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JOGOS DE IDENTIDADE(S) EM O SANTO INQUÉRITO, DE DIAS GOMES

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Academic year: 2023

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Ao Worship Center (Itabuna-Salvador) que estudou comigo sobre Branca Dias e os cristãos-novos. A peça narra a saga da cristã-nova Branca Dias e sua família, acusadas de judaísmo e perseguidas pela Inquisição em 1750, na Paraíba. Portanto, Branca Dias será apresentada pelo autor como um personagem fictício, não uma pessoa real.

Christians and the immense power of the church appear in the play, but Branca Dias wanted to be a Christian while the historical character dies as a crypto-Jew, according to historical researchers.

OS JUDEUS E O SANTO INQUÉRITO

Judeu, agente de Satã

2 A historiadora Maria Luisa Tucci Carneiro (1983) em seu livro Racial Prejudice in Colonial Brazil: New Christians sugere que o preconceito e a perseguição a judeus e cristãos-novos sejam chamados e entendidos como racismo. Esse racismo não só se agravou, como “legitimou e generalizou sentimentos hostis aos judeus nas comunidades locais, provocando até mesmo fenômenos de rejeição que, sem dúvida, não teriam ocorrido sem esse incentivo ideológico” (DELUMEAU, 1989, p. 278). Delumeau (1989) aponta a Igreja como a principal culpada pelo sofrimento dos judeus na Idade Média.

Isso porque a perseguição aos judeus tornou-se uma doutrina, criada na Espanha durante o século XV, cuja pregação enfatizava que "a infidelidade dos ancestrais judeus manchou o sangue de seus descendentes" (CARNEIRO, 1983, p. 18).

O judeu/cristão-novo e sua(s) identidade(s)

Portanto, vieram para o Brasil judeus que praticavam o judaísmo e também aqueles que queriam ser cristãos. A partir de então, todos os descendentes desses judeus seriam também cristãos-novos, herdeiros de sangue contaminado, impuros, hereges em potencial. Os cristãos-novos foram alvo de intensa perseguição por parte do Santo Ofício no século XVIII.

Assim, dezenas de cristãos-novos, após tortura e confisco de seus bens, admitiram que eram praticantes da Lei de Moisés, apenas para salvar suas vidas, mesmo sendo de fato cristãos.

Objeto de estudo: O santo inquérito

Branca Dias, na obra literária O Sagrado Levantamento, é neta de um convertido, mas foi criada como católica. No capítulo 3 “Branca Dias, uma história, muito lendárias” analisaremos a personagem (re)criada pelo dramaturgo Dias Gomes na obra literária O santo inquire. Na subseção 3.2 "Branca Dias, Christian Heretic" vamos discutir por que o cristianismo de Branca Dias não foi aceito pela Igreja.

Por fim, em 6.3, “Uma família entre dois mundos”, voltamos à discussão central deste trabalho, ou seja, o estudo dos jogos identitários que emergem da obra literária O santo inquérito.

IMPUROS NO SANGUE, IMPUROS NO NOME: CRISTÃOS-NOVOS

Rota de migração para o Brasil: Espanha e Portugal

Tribunal do Santo Inquérito: a caça aos judeus

Judeus no século XVIII

Uma judia quinhentista: Branca Dias

BRANCA DIAS, UMA HISTÓRIA, MUITAS LENDAS

Branca Dias, uma cristã-nova

Por desconhecer quais eram os costumes dos judeus,15 na obra literária, Branca Dias não está a salvo de qualquer suspeita que seja lançada sobre ela e sua família. No início, Branca Dias estava convencida do seu cristianismo, da sua relação com Deus, da sua forma de viver a experiência religiosa. Para a corte, herege e judeu eram sinônimos, de modo que não adiantava a personagem Branca Dias afirmar ser “uma moça boa, cristã, temente a Deus.

Só no julgamento Branca Dias se repensou como antes, vendo-se novamente como uma boa cristã.

Branca Dias, uma herege cristã

DUPLICIDADE E NEGAÇÃO EM O SANTO INQUÉRITO

O avô de Branca Dias: uma identidade híbrida

Embora o avô da personagem Branca Dias seja mencionado apenas em diálogos, na obra literária O santo inquérito ele é de crucial importância para o desenrolar da história. Assim, o avô da personagem Branca Dias praticava os rituais judaicos como se fossem atos cotidianos de qualquer cristão. O binarismo cristão-velho/cristão-novo não escapava à concepção de identidade como elemento dado, portanto, é claro, embora fosse de fato uma identificação ocorrida em a.

Portanto, acusar a personagem Branca Dias de ser criptojudaica é uma acusação infundada, devido ao distanciamento quanto à conversão forçada e a não intenção da protagonista de praticar o judaísmo. Sobre a prática de um judaísmo heterodoxo, o historiador Lipiner (1977) observa que longe da conversão forçada, e com a proibição dos livros hebraicos, era muito difícil manter a pureza das tradições judaicas. Em relação ao avô do personagem, Branca Dias, que vivia a duplicidade típica dos cripto-judeus, a religião que praticava era o judaísmo não ortodoxo, caracterizado pelo sincretismo.

O sincretismo revelado nas práticas judaizantes do avô de Branca Dias não invalida seu desejo de manter viva a antiga religião. Legitimação da identidade: introduzida pelas instituições dominantes da sociedade para ampliar e racionalizar seu domínio sobre os atores sociais. Desvalorizado, estigmatizado pelo Santo Ofício, pelos cristãos-velhos, perseguido, observado, o avô da protagonista Branca Dias tentou resistir ao domínio da Igreja, tentou sobreviver com base em diferentes princípios religiosos e culturais.

Em relação a Branca Dias e seu avô, personagens de O Sagrado Levantamento, podemos fazer a seguinte análise: esse cripto-judeu manteve em segredo certos costumes judaicos e os ensinou ao neto, que os pratica sem nenhuma consciência religiosa. Portanto, o avô da personagem Branca Dias, vivendo na dualidade, não seria mais judeu ou cristão, ao mesmo tempo em que teria características de ambos.

Simão Dias: nem criptojudeu nem cristão

Cristão-novo: uma identidade

Nas palavras de Saraiva (1994), com a conversão forçada, "os judeus foram parar em Portugal e nasceram os cristãos-novos" (p. 35). Nas três primeiras décadas do século XVIII, encontramos cerca de 1.116 cristãos-novos no Rio de Janeiro. No entanto, a vida dos jovens cristãos e judeus mudaria radicalmente com a instauração do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição.

Entretanto, Wiznitzer (1966) afirma que os judeus e cristãos-novos que vieram para o Brasil eram sobretudo judeus praticantes do judaísmo. Talvez na verdadeira Branca Dias resida "a origem da lenda, o emblema da intolerância inquisitorial e a possibilidade concreta de que os cristãos-novos tenham de fato 'judaizado', agindo como cripto-judeus" (VAINFAS; SOUZA, 2000, p. 27 ). . Entre os descendentes dos cristãos-novos havia muitos intelectuais, que não buscavam a fé.

REPRESENTAÇÃO TEATRAL: JOGO DE IDENTIDADES, SÍMBOLOS E

Ficção e História

Dias Gomes, um dramaturgo: representação teatral

Alegoria versus censura

Branca Dias: uma heroína

DIAS GOMES E BRANCA DIAS

Além da problemática judaica

A tese dedicou-se ao estudo da questão da identidade na obra literária O santo inquito, do dramaturgo Dias Gomes. Para falar do passado, do poder da Santa Inquisição, dos excessos, torturas e mortes que ela causou, Dias Gomes resolveu apontar para o presente, uma época em que a máquina estatal também perseguia os hereges, aqueles que eram contra a ditadura. O personagem do cristão novo, escolhido por Dias Gomes para representar um homem perseguido, subjugado, destruído em sua identidade e por causa de sua identidade, não representou um fato isolado no campo literário.

Igel cita a esse respeito Carlos Heitor Cony, Lília Malferrari, Octávio Mello Alvarenga, Maria José Queiroz e, no campo teatral, Alfredo Dias Gomes. Embora, segundo Igel (1997), a representação na trama de Dias Gomes – ou talvez graças a ela – vá além da problemática judaica naquele período da história luso-brasileira, e embora a peça se caracterize por “sua universalidade, como é pretende alertar os espectadores para o perigo que espreita eternamente sobre a liberdade de consciência do homem, independentemente de sua nacionalidade e das condições de tempo ou espaço" acrescenta Lipiner (apud IGEL, 1997, p.7), a escolha. de um personagem cristão -A novidade era bastante significativa.Todo cristão, que usasse um símbolo judaico ou mesmo um nome judaico ou guardasse uma festa judaica, seria considerado cúmplice da morte de Cristo junto com os judeus.48.

49 Stuart Hall (2006), que fala sobre pessoas da diáspora, reflete que em tal situação as identidades se tornam mais. Embora Hall fale sobre o pós-colonialismo, podemos conectar os judeus com o que ele chama de hífen. Descendentes de judeus e cristãos-novos hoje são, por exemplo, judeus-americanos, judeus-franceses, judeus-brasileiros.

Don Finto (2010) fala sobre os judeus messiânicos, ou seja, seguidores do cristianismo, que, apesar de serem cristãos, não querem perder sua identidade judaica. Ou eles se calaram sobre sua fé e permaneceram em sua sinagoga local, ou declararam sua fé cristã, sendo forçados a deixar sua comunidade judaica e entrar no estranho mundo dos gentios, o que os fez perder toda a sua identidade como judeus.

Bnei anussim, filhos dos forçados

São cristãos sinceros, falsos convertidos, praticam o judaísmo clandestino, são criptojudeus, são descrentes, são cristãos-novos. Por esta razão, muitos judeus e cristãos-novos juntaram-se aos protestantes na compra de terrenos para cemitérios particulares. Mas este é outro capítulo da nossa história, e trata de judeus ou descendentes de cristãos-novos que não precisavam mais esconder sua identidade judaica.

Os descendentes de jovens cristãos, que, integrados no meio, aceitos na sociedade, "aspiravam a dissolver a velha identidade dos pais no meio cultural da nova pátria" comenta Rubens Ricupero (apud IGEL, 1997, p.XXIX). Grupos como a ABRADJIN - Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição - pretendem permitir que brasileiros descendentes de judeus sefarditas portugueses, espanhóis, holandeses ou marroquinos, incluindo os chamados bnei anusim - filhos dos forçados -, bem como outros interessados, para conhecer e aprender mais sobre suas raízes etnoculturais. Segundo Marcelo Guimarães51, o Brasil possui hoje, embora não saiba, uma das maiores colônias de descendentes de judeus sefarditas do mundo.

Espalhados pelo território brasileiro, desconhecendo a origem judaica da família, ou carregando apenas algumas lembranças antigas dos costumes praticados pelos avós, muitos brasileiros têm "sangue judeu" e não sabem. 51 "A Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição (ABRADJIN) é uma iniciativa cultural criada e dirigida sem fins econômicos ou lucrativos, sem número limitado de participantes, respeitando as crenças de seus membros, com o objetivo principal de ajudar todos os interessados ​​em descobrir e eventualmente restaurar as suas raízes judaicas se acreditarem ou tiverem indícios de origem judaica de Portugal, Espanha ou mesmo de outros países, como Holanda, Marrocos, etc.; e cujos antepassados, por causa da Inquisição, vieram para o Brasil a partir do século XVI". Por exemplo, Neusa Fernandes, em Inquisition in Minas Gerais (2000), pesquisou a relação de algumas das vilas mineiras e seus habitantes registrados como cristãos-novos no período de 1712 a 1763.

A Estrela Oculta do Sertão é um documentário de 2005 dirigido pela fotógrafa Elaine Eiger e pela jornalista Luize Valente. Para Igel (1997, p. 2) “judeu é todo aquele que se considera judeu, seja por nascimento ou por conversão, formal ou informalmente”.

Uma família entre dois mundos

Inquisição, religiosidade e transformações culturais: a sinagoga das mulheres e a sobrevivência do judaísmo no Brasil Colônia – Nordeste, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro, RJ: Acervo da Biblioteca Carioca – Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, 1994. Disponível em: .

Referências

Documentos relacionados

• Foram incluídos no estudo pacientes com idade acima de 18 anos, de ambos os sexos, infectados ou não pelo HIV, com diagnóstico de tuberculose pulmonar paucibacilar definido