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LUTAS POR RECONHECIMENTO E FORMAS DE RESISTÊNCIA DE MULHERES MIGRANTES NO BRASIL

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Academic year: 2023

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Esta dissertação explora o que e como se configuram as lutas por reconhecimento e as formas de resistência adotadas pelas mulheres migrantes residentes no Brasil. Nesse sentido, esta dissertação foi norteada pela seguinte questão de pesquisa: Levando em conta as relações de poder que podem implicar situações de desrespeito, quais são e como são as lutas por reconhecimento e formas de resistência das mulheres migrantes no Brasil. Neste trabalho – que pretende compreender as lutas por reconhecimento e formas de resistência das mulheres migrantes – estas dimensões são de extrema importância.

DESAFIANDO FRONTEIRAS: DESLOCAR, MOVER, MIGRAR

Migrações internacionais: entre a historicidade e a atualidade da questão . 24

O número de pessoas também varia por região, e na América Latina e no Caribe – foco deste estudo – as mulheres constituem a maioria (50,4%) nos fluxos migratórios, o que também é observado na Europa, na Oceania e na América do Norte (OIM). , 2018). 6 Segundo o relatório, o número de refugiados atingiu um máximo histórico no final de 2018, com aproximadamente 26 milhões de pessoas em situação de refugiados em todo o mundo. Os autores centram-se nos acontecimentos que levaram ao encerramento das fronteiras em França e na Dinamarca em 2011 – num contexto de fluxos de imigração mais intensos para estes países – para expor as controvérsias e tensões políticas.

Tabela 1 - Migrantes Internacionais no mundo - 2000-2019
Tabela 1 - Migrantes Internacionais no mundo - 2000-2019

Migração: enfoques teóricos

  • Teorias explicativas sobre os movimentos migratórios
  • Teorias de perpetuação dos movimentos migratórios

Dito isto, outra perspectiva analítica para a qual chamamos a atenção nesta investigação é aquela que se centra nas condições de persistência dos movimentos e fluxos migratórios. Portanto, como defende Dimitri Fazito (2005), o processo migratório deve ser visto numa perspectiva relacional, como um sistema no qual estão interligadas diferentes regiões, actores sociais, organizações e estruturas socioeconómicas e culturais. A manutenção dos processos migratórios pode ser explicada por outras teorias como a Institucional, que enfatiza o papel das organizações relacionadas à causa migratória nas sociedades de destino, e a Causalidade Cumulativa, que aponta que os movimentos populacionais podem aumentar ao longo do tempo devido a fatores que alimentam voltar.

Migrações: agendas de estudo

  • Migrações Sul-Sul e os deslocamentos na América Latina e Caribe
  • Migração e Gênero
    • Migração, gênero e Teoria Política Feminista

Carmen Gregorio Gil (2004) defende que os movimentos de mulheres devem ser entendidos a partir da perspectiva de género do processo migratório. Segundo a autora, um conjunto crescente de pesquisas tem demonstrado que a migração das mulheres na América Latina é moldada pela divisão de género do trabalho produtivo e reprodutivo na família. Neste contexto, o desrespeito faz parte desta rede complexa em que os sujeitos estão inseridos, afetando as experiências das mulheres migrantes no país anfitrião.

LUTAS POR RECONHECIMENTO E FORMAS DE RESISTÊNCIA

O Reconhecimento como base para a autorrealização

  • Axel Honneth e os padrões intersubjetivos de reconhecimento
  • Honneth e a tematização do desrespeito

Para Honneth, o campo da ação social é composto principalmente pela luta moral, que pode promover o desenvolvimento social (HONNETH, 2003, p. 18). Nessa concepção, a ideia central é que os indivíduos constroem imagens de si mesmos a partir do contato com os outros, pois “o homem é necessariamente reconhecido e necessariamente reconhecido” (HEGEL, 1969, p.206 apud HONNETH, 2003, p. 86). Para o autor, Hegel propôs um “modelo inacabado de luta por reconhecimento” (2003, p. 114), que não considerava questões como a definição de um conceito intersubjetivo de identidade humana, nem os meios e diferenças entre as relações de reconhecimento .

O ponto de partida para a compreensão de sua proposta, segundo o autor alemão, é justamente a premissa que os três pesquisadores compartilham: a centralidade do reconhecimento mútuo, dado que "os sujeitos só podem alcançar uma auto-relação prática quando aprendem a imaginar-se, a partir de a perspectiva normativa de seus parceiros de interação, como seus destinatários sociais” (HONNETH, 2003, p. 155). Segundo Honneth, além da dedicação afetiva (advinda da esfera do amor) e do reconhecimento jurídico (relacionado ao domínio do direito ), os sujeitos necessitam de uma estima social que lhes permita "revisar positivamente suas qualidades e habilidades concretas" (HONNETH, 2003, p. 198).Esses tipos de relações de apoio, como Honneth as chama, geram a simetria de estima que, segundo o autor, significa que “todo sujeito tem a oportunidade, sem gradações coletivas, de se experienciar, em suas próprias realizações e habilidades, como valioso para a sociedade” (HONETH, 2003, p. 211).

A diferenciação entre esses tipos é medida pelo “grau em que podem minar o auto-relacionamento prático de uma pessoa, privando-a do reconhecimento de certos requisitos de identidade” (HONNETH, 2003, p. 214). Aqui estão incluídas as violações que podem privar um sujeito da possibilidade de dispor livremente de seu corpo, representando o “tipo mais elementar de degradação pessoal” (HONNETH, 2003, p. 215). Nesses casos, a forma como o sujeito percebe suas próprias capacidades e características é afetada, o que prejudica sua autoestima e provoca "a perda da possibilidade de compreender-se como um ser valorizado por suas qualidades e habilidades características" ( HONETH, 2003, p. 217).

Outra questão central é a quebra de normas consideradas socialmente válidas, ou seja, a luta só será considerada social "na medida em que os seus objectivos possam ser generalizados para além das intenções individuais e chegar a um ponto em que possam tornar-se a base de uma luta colectiva". movimento" (HONNETH, 2003, p. 256).

Debates e críticas

  • Nancy Fraser e a paridade de participação
  • A resposta de Honneth e a atualização de Fraser
  • Reconhecimento: perspectivas críticas e análises feministas

Primeiro, ao rejeitar a visão do reconhecimento como uma valorização da identidade de grupo, ele evita essencializar tais identidades. Um dos pontos de sua argumentação centra-se na ideia de que “mesmo as injustiças distributivas devem ser entendidas como uma expressão institucional de desrespeito social - ou melhor, de condições injustificadas de reconhecimento” (HONNETH, 2003, p. 114), ou seja, , pois é improvável que o autor separe a redistribuição do reconhecimento. A dimensão política, para Fraser, é central e está relacionada ao pertencimento social, pois define “quem está incluído e quem é excluído do círculo daqueles com direito à redistribuição justa e ao reconhecimento mútuo” (FRASER, 2009, p. 19).

A primeira seria dar mais enfoque à historicidade das lutas por reconhecimento, o que, segundo o autor, evitaria alguns mal-entendidos e permitiria que formas de reconhecimento fossem inseridas, de forma mais firme, nos processos sociais historicamente desenvolvidos. Além da discussão entre Fraser e Honneth, também é importante apresentar algumas críticas à ideia de reconhecimento. Na opinião do autor, a injustiça presente no relacionamento não pode ser entendida apenas como uma questão de reconhecimento desnecessário por meio de imagens estereotipadas ou humilhantes de pessoas, uma vez que esta opinião não compreende o problema da injustiça em sua profundidade (MARKELL, 2003).

No livro Contra o Reconhecimento (2008), o autor reconhece o papel central da ideia de reconhecimento na reflexão sobre as demandas dos movimentos sociais e políticos contemporâneos, mas defende que a perspectiva enquadra essas questões dentro de uma compreensão redutiva do poder. Ela analisa principalmente questões de gênero, argumentando que o conceito de reconhecimento é continuamente aplicado de forma simplista ao analisar a “formação, identidade e ação do sujeito no contexto das hierarquias sociais” (MCNAY, 2008, p. 2). As formas resultantes pelas quais a ideia de reconhecimento é naturalizada e universalizada excluem tudo, exceto a compreensão mais limitada de identidade e agência no contexto da reprodução da desigualdade de género.

O ponto central da crítica do autor é que a ideia de reconhecimento contorna consistentemente a teorização das relações de poder.

Reconhecimento, migração e resistência

  • Migração e Reconhecimento
  • Formas de resistência

Ou seja, se situações de desrespeito e injustiça podem motivar a resistência e servir de base à luta social, como postula Honneth (2003), entendemos que é central abordar estas formas de resistência, com ênfase nas experiências das mulheres migrantes em a comunidade anfitriã. Este ponto é de extrema importância para nossa pesquisa, pois um dos nossos objetivos é justamente investigar as formas de resistência das mulheres migrantes no Brasil, atentando para a percepção delas sobre as situações de desrespeito no país, bem como para as estratégias adotadas para lidar com essas condições. Neste sentido, acreditamos ser importante falar sobre esta questão e, mais especificamente, sobre as formas de resistência adotadas pelas mulheres migrantes, ponto central do nosso trabalho.

Para Amarela Varela Huerta (2013), estas formas de resistência e mobilização dos migrantes desafiam noções como a cidadania, bem como a ideia de direitos humanos universais. Para ele, o processo de mobilização deve ser compreendido em formas de rede, coalizões discursivas que se estabelecem sob um tema comum e se comunicam de forma transnacional (COSTA, 2003). Se para Anzaldú (1987) a resistência se encontra nas experiências fronteiriças, e para Varel Huerta as lutas dos migrantes também se constroem através de práticas de “desobediência”, para James C.

O autor, a quem Honneth recorre em determinado momento de sua obra, argumenta que a dominação e as relações de poder que ocorrem entre diferentes indivíduos e grupos não podem ser compreendidas sem a compreensão das formas de resistência. Estes incluem discursos, gestos e práticas que ocorrem no contexto da infrapolítica, “para um público diferente e sob diferentes restrições de poder da transcrição pública” (SCOTT, 1990, p. 5). Nesse sentido, Scott (1990) explica que a adoção de determinada forma de resistência também é estratégica, ou seja, leva em conta os riscos e resultados que podem ser alcançados, levando em consideração as relações de poder existentes entre os grupos.

No próximo capítulo apresentaremos a análise empírica das lutas por reconhecimento e das formas de resistência adotadas pelas mulheres imigrantes no Brasil.

ANÁLISE

Socialização da mulher migrante: processos, relações afetivas e papéis de

  • Relações afetivas, família e acolhimento
  • Solidão, sofrimento e o peso do cuidar
  • Motivações para migrar, envio de remessas e aspectos econômicos
  • Experiências laborais de desrespeito

Ele me mostrou a proposta, perguntou se eu queria, disse que seria bom para a nossa família, então eu sempre dizia “não vim porque fui obrigado, então tenho que tentar. Eu mesmo disse: não voltarei a Cuba se não puder comprar a casa que contei à minha mãe e as coisas que quero dar ao meu filho. Nos três relatos podem ser percebidos alguns arrependimentos vivenciados por essas mulheres:"; “Eu estava feliz e não sabia”; "Foi a pior coisa que já fiz."

Mas eu tinha um companheiro ao meu lado que era meu amigo que assistiu ao parto. Porque eu já fui lá com uma carta falando que tinha que fazer cesárea de novo. Dizem que sou de fora e que não tenho o direito de ganhar aqui.

Que tenho que comprar, que tenho que investir meu dinheiro se quiser. E o médico disse que eu não posso ficar assim, tenho que deixar meus gêmeos cuidarem dele também, aprender a cuidar dele. Como ninguém gostava do meu filho, era minha responsabilidade cuidar dele.

E quero dar a ele tudo o que não dei quando ele era criança. As pessoas me perguntaram o que eu estava fazendo aqui, e quando eu disse que tinha doutorado, as pessoas ficaram muito surpresas. E eu entendi como se ela estivesse dizendo que eu não mereço direitos, bolsas, tanto quanto um brasileiro.

Acesso a direitos e participação política

  • São Paulo e a Política Municipal para a População Imigrante
  • A dimensão individual e as formas cotidianas de resistência
  • As experiências compartilhadas e a formação de redes e coletivos
  • Mulheres migrantes e os feminismos

A dimensão da experiência compartilhada, revelada por Beatriz, é um dos pontos que conectam as lutas por reconhecimento com as formas de resistência adotadas pelas mulheres migrantes entrevistadas. Nesta pesquisa, também buscamos compreender a percepção das mulheres migrantes entrevistadas sobre a política migratória municipal de São Paulo. Até então, tratamos das lutas por reconhecimento e das situações de desrespeito contadas pelas mulheres migrantes entrevistadas.

Tal como discutido noutra parte do capítulo, situações de xenofobia, racismo e violência baseada no género estão presentes na vida quotidiana das mulheres migrantes entrevistadas para o estudo. Além deste grupo, foi possível identificar outras organizações e grupos de mulheres migrantes em São Paulo. Ela é responsável por um projeto com mulheres migrantes na cidade que aborda questões relacionadas a gênero e trabalho.

A razão da migração tem a ver com o facto de eu também ser migrante e também já ter passado por muitas coisas que as mulheres migrantes passaram aqui. Esta tese buscou observar como se configuram as lutas por reconhecimento e as formas de resistência que as mulheres migrantes residentes no Brasil apresentam. Aliado a isso, a interseccionalidade revelou-se fundamental para compreendermos que as experiências das mulheres migrantes são diversas e complexas, caracterizadas por quadros de opressão onde categorias como raça, classe, nacionalidade e etnia se cruzam constantemente.

Como apontamos anteriormente, situações de desrespeito permeiam os mais variados âmbitos da trajetória das mulheres migrantes. Tentamos explicar brevemente como as mulheres migrantes entrevistadas entendem esta questão e tentamos perguntar-lhes sobre a possível existência do feminismo migrante na América Latina. -Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana, Brasília, v. Género, classe e etnia – trajetórias de vida de mulheres migrantes.

Roteiro de entrevista semiestruturada

Mulheres entrevistadas para a pesquisa

Imagem

Tabela 1 - Migrantes Internacionais no mundo - 2000-2019

Referências

Documentos relacionados

São muitos os cidadãos nigerianos que vêm ganhando voz e força nas suas lutas e reivindicações, usando o inglês para fazer ouvir as suas reclamações nas