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O conceito de Estado nas Relações Internacionais: da crítica de Fred Halliday à perspectiva de Pierre Bourdieu

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Academic year: 2023

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Este artigo discute o conceito de Estado nas Relações Internacionais (RI) e, sobre esse tema, apresenta a perspectiva de Pierre Bourdieu. O conceito de Estado nas relações internacionais: da crítica de Fred Halliday à perspectiva de Pierre Bourdieu. Este artigo tem como objeto de estudo o conceito de estado utilizado nas RI e o trata com base na contribuição de Pierre Bourdieu1.

Considerações sobre o conceito de Estado e sua utilização nas relações internacionais: uma breve ilustração teórica. Os princípios do realismo político de Hans Morgenthau são importantes para delinear o conceito de Estado realista: 1.

O Estado marxista nas Relações Internacionais

As ideias e práticas idealistas durante o governo norte-americano de Wilson fazem deste período um exemplo concreto de um estado idealista. Jackson e Sorensen (2006) mencionam que, ao trabalhar no conceito de Estado marxista, deve-se primeiro levar em conta que esta corrente substitui as interações dos Estados pelas relações de classe e, também, que a política e a economia estão interligadas. Para os marxistas, a economia capitalista funciona de acordo com a lógica da luta de classes, ou seja, baseada nos conflitos (re)distributivos que ocorrem entre a burguesia e o proletariado.

Como o contexto material determina o comportamento social, a vitória da burguesia capturou o Estado para servir os seus interesses de classe. Porém, com o avanço da luta de classes, em que os trabalhadores conseguiram organizar-se sob a forma de sindicatos e através de votos eleitorais, o Estado foi obrigado a equilibrar os interesses destas duas classes. Nesse sentido, Hunt & Sherman (2005) observam que, no capitalismo, o Estado atua em benefício da classe dominante para garantir o seu domínio sobre o resto da sociedade e para arbitrar as diferenças de opinião entre os capitalistas, que ocorrem numa sociedade baseado na concorrência.

Agindo desta forma, os governos subsidiam, ou seja, utilizam os recursos da sociedade em benefício do bem-estar das empresas.

A insuficiência do conceito de Estado das RI

Nesse sentido, Fred Halliday apresenta três razões que dificultam o desenvolvimento do conceito de estado nas RI. Contudo, a terceira razão está relacionada com a definição de Estado utilizada pelos estudiosos das RI, na medida em que, em última análise, os teóricos reduzem ou aumentam a importância do Estado sem defini-lo, ou mesmo trabalham com conceitos da teoria política mais antiga, à qual fazer não são reconhecidos pelo IR. Devido a estes impasses, Fred Halliday salienta que nas RI consideram que se deve dar uma certa definição de Estado: aquilo que pode ser classificado como um todo nacional-territorial (op. cit, p. 91).

Os realistas aceitam amplamente a definição do Estado como uma totalidade nacional-territorial, e do ponto de vista empírico pode-se verificar que esta afirmação é verdadeira como uma definição estritamente geográfica, mas, no que diz respeito ao Estado, como uma RI - ator, o mesmo pode ser dito. Na teoria marxista, o conceito de Estado tornou-se mais limitado, representando basicamente um conjunto de instituições coercitivas e administrativas, resultantes da luta de. 7 Os gregos lutaram para criar uma ideia de Estado que fosse livre de mito – a razão de Estado – ver Platão, a República.

Isto pode ser verificado em relação aos conflitos entre os dois estados, que são promovidos pelo governo do chefe de estado. Outra mudança a notar é a ideia do Estado-nação nascido da Revolução Francesa. 9 Especificamente, em relação a esta distinção entre o Estado e a Nação, observa-se nos tribunais penais da ONU para a ex-Jugoslávia e no sistema interamericano de protecção dos direitos humanos, que os Estados são responsáveis ​​pelos crimes que cometem. contra os seus cidadãos. .

Portanto, a essência das observações de Halliday sobre o conceito de Estado é que existem aspectos abstratos e concretos incomensuráveis ​​neste ator, que são por vezes negligenciados pelas teorias dominantes de RI.

A necessidade de avançar na conceituação de Estado

É fato que o Estado merece atenção especial, principalmente porque as RI devem criar teorias que se sustentem em nível concreto. Por outro lado, para evitar esses contratempos, os teóricos utilizam excessivamente as generalizações como solução. Nas relações internacionais, seja porque as teorias são contraditórias ou fracas, a discussão e a argumentação sobre muitas questões importantes – a proximidade da interdependência nacional, a estabilidade de configurações específicas de poder, a utilidade do poder – tornam-se difíceis ou inúteis porque os participantes falam sobre coisas diferentes. ao usar as mesmas expressões (WALTZ, 2002, p. 26).

Isso fica mais evidente quando se considera a existência de alguns conceitos utilizados pela disciplina, que são relativamente fracos ou contraditórios. Contudo, como investigadores participativos, os teóricos e as suas teorias não operam isoladamente: cada um produz uma visão distinta e limitada, mas que influencia os seus pares. Essa corrente teórica começou a influenciar as RI em meados da década de 1990 e prioriza o relacionamento mútuo entre agentes construtores de suas realidades, bem como de seus símbolos10 e significados, em todos os momentos.

Assim são produzidos os próprios teóricos, bem como os fenômenos que tentam explicar, uma vez que estão dentro do próprio campo das RI. É importante que isto fique claro, pois um conceito de Estado numa perspectiva construtivista deve ter em conta o agente que é, em certa medida, um produtor de terras. Abordando o debate atual em RI, entre racionalistas e construtivistas, Rocha (op. cit.) destaca a prática das RI de escolher sempre os conceitos em caixinhas e a resistência em adotar um viés construtivista.

Baseia-se nesta possibilidade a seguinte discussão: a construção de um conceito de Estado na perspectiva do autor construtivista Pierre Bourdieu.

A perspectiva de Pierre Bourdieu para pensar o Estado nas RI

O construtivismo de Pierre Bourdieu

Antes de avaliar as possibilidades de criação de um conceito de Estado para as RI, na perspectiva de Pierre Bourdieu, é necessário apresentar algumas características que fazem do construtivismo, na perspectiva deste autor, mais uma possibilidade a ser explorada pelas RI. Para Bourdieu, os conceitos de habitus e capital simbólico, bem como de mercado produtor de bens simbólicos, estão articulados em um campo específico percebido por Bourdieu, que, por sua vez, é regido por um “poder simbólico”. A este campo abstrato de coexistência de agentes – participantes desse campo – Bourdieu atribuirá uma natureza competitiva (mas não anárquica), pois, para ele, os agentes estão em discussão sobre um objeto que é o poder simbólico.

12 A violação de um acordo de direitos humanos é fruto da relação entre os agentes e é isso que se observa de fato, já que você só tem acesso à instalação quando é o agente no terreno. Este é um erro gravíssimo em relação a um ponto demasiado óbvio para não ser de alguma forma interessante, que é estratégico [...] (BOURDIEU, 2007, p. Tais cenários fazem parte de um habitus que pertence ao específico e é operado por agentes.

Nesse sentido, Bourdieu observa a existência de um mercado específico que trata da “autonomia progressiva do sistema de relações de produção, circulação e consumo de bens simbólicos” (BOURDIEU, 2007 p. 99). Portanto, quando se utiliza a perspectiva derivada do construtivismo de Bourdieu, é possível observar um campo regido pela violência simbólica, cuja posse é disputada por agentes, que coexistem guiados por um habitus, e esse habitus se estrutura e se estrutura de acordo com a lógica de um mercado de bens simbólicos. Contudo, a partir do construtivismo de Pierre Bourdieu, importa aprofundar a ideia de poder simbólico e a sua aplicação à cena internacional.

Contudo, ainda é necessário apontar a possibilidade de um conceito de Estado para as RI, advindo das ideias de Pierre Bourdieu. Este fato, independentemente do tipo de teoria utilizada para conceituar o Estado, é capaz de alterar a condição de produtor simbólico porque, com a necessidade de manutenção de estruturas hierárquicas, surge a necessidade de um habitus, onde seja reconhecido um mercado para bens simbólicos21. Este poder simbólico é mais visível nos discursos produzidos pelo Estado, porque para impor a violência simbólica no campo internacional, o Estado é um agente que atua sob uma hierarquia semelhante à de todos os outros agentes deste campo .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dessa forma, pode-se demonstrar que os discursos que apoiam ou criticam as ações desse agente, na medida em que são aceitos ou rejeitados - estão em luta simbólica - produzem mudanças no cenário e ações concretas, como por exemplo. ocorrendo nas ações dos Estados Unidos e dos países desenvolvidos em relação às medidas para lidar com esta crise. Do exposto, pode-se ressaltar que a perspectiva de Pierre Bourdieu nos permite pensar o Estado como um agente, um produtor simbólico – dentro de um mercado de bens simbólicos. Portanto, é possível concluir que a perspectiva de Bourdieu representa uma alternativa consistente para a compreensão do estado nas RI.

Por exemplo, na medida em que o realismo tem em conta a soberania dos Estados na cena internacional, na prossecução dos seus interesses nacionais, esta perspectiva não tem em conta a influência que a estrutura e outros agentes estatais exercem neste processo. Por fim, o marxismo, ao acreditar que o Estado é uma instituição promovida pela burguesia para servir os seus interesses a nível nacional, esquece que o Estado é também uma estrutura que permite a interação e as exigências dos atores nacionais que têm outro tipo de poder : o de votar ou mesmo desobedecer regras impostas que não incluem um mínimo de justiça e reciprocidade. Na perspectiva de Bourdieu, o Estado é também um agente estruturante que produz regras e ações que, em última análise, não servem apenas aos interesses de classe.

Bourdieu ajuda a superar esses problemas com a ideia de um habitus produzido pelos agentes que regulam esse campo, e que os agentes que por vezes possuem maior capital simbólico investido em lutas simbólicas podem mudar esse habitus e instituir outros. Na medida em que o construtivismo de Bourdieu fornece instrumentos reflexivos para questionar o objeto, ele não pode ser estranho ao campo, como seria negar que este esteja sob pressão. Por outro lado, não se pode dizer que Bourdieu forneça uma teoria para as RI, a priori, porque Bourdieu estava preocupado em fornecer instrumentos de reflexão sobre as teorias e os objetos que tratavam, ou seja, uma metateoria.

As limitações de Bourdieu para as RI consistem no fato de Bourdieu não encerrar a discussão, principalmente porque a natureza do agente não permite isso e, mesmo que os estados constituam uma classe de agentes, todo o seu capital cultural, econômico e simbólico precisa ser avaliado nas diferentes situações que surgem no campo, portanto o relativismo e o nível de abstração do poder simbólico é uma forma de tentar compreender melhor as diferentes realidades.

Referências

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