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BASES PARA UM DICIONÁRIO LINGUÍSTICO-GRAMATICAL

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Academic year: 2023

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P

Consoante oclusiva, bilabial, surda. Opõe-se à homorgânica /b/, que é sonora.

Décima sexta letra do alfabeto da língua portuguesa. Décimo-sexto, numa seriação alfabética.

No latim antigo, a escrita era feita somente com maiúsculas, sendo que somente na Idade Média foram criadas as letras minúsculas.

Observe a evolução desta letra a partir dos fenícios:

Trata-se da letra que representa sempre o fonema consonantal /p/.

Exemplos: pato [patu], operação [operasãw]. reprovar [Reprovar], aplicado [aplikadu]. Quando esta letra for seguida de consoante que não seja l ou r, os usuários tendem a inserir um [i], na língua oral. As- sim: ap-to (duas sílabas na língua escrita) > [a pi tu] (três sílabas na língua oral), psi-co-lo-gi-a (cinco sílabas na língua escrita) > [pi si ko lo ᴣi a] (seis sílabas na língua oral).

A norma culta não admite esta inserção, quer na língua escrita (erro de ortografia), quer na língua oral (erro de ortoepia). Com p seguido de l ou r, não ocorre a inserção. Assim: a-pli-car, pro-ble-ma.

Abreviação usada algumas vezes para predicador, preposição ou particípio, em algumas abordagens da sintaxe.

Veja: Consoante, Erro, Fonema consonantal, Letra, Língua, Norma culta, Ortoepia, Ortografia e Sílaba.

P.D.C.

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), P.D.C. é abreviatura de praesentat, dedicat, consecrat, apresenta, dedi-

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ca, consagra, frase que subscrevia uma dedicatória de um livro, geral- mente dirigida a um grande senhor que patrocinava a impressão da obra, a um editor literário ou a alguém a quem se deviam favores.

P.R.

P.R. é a abreviatura da expressão latina Populus Romanus, povo romano.

Paciente

Por oposição a atante, o paciente é o ser ou coisa que sofre a ação (o processo). O sujeito animado das frases passivas e o objeto animado das frases ativas com verbo transitivo são, em geral, "pacientes".

Termo usado por alguns linguistas como parte da análise gramati- cal de uma sentença, referindo-se à entidade afetada pela ação do ver- bo. (Exemplo: O cão mordeu o carteiro). Em geral, é o objeto da sen- tença. Os termos "meta" e "receptor" já foram usados com sentido se- melhante.

O sujeito da voz passiva também sofre a ação verbal. Por isto, trata- se de um sujeito paciente. Exemplo: José foi abençoado pelo irmão.

Nesta frase, quem sofre a ação de ser abençoado é "José", que é o sujei- to.

Veja o verbete: Papel.

Pacote informativo

Pacote informativo é o documento ou conjunto de documentos no qual a informação aparece apresentada em suportes de natureza dife- rente, repetindo a mensagem de diversas formas para que ela chegue ao público.

Pacto ficcional

Segundo Hércules Tolêdo Corrêa (CEALE, Glossário, s.v.), a pala- vra “pacto”, em acepções mais usuais do termo, designa um ‘contrato’, um ‘ajuste’ entre as partes envolvidas. Dessa forma, podemos pensar em ‘pacto de leitura’ com um contrato, um ajuste que se faz entre leitor e texto.

O pacto ficcional é um tipo de relação que se estabelece entre o lei- tor e o texto, é uma das formas do pacto de leitura. O adjetivo “ficcio- nal” vem do substantivo “ficção”, que significa invenção, fantasia, imaginação. Em teoria da literatura, dizemos que um texto é ficcional ou fictício quando há nele uma suspensão de comprovação histórica dos fatos narrados. É preciso ressaltar, entretanto, que os limites entre o ficcional e o histórico não são tão precisos quanto pode parecer à pri-

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meira vista. Uma obra pode ser ficcional e basear-se em fatos históricos ou em personagens que realmente existiram.

Portanto, pacto ficcional é o acordo que se estabelece entre leitor e texto, no sentido de não se questionar o estatuto fantasioso de uma obra. Esse pacto se realiza tanto a partir da leitura de obras literárias es- critas em prosa, como contos, novelas e romances, dirigidos a adultos, jovens e crianças, como também a partir de obras em linguagens que mesclam o verbal e o visual, como novelas e séries televisivas, filmes, histórias em quadrinhos, tirinhas de jornal, desenhos animados e outras produções de vários gêneros.

Pensemos em um leitor que inicia a leitura de um conto de fadas dos Irmãos Grimm: Era uma vez... A expressão leva o leitor a estabele- cer uma relação com o texto que faz com que ele não busque naquele texto referências factuais ou reais. Um leitor ocidental, por exemplo, conhecedor de ‘contos maravilhosos’, não se assusta quando lê que ha- via, num certo país distante, um burro falante ou um príncipe que havia sido transformado em sapo por uma bruxa.

O pacto ficcional é também chamado de pacto romanesco, quando relacionado à leitura de romances. Quando se trata de livros de memó- ria ou livros biográficos e autobiográficos, fala-se em pacto biográfico e pacto autobiográfico. O pacto biográfico, por exemplo, distingue-se do pacto ficcional na medida em que o leitor, ao ler uma obra de natu- reza biográfica, a toma como a representação da vida de algumas pes- soas que tiveram existência real. O pacto biográfico e o pacto autobio- gráfico se diferenciam tendo em vista que, no segundo, autor e narrador coincidem, ao passo que, no pacto biográfico, o narrador – um terceiro – apresenta as situações vividas por uma pessoa que realmente existiu.

Há outros tipos de pactos de leitura, conforme as especificidades dos gêneros textuais, e dessa forma poderíamos pensar em pacto cientí- fico (para a leitura de trabalhos científicos como artigos, dissertações e teses); pacto factual (para a leitura de notícias, reportagens, relatórios, boletins de ocorrência) ou pacto histórico (para a leitura de textos histó- ricos, como documentos e narrativas historiográficas). Ressalte-se, po- rém, que uma forma de pacto não precisa necessariamente excluir ou- tra. Assim, podemos ler um romance relativizando o que pode ser mais ou menos calcado numa dada realidade ou ler um texto histórico pen- sando no quanto o historiador também pode ficcionalizar ao imprimir seu ponto de vista no relato.

Sugere-se, para complementar o verbete, a leitura de O pacto auto- biográfico: de Rousseau à internet, de Philippe Lejeune, Jovita Maria

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Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes (2008) e os capítulos

“Leitura literária: enunciação e encenação”, de Maria das Graças Ro- drigues Paulino e Ivete Lara Camargos Walty (2005); “Lendo contos”, de Maria das Graças Rodrigues Paulino (2007).

Veja os verbetes: Enunciação literária, Experiência estética literá- ria, Leitura, Leitura literária, Letramento Literário.

PAD

PAD é abreviatura de Processamento Automático de Dados, opera- ções com dados realizadas automaticamente por um computador sem intervenção humana, mas seguindo um conjunto de instruções previa- mente determinado, chamado programa informático.

Padrão

Modelo, molde, esquema. Aplica-se, em linguagem, à estrutura da sílaba (os padrões silábicos do português: V, CV, VC, CVC, CCv, CCVC, CCVCC etc.), da palavra padrões vocabulares: R, PR, RS, PRS etc.), da frase (padrões frasais: NV, NVN, NVAdj, NVAdv etc.).

Os padrões frasais presidem a montagem de frases na fala, e perten- cem, portanto, à língua, assim como os modelos preexistem à execu- ção.

Qualificativo do idioma considerado modelar, por suas característi- cas culturais e, sobretudo, por ser veículo de expressão das classes cul- tas e líderes: idioma ou língua padrão. O idioma padrão contrasta com as variantes idiomáticas regionais, grupais, comunitárias, circunstanci- ais, individuais etc., e é o objeto de observação e exposição da gramáti- ca normativa.

Uma forma de língua é padrão quando, num país dado, além das variantes locais ou sociais, ela se impõe a ponto de ser empregada cor- rentemente, como o melhor meio de comunicação, por pessoas suscetí- veis de utilizar outras formas ou dialetos. De uma forma geral, é uma língua escrita. É difundida pela escola, pelos meios de comunicação de massa e utilizada nas relações oficiais. É geralmente normalizada e submissa às instituições que a regem. Neste sentido, fala-se bastante amiúde, por exemplo, do português padrão, como na França se alude ao français commun. A língua padrão tende a suprimir os desvios, im- pondo uma forma única a todas as formas dialetais. Ela não se confun- de, necessariamente, com a língua tensa, embora tenda a se aproximar dela. Há, assim, uma tendência a adotar uma pronúncia como a do por- tuguês corrente dos grandes centros por todas as regiões. Dir-se-á que esta pronúncia é padronizada. Na prática, padronizado e normalizado

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têm sentidos próximos, ainda que este último termo insista sobre a van- tagem da existência de instituições reguladores (A Academia Brasileira de Letras, a escola etc.).

Segundo Marcos Bagno (2017, s.v.), padrão é termo derivado do la- tim patronu-, que traz em si a raiz patr-, “pai”; do mesmo étimo latino de que provém a palavra patrão. O padrão (ou a norma-padrão) é o modelo de correção idiomática construído ao longo da história a partir da eleição de uma língua ou variedade linguística para se tornar a lín- gua oficial de um Estado. A língua ou variedade de língua eleita para ser a oficial será objeto de um trabalho de codificação, de padroniza- ção, trabalho empreendido pelos gramáticos, e de criação de um léxico novo, amplo, que lhe permita ser instrumento da alta literatura, da ciên- cia, da religião e do direito. Em termos sociológicos, ela corresponde ao conceito de língua legítima proposto por Pierre Bourdieu (1982) e de língua paterna encontrado em Bernard Cerquiglini (2007a e 2007b).

A padronização, a gramatização e a ortografização de uma língua têm constituído, em todos os momentos históricos, um processo de se- leção e, como todo processo de seleção, um processo simultâneo de ex- clusão. A centralização dos Estados nacionais a partir do Renascimento em torno da figura do rei, símbolo vivo da nacionalidade, acarretou a lenta construção política de uma língua nacional, de uma língua oficial.

Esse processo se consolidou e se generalizou em seguida à Revolução Francesa (1789), quando surge o conceito moderno de Estado-nação, baseado no ideologema “uma nação, um povo, uma língua” e no desejo de um monolinguismo efetivo. Em meio à diversidade linguística que sempre caracterizou todos os países da Europa, os critérios para essa seleção têm sido, sempre, de ordem política e nunca de ordem “linguís- tica”, no sentido de não haver possibilidade alguma de uma variedade ser escolhida por algum conjunto de características “inerentes” (beleza, elegância, riqueza, concisão etc.) que tornem “naturalmente” mais apta a ser eleita para o processo de padronização. A língua/variedade esco- lhida será sempre, nos casos de nações unificadas, a língua ou dialeto falado na região onde se situa o poder, a Corte, a aristrocracia, o rei.

Diante disso, Henrique Monteagudo (2004, p. 414) pode afirmar:

“Quando falamos de padrão não estamos nos referindo à estratificação social da língua, mas a uma perspectiva diferente sobre a variação lin- guística, relativa à codificação e à prescrição. O que acontece na reali- dade é que o código normativo costuma descansar na regulação de um socioleto de prestígio, mais precisamente do estilo ‘cardinal’ (médio al- to) desse socioleto – ou, melhor ainda, de uma versão idealizada dessa

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variedade”.

Por conseguinte, a norma-padrão não é uma das muitas variedades linguísticas que circulam na sociedade. Não existe uma variedade pa- drão (aliás, uma contradição em termos, pois se é padrão, isto é, uni- forme e invariante, como pode ser uma “variedade”?), nem um dialeto padrão, nem uma língua padrão, embora esses termos ocorram com muita frequência na bibliografia dedicada ao tema: “O que existe é uma norma-padrão, língua materna de ninguém, língua paterna por excelên- cia, língua da Lei, uma norma no sentido mais jurídico do termo”

(BAGNO, 2011, p. 367).

A norma-padrão, como observa Henrique Monteagudo, não faz par- te da “estratificação social da língua”. É um construto sociocultural (uma hipóstase, segundo Marcos Bagno), que pode até se basear em al- guma variedade linguística empiricamente detectável na sociedade, mas, precisamente por ser alvo de um intenso investimento de codifica- ção (estabelecimento de regras gramaticais que muitas vezes não exis- tem em nenhuma das variedades, mas remetem a alguma tradição mais antiga, como, no caso do português, à gramática latina), de representa- ção gráfica (legislação sobre a ortografia oficial), de produção lexical (criação de amplo vocabulário técnico-científico, literário etc. para dar conta de uma “alta cultura”) e de um intenso investimento político- ideológico (língua do poder, do Estado, da administração, da escola etc.), o padrão não é “uma variedade” como outra qualquer. Nas pala- vras de James Milroy (2001, p. 543), as línguas, em suas formas padro- nizadas, “não são vernáculos, e ninguém as fala exatamente; a ideolo- gia do padrão decreta que o padrão é uma ideia na mente (é uma varie- dade perfeitamente estável, claramente delimitada e perfeitamente uni- forme), uma variedade que nunca é perfeitamente nem consistente men- te realizada no uso falado”.

A norma-padrão, de fato, está longe de ser uma “variedade”, um

“dialeto” ou uma “língua”, no sentido de um “sistema” fonomorfossin- tático que se “realiza” na fala dos indivíduos: “Ela é, isto sim, uma hi- póstase (‘uma ideia na mente’), uma instituição social e, nessa qualida- de, goza de um poder simbólico especial, muito diferente do que se atribui às autênticas variedades linguísticas; ocupa no imaginário cole- tivo um lugar de destaque; é objeto de um culto e de um cultivo que ninguém dedica jamais aos outros modos de falar. A norma-padrão é um parâmetro contra o qual (e a preposição contra não é fortuita aqui) são medidos todos os demais usos falados e escritos da língua: é o leito de Procusto sobre o qual são assentadas todas as manifestações reais de

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uso da língua para que seus ‘erros’, ‘vícios’, ‘defeitos’, ‘carências’ e

‘excessos’ sejam exibidos e amputados” (BAGNO, 2011, p. 367).

Tampouco a norma-padrão se confunde com a norma culta, isto é, o conjunto de variedades urbanas de prestígio realmente empregadas pelas camadas privilegiadas da população. “Desgraçadamente”, avalia Marcos Bagno (2011, p. 367), “essa confusão entre norma-padrão e norma culta faz a festa na literatura acadêmica e didática produzida no Brasil, deixando atrás de si uma esteira de consequências nefastas para o ensino e para o lúcido entendimento da realidade sociolinguística do país”. De fato, entre o padrão e essas variedades urbanas de prestígio vai se abrindo, com o passar do tempo, um abismo largo e fundo, inevi- tável, aliás, desde o início da padronização, que retira a língua de sua realidade dinâmica e a transforma numa hipóstase sociocultural. Daí nascem os grandes conflitos entre a atividade linguística dos cidadãos urbanos mais letrados e as regras normatizadas, que não correspondem em sua integridade à língua autêntica das camadas privilegiadas da po- pulação e, muito menos ainda, às variedades de menor prestígio (pola- rização). Em alguns casos, o padrão pode mesmo ser uma língua morta, como no caso do chamado “árabe clássico”, que é o idioma oficial de muitos países sem que em nenhum deles ela seja de fato a língua em- pregada por qualquer grupo social, já que se trata de uma forma arcaica da língua, a que foi empregada por Maomé no século VIII ao redigir o

Corão.

Além disso, o padrão constitui, do ponto de vista das representa- ções sociais, muito menos um modelo de língua do que um discurso sobre a língua, identificada com esse padrão. Segundo Alain Rey (1972, p. 18): “Discurso regulado pela natureza de seu objeto: avalia- ção crítica e condenação eventual dos outros discursos (que são tam- bém o discurso do Outro) e, menos francamente, juízo de valor hierar- quizando os usos e, através deles, os usuários. Discurso definitório pois, rejeitando uma parte dos usos da comunidade, ele delimita um ob- jeto; discurso de juízo imperativo quando enumera regras, contrarre- gras, batizadas de ‘exceções’, e listas nunca concluídas de unidades que se apresentam aos pares (infarto/enfarte, presidir/presidir a, bai- xar/abaixar...) ou de unidades a serem proscritas (os empréstimos re- centes). A descrição, a exclusão e a avaliação condicionam um tipo de discurso prescritivo cujas marcas explícitas (é preciso que...; quero que...; você deve...) são frequentemente apagadas”.

Esse discurso visa hipostasiar uma concepção de língua que, segun- do Marcos Bagno (2000, p. 151) é, ao mesmo tempo, uma monoglossia

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(uma só língua digna desse nome), uma homoglossia (uma língua uni- forme, homogênea, imutável) e uma ortoglossia (uma língua correta e, por conseguinte, boa/bonita): “Essas três hipóstases se consubstanciam numa ortodoxia linguística que se contrapõe a toda e qualquer heresia, isto é, a toda tentativa de interpretação divergente dos fatos linguísti- cos, bem como de produção linguística divergente da prescrita”

(BAGNO, 2000, p. 151).

O discurso sobre o padrão (identificado como “a língua”) faz do

“bom uso” idiomático um “valor moral” ou um “dever cívico”, de mo- do que a pessoa que sabe “se expressar bem” é, quase automaticamen- te, uma pessoa boa, idônea, de caráter limpo, amante de seu país, cum- pridora de seus deveres, respeitosa das instituições etc. Essa associação moralista entre “a língua” e valores cívicos se encontra, por exemplo, nesta passagem de Rui Barbosa: “Uma raça cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida”. Também a escritora Júlia Lopes de Almeida declarou:

“O primeiro dever do cidadão é falar bem a língua materna, e não pre- gar-lhe remendos”. E o mais célebre defensor do padrão mais rígido do português no Brasil, Napoleão Mendes de Almeida, escreveu: “A lín- gua é a mais viva expressão da nacionalidade. Saber escrever a própria língua faz parte dos deveres cívicos”. Para ele, “o zelo do idioma” de- veria ser “parte da educação cívica”. Essa atitude é milenar e já existia, por exemplo, na sociedade romana antiga, onde se falava do consensus bonorum identificado com o consensus eruditorum: as pessoas cultas, educadas e polidas tinham de ser, por consequência natural, pessoas boas, honestas, idôneas. Conforme escreve Michael Stubbs (apud BAGNO, 2002, p. 75), “falar ‘corretamente’ é, no mais das vezes, to- mado em si mesmo como prova de que alguém é bem-educado: juízos avaliativos frequentemente se baseiam nos sons vocais que as pessoas emitem”. E o mesmo autor explica que o padrão linguístico de prestígio

“não pode ser definido em termos puramente descritivos. Sua história tem sido envolvida pela prescrição. Suas formas e funções atuais têm a ver com classe social e dizem respeito às atividades de alto prestígio da cultura dominante”.

Numa comparação entre o padrão-ouro, usado para medir o valor de uma dada moeda nacional, e o padrão-língua, usado para medir o valor de uma manifestação linguística, Jacob Louis Mey (1998, p. 78) assim se exprime: “A propriedade crítica do ouro não é o seu valor intrínseco como tal, ele é somente um elemento do sistema periódico, um dos me- tais da terra, exceto que é mais raro e mais estável do que a maioria dos

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outros. O valor do ouro consiste no ato de ele ser colocado à parte, não só fisicamente [como as barras de ouro nos subterrâneos do Forte Knox, no Tennessee (...)], mas, ainda mais, mentalmente, na cabeça das pessoas. O ouro é, ao mesmo tempo, a medida de todos os valores e de seus padrões invisíveis (...). A ‘língua comum’ é a medida fictícia do ouro na nossa fala. Seu dialeto padrão (virtualmente inexistente) é tipi- camente falado, na melhor das hipóteses, por muito poucos da popula- ção de um país. O valor da língua padrão, assim como o valor do preci- oso metal, é dependente da sua descontextualização, o que quer dizer que representa o valor absoluto, ao mesmo tempo em que, na realidade, não tem nenhum valor concreto, é um padrão descontextualizado”.

Jacob Louis Mey prossegue dizendo que a “língua padrão” se con- verte num conceito abstrato e vazio, no mesmo plano de outras “gran- des ideias” como vida, honra, país, fé, família etc. Segundo ele, nesse discurso, “a norma é abstraída de sua essência e, em consequência dis- so, não pode ser nunca tema de discussão” (MEY, 1998, p. 78).

Veja os verbetes: Correção, Discurso, Hipóstase, Língua, Língua legítima, Língua paterna, Polarização e Variantes.

Padrão frasal

Padrão frasal é o mesmo que frase, enquanto língua que se vai atu- alizar através da fala.

Veja Discurso, Frase, Colocação, Concordância, Variantes.

Padronização

Segundo Marcos Bagno (2017, s.v.), junto com a gramatização e a ortografização, a padronização é o processo de constituição de um pa- drão de língua a partir do momento histórico em que uma língua ou va- riedade linguística é eleita para se tornar a língua oficial de um Estado.

Talvez seja possível dizer que a padronização implica a gramatização e a ortografização, que nela, portanto, ficam englobadas.

A padronização é um processo demorado e complexo e tem duas vertentes: a primeira afeta principalmente a estrutura da língua (codifi- cação) e a outra, de natureza social, incide sobre o status da língua e consiste na implantação do padrão nos âmbitos de uso que lhe são ou devem ser próprios. Essas duas operações pertencem, portanto, à esfera da política linguística e do planejamento linguístico.

Veja os verbetes: Planejamento linguístico e Política linguística.

Padronizado

Veja o verbete: Padrão.

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pag.

Pag. é abreviatura de paginação.

pag. múlt.

Pag. múlt. é abreviatura de paginação múltipla.

Pagela

Pagela é página de formato muito pequeno, paginazinha, santinho Página

Na internet, página é o conjunto de informações (texto, gráficos e informações em multimídia) contidas num único arquivo em hipertexto ou por ele referenciadas, capazes de serem exibidas no vídeo de um computador por um programa tipo-navegador (COSTA, 2018, s.v.).

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), pagina, em Plínio, designa uma coluna de texto no papiro que corres- ponde a cada uma das pequenas filhas de papiro coladas sucessivamen- te umas às outras para obter o rolo. Como este era escrito apenas de um dos lados, daí a razão pela qual se designa por página cada lado da fo- lha do livro. Página é o conjunto de linhas de texto que ocupa cada uma das faces da folha. Pode ser também a folha de papiro, de forma qua- drada, pronta a receber a escrita. É cada um dos dois lados de uma fo- lha de papel, de pergaminho etc. suscetível de receber um texto ou um desenho. É a superfície de uma lauda considerada no seu aspecto mate- rial. O texto de uma página é sempre cercado de espaços em branco, que constituem as margens, mas, em informática, é a subdivisão de uma memória correspondente a um determinado número de palavras e que serve como unidade de troca entre dois níveis de memória em sis- temas de memória virtual.

Veja os verbetes: Carra, Home page, Livro, Obra literária, Portal, Scheda, Site, Sítio.

Página

Página oposta ou contrapágina é a página colocada em frente de uma outra, isto é, a página par relativamente à ímpar seguinte ou à página ímpar relativamente à página par anterior.

Página à francesa

Página à francesa ou página alargada é a que é mais alta do que larga.

Página aberta

Página aberta, em jornalismo, é aquela cuja paginação ainda não

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foi completada e que possui espaços em claro; página cuja forma ainda não entrou na máquina.

Página agrícola

Página agrícola é a designação comum de publicação periódica in- formativa de questões sobre os trabalhos e negócios da agricultura.

Página anterior

Página anterior é a que se encontra localizada imediatamente antes daquela que se menciona.

Página branca

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página branca, página limpa é a que nada tem escrito ou impresso, cor- respondendo na forma a uma página de guarnição e outro material branco. Em jornalismo, é aquela que contém apenas matéria de reda- ção, sem qualquer anúncio.

Página capitular

Página capitular é a que inicia um capítulo de livro.

Página cheia

Página cheia é aquela que é totalmente ocupada por texto, não apresentando títulos nem claros.

Página comprida

Página comprida é a que leva uma linha ou duas a mais, por ser fi- nal de capítulo.

Página coxa

Página coxa ou página curta é o nome dada à página que é mais curta, por terminar um capítulo, por ser final de publicação ou por qualquer outro motivo.

Página curta

Página curta ou página coxa é a que tem menos linhas do que as que deveria conter a sua altura, o que acontece frequentemente nos fi- nais de capítulos.

Página de abertura

Página de abertura é a página de começo, aquela onde se inicia o primeiro capítulo de uma obra; num jornal, é a primeira página onde geralmente estão inseridas as notícias mais sensacionais do dia e tam- bém o editorial.

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Página de birli

Página de birli é a página curta no fim de uma página importante de uma obra ou no fim de um capítulo.

Página de cobertura

Página de cobertura é a capa, ou seja, a parte exterior de um docu- mento, seja de que matéria for, destinada a protegê-lo. Pode conter o tí- tulo da obra, o nome do autor e do editor, a data etc. Nos livros moder- nos, é feita usualmente de papel colorido, com desenhos mais ou menos vivos.

Página de começo

Página de começo é a página capitular, sobretudo aquela onde se inicia o primeiro capítulo de uma obra.

Página de corte

Página de corte é o sistema de paginação de publicações periódicas, que consiste em repartir com anúncios o espaço das páginas de matéria, cortada por eles.

Página de cortesia

Página de cortesia é cada uma das páginas que são deixadas em branco no princípio e no final de um livro.

Página de créditos

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página de créditos, página de propriedade ou página de direitos auto- rais é, usualmente, aquela que fica colocada no verso da página de títu- lo e na qual estão registrado os direitos de propriedade da obra, o nú- mero de edição, a imprenta, as licenças etc.

Veja o verbete: Folha de rosto.

Página de dedicatória

Página de dedicatória é a página de um livro que, em geral, faz par- te das páginas preliminares, onde se inscreve o nome da pessoa ou pes- soas a quem o autor dedica o livro.

Página de falso-título

Página de falso-título é aquela em que está impresso o título abre- viado.

Página de guarda

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página de guarda ou folha de guarda é a folha, geralmente branca e de

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um papel espesso, colocado no início e no final de um volume, destina- da a proteger a obra; folha de papel, geralmente mais fina que a do tex- to ou mesmo transparente, que acompanha e protege uma estampa ou gravura de um livro. Por vezes tem estampada a legenda explicativa do desenho que acompanha.

Página de impressora

Página de impressora é o nome dado à subdivisão física de uma lis- tagem impressa.

Página de partida

Página de partida é a designação da primeira página numerada de uma obra.

Página de portada

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página de portada, frontispício ou página de rosto é o nome dado à pá- gina de rosto de uma obra manuscrita ou impressa, que provém do fato de ser a sua página de entrada e de, frequentemente, assumir a forma de uma fachada arquitetônica. Nela, habitualmente, encontram-se inscritos o título e demais elementos fundamentais para a identificação da obra.

Página de propriedade

Veja o verbete: Página de créditos.

Página de referência

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página de referência ou portada a dupla página é a página assim cha- mada, quando as páginas da esquerda e da direita forma como que uma só página, deixando apenas na mediatriz o claro suficiente para se po- der fazer a leitura de uma para outra página. É o que acontece quando páginas contíguas constituem um quadro ou tabela que se prolonga de uma para outra como se fossem uma só.

Página de resumos

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página de resumos é a página, por vezes solta, que aparece em geral no início ou na parte final de uma publicação periódica e na qual se apre- sentam os resumos dos artigos nela contidos, precedidos da correspon- dente referência bibliográfica, à cabeça; página situada no princípio ou no fim de um livro ou documento que inclui mais de um artigo e que contém a referência bibliográfica e o resumo de cada um dos artigos que o constituem.

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Página de rosto

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), folha de rosto, página de título ou rosto é, em geral, o primeiro fólio de um livro, a seguir aos fólios de guarda (em branco). Nela figuram habi- tualmente o título da obra, o nome do autor e do editor, o lugar e a data de publicação. Em publicação cartográfica, título próprio de um mapa solto pertencente a uma série, independente do título da série de mapas.

Página de rosto múltipla

Página de rosto múltipla ou página de título múltipla é aquela cuja informação não repetida se apresenta em duas páginas consecutivas, em geral dispostas frente a frente.

Página de rosto secundária

Página de rosto secundária é a página de título que antecede ou se- gue a página de rosto escolhida como página-base para a descrição bi- bliográfica de uma publicação.

Página de título adicional

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página de título adicional é a página que precede ou segue a página de título escolhida como base para a descrição da obra. Pode ser mais ge- ral, como uma página de título de série, ou semelhante à página de títu- lo escrita noutra língua.

Página de título divisória

Página de título divisória é a página de título própria de cada um dos trabalhos que foram previamente publicados em separado e mais tarde publicados em volume sob um título geral, como foi feito, por exemplo, no livro Cancioneiros dos Trovadores do Mar, de Celso Cu- nha.

Página de título dupla

Página de título dupla ou página de referência é a expressão usada para designar a circunstância em que duas páginas se apresentam frente a frente, também chamada portada a dupla página.

Página deitada

Página deitada é aquela que é formada por quadro, ilustração ou tabela e que, não entrando na largura, é disposta no sentido da altura da página. Para lê-la, é preciso virar a publicação.

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Página desportiva

Página desportiva é aquela que é consagrada à informação relacio- nada com os desportos.

Página do copyright

Página do copyright é a página onde aparece indicado o registro de direitos autorais.

Página dominical

Página dominical é a página especial, que é publicada apenas aos domingos.

Página dupla

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página dupla ou página espelhada são as duas páginas de uma publica- ção periódica, uma ao lado da outra ou face a face, aproveitadas para um só anúncio, matéria redigida ou ilustração. Para tal, normalmente, são aproveitadas as páginas centrais (que formam uma só folha) ou ou- tras.

Página editorial

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página editorial é aquela em que é inserido o editorial e as colabora- ções consideradas de maior importância. Em jornalismo, é aquela em que são inseridos os artigos de fundo, colaborações e, às vezes, notícias importantes ou cartas dos leitores.

Página em tapete

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), características da iluminura dos códices irlandeses e saxônicos foram denominados página em tapete ou página-tapete pelos historiadores de arte, que mais tarde as estudaram, devido à sua semelhança com os de- senhos dos carpetes orientais (carpet-page). O nome pode provir igualmente da sua parecença com os mais antigos manuscritos islâmi- cos e códices iluminados de origem hebraica. A página em tapete mais antiga que se conhece data de cerca do ano 580 no Livro de Durrow.

No período carolíngio, representa a ornamentação levada ao limite, so- bretudo com a intenção de solenizar o uso do livro.

Página espelhada

Página espelhada é aquela que fica ao lado de uma outra ou face a face (página dupla). O noticiário que ocupa mais de uma página de jor- nal deve ser colocado de preferência em página espelhada.

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Página fechada

Página fechada é aquela cuja forma já entrou na máquina e na qual já não é possível fazer alterações.

Página feminina

Página feminina é aquela em que são tratados apenas temas referen- tes ao universo da mulher.

Página financeira

Página financeira é aquela em que são inseridas apenas informa- ções referentes ao mundo dos negócios (economia, finanças, bolsa, câmbios etc.).

Página financeira e econômica

Página financeira e econômica é a designação comum de publica- ção periódica informativa de questões sobre finanças e economia.

Página foliada

Página foliada é a página que possui um número identificador da sua posição no conjunto do livro.

Página frontal

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página frontal ou portada é a primeira página do início de um livro, que inclui em geral os seguintes elementos, apresentados segundo uma ordem variável: o nome do autor, o título do livro e o subtítulo, o nome do tradutor, o número da edição (no caso de não ser a primeira), o lugar de publicação, o nome do editor comercial e o ano de publicação. Pode incluir outros elementos, como colaboradores (editor literário, revisor, ilustrador, autor da introdução etc.), mas são aqueles os essenciais.

Veja os verbetes: Folha de rosto, Folha de título e Frontispício.

Página ilustrada

Página ilustrada é aquela que se apresenta na totalidade ou na mai- oria composta por ilustrações ou gravuras.

Página ímpar

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), página ímpar é a página que contém o número ímpar, habitualmente a da direita. As notícias mais importantes são dadas nas páginas de nú- meros ímpares, porque elas atraem mais a atenção do leitor do que as páginas de números pares. Por isso, a página ímpar é também chamada de página nobre.

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Página infantil

Página infantil é aquela em que são inseridas matérias relacionadas com o mundo das crianças.

Página informática

Página informática é o espaço delimitado por um jogo de quadros no meio dos quais se desenvolve o escrito.

Página inteira

Página inteira se diz daquela que é ocupada na totalidade com in- formação sobre um único tema.

Página inumerada

Página inumerada é a página de um livro à qual não foi atribuída uma numeração individual.

Página larga

Página larga é aquela em que o texto ou quaisquer outros motivos gráficos ultrapassam a medida da caixa de composição.

Página limpa

Veja o verbete: Página branca.

Página literária

Página literária é aquela cujo conteúdo é totalmente preenchido com questões relacionadas com a literatura e o mundo das letras.

Página longa

Página longa é a página de um livro com um número de linhas im- pressas maior do que o resto do texto.

Página nobre

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), em jornalismo, página nobre é aquela que é mais lida e que mais cha- ma a atenção. As páginas que mais chamam a atenção são as numera- das com numeração ímpar, por isso são designadas páginas nobres e são as preferidas pelos anunciantes.

Veja o verbete: Página ímpar.

Página numerada

Página numerada é a página que leva numa das suas margens um número que indica a sua posição no conjunto das da obra de que faz parte.

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Página oblonga

Página oblonga é a página que é mais alta do que larga.

Página par

Página par ou verso é a que fica do lado esquerdo do livro, impres- sa no verso da página ímpar.

Página posterior

Página posterior é qualquer das páginas que ficam localizadas mais adiante do que aquela que se mencionou.

Página rostral

Veja o verbete: Página de título.

Página seguinte

Página seguinte é a página imediatamente posterior àquela em que se faz a menção.

Página sonora

Página sonora é a folha com informação visual num dos lados e no outro uma camada magnética capas de registrar o reproduzir gravação fonográfica.

Página web

Página web é um documento na web. Cada página é identificada por um www único.

Paginação

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), paginação é o sistema de numeração das folhas de um livro, de um re- gistro, de um caderno etc., tendo em conta o reto e o verso; ordenação da composição tipográfica para formar as páginas. A paginação, que é a ação ou resultado de paginar, generalizou-se a partir do século XV. É o ofício do paginador, assim como o lugar ou seção onde se pagina. É a ordem das páginas do livro impresso ou em branco, assim como o con- junto das páginas de um livro. É a série de operações através das quais as diversas partes que compõem um livro ou uma publicação periódica passa do estado tosco às páginas regulares e organizadas, ordenadas ar- tisticamente. Em descrição bibliográfica, paginação é a parte da zona da descrição física de um documento em que se registra o seu número de páginas e/ou de folhas. Em informática, paginação é a técnica usada com a finalidade de ampliar a capacidade da memória principal de um computador através da divisão dos dados e dos programas de computa-

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dor em segmentos de tamanho fixo, chamados páginas, e situando aquelas que são necessárias imediatamente na memória auxiliar.

Paginação consecutiva

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), paginação consecutiva, paginação correlativa, paginação corrida ou paginação contínua se diz da paginação de um documento em vários volumes, fascículos, números ou partes, cuja numeração é seguida des- de o primeiro ao último dos seus elementos.

Paginação convergente

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), paginação convergente é a designação atribuída, em livros cujo texto é impresso em duas línguas que se leem em direções diferentes (o portu- guês e o árabe, por exemplo), ao sistema de numeração que consiste na utilização de duas séries de números, uma da esquerda para a direita e outra da direita para a esquerda e que terminam ambas sensivelmente próximas, no meio do livro.

Paginação descontínua

Paginação descontínua se diz da numeração das páginas de uma publicação em mais de um volume, que têm numeração independente, mesmo quando reencadernados em um só volume, como é a edição dos Elementos de Bibliologia, da Antônio Houaiss, na reimpressão fac- similar de 1983.

Paginação diversa

Paginação diversa, paginação variada ou paginação múltipla se diz da paginação em que se utilizam mais do que três sequências de pa- ginação, folhas ou colunas, num documento.

Paginação dupla

Paginação dupla se diz da paginação de um documento, geralmente bilíngue, que comporta a mesma paginação para o texto original e para a sua tradução, lado a lado.

Paginação independente

Paginação independente ou paginação descontínua se diz da nume- ração das páginas de obras em mais de um volume, que recomeça em cada um deles.

Paginação própria

Paginação própria ou paginação separada se diz de uma paginação

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distinta dos diversos volumes de uma mesma obra ou por vezes das di- versas partes de um só e único volume.

Paginada

Paginada se diz de uma obra que tem uma numeração em cada pá- gina, quer dizer, no reto e no verso de cada folha, por oposição a uma obra foliada, que somente apresenta numeração no reto das folhas.

Páginas íntimas

Páginas íntimas é a expressão dada usualmente ao conjunto de es- critos de uma pessoa, geralmente elaborados sem qualquer intenção de edição e que refletem o universo profundo e menos conhecido da sua personalidade.

Páginas preliminares

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), páginas preliminares é o nome dado ao conjunto de páginas que prece- dem o corpo do livro. As páginas preliminares apresentam, com fre- quência, paginação própria muitas vezes em algarismos romanos. Nelas se inserem comumente a epígrafe, a dedicatória, as censuras, as licen- ças, as aprovações, as erratas, as loas, a taxa, o prefácio, a introdução, a bibliografia e, por vezes, as instruções destinadas a facilitar o maneja- mento do livro.

Paginator

Paginator, palavra latina, é o artista encarregado da decoração das páginas de um manuscrito.

Paginulae

Paginulae, palavra latina, são as páginas de pequeno formato de um políptico.

Painel

Por suas características e coerções genéricas semelhantes/iguais às do outdoor, pode-se considerá-los como verbetes sinônimos (COSTA, 2018, s.v.).

Veja os verbetes: Anúncio, Bâner, Banner, Cartaz, Classificado, Comercial, Propaganda, Reclame, Reclamo, Transporte.

Paisagem linguística

Marcos Bagno (2017, s.v.) diz que, segundo Rodrigue Landry e Ri- chard Y. Bourhis (1997, p. 23), paisagem linguística é a “visibilidade e saliência de línguas em sinalizações públicas e comerciais num dado território ou região”. A paisagem linguística tem sido descrita como um

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campo de interseção da sociolinguística, da sociologia, da psicologia social, da geografia humana e dos estudos dos meios de comunicação.

Na sociolinguística, é um conceito usado pelos investigadores que es- tudam de que modo as línguas são usadas visualmente em sociedades multilíngues. As línguas usadas na sinalização pública indicam sua re- levância em nível local ou evidenciam as línguas que estão se tornando relevantes naquele lugar e naquele momento. Por exemplo, por causa da realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil em 2014, as ci- dades-sedes de jogos passaram a exibir placas de trânsito e outras indi- cações públicas em português e inglês, alterando, portanto, a paisagem linguística dessas cidades, tradicionalmente monolíngue em português.

Em rodovias importantes do Rio Grande do Sul, muitas sinalizações são feitas em português e espanhol devido à proximidade com o Uru- guai e a Argentina e ao trânsito de veículo entre esses países.

Em sociedades multilíngues, a sinalização e as embalagens em mais de uma língua são consideradas óbvias, sobretudo na medida em que os comerciantes tentam atrair o maior número possível de consumidores ou em que as pessoas se apercebem da realidade multilíngue em que agem. Em outros lugares, como na província canadense do Quebec, o bilinguismo de toda a paisagem linguística é uma questão legal, devido à existência de leis que impõem o inglês e o francês lado a lado. Embo- ra o termo paisagem linguística venha sendo aplicado primordialmente à escrita presente no ambiente estudado, é possível também estender o conceito aos eventos orais multilíngues, como os anúncios dos aeropor- tos, estações de trem etc. Em Luxemburgo, por exemplo, a existência de três línguas oficiais (francês, alemão e luxemburguês) é responsável por anúncios aeroportuários nessas três línguas, mais o inglês, como língua franca internacional.

Apesar de, inicialmente, ter se aplicado o termo a situações bilín- gues e multilíngues, há estudos que se dedicam também à paisagem linguística de ambientes primordialmente monolíngues. Assim, o uso de nomes comerciais em outra língua que não a oficial do país pode re- velar o status simbólico que as línguas estrangeiras têm no imaginário linguístico de uma dada comunidade. Hospitais brasileiros destinados a brasileiros e que trazem no nome termos como medical center indicam de antemão que não são instituições públicas e que se consideram “di- ferenciados” por seu suposto status social elevado.

O estudo da paisagem linguística também pode evidenciar a presen- ça e os papéis das diferentes línguas ao longo da história. Assim, Flori- an Coulmas (2013) emprega o termo para investigar a função da escrita

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em sociedades antigas e de que modo os monumentos que sobrevive- ram de épocas remotas configuravam a paisagem linguística daquelas comunidades e também como, hoje, retirados de seus lugares de ori- gem, transplantados para outros ambientes (como os obeliscos egípcios que ornamentam as cidades de Roma e Paris, por exemplo), exercem papéis diferentes na paisagem linguística atual.

Países desaparecidos

Para efeitos de atribuição de autoria, países desaparecidos é a de- signação dos antigos países ou daqueles cujo território não corresponde aos países atuais, nem aos limites geográficos e políticos modernos.

Palatal

Fonema cuja articulação resulta de um movimento da língua na di- reção do palato (céu da boca). Conforme essa articulação se faça na parte dianteira, mediana ou posterior do palato, temos os fonemas pré- palatais, mediopalatais ou pós-palatais.

A junção da cavidade labial determina o abaixamento da frequência da vibração, de sorte que o espectro das palatais se distingue do das si- bilantes por uma concentração da energia nas zonas mais baixas do re- gistro (2.000 a 3.000 ciclos por segundo, em vez de 4.000 e mais).

O fonema palatal tem a sua articulação palatal situada no nível do palato duro, e é acusticamente compacto e agudo. A cavidade de resso- nância bucal é muito compartimentada e mais importante na parte ante- rior que na posterior ao estrangulamento mais estreito.

Em português, o l- pré-vocálico é pré-palatal ou, mais rigorosamen- te, alveolar. Exemplo: lado. Quanto ao -l final da sílaba ou pós- vocálico, é pós-palatal, ou, mais propriamente, velar. Exemplo: coral.

São também consoantes palatais o /k/ e o /g/, que se articulam com o dorso da língua em contato com o véu do paladar. São, pois, oclusi- vas velares.

Outro tipo de palatais em nossa língua são o /ʃ/ (= ch) e o /ᴣ/ (= j).

Articulam-se com a parte anterior da língua aproximada da região pós- alveolar do palato. São também conhecidas pelo nome de chiantes.

Em português, não há consoantes articuladas no ápice da abóbada palatina, geralmente conhecidas pelo nome de cacuminais ou cerebrais.

No Brasil, dialetalmente (área paulista) existe uma articulação das líquidas (/l/, /r/) que pode ser considerada cacuminal. Amadeu Amaral (1875-1929), no Dialeto Caipira, diz a respeito do r, que (a língua) "vi- ra a extremidade para cima, sem tocá-la na abóbada palatal".

Quanto às vogais, são palatais o /e/ e o /i/ (em oposição ao /o/ e ao

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/u/), que são velares.

Veja o verbete: Palato.

Palatalidade

Palatalidade é o caráter palatal de um fonema. No irlandês, pode ser marca distintiva gramatical, de genitivo (algumas vezes acompa- nhada de outra marca). Exemplos: b'el (da boca). Se a palavre em no- minativo já termina em palatal, o genitivo perde a palatalidade. Certas línguas, como o mapuche, conhecem as palatais ţ e ḑ (além das dentais t e d). Considerando-se /ţ/ como equivalente de /t/ /y/, a oposição entre /t/ e /ţ/ é distintiva, mas não fonológica, porquanto fonologicamente a diferença está no i do ţ e no zero do t (JOTA, 1981, s.v.).

Palatalização

Alteração fonética que consiste na aquisição por um fonema da qua- lidade palatal, em virtude do contato com outro fonema. É um caso par- ticular de assimilação.

Na passagem do latim para o português, foram criados alguns fo- nemas, em virtude do contato de uma consoante com um iode, isto é, uma semivogal palatal. Isso se deu nos grupos ly, ny, sy, ssy. Exemplos:

filiu > filyu > filho; ananea > aranya > aranha; basiu > basyu > baiju

> beijo; *basseu (por bassu) > baixo; *capsea (por capsa) > * cassea

> *cassya > caixa.

O fonema /ᴣ/ (= j) – escrito com g ou com j – surgiu do contato de um g (= guê) com uma vogal palatal (/e/, /i/), ou com um iode. Exem- plos: gente > djente > gente; fugio > fugyo > fujo.

O fonema /ʃ/ (= ch), outrora tx, provém da evolução dos grupos pl-, cl-, fl-. Exemplos: plorare > chorar (pronúncia txorar) > chorar; cla- mare > chamar (= txamar) > chamar; flamma > chama (pronúncia txama) > chama.

A palatalização nesses grupos é de difícil explicação. No entanto, que o ponto de partida foi a líquida testemunha o italiano, língua em que se deu, nesses grupos, a transformação l > y. Exemplos: plus >

più; clave > chiave; flore > fiore.

No português do Brasil, há tendência para a palatalização de uma oclusiva em contato com um i, vogal palatal. Exemplos: tio (pronúncia txio), leite (pronúncia leitxi), dia (pronúncia djia).

No Nordeste, o fenômeno também se dá quando a palatal precede o t ou o d. Exemplos: muito (pronúncia mutxo), peito (pronúncia petxu).

Apesar de não serem aceitas pela norma culta, no português do Bra- sil, até hoje acontece a palatalização, por exemplo, em família > fami-

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lha, sandália > sandalha.

A palatalização resulta de uma mudança fonética caracterizada por um avanço do ponto de articulação de um fonema.

Veja os verbetes: Assimilação, Palato.

Palatalizado

Consoante palatalizada é, segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), aquela cujo ponto de articulação se aproxima do palato duro. Assim, a velar [k] é palatalizada nas palavras francesas qui e cinquième e portu- guesas quilo e quinto. Conferimos também esta designação às consoan- tes que possuem um ponto de articulação palatal como ponto de articu- lação secundário.

Palatino

A abóbada palatina, ou palato duro, é a parte anterior do palato constituída por uma parede óssea e inerte.

Palatização

Mudança do ponto de articulação de um fonema para o palato duro.

Este fenômeno provém do grupo latino pl, em palavras como plorare >

chirar, plano > chão. (ANDRADE, 2009, s.v.) Palato

Articulador passivo dividido em duas partes, localizado no céu da boca, segundo Thaïs Cristófaro Silva (2011, s.v.): o palato duro e o pa- lato mole. O palato duro é a parte anterior do céu da boca, formado por uma estrutura óssea. O palato mole, ou véu palatino, é constituído de tecido que permite o movimento. O palato mole pode funcionar como articulador ativo na produção de uma vibrante uvular. Adicionalmente, o palato mole altera sua configuração na produção de sons orais e na- sais através do levantamento ou abaixamento da úvula. Em sons orais, a úvula se encontra levantada e, em sons nasais, encontra-se abaixada.

A delimitação e classificação da área palatal é controvertida, como demonstram os diversos sistemas classificatórios para descrever os ti- pos de condições patológicas conhecidas como lábio leporino e fenda palatina. Em um desses sistemas, toda a área superior oral (incluindo os lábios e o alvéolo) é chamada de palatal, por constituir um único pro- cesso embriológico. Na fonética, o sentido é muito mais restrito, apli- cando-se o termo a toda a área que vai do alvéolo à úvula, dividida em palato duro (a área imediatamente atrás do alvéolo) e palato mole ou

"velum" (continuação carnosa e móvel até a úvula). Apenas os sons ar- ticulados na área do palato duro são chamados palatais. Os que são ar-

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ticulados no palato mole são velares ou uvulares. O palato mole é par- ticularmente importante na produção da fala, pois é seu controle mus- cular que permite que ele se eleve (fechando a parte superior da farin- ge) para a produção dos sons orais, ou abaixe (mantendo a passagem do nariz aberta), para a produção dos sons nasais. Controle do palato mole (que pode ser resultante de diversas condições neurológicas ou anatômicas, como a fenda palatina) leva a uma fricção ou ressonância nasal de caráter anormal.

Segundo Franck Neveu (2008, s.v.), o palato é a divisória que cons- titui a parte superior da cavidade bucal, bem como parte de sua parece posterior. Separa estas cavidades das fossas nasais e da faringe. Está limitada, na frente, pelos alvéolos e, atrás, pela úvula. O palato é cons- tituído na sua região anterior por uma parte óssea e rígida (a abóbada palatina), chamada palato duro, e na sua região posterior por parte fle- xível e móvel que forma o véu palatino, chamado palato mole, termi- nado pela úvula.

O palato duro é a zona de articulação das realizações fônicas pala- tais, bem como vocálicas ou consonantais. As vogais palatais são fre- quentemente designadas pelo termo de vogais anteriores. Para descri- ção dos pontos de articulação das consoantes palatais, o palato duro se subdivide em três regiões: as regiões pré-palatal, médio-palatal e pós- palatal.

O palato mole é a zona de articulação das realizações fônicas vela- res (vogais e consoantes) e uvulares (consoantes). As vogais velares são mais frequentemente designadas pelo termo de vogais posteriores.

Para descrição dos pontos de articulação das consoantes velares e uvu- lares, o palato mole é subdividido em três regiões: pré-velar, pós-velar e uvular. O palato mole, que provoca a abertura ou fechamento das fos- sas nasais, realiza um papel essencial na distinção das unidades fônicas orais e nasais.

Veja os verbetes: Abertura, Alvéolo, Aparelho fonador, Articula- ção, Boca, Consoante, Fonema, Latim, Língua, Nasal, Oral, Palatali- zação, Ponto de articulação, Uvular, Velar, Véu palatino e Vogal.

Palato artificial

Palato artificial é o molde do palato, geralmente de gesso, usado em fonética instrumental. Polvilhado tal aparelho, e colocado no palato da pessoa cuja pronúncia se deseja observar, nele ficam evidenciados os pontos onde a língua o toca, na emissão de um fonema. O palato as- sim assinalado constitui o palatograma (JOTA, 1981, s.v.).

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Palato duro Veja: Palato.

Palatoalveolar

Palatoalveolar é o mesmo que pré-palatal.

Palato-alveolar

Termo usado na classificação fonética dos sons consonantais, com base em seu ponto de articulação, referindo-se a um som produzido por um duplo movimento da língua em direção à área entre o alvéolo e o palato duro. A ponta da língua encosta no alvéolo, enquanto a parte da frente da língua se eleva em direção ao palato duro. São exemplos o [ʃ]

de chuva e o [ʒ] de gelo. Outras variedades de som podem ser articula- das nesta parte da boca, alterando ligeiramente a posição e o formato da língua (Exemplos: os sons alveopalatais ou alveolopalatais, que são importantes em algumas línguas, como o polonês).

Palatografia

É difícil ver ou sentir o que está acontecendo dentro da boca quando a língua toca o palato. A palatografia, segundo David Crystal (1988, s.v.), é o estudo instrumental da articulação desta área. Diversas técni- cas já foram tentadas para produzir cópias precisas do contato da língua com o palato – os palatogramas. Uma técnica comum é espalhar uma substância escura no céu da boca; quando a articulação é feita, se ele for na área palatal ou alveolar, a substância desaparece. O céu da boca é então fotografado para se localizar o ponto exato da articulação. Além da inconveniência deste método, sua principal desvantagem é ser está- tico: não permite qualquer observação do movimento da língua no dis- curso corrido. Ultimamente, técnicas eletropalatográficas foram elabo- radas para permitir uma gravação contínua do contato da língua com esta área. O potencial deste instrumento, conhecido como eletropalató- grafo é enorme, mas as pesquisas ainda estão no início.

Palatográfico

O método palatográfico é usado na fonética experimental, segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), para conhecer a posição da língua du- rante a prolação de certos sons. Esse método consiste em introduzir na boca um palato artificial, que recebe a impressão do contato da língua com a parte superior da cavidade bucal. Inventado por Rudolf Lenz (1920-1987), foi modificado e aperfeiçoado. Pode-se revestir o palato de certa cor, e se obtém, assim, uma coloração da parte da língua que entrou em contato com o palato. Enfim, para evitar os inconvenientes

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inerentes à introdução do palato artificial, que perturba a prolação, fo- tografam-se diretamente as superfícies da língua que entram em contato com o palato colorido.

Palatograma

Transposição gráfica para o papel, da mancha que se obtém numa placa de parafina polvilhada, adaptada ao céu da boca e dita palato ar- tificial, quando se articula um fonema ou um grupo de fonemas: da zo- na tocada pela língua desaparece a camada de polvilho. "Os palatogra- mas permitem ver: 1º, se a língua toca ou não o palato; 2º, quando toca, qual a região tocada e a sua extensão e a sua forma". (Nogueira, 1938, p. 316). O palatograma é um dos recursos da fonética experimental.

Palavra

Unidade linguística em que se associam som, significação e forma gramatical. Vocábulo, ao contrário, seria a palavra desprovida de signi- ficado.

Assim, amamos é uma palavra porque: 1º) é um conjunto de sons (fonemas); 2º) esse conjunto de sons é portador de determinada signifi- cação (a qual se contém no elemento ama-, o semantema, e representa um conceito); 3º) desempenha na estrutura da língua a função de verbo, manifestada pelo elemento -mos, um morfema que serve para caracteri- zar a primeira pessoa do plural.

Não há palavra que seja simplesmente fonema + semantema. Al- gumas assim o parecem, como luz, por exemplo, forma essa que tam- bém se pode isolar como radical (semantema) num derivado como lu- zeiro. Mas, em luz, palavra, distinto de luz-, radical, seja de admitir a presença de um morfema, denominado morfema zero, o qual se revela, por exemplo, numa oposição do tipo singular-plural, ou seja luz-luzes.

Pode, entretanto, um vocábulo (não uma palavra) resultar apenas da soma fonema + morfema. É o que se dá com certas preposições, por exemplo de. Num segmento frasal como casa de Pedro, o elemento de representa a mesma função que a desinência -i em latim ou o morfema 's em inglês: domus Petri, Peter's house. Em outros termos: em de não há semantema, o que facilmente se deduz das múltiplas relações que tal preposição pode estabelecer: casa de Pedro (posse), casa de madeira (matéria), casa de banho (fim), casa de luxo (qualidade), morrer de fome (causa), cair de joelhos (modo), vir de casa (procedência) etc.

A preposição de não é, portanto, uma palavra, mas um vocábulo.

Vocábulo é a menor forma livre de uma língua (-i, por exemplo, em la- tim, não é vocábulo porque está sempre preso a um tema: Petri, lupi,

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belli etc., ao passo que isso não se dá com de em português). Quer di- zer, toda palavra é um vocábulo, mas nem todo vocábulo é uma pala- vra. Daí a divisão dos vocábulos em vocábulos lexicais (= palavras) e vocábulos gramaticais (= morfemas vocabulares).

A nomenclatura Gramatical Brasileira classifica assim as palavras (inclui palavras e vocábulos) da língua portuguesa: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Dessas dez espécies de palavras, seis (substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome e verbo) são variáveis; as outras quatro (advérbio, preposição, conjunção e interjeição) são invariáveis.

Se, em vez de palavras, fizermos a classificação dos vocábulos, en- tão a divisão será esta: vocábulos lexicais (substantivo, adjetivo, nume- ral, pronome, verbo e advérbio de modo e circunstanciais), vocábulos gramaticais (artigo, preposição, conjunção e advérbio de intensidade) e vocábulo-frase (interjeição).

Os vocábulos lexicais subdividem-se em nomes (substantivo, adje- tivo, numeral, pronome, advérbio) e verbo.

Dos nomes, são palavras modificativas o adjetivo (modifica o subs- tantivo) e o advérbio (modifica o verbo).

Entre os vocábulos gramaticais são conectivos (= elementos de liga- ção) a preposição (relaciona palavras, estabelecendo entre ambas uma dependência) e a conjunção (liga orações e coordena palavras).

De três formas surgem as palavras em uma língua: por criação arti- ficial ou eruditismo, por empréstimo e, internamente, por composição e derivação.

Em linguística tradicional, segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), a palavra é um elemento linguístico significativo composto de um ou mais fonemas. Essa sequência é suscetível de uma transcrição escrita (ideogramática, silábica ou alfabética) compreendida entre dois espaços em branco. Ela conserva sua forma, total ou parcialmente (no caso da flexão), em seus diversos empregos sintagmáticos. A palavra denota um objeto (substantivo), uma ação ou um estado (verbo), uma qualida- de (adjetivo), uma relação (preposição) etc.

Tal concepção encontra diversas reservas que incidem: a) sobre a identidade postulada entre grafismo e funcionamento semântico; b) so- bre o fato de que uma palavra possui, em geral, não um único sentido, mas vários; c) sobre o fato de que as mesmas noções, como a qualidade ou a ação, podem ser marcadas indiferentemente por palavras de diver- sas naturezas gramaticais (por exemplo, para a qualidade, branco e brancura, para a ação, saltar e salto).

Referências

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Do ponto de vista econômico, exceção feita a África do Sul, os Estados africanos são exportadores tradicionais de matérias primas e produtos agrícolas, ou seja, são