XXXI Congresso de Iniciação Científica
IMPRENSA FEMININA NO SÉCULO XIX: TRADUÇÃO COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO CULTURAL
Beatriz Romero da Silva. Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica Deângeli. Câmpus de São José do Rio Preto, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. Licenciatura em Letras. E-mail:
beatrizromeros@outlook.com. Bolsa PIBIC/Reitoria.
Palavras Chave: imprensa feminina; tradução, representação.
Introdução
A influência da França não só no Brasil, mas em todo o mundo ocidental, é inegável, sobretudo no século XIX, quando Paris era o centro econômico e cultural do mundo. Nesse contexto, a imprensa foi um instrumento muito importante para a difusão da cultura francesa em outros países. Além da imprensa, de modo geral, destaca-se também a imprensa feminina – objeto deste trabalho – que tratava de assuntos como vida e economia doméstica, culinária, dicas de moda e beleza, deixando de lado o jornalismo informativo, criando o que Buitoni (2009) denomina de “mundo da mulher”.
Objetivo
O presente trabalho tem por objetivo analisar o periódico feminino francês La Saison e sua tradução para o português, A Estação, a partir de um viés que, de acordo com Crépon (2016), pressupõe que toda cultura é, em sua identidade, de modo constitutivo, o resultado de uma tradução. Nesse contexto de intercâmbios culturais, tencionamos, então, investigar como a imprensa feminina francesa influenciou a imprensa feminina brasileira e contribuiu para a constituição da imagem e dos costumes da mulher brasileira no século XIX, impondo, de modo explícito ou não, a adoção das ideias e dos hábitos europeus, sobretudo, franceses.
Material e Métodos
Nosso corpus foi constituído por excertos extraídos dos jornais acima citados, escolhidos em razão de sua pertinência para o nosso estudo. Em seguida, comparamos os textos originais com suas traduções, analisando aspectos linguísticos, lexicais e culturais que evidenciassem como a cultura francesa motivou a cultura brasileira no século XIX, principalmente nos âmbitos relacionados à mulher.
Para tanto, apoiamo-nos nos trabalhos de Buitoni (2009) e Sullerot (1963) sobre a imprensa feminina brasileira e francesa e nas pesquisas de Crépon (2016) e de Casanova (2002) no que diz respeito à problemática da tradução enquanto representação cultural e contato inevitável com outro.
Resultados e Discussão
De início, observamos os anúncios que circulavam nos jornais. Por se tratar de imprensa feminina, grande parte desses anúncios é voltada à moda, à beleza e a produtos do lar. O que nos chama a
atenção, contudo, é que na edição brasileira as propagandas são, sobretudo, de lojas situadas em Paris. Em alguns casos, esses anúncios não constam na edição francesa, mas em outros, é realizada a tradução das publicidades presentes em La Saison, como apresentado a seguir:
Figura 1. Preciosa Violette, A Estação. Figura 2. Preciosa Violette, La Saison.
Na tradução para o português, é possível notar algumas informações não contidas no anúncio original, como um aviso informando que a nova embalagem impede a falsificação do produto, que é importado. Isso salienta a relevância de o perfume ser legitimamente francês, uma vez que o produto oriundo da metrópole teria mais valor e qualidade, instigando as leitoras brasileiras a comprá-lo, tornando-as, em seus imaginários, mais requintadas, como as francesas.
Conclusões
Em nossas primeiras observações, atentamo-nos ao fato de que a imprensa francesa foi grande influenciadora de costumes no Brasil. Por meio da tradução do jornal A Estação, que por aqui circulava, é possível perceber a presença da cultura francesa nos anúncios presentes na edição brasileira do jornal, que eram majoritariamente de lojas parisienses. Esse fato nos leva a pensar no poder que os anúncios exerciam sobre leitoras brasileiras, que eram influenciadas a consumirem os hábitos franceses como forma de se estabelecerem na cultura dominante, visto que Paris era o centro de referência do mundo ocidental.
Agradecimentos
Agradeço à Pró-reitoria de Pesquisa pela bolsa concedida.
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1 BUITONI, D. Mulher de papel: a representação da mulher pela imprensa feminina brasileira. 2. ed. São Paulo: Summus, 2009. 239 p.
2 CASANOVA, P. A república mundial das letras. Tradução de Appenzeller. São Paulo: Estação da Liberdade, 2002.
3 CRÉPON, M. A tradução entre culturas. Tradução de Henrique Oliveira Lee, Vinícius Pereira Carvalho e Arildo Leal de Paula Junior.
Cadernos de Tradução, Florianópolis, v. 36, n. 2, p. 254-289, maio- agosto, 2016.
4 SULLEROT, E. La presse féminine. Paris: A. Colin, 1963.