção na sociedade civil, o Banco Interamericano (BID) adotou o termo sociedade civil e criou uma Unidade da Sociedade Civil em sua sede, em Washington. A qual financiou diversas conferências e consultorias em países da América Latina para melhor fortalecer e direcionar a interação entre governos e sociedade civil.

O Banco Mundial também passou a prestar mais atenção na sociedade civil ainda que, genericamente, até pouco tempo continuava a utilizar o termo ONG para referir- se ao setor. Há uma crescente literatura sobre o setor no Banco Mundial. A publicação mais completa até hoje feita pelo Banco sobre como trabalhar com as ONGs afirma que “a constituição de capital social e o surgimento de uma sociedade civil forte são os ingredientes essenciais para a consecução do desenvolvimento sustentável a longo prazo, em âmbito nacional” (Banco Mundial 1995, pág. 64) (BM, 2000, p. 18, grifos nossos).

Segundo o documento do BM (2000) apresenta um estudo sobre a sociedade civil no Brasil e a evolução das relações entre Governo, Sociedade Civil e Banco Mundial. Destaca que as ONGs2 foram os mais importantes interlocutores do Banco Mundial nas últimas décadas. Várias iniciativas na área da filantropia mercantil que prometem consolidar ainda mais este setor, entre as quais foi a criação de uma associação que coliga fundações privadas e empresariais. Incentivado pela AMCHAM e pela Fundação Kellogg, por meio de estudos e encontros informais, um grupo de fundações privadas ou vinculadas a empresas em 1995 criou o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) em São Paulo tendo como base o modelo do Council on Foundations ou o Conselho de Fundações, dos Estados Unidos.

O Banco destaca como importante inciativa na área de responsabilidade social das empresas foi a criação do Instituto Ethos tem como principal objetivo promover a

“responsabilidade social” junto a empresas, ou seja, fortalecer o empresariamento das políticas sociais. Assim como, as ONGs estão despertando o interesse de bancos como o BNDES e do governo brasileiro. No início dos anos 2000 o Banco Mundial e o BID afirmam que “as ONGs podem ser atores institucionais importantes para assegurar um modelo de desenvolvimento efetivo e sustentável em nível local”. (BM, 2000, p. 40). Segundo Fontes (2010, p. 231)

[...] A filantropia internacional apoiava diretamente a construção de grande parcela de ONGs, assim como a grande maioria de seus projetos. O que me parece importante ressaltar é o duplo movimento que aqui ocorre: de um lado, intensificava- se a adesão ao formato predominante do capital-imperialismo, de atuação interna e

22 Segundo Fontes (2010, p. 230 e 231), a denominação Organização Não Governamental (ONG) não esclarece o fenômeno, e destaca dois problemas: “esquece o fato de que a contraposição fundamental a governo/público é privado/empresa e, em seguida, decreta essa diferenciação unicamente por decisão nomeadora, sugerindo uma existência idealizada, apartada tanto da propriedade privada (mercados) quanto da política. Se a etiqueta ONG não é inocente, bem menos inocentes são os que procuram justificar tais entidades através de argumentos angelicais”.

(6)

voluntariamente coligada às frentes móveis de ação internacional do capital, apagando-se discursivamente a relação capital/trabalho (ou a existência de classes sociais) pela centralização do combate internacional „comum‟ contra a pobreza ou pela redução dos efeitos mais deletérios das gritantes desigualdades sociais.

Para o BM as ONGs são atores importantes e busca possibilidades de apoiá-las mais diretamente, destaca que “muitas delas estejam sendo ameaçadas de cortes ou mesmo fechamento devido à retração das fontes tradicionais de financiamento” (BM, 2000, p. 41). Sendo o maior desafio assegurar uma maior sustentabilidade institucional e financeira.

As ONGs precisam ser vistas como uma boa opção de carreira e não como estágio passageiro para os que querem seguir carreira no governo ou na universidade. Em termos de orçamento, as ONGs devem criar e diversificar as fontes e desenvolver novas opções internacionais e (principalmente) locais de financiamento junto ao setor privado, governo e organismos multilaterais, assim como partir para outros meios de gerar receitas, como a formação de uma base de filiados que paguem mensalidades ou a venda de serviços. Diversas ONGs e agências de cooperação estão começando a analisar a possibilidade de estabelecerem endowments, ou fundos de investimentos, para financiar ONGs. A ABONG, por exemplo, recebeu financiamento de diversos doadores, inclusive do BID, para explorar a possibilidade de criar uma fundação comunitária no Brasil voltada para apoiar a consolidação das ONGs (BM, 2000, p. 48 e 49, grifos nossos).

O Banco Mundial, sujeito político coletivo do capital, implementa as ações e direciona sua concepção de política social para América Latina ao longo dos anos. Eixos estruturantes do processo de contrarreforma do Estado brasileiro estão presentes no discurso do banco em diversos documentos da década de 1990 e nos anos 2000. A orientação para o fortalecimento das instituições mercantil-filantrópicas em busca de novas fontes lucrativas por meio das diversas modalidades de parcerias público-privadas, entre elas, os fundos patrimoniais (endowments funds) ou fundos de investimentos para financiar essas instituições constitui o projeto de sociabilidade burguesa.

3. As orientações para a criação do fundo patrimonial (endowment fund) no Brasil:

mais uma modalidade de parceria público privada para educação superior

As análises desenvolvidas nesses estudos apontam que o processo de expansão da Educação Superior no setor privado ocorre historicamente em nosso país relacionado às ações que compartilha as diretrizes do Banco Mundial, sob a aparência de ampliação do acesso, atendendo aos interesses da burguesia local e internacional, uma vez que o Estado atende às demandas dos empresários da educação, submetendo a educação aos interesses do mercado.

Historicamente, os governos brasileiros, criam e fortalecem as iniciativas privadas por meio das diversas modalidades de parcerias público-privadas, como: Creduc, FIES, Prouni, Programa IES/BNDES, PROIES, marco legal da Ciência e Tecnologia (Lei nº 13.243/2015), a cobrança de mensalidade pela pós-graduação lato sensu, corte no orçamento para as IES públicas. Respondendo às demandas do setor privatista de várias

(7)

formas de financiamento criadas e/ou alteradas contando com a participação do fundo público.

O governo federal anunciou cortes orçamentários para a Educação Pública, intensifica-se o processo de reconfiguração da educação superior brasileira após a promulgação da Emenda Constitucional – EC nº 95/2016 que limita por vinte anos os gastos públicos. Leher (2018, p.12) afirma que

[...] o Estado está sendo todo redesenhado. A medida matriz da contrarreforma é a Emenda Constitucional nº 95/2016, que congela as despesas primárias do governo federal por 20 anos, provocando uma queda acentuada dos gastos sociais, mensuradas por percentuais do PIB (Produto Interno Bruto), podendo alcançar queda anual das despesas primárias entre 0,5% e 0,8%, o que inviabilizará os gastos sociais. É importante lembrar que as despesas primárias compõem todos os gastos públicos, exceto o pagamento dos juros, serviços e amortizações da dívida pública que, com a Emenda, fica protegido de qualquer corte ou limitação futura.

A PEC 241/55 conhecida como PEC do fim do mundo, foi aprovada em 16 de dezembro de 2016, consolidando-se na Emenda Constitucional de número 95, que instituiu até 2036 um novo regime fiscal que estará valendo nos próximos 20 anos. As universidades federais estão sendo profundamente atingidas com seus recursos públicos estagnados e repassados ao setor privado. Comprometendo o desenvolvimento de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, atingindo a área de ciência, tecnologia e inovação.

Nesse sentido, apresentam novas ações e propostas para o fortalecimento das IES privadas e cobrança de mensalidades nas IES públicas, associadas aos interesses do capital financeiro orientado e reforçado pelo Banco no documento “Um ajuste justo: análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil” (2017) – entregue ao ministro Henrique Meireles, mas que havia sido encomendado pelo Ministro da Fazenda Joaquim Levy3 do governo Dilma Rousseff, em 2015.

O desmonte da universidade pública significa também destruir a ciência e tecnologia no Brasil o que irá impossibilitar o desenvolvimento de alternativas aos problemas estruturais que envolvem a humanidade, colocando o país numa condição neocolonial. No dia 01 de agosto de 2018, Abilio Neves presidente da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, anunciou por meio do Ofício nº 245/2018- GAB/PR/CAPES4 encaminhado ao Ministério da Educação, que em decorrência dos cortes orçamentários poderá suspender mais de 93 mil bolsas da pós-graduação – mestrado, doutorado e pós-doutorado a partir de agosto de 2019.

3 Em janeiro de 2016, logo depois de deixar o Ministério da Fazenda, foi nomeado diretor financeiro do Banco Mundial (BIRD), em Washington. E no dia 07 de janeiro de 2019 ocupou do cardo de presidente do BNDES do governo Jair Bolsonaro.

4 Disponível em:

https://sei.capes.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&codigo_verificador=0746852&co digo_crc=6755A444&hash_download=ef5e65b749e9b6a0c124c56e438345f0dbb86d4b097fccd29f4b4221365642 ee971b5a5e507aea925d83d67d1d4d79f08696fa5be30b507aa19122ff68c396a9&visualizacao=1&id_orgao_aces so_externo=0 Acesso em 10 de agosto 2018.

(8)

Essa grave crise compromete o futuro da pesquisa no Brasil e fortalece a agenda educacional do capital. Reforça a pauta da burguesia local e internacional de criação dos fundos privados para as universidades públicas como já ocorre em alguns países centrais.

Os Guias de Endowments Culturais” (2017) elaborados pelo BNDES destacam a importância do fundo patrimonial para a educação superior, sendo a essência do fenômeno, transformar esse nível de ensino um campo de exploração lucrativa. Segundo o estudo produzido pelos intelectuais orgânicos do BNDES “dentre as 10 melhores instituições de ensino do mundo, seis são dos Estados Unidos e quatro da Inglaterra, e todas possuem endowments”.

Segundo a reportagem de Sílvia Mugnatto5, o ministro da educação propõe alterações na legislação sobre financiamentos nas universidades públicas para que essas possam buscar recursos. Sugere “que a Lei de Diretrizes Orçamentárias traga uma regra que permita às universidades prestar serviços públicos, inclusive para instituições públicas fundamentais”. Seguindo a mesma lógica, o deputado Alex Canziani (PTB-PR), defende que é necessário estimular a criação de fundos de doações privadas para as universidades públicas. "Isso é uma prática que existe no mundo inteiro. Na Ásia, na Europa, nos Estados Unidos. E nós acreditamos que até em função do momento que está vivendo o Brasil, da contenção de gastos, seria uma maneira de levantarmos recursos para as nossas universidades” – afirmação do deputado destacada pela repórter.

Associações e entidades sem fins lucrativos, porém financiadas por empresas brasileiras e/ou estrangeiras com o objetivo de produzir no sentido mais conveniente de adequar a ação popular à lógica do capital e ocupar espaços de definição de políticas públicas em busca de novos campos de lucratividade. Nesse sentido, fortalecem a gestão privada no público que desconstrói o princípio de políticas sociais universais a partir de uma gestão empresarial e não pública, com o discurso de responsabilidade social passam a compor as instituições e as políticas públicas.

Vários sujeitos políticos coletivos do capital6 estão organizados para desenvolver o tema do fundo patrimonial do país. O estudo do BNDES (2017) destaca que a aprovação

5 Disponível em http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/557480- MINISTRO-SUGERE-ALTERACAO-NA-LEI-PARA-QUE-UNIVERSIDADES-POSSAM-BUSCAR-

RECURSOS.html Acesso em 06 de agosto de 2018.

6 O estudo do BNDES (2017, p. 20) destaca que “em 2012 foi criado um grupo de estudos encabeçado pelo IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) e pela Vérios Investimentos (atual denominação da Endowments do Brasil), com o apoio do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) e de JP Morgan, convidando representantes da sociedade civil, governo e acadêmicos para desenvolver o tema dos fundos patrimoniais no País. Os trabalhos do grupo – que conta com a contribuição de representantes de 33 organizações da sociedade civil, Ministério Público, universidades e advogados, totalizando 90 participantes tiveram início com a análise do projeto de lei da deputada Bruna Furlan, que prevê a criação de fundos patrimoniais nas instituições federais de ensino superior”.

(9)

desse Projeto de Lei trará grandes benefícios. “Organizações sem fins lucrativos e universidades públicas (e fundações de amparo à pesquisa) poderão ampliar sua capacidade de financiamento operacional e atração de doadores à sua causa” (p. 21). Cabe destacar, que os benefícios elencados pelo BNDES atende aos interesses do grande capital portador de juros, projeto antagônico dos sujeitos coletivos combativos que defendem o uso exclusivo do fundo público à educação pública.

Os endowments são considerados um sucesso mundial para a burguesia local e internacional. Os fundos patrimoniais que por meio de doações são cada vez mais utilizados por aparelhos privados de hegemonia – as chamadas Organizações não governamentais (ONGs), Fundações e Associações sem fins lucrativos (Fasfil), e instituições de ensino no Brasil – como fontes de financiamento para as políticas sociais.

Essas entidades empresariais vêm ocupando os espaços públicos e atuam nas políticas públicas, educação, saúde, esportes, desenvolvimento sustentável, assistência social, entre outros. Além de garantir redução de impostos, as empresas doam recursos para essas instituições e descontam no imposto de renda, essas entidades empresariais que por sua vez vêm destruindo a concepção pública e socializante de políticas públicas tanto na concepção, quanto na execução como na gestão.

Segundo a matéria da revista ISTO É intitulada - Dinheiro que não acaba mais7 - endowment é um fundo patrimonial perpétuo, “que tem como princípio o investimento no mercado financeiro dos recursos recebidos por meio de doações. O capital principal deve ser preservado e apenas os rendimentos podem ser utilizados. As instituições escolhem um banco ou uma gestora para cuidar do patrimônio”. Esse mecanismo de doações adota uma postura filantrópica mercantilizada, os fundos filantrópicos reivindicam a doação como investimento em longo prazo.

Em 1974, foi criado o fundo patrimonial da universidade de Harvard, um dos maiores fundos globais de endowment, esse é um sistema de doações tradicional nos Estados Unidos construído por ex-alunos, entre eles o bilionário Jorge Paulo Lemann8. A experiência norte-americana pauta que a educação superior não deve ser responsabilidade apenas do Estado, e sim da iniciativa privada para garantir os seus lucros. Segundo Fabiani e Cruz (p.

191, 2017),

Os retornos dos endowments ao redor do mundo impressionam, devido à sua gestão profissional e seus resultados. Conforme relatório publicado pelo banco de

7 Matéria do dia 09 de dezembro de 2016. Disponível em:

https://www.istoedinheiro.com.br/noticias/financas/20161209/dinheiro-que-nao-acaba-mais/440677 Acesso em 12 de setembro de 2018.

8 Em 2019, foi considerado pela Forbes, o segundo homem mais rico do Brasil e da Suíça. E ficou em 35º lugar entre os mais ricos do mundo. Disponível em: https://www.forbes.com/billionaires/#1a46adf4251c Acesso em 16 de abril de 2019.

(10)

investimentos Morgan Stanley em 2008 (Portfolio Strategy: The “Endowment Model”), muitos dos grandes endowments americanos adotaram uma alocação de ativos diversificada com menor concentração em títulos do governo ou ações de grandes empresas, o que resultou em retornos elevados e chamou a atenção de investidores ao redor do mundo para este modelo de gestão de recursos.

O discurso dos sujeitos políticos coletivos do capital é estimular o aumento das doações para garantir o crescimento dos fundos patrimoniais. Destacam que uma das maiores dificuldades encontradas é a falta de incentivos fiscais e de uma legislação específica que fortaleça a criação do endowment fund no Brasil. Segundo IDIS (2014, p. 14),

“é urgente a modernização da legislação para fomentar esta prática no país que favorecerá diretamente organizações que exercem atividades em benefício da sociedade e apoiam o desenvolvimento de um Brasil mais justo e igualitário”. Cabe destacar que a essência desse debate é a disseminação do projeto de sociabilidade burguesa, e a busca de doações está atrelada ao investimento social e negócio social, ou seja, as políticas sociais não como um direito e sim como mercadoria.

As experiências dos Estados Unidos (EUA) e da Europa são as referências nas análises dos intelectuais orgânicos do capital que buscam desenvolver e lucrar com os fundos patrimoniais. Nas universidades americanas as doações são arrecadadas entre os empresários, alunos, ex-alunos, docentes, pais. “O dinheiro arrecadado é, então, gerido por administradores que o aplicam no mercado financeiro, em renda fixa, renda variável e outros ativos. O sistema submete-se à fiscalização de auditores externos para garantir sua transparência” (IDIS, 2014, p. 16).

No Brasil, os pioneiros do fundo patrimonial foram os bancos no início dos anos 2000, por meio de suas ações mercantil-filantrópicas – Fundação Bradesco (R$ 34,5 bilhões), Itaú Social (R$ 2,4 bilhões), Instituto Unibanco (R$ 1 bilhão) – que vêm consolidando esse modelo de investimento, assim como, as instituições culturais, educacionais e do terceiro setor, como: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (R$ 400 milhões), Instituto Alana (R$ 280 milhões) que compõem os maiores fundos patrimoniais do Brasil.

No Brasil já existem experiências do fundo patrimonial por meio de instituições públicas e privadas de educação superior. Segundo a revista época negócios9, “num universo de 2,5 mil instituições de ensino superior, ao menos 8 universidades brasileiras têm fundos do tipo para complementar o orçamento”. O fundo do XI de Agosto do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da USP, e a Associação Fundo Patrimonial Amigos da

9 Matéria do dia 07 de julho de 2014 - Fundos de doações para universidades avançam no país. Disponível em:

https://epocanegocios.globo.com/Informacao/Resultados/noticia/2014/07/fundos-de-doacoes-para-universidades- avancam-no-pais.html Aceso em 27 de agosto de 2018.

(11)

Poli da Escola Politécnica da USP, são os pioneiros dessas ações. De acordo com a matéria,

As doações aos endowments são administradas por equipes específicas de gestores e, por sua vez, investidas no mercado financeiro, para criar um patrimônio perpétuo para a instituição. Uma parcela do montante desses fundos retorna anualmente à instituição em forma de projetos ou bolsas de estudo. Nos Estados Unidos, o primeiro endowment foi o de Harvard, hoje na casa dos US$ 32 bilhões.

Segundo esses aparelhos privados de hegemonia há uma falta de cultura de investimento social privado no Brasil. A gestão e a política de investimentos são definidas pelos sujeitos políticos coletivos que criaram os fundos, que acumulam recursos e destinam apenas os rendimentos aos projetos. Os fundos de investimento, semelhante aos fundos patrimoniais endowment, são formas de unir recursos aplicados no mercado para obter retornos financeiros por meio de investimentos coletivos.

4. CONCLUSÃO

As entidades empesarias atuam por dentro e por fora do Estado. Após o incêndio que destruiu grande parte do acervo do Museu Nacional no Rio de Janeiro, essas entidades conseguiram emplacar as suas propostas de regulamentação e incentivos fiscais para as instituições com fundo patrimonial como política de governo com a aprovação da Medida Provisória (MP) nº 851/2018, que visa regulamentar os Fundos Patrimoniais Filantrópicos no Brasil assinada pelo presidente Michel Temer no dia 10 de setembro de 2018. E no dia 04 de janeiro, foi aprovada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), a Lei 13800/2019 - conversão da MP 851/2018, que regulamenta a criação dos Fundos Patrimoniais.

Os fundos patrimoniais já são regulamentados por algumas leis, porém especificados para a causa que seria beneficiada. Nessa medida foram abarcadas várias áreas, como: saúde, cultura, educação, ciência, tecnologia, pesquisa e inovação, meio ambiente, assistência social e desporto. Segundo o primeiro artigo da MP nº 851/2018 que dispõe sobre a constituição de fundos patrimoniais com o “objetivo de arrecadar, gerir e destinar doações de pessoas físicas e jurídicas privadas para programas, projetos e demais finalidades de interesse público e institui o Programa de Fomento à Pesquisa, ao Desenvolvimento e à Inovação - Programa de Excelência”

10

.

O Programa de Excelência das Universidades e Institutos Brasileiros em Pesquisa e Desenvolvimento consente captar e destinar recursos para pesquisa e inovação

10 Medida Provisória n° 851, de 2018. Disponível em: https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas- provisorias/-/mpv/134246 acesso em: 21 de novembro de 2018.

(12)

independentemente de governos. Segundo a matéria realizada com o presidente da CAPES

11

, o fundo será constituído por recursos de várias fontes, “como recursos de entes privados e doações de estados estrangeiros, organismos internacionais e multilaterais. Um conselho curador, formado por representantes de 11 entidades da indústria e de ciência e tecnologia, administrará o programa”.

Esse arcabouço jurídico proposto para a criação do fundo patrimonial reforça a desoneração do Estado na manutenção do ensino, pesquisa e extensão da universidade brasileira; compromete a autonomia e ataca o caráter público da educação superior por meio da parceria pública privada que tem como princípio intermediar a prestação de serviços entre o mercado e as instituições de ensino públicas.

REFERÊNCIAS

BANCO MUNDIAL. Do Confronto à Colaboração -Relações entre a Sociedade Civil, o Governo e o Banco Mundial no Brasil (2000). Washington, 2000. Disponível em:

http://documents.worldbank.org/curated/pt/139591468741348358/pdf/216450Portugues.pdf BNDES. Orientações e informações ao poder público: aspectos de regulação e

tributação, (2017). Disponível em

http://static.mtools.digital/clientes/levisky/guias/_GUIA_02.pdf

IDIS. Fundos Patrimoniais Vinculados - Proposta de Projeto de Lei. Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS. São Paulo, 2014;

LEHER, Roberto. Universidade e heteronomia cultural no capitalismo dependente: um estudo a partir de Florestan Fernandes. Rio de Janeiro: Consequência, 2018.

LIMA, Kátia Regina de Souza. Reforma da Educação Superior nos anos de contra- revolução neoliberal: de Fernando Henrique Cardoso a Luís Inácio Lula da Silva. Tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2005;

PEREIRA, João Márcio Mendes; PRONKO, Marcela. Introdução. A demolição de direitos:

um exame das políticas do Banco Mundial para a educação e a saúde (1980-2013) / Organização de João Márcio Mendes Pereira e Marcela Pronko. - Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, 2014.

FONTES, Virgínia. O Brasil e o capital imperialismo: teoria e história. Rio de Janeiro:

EPSJV, UFRJ, 2010;

______________. O capital-imperialismo, cosmopolitismo e lutas de classes. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011. Disponível em:

http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300224544_ARQUIVO_VF-ANPUH-SP- 2011-Capital-imperialismoelutadeclasses.pdf

TOUSSAINT, Eric. “A Bolsa ou a Vida – A dívida externa do Terceiro Mundo: As finanças contra os povos”. Editora: Fundação Perseu Abramo, 2003;

UGÁ, Vivian Domínguez. “A categoria “pobreza” nas formulações de política social do Banco Mundial”. Revista de Sociologia e Política nº 23 – Nov. de 2004.

11 Matéria publicada pela CAPES no dia 06 de abril de 2018 “Programa de Excelência terá recursos independentes de governos”. Disponível em: http://www.capes.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/8822-programa-de-excelencia-tera- recursos-independentes-de-governos-aponta-capes Acesso em: 21 de novembro de 2018.

Referências

Documentos relacionados

Orientações para a criação de e-mail institucional para calouros Salas de conteúdo Formações plataformas Acadêmicas Coordenadores Gerais de Cursos, Coordenadores de curso, Apoio de