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Claudia Maria da Costa Archer

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Academic year: 2023

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São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009

Claudia Maria da Costa Archer

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Maria da Glória Costa Gonçalves de Sousa Aquino

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RESUMO

O processo de globalização da economia, ocorrido no século XX estabeleceu o desenvolvimento de uma nova ordem mundial, calcada, mormente, pela expansão do capitalismo. Análise das profundas transformações ideológicas, operadas com o movimento da globalização e a internacionalização do capital, que vem provocando mutações na natureza e nas funções dos Estados nacionais.

Palavras-chave: Globalização, Mundialização, Neoliberalismo, Estado.

ABSTRACT

The process of economic globalization, which occurred in the twentieth century established the development of a new world order, based, inter alia, the expansion of capitalism. Analysis of deep ideological transformation, operated with the movement of globalization and internationalization of capital, which is causing changes in the nature and functions of national states.

Key-Words: Globalization, Mondialisation, Neoliberalism, State.

1 INTRODUÇÃO

O Estado contemporâneo passa atualmente por um momento de grandes transformações. Os fenômenos da globalização (GOWAN, 2003: 23) e da mundialização do capital (CHESNAIS, 1996:24/32) têm produzido o surgimento de grandes conglomerados no setor privado, detentores de um capital cada vez mais centralizado, tornando mais difícil de ser executado pelos Estados soberanos

1 Mestre em Políticas Públicas-Professora/UFMA.E-Mail: claudiaarcher@gmail.com.br

2 Advogada, Mestre em Políticas Públicas- Professora/UFMA. E-mail: mgcgn@email.iis.com.br

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São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009

isoladamente.

Nesse sentido, o presente trabalho tem como escopo específico a identificação das profundas transformações de cunho econômico, político e ideológico, operadas a partir da década de 80 e decorrentes do movimento da globalização e a internacionalização do capital que vem provocando mutações na natureza e nas funções dos Estados nacionais.

Por esse aspecto, a globalização atual teria o condão de intensificar os processos de interdependência recíprocos entre Estados-nação e economia. No fundo, a globalização seria entendida como um movimento empreendido pela humanidade, surgido na Europa para fomentar o processo de industrialização – amadurecendo o denominado capitalismo empresarial – que marcou o século XX e, em particular o contexto europeu no pós-guerra. Entretanto, o processo de interdependência vem sofrendo alterações sob o aspecto estrutural; observando-se, portanto, a denominada, “segunda onda de globalização”, esta contraposta à globalização histórica evidente a partir do século XV. No último sentido, o processo de globalização está atualmente potencializado pela rapidez de circulação de informação e pelo desenvolvimento técnico (FROUFE, 2007: 214-215); com o fito de identificar fluxos de comércio, capital e pessoas em todo o globo (HELD & MC GREW, 2001: 12).

Para isso se impõe o estudo dos diversos conceitos à “globalização” e

“mundialização”, posto estarem eivados de significações implícitas. Segundo Chesnais (1996: 21) a presente tarefa consiste na decifração de “palavras carregadas de ideologia”, sendo necessário o mapeamento das principais teorias da globalização – esclarecendo-se a sua gênese na sociedade global e, também, os desafios que criam para as sociedades nacionais (IANNI, 1997: 11).

Assim, o foco teórico desse projeto pretende pela análise e construção do diversos conceitos imputados à “globalização”, sem a pretensão de exaurir todos os seus sentidos e interpretações.

2 GLOBALIZAÇÃO NA NOVA ORDEM MUNDIAL: uma análise ideológica

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Historicamente, o conceito de globalização surgiu na década de 90, sendo propagada por jornalistas e políticos anglo-americanos, que foram seus principais porta-vozes, haja vista que para eles a globalização é portadora de uma nova civilização planetária, um mercado único, uma sociedade de risco, um mundo além da segurança das nações, uma força irrefreável e quase natural de transformação global (GOWAN, 2003: 23) ou que a mundialização já se tornou “irreversível” e que não há alternativas a não ser adaptar-se a ela, para o bem e para o mal.

(CHESNAIS, 1996: 20). Porém, Ianni em “a teoria da globalização” diz que:

Desde que o capitalismo se desenvolveu na Europa, apresentou sempre conotações internacionais, multinacionais, transnacionais e mundiais, desenvolvidas no interior da acumulação originária, do mercantilismo, do colonialismo, do imperialismo, da dependência e da interdependência. E isso está evidente nos pensamentos de Adam Smith, David Ricardo, Herber Spencer, Karl Marx, Max Weber e muitos outros. Mas é inegável que a descoberta de que o globo terrestre, como já disse, não é mais apenas uma figura astronômica, e sim histórica, abala modos de ser, pensar, fabular.

(IANNI, 1997: 14)

Por outro lado, Chesnais adota o conceito “mundialização do capital”

posto se assemelhar ao termo inglês “globalização”. Segundo Chesnais, ambos os termos traduzem a capacidade estratégica de todo grande grupo oligopolista, voltado para a produção manufatureira ou para as principais atividades de serviços, de adotar, por conta própria, um enfoque e conduta “globais” (CHESNAIS, 1996: 17). O que gera várias implicações, tanto econômica quanto política, mas de modo a influenciar as relações de internacionais entre as nações, assim:

Por pouco que se saia do campo da ideologia pura e se entre no campo de um enfoque científico, a palavra “globalização” ou “mundialização”

representa um convite imediato a escolher ou criar instrumentos analíticos que permitam captar uma totalidade sistêmica. Isto não apenas no tocante ao conceito de capital, que deve ser pensado como unidade diferenciada e hierarquiza, hoje cada vez mais nitidamente comandada pelo capital financeiro. Aplica-se também à economia mundial, entendida como relações políticas de rivalidade, de dominação e dependência entre Estados. A mundialização do capital e a pretensão do capital financeiro de dominar o movimento do capital em sua totalidade não apagam a existência dos Estados nacionais. (CHESNAIS, 1996: 18)

Para Chesnais:

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São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009 estimular o “globalismo” significa, para eles, fazer o seguinte chamado aos dirigentes industriais e políticos americanos e europeus: vamos parar de brigar por questões menores e bobas, como quotas de importação e de que modo nós manejamos a política industrial, vamos tomar consciência de nossos interesses comuns e cooperar! De fato, as publicações que fazem a mais extremada apologia da “globalização” e do “tecno-globalismo”

apresentam esse mundo que está nascendo “sem fronteiras” (bordeeless, título do livro de 1990 de Ohmae) e as grandes empresas, como “sem nacionalidade” (stateless, expressão empregada pela influente revista Business Week, 1990) (CHESNAIS, 1996: 23)

Assim, se observa que o ponto característico da globalização ou mundialização já está implementado há muito tempo. Ou seja, a globalização, cuja denominação foi instada a justificar o novo modelo econômico capitalista, se efetivou juntamente com a consolidação da ideologia neoliberal, que propagava a unificação político-econômica, mas na prática, ressaltou uma sociedade extremamente seccionada, provocando diferenciações e hierarquizações em todos os níveis dos Estados nacionais.

Destaque-se, porém, que uso do termo “global” iniciou-se nos Estados Unidos nos anos 80, nas grandes escolas americanas de administração de empresas, as célebres “business management schools” (CHESNAIS, 1996. p.23), usado na imprensa econômica e financeira, incorporando-se depois ao discurso neoliberal. Gowan, (2003), diz:

Tanto a globalização quanto o neoliberalismo estavam se espalhando pelo mundo ocidental antes do colapso do Bloco Soviético, mas foi durante a década de 1990 que as administrações americanas procuraram ativamente radicalizar e generalizar essas tendências, articulando-as de modo a ancorarem outras políticas econômicas aos interesses políticos e econômicos americanos. (GOWAN, 2003: 10)

Já Ianni, aprofunda as diversas derivações decorrentes do adjetivo global,

tais como: “aldeia global”, “fabrica global”, “nave espacial”, “sistema-mundo”, todos

em metáfora aos termos largamente denominados globalização ou, então,

mundialização. Assim, para Ianni a aldeia-global representa a existência das

mercadorias convencionais, além da venda de informações, fabricadas como

mercadorias e comercializadas mundialmente. É o novo comércio, das informações,

dos entretenimentos onde as idéias são produzidas, comercializadas e consumidas

como uma mercadoria. Com efeito, Ianni completa :

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São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009 A metáfora torna-se mais autêntica e viva quando se reconhece que ela praticamente prescinde da palavra, tornando a imagem predominante, como forma de comunicação, informação e fabulação. A eletrônica propicia não só a fabricação de imagens, do mundo como um caleidoscópio de imagens, mas também permite jogar com as palavras como imagens. A máquina impressora é substituída pelo aparelho de televisão e outras tecnologias eletrônicas, tais como ddd, telefone celular, fax, computador, rede de computadores, todos atravessando fronteiras, sempre on line everywhere worldwide all time. (IANNI, 1997: 17)

Em continuidade, Ianni demonstra que a expressão “fábrica global” nos remete a

uma transformação quantitativa e qualitativa do capitalismo além de todas as fronteiras, subsumindo formal ou realmente todas as outras formas de organização social e técnica do trabalho, da produção e reprodução ampliada do capital. Toda a economia nacional, seja qual for, torna-se província da economia global. O modo capitalista de produção entra em uma época propriamente global, e não apenas internacional ou multinacional. Assim, o mercado, as forças produtivas, a nova divisão internacional do trabalho, a reprodução ampliada do capital, desenvolvem- se em escala mundial. Uma globalização que progressiva e contraditoriamente, subsume real ou formalmente outra e diversas formas de organização da forças produtivas, envolvendo a produção material e espiritual. (IANNI, 1997: 17-18)

Já a expressão “nave espacial” nos leva a uma viagem de travessia, ao lugar e à duração, ao conhecido e ao incógnito, é o destino incerto do que há por vir.

Essa metáfora da nave espacial serve como o símbolo da modernidade desenvolvida no século XX, anunciando o século XXI. Pois:

Ocorre que a tecnificação das relações sociais, em todos os níveis, universaliza-se. Na mesma proporção em que se dá o desenvolvimento extensivo e intensivo do capitalismo no mundo, generaliza-se racionalidade formal e real inerente ao modo de operação do mercado da empresa, do aparelho estatal, do capital, da administração das coisas, de gente e idéias, tudo isso codificado nos princípios do direito. Juntam-se aí o direito a contabilidade, a lógica formal e a calculabilidade a racionalidade e produtividade, de tal maneira que em todos os grupos sociais, instituições, em todas as ações e relações sociais, tendem predominar os fins e os valores constituídos no âmbito do mercado, da sociedade vista como um vasto e complexo espaço de trocas. Esse é o reino da racionalidade instrumental, em que também o indivíduo se revela adjetivo, subalterno.

(IANNI, 1997: 20)

Para arrematar, acerca do conceito de economia-mundo Ianni informa que:

está presente em estudos de Braudel e Wallerstein, precisamente pesquisadores que combinam muito bem o olhar do historiador com o geógrafo. É verdade que Wallerstein prefere a noção de “sistema-mundo”, ao passo que Braudel a de

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“economia-mundo”, mas ambos mapeiam a geografia e a história com base na primazia do econômico, na idéia de que a história se constitui em um conjunto, ou sucessão, de sistemas econômicos mundiais. Mundiais no sentido de que transcendem a localidade e a província, o feudo e a cidade, a nação e a nacionalidade, criando e recriando fronteiras, assim como fragmentando-as ou dissolvendo-as. Eles lêem as configurações da história e da geografia como uma sucessão, ou coleção, de economias-mundo. Descrevem atenta e minuciosamente os fatos, as atividades, os intercâmbios, os mercados, as produções, as inovações, as tecnificações, as diversidades, as desigualdades, as tensões e conflitos.

Apanham a ascensão e o declínio das economias-mundo. (...) Permitem reler o mercantilismo, o colonialismo, o imperialismo, o bloco econômico, a geopolítica em termos de economias-mundo. (IANNI, 1997: 27)

CONCLUSÃO

Podemos concluir que o conceito de globalização – denominada por Balibar (1997: 377) como mundialização do mundo - tem como característica a tentativa de utilizar o sistema internacional dos Estados soberanos como mecanismo do predomínio global. Por sua vez, Zygmunt Bauman (1999: 66-67) salienta que no discurso atual, o termo refere-se primordialmente aos efeitos globais, notoriamente não pretendidos e imprevistos.

Esta nova e desconfortável percepção das “coisas fugindo ao controle” é que foi articulada (com pouco benefício para a clareza intelectual) num conceito atualmente na moda: o de globalização. O significado mais profundo transmitido pela idéia da globalização é o de caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais; a ausência de um centro, de um painel de controle, de uma comissão diretora, de um gabinete administrativo. A globalização é a “nova desordem mundial”

de Jowitt com um outro nome.

Com toda essa difusão do termo globalização, o termo francês

“mundialização” (mondialisation) não conseguiu se estabelecer, posto que diminuiria os impactos ideológicos da palavra, “global” e “globalização”, que, por sua vez, possuem maior abrangência, visto que sua conceituação é mais genérica. Porém a palavra “mundial” permite introduzir, com mais força do que termo “global”, a idéia de que, se a economia se mundializou, seria importante construir depressa instituições políticas mundiais capazes de dominar o seu movimento. (CHESNAIS, 1996: 24).

Podemos dizer que:

a mundialização é o resultado de dois movimentos conjuntos, estreitamente interligados, mas distintos. O primeiro pode ser caracterizado como a mais longa fase de acumulação ininterrupta do capital que o capitalismo

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São Luís – MA, 25 a 28 de agosto 2009 conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento de conquistas sociais e democráticas, que foram aplicadas desde o início da década de 1980, sob impulso dos governos Thatcher e Reagan.

(CHESNAIS, 1996: 34)

Portanto vemos que o que impulsiona a globalização, está além dos processos comumente associados a ela, ou seja, mais impulsionados por forças tecnológicas e/ou econômicas do que pelas capacidades políticas e interesses capitalistas políticas e interesses capitalistas da nação americana e da elite empresariais. A respeito da afirmação, Gowan mostra:

que o processo de globalização tem sido impulsionado de modo crucial pelo enorme poder político colocado nas mãos da nação americana e do empresariado dos Estados Unidos por um meio particular de sistemas nonetário internacional e do regime financeiro internacional associado que foi construído – em grande parte pelo governo dos Estados Unidos – sobre as ruínas do sistema Brentton Woods. (GOWAN, 2003: 11)

Finalmente, concluímos que a globalização está estabelecida enquanto ideologia e posta em prática na vida mundial; o que podemos fazer é tentar minimizar seus efeitos hierarquizadores para reduzir a diferenciação, aproveitando o que há de positivo na homogeneização das facilidades proporcionadas pelo acesso ao que acontece no mundo.

REFERÊNCIAS

BALIBAR, Étienne. La crainte des masses. Paris: Galilée, 1997.

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. [tradução Marcus Penchel]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

CHESNAIS, François. A Mundialização do Capital [tradução de Silvana Finzi Foá].

São Paulo: Editora Xanã, 1996.

FROUFE, Pedro Madeira. Globalização e Integração. Doze pistas de reflexão. In:

SILVEIRA, Alessandra (coord.). 50 anos do Tratado de Roma. Lisboa: Quid Juris Sociedade Editora, 2007.

GOWAN, Peter. A Roleta Global [tradução de Regina Bhering]. Rio de Janeiro:

Editora Record, 2003.

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HELD, David; MC GREW, Anthony. Prós e Contras da Globalização. [Tradução de Vera Ribeiro]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2001.

IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 4ª edição. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1997.

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