XXVI Congresso de Iniciação Científica
Territorialização recente do setor sucroalcooleiro no Pontal do Paranapanema: impactos em assentamentos rurais e na luta pela terra
Autora: Michele Cristina Martins Ramos, Orientador: Eduardo Paulon Girardi, Campus de Presidente Prudente, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Geografia, e-mail: michcmartinsramos@hotmail.com, Bolsista PIBIC.
Palavras-chave: Setor sucroalcooleiro, Pontal do Paranapanema; Assentamento Guarani.
Introdução
O estabelecimento do estado de São Paulo como o principal produtor de cana-de-açúcar do Brasil está relacionado a programas federais e estaduais de incentivo ao setor sucroalcooleiro. A partir de 2003 o setor foi novamente impulsionado por incentivos federais. Desde então a cultura da cana se territorializou intensamente na metade oeste do estado de São Paulo. A cultura da cana-de-açúcar tardou a avançar no Pontal do Paranapanema devido principalmente à forte presença dos movimentos socioterritoriais e pela vulnerabilidade jurídica das terras. Contudo, pela restrição de áreas disponíveis para o avanço da cana-de-açúcar no estado, a cultura se estabeleceu mais amplamente no Pontal do Paranapanema nos últimos anos. A cana-de-açúcar provocou impactos na luta pela terra e em assentamentos rurais próximos às usinas. Esses impactos são o foco de análise deste trabalho de iniciação científica.
Objetivos
O objetivo neste trabalho de iniciação científica foi identificar e mapear o processo recente de avanço do setor sucroalcooleiro no Pontal do Paranapanema e analisar especificamente os impactos desse processo na luta pela terra e em assentamentos rurais na região. Para a pesquisa tomamos como caso de estudo o assentamento Guarani, no município de Sandovalina.
Material e Métodos
Para o desenvolvimento do trabalho foram utilizados dados do IBGE, do INPE-CANASAT e do Anuário da Cana. Os dados foram mapeados com o Philcarto. Foram realizados trabalhos de campo ao assentamento Guarani, sendo entrevistados assentados. Outras entrevistas foram realizadas com membros e dirigentes de movimentos socioterritoriais do Pontal do Paranapanema.
Resultados e Discussão
Na expansão recente da cana-de-açúcar no oeste do estado de São Paulo verificamos que o noroeste e o Pontal do Paranapanema são as duas últimas fronteiras da cana no estado, como afirmam Girardi e Silveira (2012). Especificamente, o Pontal do
Paranapanema é a região com o menor avanço, o que pode ser explicado por sua situação fundiária conflituosa, com histórico de grilagem de terras e ação de movimentos socioterritoriais (GONÇALVES, 2011; THOMAZ JR., 2009). A implantação recente de usinas na região suscitou debates e gerou impactos em assentamentos, pois lotes de assentamentos passaram a ser utilizados para o cultivo de cana-de-açúcar para usinas e os assentados passaram a trabalhar nas usinas. As discussões ocorrem acerca do desvio de função que configuraria a utilização de terras dos assentamentos para a produção de cana-de-açúcar e não de alimentos. Por outro lado, os empregos/trabalhos oferecidos pelas usinas são uma alternativa aos assentados, inclusive no caso do assentamento Guarani, foco do estudo. Em muitos casos os assentados estão sem nenhum tipo de incentivo efetivo para prosperar no lote de forma autônoma, sendo o trabalho acessório crucial.
Verificamos nessa ação de emprego dos assentados nas usinas um claro exemplo do desenvolvimento contraditório do capital recriando formas não capitalistas – os camponeses assentados. Sobre a luta pela terra, o avanço da cana-de-açúcar tem desarticulado as ações tanto por ser uma fonte de emprego quanto por mascarar o caráter da improdutividade das terras.
Conclusões
Concluímos com a constatação de que de fato a territorialização da cana-de-açúcar no Pontal do Paranapena impactou na questão agrária regional, incluindo os assentamentos, como verificado no caso do assentamento Guarani, e também na efetividade da luta pela terra, tornando seus resultados mais difíceis de serem alcançados.
Agradecimentos
Agradeço a Unesp – PROPE pela bolsa de IC.
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GIRARDI, E. P.; SILVEIRA, M. B. F. da. Mapeamento da territorialização do cultivo de cana-de-açúcar no estado de São Paulo no período 2000-2011.
XVII Encontro Nacional de Geógrafos. 17., 2012., Belo Horizonte. Anais do XVII Encontro Nacional de Geógrafos. Belo Horizonte: AGB, 2012.
GONÇALVES, E .C. Disputa territorial entre o movimento camponês e o agronegócio canavieiro em Teodoro Sampaio-SP. 2011. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente.
THOMAZ JR, A. Dinâmica geográfica do trabalho no século XXI: limites explicativos, autocrítica e desafios teóricos. Presidente Prudente, 2009. Tese (Livre Docência) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, 2009.