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BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem Populacional. Disponível em:

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MIGRAÇÃO RURAL – URBANA: Experiências do Movimento migratório no município de Vargem Grande – MA nos anos de 1980 a 2000.

Eva Rosa do Lago1

RESUMO: O presente estudo focaliza as experiências migratórias internas de sentido rural-urbano ocorridas no município de Vargem Grande no Maranhão entre as décadas de 1980 e 2000. Objetivando analisar estes movimentos e suas interferências na vida da população desta localidade. Serviu de aporte teórico autores como: Ianne (2004) e Weber (2006).

Conclui-se a princípio que o processo de migração rural-urbana ocorrido no município de Vargem Grande no período supramencionado, reflete uma expulsão da população rural, sendo um dos principais fatores, a falta de políticas públicas de qualidade para essa parcela da população.

Palavras-chave: Migração. Experiências. Rural-urbana.

ABSTRACT: The present study focuses on the internal migratory experiences of the rural-urban sense occurred in the municipality of Vargem Grande in Maranhão between the 1980s and the 2000s. Aiming to analyze these movements and their interference in the life of the population of this locality.

Theoretically contributed authors such as: Ianne (2004) and Weber (2006). It is concluded that the process of rural-urban migration in the municipality of Vargem Grande in the above- mentioned period reflects an expulsion of the rural population, one of the main factors being the lack of quality public policies for this part of the population.

Keywords: Migration. Experiences. Rural-urban.

1 INTRODUÇÃO

O movimento migratório de pessoas por entre diversos territórios continua muito atual. Por esse motivo, constitui-se tema de pesquisas dos mais diversos investigadores, impondo-se como fenômeno a ser compreendido em suas determinações e historicidade, pois, independentemente do tempo histórico, a despeito das motivações, há sempre alguém que chega e alguém que parte (WEBER, 2006).

1 Professora da Educação Básica no município de Vargem Grande-MA, graduada em Pedagogia pela Faculdade de Ciência, Tecnologia e Educação, graduada em História pela Universidade Federal do Maranhão, especialista em Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal do Maranhão, especialista em História do Brasil:

Sociedade e Cultura pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano, mestranda em História pela Universidade Federal do Maranhão. E-mail: eva.rosa.lago@gmail.com

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A mobilidade territorial no Brasil remonta, desde os seus primórdios, às vindas de populações desde o século XVI, quando muitos estrangeiros aportaram nestas terras. Mas, sobretudo, a partir do século XX, as migrações estrangeiras foram dando lugar às migrações internas no Brasil. (MARINUCCI,2002).

No Maranhão, o processo de migração também é uma constante, apresentando suas próprias características. Neste sentido, a historiografia registra a chegada de portugueses e de africanos, no século XIX, quando o processo de colonização na província ganha impulso.

Na década de 1850, o governo do Maranhão estimulava a vinda de imigrantes estrangeiros por meio da criação de leis próprias para a concessão de benefícios a estes imigrantes e o investimento financeiro para este fim. Entretanto, todo o investimento não gerou os resultados esperados, de modo que as colônias, por vários motivos, não prosperaram. Diante deste cenário, alguns dos imigrantes retornaram para Portugal, entretanto, a maioria ficou e viveu as mazelas da província. (MAGALHÃES, 2014).

É neste contexto que se situa esta proposta de investigação, isto é, a migração campo-cidade no município de Vargem Grande no Maranhão, por considerar-se que a mesma trará contribuições para a historiografia deste tema já investigado por outros autores (LACERDA, 2010, ALMEIDA, 2010, FERREIRA, 2009) mas, com problemáticas diferentes e localizada.

A análise destas questões por meio de um processo de investigação, com o propósito de respondê-las, nos faz compreender que este estudo se justifica porque pode trazer à tona nuances do dinamismo demográfico local, mas, articulado a um processo mais ampliado e complexo do perfil estruturante da historicidade do Maranhão, no que se refere às suas sociabilidades verificadas no âmbito das relações sociais, bem como, do que delas decorrem, tais como, a cultura política que têm orientado as políticas públicas por parte de gestores estaduais relativas às concepções e prática de desenvolvimento do Estado do Maranhão verificadas nestas últimas quatro décadas.

Não é demais sublinhar que este tema já tem sido explorado em outros contextos brasileiros configurando uma historiografia (WEBER, 2006). Mas, no que se refere ao Maranhão vê-se que ainda carece de estudos com esta abordagem. Trata-se de uma pesquisa de dissertação em estágio embrionário, que visa contribuir para o desencadeamento de discussões acerca do tema no território maranhense e mais precisamente vargem- grandense.

Para tanto, buscou-se organizar o trabalho partindo-se de uma abordagem acerca da historicidade dos movimentos migratórios, em seguida tratou-se sobre as dimensões destes movimentos situando os diversos tipos de migração dos quais os seres humanos se utilizam,

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na continuidade buscou-se trazer uma discussão em torno de das migrações no Brasil e Maranhão, enfatizando o município de Vargem Grande nesta dinâmica e, por fim, traz-se as considerações finais, onde apresenta-se um apanhado acerca das motivações e as implicações das migrações rural-urbana no município em estudo.

2 MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS: um olhar histórico

Os movimentos populacionais, fenômeno social e particularmente complexo que assume variadas determinações, tem influenciado o modo de organização social e cultural ao longo da história humana. Estes movimentos datam de tempos longínquos e que ao passo em que se transformam os contextos sociais mudam também os fatores que determinam estes movimentos. A notoriedade dos movimentos populacionais pode ser vista a partir das primeiras histórias em que se tem conhecimento. Sobre estes movimentos Tibério Mendonça (2011, p. 01) ressalta que:

A evolução do Homo sapiens ocorreu na África, onde, tudo leva a crer, se desenvolveu a primeira anatomia humana moderna. É também provável que o Homo sapiens tenha migrado para o próximo Oriente, espalhando-se então para Ocidente através da Europa, e para Leste através da Ásia, e daí para a Austrália e, posteriormente, chegou as Américas.

Com base no que afirma o autor, percebe-se o movimento dos primeiros humanos de forma migratória. Concebendo assim, a movimentação dos nossos antepassados e o quanto o movimento populacional tem influenciado nas organizações das sociedades desde tempos imemoriais. A palavra migração tem sua origem no latim migro que se traduz por “ir de um lugar para outro”. Para Ianni (2004, p. 159) o migrante é, ao mesmo tempo,

Viandante, peregrino, fugitivo, aventureiro, viajante ou retirante. Está em busca de outros ares, terras, perspectivas de vida, modos de ser. Foge do que conhece e busca o que desconhece. Imagina o futuro como negação do passado, surpreendendo-se com o presente. Aventura-se, arrisca-se. Imagina chegar em outro lugar, encontrar outras possibilidades de vida e trabalho, realização e emancipação. Entretanto, desde o momento em que parte, lança-se em uma travessia que não termina nunca, quer seja derrotado, quer seja vencido.

Os indivíduos sempre estiveram em constantes movimentos em busca de sobrevivência, melhorias na qualidade de vida, nesse sentido temos na historiografia diversidades de movimentos populacionais que marcam a história dos povos desde o surgimento dos primeiros indivíduos. Portanto, “a história da humanidade é a história das migrações e de suas consequências” (FOUQUET, 1974, p.11). Esta afirmação denota a

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relevância dos movimentos populacionais enquanto fenômeno histórico que situa os deslocamentos dos homens no espaço desde os primórdios da nossa civilização.

Dentre os movimentos populacionais, destaca-se a Roma antiga, onde houve grande fluxo de pessoas que durante o império romano migraram das zonas rurais para a cidade, sempre conduzidos pela necessidade de sobrevivência como pelo desejo de melhorar as condições de vida. Porém, estes causaram grandes desconfortos aos imperadores que temiam o surgimento de revoltas populares, desta forma para impedir que surgissem comportamentos rebeldes e causar dificuldades para o governo, foi criado uma política de manipulação social (política de pão e circo) onde se oferecia diversão e comida à vontade para manter os desempregados com a atenção voltada para situações alheias a sua qualidade de vida, oferecida pelos governantes à maioria da população. Sobre essa política, Valéria Vaz (2013, p. 100) explica que “para tentar manipular a plebe, o Estado romano financiava espetáculos de gladiadores e promovia a distribuição de porções diárias de trigo, iniciativas que ficaram conhecidas como ‘política do pão e circo”.

Os movimentos populacionais também foram marcantes durante a idade média, que tiveram grandes números de povos deslocando-se no espaço por diversos motivos: guerras, religiosidade, conquistas, expulsões. Estes movimentos causam grandes transformações sociais, culturais, econômicas e políticas. Sobre a idade média, a Escola Britânnica (2014) afirma que

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Guerras e conquistas levaram as pessoas a migrar durante a Idade Média, entre o século VI d.c. e cerca de 1500. Alguns povos se envolveram em guerras para tomar novas terras. Outros foram expulsos de seus territórios pelos invasores. No século VII, exércitos unidos pela fé muçulmana deixaram a península Arábica para disseminar sua religião. Eles conquistaram o norte da África, o oeste da Ásia e a Espanha. No século VIII, a tribo europeia dos francos forçou a tribo dos saxões a ir para o norte da Europa.

Historicamente temos relatos de grandes movimentos que marcaram a história dos povos ao longo de milhares de anos. Os diversos povos com suas motivações migram e promovem mudanças que dependem dos indivíduos ou grupos envolvidos.

Em meados do século XV, novas ondas de movimentos populacionais ganham ênfase na história das migrações, neste momento, com motivações não tão diferentes daquelas citadas anteriormente. Neste caso, conquistas de ‘novos mundos’ são a maior motivação destes povos, uma vez que a busca por riquezas leva grandes números de pessoas a saírem de seus países em busca de aventuras, mas principalmente novos locais de exploração econômica, fator que impulsiona a maioria dos movimentos de pessoas no espaço. Enciclopédia viva (2014) aponta que

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Grandes migrações marítimas da Europa começaram em cerca de 1500. Os portugueses, os espanhóis, os franceses, os italianos e os ingleses aventuraram-se pelos mares buscando novas terras. Aos poucos, estabeleceram-se na costa da América, onde Cristóvão Colombo havia chegado em 1492. Essa descoberta desencadeou uma nova migração que durou quase 400 anos. Exploradores aventureiros navegaram por todo o planeta para encontrar novas rotas de comércio e estabelecer colônias. As maiores potências coloniais europeias – Inglaterra, França, Portugal, Espanha e Países Baixos – começaram a disputar novas terras que pudessem conquistar, explorar e colonizar.

Nestes movimentos percebe-se a ênfase dada ao fator econômico pelos povos que se aventuravam em busca de ‘novos mundos’. Nessa mesma perspectiva, durante o século XVIII, houve grandes fluxos migratórios em todo o mundo, na Europa, com o surgimento das grandes indústrias, as grandes cidades tornaram-se atrativas para um número significante de camponeses. Mais uma vez o fator econômico motiva o fluxo migratório. Segundo Tibério Mendonça (2011, p.03):

Desde o início da história da modernização, a migração desempenha um papel como uma breve retrospectiva histórica. Do século XVI até o século XIX, a formação do capitalismo na Europa sempre foi acompanhada por uma forte migração interna nos diversos países. No século XVIII, com o começo da industrialização, inicia-se o assim chamado êxodo rural; as pessoas migraram das regiões agrárias para os centros industriais, e as grandes cidades modernas surgiram.

O capitalismo embasa os diversos movimentos populacionais ocorridos entre os séculos XVI à XIX entre os países europeus e destes para outros países, incluindo os países da América. A despeito disso, as migrações causaram grandes transformações em seus locais de origem e de chegada, e estas mudanças manifestam-se nos diferentes aspectos da vida em sociedade.

3 DIMENSÕES DO MOVIMENTO MIGRATÓRIO

Os movimentos populacionais em geral definidos como migração ganham diversos conceitos, estes surgidos a partir das diferenças entre suas estruturas, pois depende de como essa migração ocorre. Desta forma, quando o movimento de pessoas está condicionado ao deslocamento destas em direção a outros países se caracteriza enquanto uma migração externa. Há ainda a migração interna, que é aquela em que se constitui numa mobilidade dentro do próprio país.

Dentre estes ainda há determinados movimentos caracterizados por diversas situações de deslocamentos, tais como: migração urbano-rural, caracterizada pela migração de pessoas de um setor urbano para os espaços rurais, sendo atualmente bastante incomum;

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o nomadismo caracteriza-se por migrações em que populações inteiras se deslocam em busca de alimentos e abrigo, é um movimento constante e define as sociedades primitivas, estando, portanto, em extinção. A migração sazonal, define-se enquanto uma migração que é estritamente temporária. Este tipo de migração é comum entre os sertanejos no Nordeste brasileiro. (MENDONÇA, 2015).

Há ainda a migração pendular caracterizada por ser uma migração não permanente na qual, trabalhadores saem todas as manhãs de suas residências em determinada cidade e só retorna ao final do dia, esta migração é típica das grandes cidades e regiões metropolitanas. Migração urbano-urbano – esta ocorre atualmente com muita frequência e é caracterizada pela mudança de pessoas de uma cidade para outra. Neste sentido, esta mudança apresenta comumente caráter permanente. Por fim, a migração rural-urbana ou êxodo rural – foco do nosso estudo - é marcado pela mudança de pessoas do espaço rural para o espaço urbano, tendo diversos fatores de influência e sendo atualmente um dos grandes pontos de discussão das migrações contemporâneas. (MENDONÇA, 2015).

4 MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS NO BRASIL E NO MARANHÃO: abrindo caminhos para estudos específicos

Uma percepção acerca dos movimentos populacionais típicos do território brasileiro que fizeram e ainda fazem parte de nossa história é de longe, uma tentativa de compreensão das variáveis que contribuíram para a formação do Brasil. Sendo assim, far-se-á necessário considerar a diversidade de movimentos migratórios, a diversidades de atores envolvidos neste processo e ainda a pluralidade de determinantes que contribuíram para que estes movimentos viessem a acontecer de forma a transformar locais de saída e locais de chegada de migrantes durante muitos séculos, sendo, portanto, um movimento que resguarda em seu âmago grande parte da historicidade do povo brasileiro. No Maranhão, este fenômeno ganha notoriedade também num tempo relativamente semelhante ao que ocorreu no Brasil, tempo este em que povos chegam para uma possível ocupação deste espaço. Assim sendo, cabe salientar este processo de modo a nos aproximarmos de uma possível compreensão de tais migrações bem como suas determinações no contexto socioeconômico, político e cultural do nosso país.

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4.1 O município de Vargem Grande - MA na dinâmica das migrações

O município de Vargem Grande encontra-se localizado às margens da BR- 222, possui uma estimativa populacional de 55.841 habitantes de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2018), com uma área total de 1.957,751 Km².Limita-se ao Norte com os municípios de Nina Rodrigues e São Benedito do Rio Preto, ao Sul com os municípios de Timbiras e Coroatá, ao Leste com Chapadinha e ao Oeste com Cantanhede e Pirapemas.

A cidade de Vargem Grande teve seu surgimento no século XIX, com base em movimentos populacionais, uma vez que a mesma tem sua historicidade contada a partir da passagem das boiadas que eram conduzidas pelos boiadeiros, para as cidades de Morros e Icatu. Assim, na atual cidade de Nina Rodrigues, onde passa o rio Iguará havia a facilidade de descanso para as comitivas de boiadeiros que tocavam as boiadas, bem como alimentos (pastos) para o rebanho. Diante disso, estima-se que estes movimentos de boiadas e consequentemente dos boiadeiros nessa região, deram origem a povoação de Vargem Grande, a qual no ano de 1835 pela lei nº7 foi elevada à categoria de vila. A categoria de cidade foi conquistada a partir da sua data de emancipação política no ano de 1935, quando o município passa a constituir-se politicamente, e a partir de então passa a vigorar sua autonomia independente dos municípios vizinhos.

Em fins do século XX, no Brasil ocorria também uma forte migração rural-urbana, em decorrência de mudanças econômicas e sociais no país, neste sentido

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Alves; Souza & Marra (2011, p. 81-82) relatam que,

O período de 1950-1980 - é dominado pelas políticas de industrialização de substituição de importação. Seu sucesso criou poderoso e diversificado mercado urbano de trabalho, a começar pelo Estado de São Paulo, irradiando-se no Sudeste, no Sul, no Centro-Oeste e no Nordeste. Atraídas por esse poderoso mercado, as populações rurais migraram para as cidades. Como não poderia deixar de ser, o êxodo rural ganhou velocidade e se acelerou no Sudeste, em decorrência da industrialização do referido estado. [...] o êxodo rural também se intensificou naquelas regiões, drenando grande parte da população rural, a qual, hoje, só tem maior vulto no Nordeste. Por isso, nas 2 últimas décadas, essa região experimentou grande migração rural-urbana, também motivada pelas luzes das cidades, das suas cidades e das do Sul do País

Assim, em meio a tais mudanças no cenário brasileiro, o estado do Maranhão esteve condicionado a esta dinâmica, bem como seus municípios, onde a partir desta conjuntura no cenário nacional encontram-se as bases para a migração rural – urbano ocorrido nas mais diversas localidades do estado. Sendo assim, os movimentos populacionais entre o meio

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urbano e rural do município de Vargem Grande no Maranhão ganham maior visibilidade a partir dos anos de 1980.

A população dos anos de 1980 a 2000 podem ser observados na tabela abaixo, onde apresenta um percentual de habitantes que vem caindo deliberadamente no espaço rural e crescendo significativamente no espaço urbano, onde se apresenta uma taxa de urbanização bastante relevante para se pensar a relação rural-urbano e a intensidade destes movimentos dentro do município de Vargem Grande.

TABELA 1 - População por situação de domicilio e taxa de urbanização em Vargem Grande – MA nos anos de 1980, 1991, 2000.

População por situação de domicilio 1980, 1991, 2000.

População 1980 1991 2000

Urbana 8.834 12.194 17.116

Rural 24.539 20.703 17.591

Total 33.373 32.897 34,707

Taxa de urbanização* 26,5% 37,1% 49,3%

Fonte: IBGE – censos demográficos 1980, 1991 e 2000.

*percentual da população urbana em relação à população total.

Como mostra a tabela acima, temos um número de 8.834 habitantes no ano de 1980 residindo no espaço urbano de um total de 33.373 habitantes, sendo, portanto, um número bem menor em relação à população residente no mesmo período no espaço rural que era de 24.539 habitantes. Já no ano de 2000 esta diferença já não mais se apresentava, ao contrário, neste ano a população urbana crescera tanto que apresentava praticamente os mesmos números que a população rural, havendo, portanto, uma mudança de residência dos sujeitos do campo para a cidade, apresentando a zona rural um número de 17.591 habitantes e a zona urbana um número de habitantes igual a 17.116, neste sentido a população urbana dobrou em relação ao ano de 1980.

Os habitantes das áreas rurais que migraram para a área urbana entre os anos de 1980 a 2000 no município de Vargem Grande, tiveram suas motivações, às vezes por fatores diferenciados, mas com esperanças semelhantes que seria encontrar na cidade uma nova forma de sobrevivência que lhe assegurasse melhores condições de vida.

Porém, uma vez na cidade, onde trabalhar, se o seu oficio até então era tipicamente rural, isso gera uma mão-de-obra desqualificada, de baixa remuneração ou desempregos, pois desenvolver atividades típicas do espaço urbano requer um mínimo de experiência nas áreas afins. Neste sentido, a maioria dos migrantes rurais-urbanos buscam formas provisórias de subsistência, em meio a um mundo diferenciado daquele ao qual já estava acostumando.

Portanto, as atividades desenvolvidas por estes sujeitos são geralmente de caráter autônomo. Nesta perspectiva, diversos foram os moldes de organização das populações

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oriundas do campo na cidade, imbuídos de um sentimento de pertencimento ao espaço rural, culturalmente situando, o desenvolvimento de quaisquer atividades seria desafiador para tais indivíduos.

Neste sentido, grande parte dos indivíduos que saíram do campo rumo à cidade teve que passar por uma readaptação no que se refere ao trabalho, uma vez que na cidade desenvolvem-se outras atividades que não condizem com o típico modelo rural. Neste sentido, para além das dificuldades de adaptação referentes ao desenvolvimento do trabalho, encontravam-se também percalços quanto à moradia, tornando-se um passo difícil abandonar o campo e enfrentaras dificuldades incalculáveis na zona urbana.

Portanto, dificuldades e benefícios à parte, a cidade é um lugar onde reside grande número de populações rurais, que de uma forma ou de outra conseguiram uma estabilidade ao sabor de grande luta para encontrar seu espaço em um lugar alheio às suas raízes, mas atrativo no sentido de oferecer serviços e possibilidades que a área rural ainda é carente.

Diante da migração rural-urbana, um caráter cultural persiste entre os antigos moradores das áreas rurais, que mesmo encontrando-se na cidade, depois de longos anos, ainda trazem consigo um sentimento de pertencimento ao espaço rural que os levam a serem atraídos pelas atividades rurais, sendo que muitos tentam reconstruir na zona urbana espaços aos quais estavam acostumados quando moradores da zona rural, outros se sentem tentados a retornar ao campo, agora não mais por motivos econômicos, mas por comodidade pessoal.

A presença de um elo com o espaço rural é muito forte entre os habitantes da cidade que de lá vieram, sendo assim, a cultura atrai novamente este sujeito que tendo as condições necessárias, depois de certa idade, tende a voltar a conviver na tranquilidade oferecida pelo espaço rural, pois as motivações da saída atualmente não se sustentam mais, uma vez estabilizados na cidade, procuram agora novos modos de existência que lhes ofereçam uma paz que, para eles a cidade não oferece.

Nesta perspectiva, as relações estabelecidas entre os dois mundos rural e urbano giram em torno de uma cultura que, para estes sujeitos não é fácil se desvincular, mesmo que para alguns a vida na cidade tenha se tornado promissora, a vida no campo ainda é uma opção relevante, dentre outros, pelo forte apego às origens. Neste caso, enquanto que, para migrar para a cidade o tenham feito de forma instável, para retornar ao campo precisam estar certos de que terão uma comodidade e estabilidade, pois tempos diferentes exigem posturas diferenciadas.

Neste sentido, a sociedade vargem-grandense imersa nessa realidade desde as últimas décadas do século XX, procurou desenvolver formas de existência capazes de resistir às desestabilidades políticas, sociais e econômicas vivenciadas nos diferentes tempos e

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espaços, sendo, neste sentido, detentora de uma migração interna de sentido campo-cidade- campo que ao sabor das vivências experimentadas soube desenvolver modos de ser e fazer capazes de amenizar as os impactos decorrentes dos movimentos populacionais internos ocorridos no município ao final do século XX.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A migração caracteriza-se por ser um fenômeno social, sendo um movimento dinâmico de vertentes distintas, é uma temática que requer cautela quando de sua exploração, pois, a mesma possui em seu bojo uma diversidade de interpretações e sofre variações que dependem do tempo e do espaço em que ocorrem, entretanto, as migrações contemporâneas apresentam suas especificidades e requerem capacidade de síntese diante dos estudos realizados.

Diante das várias possibilidades de interpretação da temática migração, cabe aqui inseri-la no campo da História, pois a mesma se permite este estudo, ao passo em que se tem viabilizado novas abordagens historiográficas e novos problemas. Assim, o estudo sobre as diversas experiências sociais, sejam elas individuais ou coletivas, corroboram para uma compreensão da construção histórica pelos sujeitos. Neste sentido, situar a migração numa perspectiva historiográfica nos leva a compreender este processo enquanto experiências repletas de significados e significantes, que em suma promovem transformações nas sociedades.

Neste sentido, o estudo ora apresentado pretendeu uma visibilidade das experiências do movimento migratório de sentido rural-urbano ocorridos no município de Vargem Grande durante os anos de 1980 a 2000. Assim, os fatores condicionantes da migração rural-urbana em Vargem Grande, tais como a falta de bens e serviços nas áreas rurais, busca por melhorias de vida, levaram as populações rurais a abandonarem suas residências e virem para a cidade.

Portanto, a saída das pessoas das áreas rurais não significou mudança apenas na vida dos migrantes, certamente este processo afetou a vida de todos os habitantes do município, se não de forma direta, mas indiretamente, pois ao passo em que estas pessoas abandonam o campo, a produção agrícola diminui, a criação de pequeno porte também tem uma queda, assim, a economia do município passa por transformações que afetam a vida de todos.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem Populacional. Disponível em:

<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/vargem-grande/panorama> acesso em 24 de abril de 2019.

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2006.

Referências

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