XXIV Congresso de Iniciação Científica
“Gênero, raça e mídia: Um estudo da construção da memória midiática da mulher negra nas telenovelas”.
Amanda Sena Peres Pessoa, Prof. Dr. Lúcia Helena Oliveira Silva – UNESP Campus de Assis- Faculdade de Ciências e Letras- História – amanditasenapp@hotmail.com
Palavras Chave: Mídia, gênero, Afro- brasileiros.
Introdução
Esse estudo propõe uma análise das relações entre gênero, raça e mídia na construção de uma memória da mulher negra na telenovela brasileira. Por estar em fase inicial, este trabalho resguarda-se à análise de “Da cor do Pecado” (2004), de autoria de João Emanuel Carneiro. Esta telenovela foi escolhida como fonte de pesquisa por trazer a primeira protagonização feminina negra da teledramaturgia brasileira; nesta, a personagem Preta de Souza foi interpretada pela atriz Tais Araújo. Este projeto pretende trabalhar a questão Étnico-Racial, presente na trama, analisando assim a presença do preconceito e a formulação de estereótipos, muitas vezes subjetivos.
Material e Métodos
A metodologia empregada nesta pesquisa consistiu, primeiramente, no levantamento das fontes audiovisuais, que, até o momento, diz respeito aos 50 primeiros capítulos da referida telenovela, disponíveis no site do “You Tube”. A obra de Marcos Napolitano oferece um referencial para a análise deste tipo de fonte. Para este autor, a ficção pode revelar aspectos sócio-históricos não previstos pelo realizador, na medida em que o historiador possa perceber a realidade bruta por trás da obra lapidadai. Outra obra importante é A Negação do Brasil, de autoria do cineasta brasileiro Joel Zito de Araújo, que consiste em um importante estudo acerca da representação do negro na telenovela brasileira no período de 1963- 1997. Esta obra contribuiu para a contextualização de aspectos históricos sobre a representação da mulher negra (e de negros) na teledramaturgia brasileira.
Resultados e Discussão
Em “Da Cor Do Pecado” ocorre uma mudança significativa em relação à representação mulher negra, após o período estudado por Joel Zito, neste
recorte temporal os atores negros eram representados majoritariamente em papeis subalternos. Desde seu título, música de abertura e parte de sua ambientação maranhense, esta novela indica a persistência de um debate étnico-racial.
Nesse sentido, buscamos analisa-la procurando perceber rupturas e continuidades. Logo, foi possível percebê-la num marco de ruptura com um discurso que perdurou durante muitos anos, e que revelava a mulher negra como submissa diante das situações em que lhe pesavam tendências históricas de
“dominação simbólica”. Temos a hipótese de que essas mudanças se deram devido ao próprio contexto social ao qual “Da Cor Do Pecado” está inserida, onde, por exemplo, os movimentos negros ganham força e a lei 10.639/2003 entra em vigor, regulamentando a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas de nível fundamental e médio; bem como, as ações afirmativas.
Conclusões
Entendemos a telenovela como pratica discursiva e como tal “produtora de ordenamento, de afirmação, de distancias, de divisões”ii. Em Da Cor do Pecado mesmo a personagem se encontrando em situação desfavorável em relação a outras personagens, a trama se desenvolveu a seu favor; mesmo com seus
"altos e baixos". De todo modo, ela da um passo na superação da super-representação de brancos em relação a negros, que contribuía para a reprodução da discriminação racial.
i NAPOLITANO, M. Fontes Audiovisuais: a história depois do papel. In: PINSKY, C. B. (Org.). Fontes Históricas. São Paulo:
Contexto, 2005, p.243.
ii CHARTIER, Roger. O Mundo Como Representação. Estudos Avançados, 11(5), 1991.
