• Nenhum resultado encontrado

A Multifuncionalidade e Trajetria de Por exemplo - SIMELP

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "A Multifuncionalidade e Trajetria de Por exemplo - SIMELP"

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

O percurso de gramaticalização de por exemplo

Rafaela Domingues COSTA1

RESUMO

Os estudos em torno de por exemplo, inicialmente, revelaram que esse objeto caracterizava-se pela função de conector apositivo, interligando unidade base e unidade apositiva. Essa função despertou o nosso interesse para a pesquisa e nos levou a averiguar, sincronicamente, as possíveis funções e comportamentos de por exemplo.

Assim, durante as investigações dos dados falados e escritos, encontramos ocorrências de por exemplo apositivo e por exemplo não-apositivo, ambos apresentando a mobilidade como característica primordial. Sendo assim, quando apositivo, por exemplo ocorre em a) posição inicial, b) em posição medial, após sintagma introdutor de aposição ou, ainda, c) nas fronteiras de constituintes (verbo-complemento e fronteira final), apresentando as características peculiares da aposição (relação de correferencialidade, geral-específico e argumentação) e ainda, a função de focalização.

Já em ocorrências não-apositivas, por exemplo é encontrado em fronteiras de constituintes (“...- sujeito”, sujeito-verbo, verbo-complemento e, ainda, em fronteira final), desempenhando apenas função focalizadora, ressaltando anaforicamente ou cataforicamente uma informação nova. Aliados à Sociolingüística Variocinista e motivados pela multifuncionalidade desse fenômeno, buscamos também examinar, em âmbito diacrônico (dados escritos), sua origem e trajetória, a fim de legitimar tal diversidade funcional sincrônica apresentada nesse trabalho. Para que alcançássemos tal objetivo de pesquisa, baseamos-nos, principalmente, nos parâmetros postulados por Hopper (1991), no pressuposto de unidirecionalidade de Heine et alli (1991) e na gramaticalização como processo metafórico orientada por estágios, sugerido por Heine (1993). E, foi com base nesses pressupostos, que procuramos apresentar os aspectos da mudança desse fenômeno e indicar a hierarquização de seus usos.

PALAVRAS-CHAVE: por exemplo; diacronia; sincronia

As investigações em torno de por exemplo ocorreram, primeiramente, na iniciação científica, onde os dados revelaram a presença da função apositiva desse item.

Mais tarde, na realização do presente trabalho, ampliamos as investigações em torno desse item e os dados novos pesquisados confirmaram a presença da função apositiva e revelaram a função não-apositiva, ambas apresentando como traço definidor, a

1 UFJF- Faculdade de Letras – Programa de Pós-Graduação em Lingüística.

Correspondência: Campus Universitário, bairro Martelos, CEP 36036-330. Juiz de Fora, MG. Brasil.

rafadomingues@hotmail.com

(2)

mobilidade. Logo, com os resultados obtidos nos dados sincrônicos, partimos para uma investigação diacrônica.

Dessa forma, nossos objetivos sincrônicos quanto a esse estudo projetam-se na descoberta de novas funções desse objeto, na verificação da mobilidade e da função desse item nas construções apositivas e também na verificação da mobilidade e função de por exemplo em unidades não-apositivas.

Os resultados obtidos na análise sincrônica intensificaram os nossos objetivos e, por isso, buscamos, em dados diacrônicos, resultados que legitimassem as informações encontradas no estudo sincrônico e, ainda, fomos em busca da procedência e da trajetória realizada por esse item.

A partir de algumas investigações em torno dos dados, hipotetizamos que por exemplo apresenta-se como um elemento móvel podendo ser encontrado em diferentes pontos da unidade apositiva e também da unidade não-apositiva. Assim, acreditamos que essas posições são estritamente conectadas com a função desempenhada por esse objeto, ou seja, que a mobilidade é responsável pela multifuncionalidade de por exemplo, já que a todo momento em se muda a posição de por exemplo, muda-se também a função desse. E, a partir das análises em corpora diacrônicas, pudemos hipotetizar que, por não pertencer a classe dos verbos, por exemplo participasse de outro processo de gramaticalização. Assim, as pesquisas em torno desse objeto mostraram que tal hipótese faz sentido, pois, a mudança semântica desse item não ocorre unidirecionalmente, como proposto por Heine nos estudos dos verbos, mas ocorre do abstrato para o concreto, na qual o traço virtude2 (presente nos primeiros estágios de por exemplo) vai enfraquecendo-se (isto é, ocorre uma perda semântica devido a generalização dos contextos), gerando, dessa forma, uma concretização do objeto.

2 Segundo Lima-Hernandes, em comunicação pessoal, é possível considerar a [virtude] como traço de PESSOA quando aplicamos o continuum de Heine at al. (1991).

(3)

No entanto, a gramaticalização em plano categorial ocorre da mesma maneira proposta por Heine, ou seja, a gramaticalização categorial de por exemplo segue o curso unidirecional, de uma classe concreta ( de substantivos) para uma classe abstrata de conectores e marcadores.

Fundamentação Teórica

Para que a realização da pesquisa sobre por exemplo fosse possível, contamos, principalmente, com os princípios da gramaticalização, conceito fundamental para explicar a trajetória histórica percorrida por por exemplo, a mudança semântica, que foi importante para que explicássemos as motivações que levaram o item lingüístico a sofrer certas mudanças semânticas. Já a aposição serviu para que explicássemos as muitas ocorrências em que por exemplo mostrou-se apositivo. O pressuposto de marcador serviu para denominarmos as ocorrências de por exemplo não-apositivo.

Tomamos essa decisão pois, por exemplo não-apositivo tem a capacidade de focalizar uma determinada informação de acordo com a ordenação, com a hierarquização admitida. Já os conectores são elementos lexicais usados para estabelecer conexão entre aquilo que precede ao que segue. Dessa forma, consideramos conector as ocorrências em que por exemplo é apositivo, já que nessa função, o objeto lingüístico conecta unidade base à unidade apositiva. A argumentação foi um princípio importante para que esclarecêssemos as ocorrências de por exemplo apositivo, já que, geralmente, têm a função de sustentar um determinado ponto de vista. E, por fim, a focalização, pressuposto fundamental para esclarecermos a ênfase de um elemento quando em fronteira de constituintes.

(4)

Fundamentação Metodológica

Os corpora sincrônicos contaram com dados do português falado: Dados do Projeto de Conceição de Ibitipoca, cuja organizadora é a professora Teca; dados do Projeto da Fala Mineira, que tem como coordenadora a Professora Doutora Nilza Barrozo Dias; amostras do Procon Juiz de Fora, coordenado pela Professora Doutora Sônia Bittencourt da Silveira. E, contamos ainda, com amostras de dados escritos:

Revista Veja (páginas amarelas e artigo de Roberto Pompeu); seção de entrevista da Revista Claudia e artigos da Revista Veredas.

Enquanto, a constituição do corpus diacrônico conta, somente, com dados de escrita: O Corpus Informatizado do Português Medieval – séculos XIV, XV, XVI, XVII, XVIII, e XX; Corpus Diacrônico do Português: séculos XIII, XIV, XV, XVII e XX e, ainda, alguns textos avulsos dos séculos XVI, XVIII e XIX.

A análise dos textos diacrônicos compõe um corpus com 145 (cento e quarenta e cinco) ocorrências de construções em que foram encontrados o substantivo exemplo e o marcador/conector por exemplo.

O por exemplo diacrônico:

A busca diacrônica de por exemplo inicia-se a partir de textos dos séculos XIII, XIV. E, em textos desses séculos não encontramos ocorrências de por exemplo, mas do substantivo exemplo, por isso, a nossa investigação diacrônica inicia-se a partir do substantivo exemplo, autenticando o pressuposto de Dias (2004) de que tal fenômeno,

(5)

diferentemente dos outros marcadores (isto é quer dizer, vale dizer, ou seja) não é oriundo de verbo e sim, de um substantivo ou locução.

A partir dos dados diacrônicos investigados3 (especificados na metodologia), a primeira utilização do substantivo exemplo foi encontrada no século XIV, cujo significado era MODELO de algo honrado, virtuoso.

(1) Escrituras Sanctas e dos dizeres e autoridades dos doutores catholicos e de outros sabedores e das façanhas e dos exenplos dos sanctos homees.

(- Titolo VI: da Peendeça que he o III Sagrameto e por que há // nome e ssom XLI leys/

pg 51 século XIV)

No exemplo (1), temos “e dos exenplos dos sanctos homees”. A expressão que sucede o substantivo exemplo “sanctos homees” nos mostra que “exemplo” representa algo de honrado, virtuoso. Percebemos isso porque se os homens eram santos, então, os exemplos que eles davam serviam de modelo, de padrão de virtude.

(2) a sua alma he segura e ha recebido saude, entom deve proveitar aos outros e curar deles. Mas se ele he enfermo e viver apartado dos outros, podera fazer a eles mais bem per exemplo de boas obras que por doutrina nem por palavra, porque o cego que guia outro cego, ambos caaem em a cova. Ca aaqueles he dado que governem e doutrinem os outros, que ham si meesmos bem provados e espertados (Corpus Informatizado do Português Medieval - BOOSCO DELEITOSO/1400-1451)

Nesse exemplo, mais uma vez, por exemplo representa apenas a forma, em que a preposição per está associada ao substantivo exemplo, resultando no mesmo sentido do substantivo exemplo já conhecido, modelo de virtude, exemplo de algo honrado:

“...podera fazer a eles mais bem per exemplo de boas obras que por doutrina nem por palavra...” = A partir dos exemplos das boas obras (exemplo de algo honrado, virtuoso), é possível fazer bem a eles.

3 Não encontramos recorrência nem de exemplo e nem de por exemplo, no século XIII.

(6)

Mais uma vez em (2), notamos a ausência tanto das relações semânticas como a correferencialidade parcial e geral-específico, quanto da classe semântica de particularização. A classe semântica de exemplificação é percebida, pois a maioria dos dados que envolvem por exemplo apresentam tal classe semântica.

Como dissemos anteriormente, a ausência de relações semânticas (correferencialidade parcial e geral-específico), típicas das construções apositivas, nos leva a hipotetizar que o por exemplo “modelo”, a partir de certa freqüência de uso, tenha passado a um novo tipo não-apositivo, encontrado também no mesmo século (XV), denominado por exemplo híbrido.

O por exemplo híbrido é conseqüência do acarretamento do traço [virtude] de por exemplomodelo” e o traço [focalização em fronteira de constituinte] de por exemplo focalizador4 (não-apositivo).

Na verdade, o tipo híbrido apresenta aspectos que nos fazem perceber o resquício do traço virtuoso, honrado de por exemplo modelo. E, ainda apresenta a característica relativa ao por exemplo focalizador: a focalização de informação em fronteira de constituinte. Vejamos abaixo:

(3) A cobiiça do mundo promete avondança, e paga final e postumeira pobreza e mingua. O diaboo promete exalçamento, e paga no tempo vindoiro abaixamento e desprezo. Des hi, o Senhor prova per exemplo aquelo que proposera, porque as silvas e os cardos e a vide e a figueira se conhocem stremadamente per os desvairados fructos seus; ergo, assi se conhoceram os homees: "Nom se colhem das spinhas uvas, ou dos cardos (Corpus do Português Medieval - LIVRO DE VITA CHRISTI/1446)

Em (3), vemos o uso híbrido de por exemplo, pois ainda é possível resgatarmos em “o Senhor prova per exemplo aquelo que proposera” o sentido de modelo, exemplo de algo virtuoso. Percebemos que o sentido ainda não se perdeu completamente nesse processo de mudança (“O Senhor prova a partir do modelo, do exemplo aquilo que propusera”). Na verdade, recuperando os termos utilizados pelos estudiosos da

4 Como dissemos no capítulo referente ao marcador discursivo, por exemplo focalizador focaliza informações através de fronteira de constituintes.

(7)

gramaticalização, o item ainda não sofreu um bleaching total, ou seja, não houve o apagamento de seu sentido original. Assim, entendemos que a mudança está ocorrendo de forma gradual.

E, ainda, no mesmo trecho, encontramos a focalização catafórica de informação, já que por exemplo se encontra em fronteira de constituinte verbo- complemento. Então, a partir da mescla das dessas funções, de fato, ocorre o por exemplo híbrido.

A ausência de traços apositivos (a correferencialidade parcial a relação geral- específico e a particularização) e a provável freqüência do uso híbrido de por exemplo proporcionou um processo de mudança, gerando o por exemplo focalizador – não apositivo - (nos séculos XVI e XVII), cuja função é focalizar informações através das fronteiras de constituintes.

A primeira manifestação de por exemplo focalizador ocorre no século XVI (Corpus Informatizado do Português Medieval) em fronteira de constituinte verbo- complemento, a mesma fronteira ocorrida em por exemplo híbrido. Isso corrobora a hipótese de que por exemplo híbrido, através de um processo de mudança, passou a por exemplo focalizador.

Observemos a primeira manifestação de por exemplo encontrada no século XVI no Corpus do Português Informatizado:

(4) ou quantidade das couzas, haver ou cauzar alguma duvida em seos conceitos - que o podem attribuir à falta de se não terem as taes palavras bem declaradas, como para isto se podem trazer por exemplo as couzas em que apontaremos. 1. Primeiramente, escrevendo-se de cá que tal rey ou senhor levava tres contos de gente comsigo para a guerra, fallou a tal pessoa, quem quer que foi, ao modo japonico, mas (Corpus Informatizado do Português Medieval Historia do Japam/1560-1580 FROIS - século XVI).

Como dissemos anteriormente, em fronteira de constituinte verbo-complemento, a função de por exemplo é focalizar de modo catafórico a informação nova

(8)

(corroborando à proposta de Lambrecht). Por isso, nesse caso, o complemento “as couzas em que apontaremos” é a informação enfatizada.

Há uma diferença entre os corpora analisados. Como dissemos anteriormente, no Corpus Informatizado do Português Medieval, encontramos a primeira manifestação de por exemplo no século XVI. Já no Corpus Diacrônico do Português, a primeira ocorrência de por exemplo se dá um século mais tarde (XVII). Mas, o mais interessante é que em ambos os corpora, o por exemplo é o mesmo, ou seja, focalizador em fronteira de constituinte verbo-complemento.

O exemplo abaixo mostra a primeira ocorrência de por exemplo no Corpus Diacrônico do Português, no século XVII:

(5) e por eles minha presensa foi aeresentada a pautta e dado o preso as cousas ~q nella faltauaõ ao mesmo respeitto por~q as demais estauaõ avaliadas em ~q não alterou nem imnottou nada ~q das os presos as cousas ~q faltauaõ ao mesmo respeitto das ~q estauaõ aualiadas ~q vem ser outro tamtto mais como ditto he a ~q dou por xemplo ~q estamenhas valem outo uinteis por uara e estão aualiadas na pauta antiga por dezaseis.

(Corpus do Português Diacrônico Tarallo- século XVII)5

É interessante notar que, mesmo um século mais tarde, a fronteira de constituinte ainda predominante é a fronteira verbo-complemento, por isso, o elemento focalizado é o complemento: “~q estamenhas valem outo uinteis por uara e estão aualiadas na pauta antiga por dezaseis”.

(6) Alem disso (3) he tambem muy certo e claro de outros diversos lugares da Escritura sagrada, que S. Pedro naõ tinha nem pretendia ter primazia algua entre os outros Apostolos, nem algua mayor autoridade _sobre as Igrejas do que elles tinhaõ. Por Exemplo: Os Apostolos, que estavaõ em Jerusalem, enviavão a Pedro para Samaria, Act. 8, 14. o que não pudèraõ fazer. _e elle fòra seu Superior. Hua vez os na Igreja, que eraõ da circunciçaõ, tinhaõ contenda contra elle, porque em Cefarea tivèra entrado a os Gentios, Act. 11 1-3. Em o Concilio de Jerusalem naõ Pedro mas Jacobo fez a decisaõ. (Texto avulso do século XVIII - SEC XVIII (NA))

5 Existe diferença entre os corpora analisado: no Corpus Informatizado do Português Medieval, o por exemplo surge no século XVI, enquanto no Corpus do Português Diacrônico surge somente no século XVII.

(9)

O exemplo (6) é denominado apositivo por haver uma unidade (A), funcionando como unidade base e outra (B), funcionando como unidade apositiva (nesse caso, por exemplo introduz a unidade apositiva). A relação semântica geral-específico, peculiar de por exemplo apositivo, pode ser notada quando, na unidade base fala-se aquilo que é geral: “... outros diversos lugares da Escritura sagrada, que S. Pedro naõ tinha nem pretendia ter primazia algua entre os outros Apostolos, nem algua mayor autoridade sobre as Igrejas do que elles tinhaõ. Logo, com a introdução de por exemplo, especifica- se as informações, explicitando os lugares das escrituras sagradas (os atos foram especificados) e também especificando (“Por Exemplo: Os Apostolos, que estavaõ em Jerusalem, enviavão a Pedro para Samaria, Act. 8, 14. o que não pudèraõ fazer. _e elle fòra seu Superior. Hua vez os na Igreja, que eraõ da circunciçaõ, tinhaõ contenda contra elle, porque em Cefarea tivèra entrado a os Gentios, Act. 11 1-3. Em o Concilio de Jerusalem naõ Pedro mas Jacobo fez a decisão”) o porque de o Apóstolo Pedro não ter primazia entre os outros Apóstolos.

A relação semântica de correferencialidade parcial (parcial porque não há exata correspondência entre as unidades e seus referentes) confirma o caráter apositivo, pois o enunciado introduzido por por exemploPor Exemplo: Os Apostolos, que estavaõ em Jerusalem, enviavão a Pedro para Samaria (...)retoma e expande:

Pedro naõ tinha nem pretendia ter primazia algua entre os outros Apostolos, nem algua mayor autoridade sobre as Igrejas do que elles tinhaõ”).

Aqui, também é possível percebermos a função argumentativa de por exemplo apositivo. A posição S. Pedro naõ tinha nem pretendia ter primazia algua entre os outros Apostolos, nem algua mayor autoridade _sobre as Igrejas do que elles tinhaõ é devidamente sustentado pelas evidências formais introduzidas por por exemplo (em negrito).

(10)

A trajetória de por exemplo pode ser esquematizada da seguinte forma:

A trajetória de por exemplo EXEMPLO (XIV e XV) = modelo de virtude

(PER) EXEMPLO (XV) = preposição (per) + substantivo (exemplo) = modelo de virtude

POR EXEMPLO HÍBRIDO (XV)= Traços de modelo (virtude) + traços de focaliza- dor

POR EXEMPLO NÃO-APOSITIVO (XVI/ XVII)= por exemplo focalizador de informação nova nas fronteiras de constituintes

POR EXEMPLO APOSITIVO (XVIII) (posição inicial/posição medial/ em fronteira de constituinte)

(11)

O Por exemplo apositivo

Em uma construção apositiva, sendo composta por unidade base (A) e unidade apositiva (B), o conector pode encontrar-se em posições distintas. Primeiramente, localizamos por exemplo em posição inicial, entre a unidade (A) e a unidade (B), encabeçando a unidade apositiva (a maior parte das ocorrências revela que por exemplo inicial é “desgarrado”, nos termos de Decat,(1999) e estabelece as relações semânticas próprias da aposição: a correferencialidade parcial e geral-específico.

(7) A limitação deste modelo adotado pela maioria dos dicionários e glossários jurídicos reside em não considerar outros fenômenos (pragmáticos, lingüísticos e cognitivos) tipicamente relacionados ao discurso. Por exemplo: o fenômeno da alta freqüência da co-ocorrência de termos padronizados como fator de coesão quando associados semanticamente a outros termos através dos vários tipos de sinonímia e da colocação, independentes da sua forma ou função gramatical. (A representação semântica dos multinomes jurídicos em inglês – Celina Frade. Veredas, Vol.8)

No exemplo (7) a relação semântica geral-específico pode ser notada, pois, na unidade base, encontramos o tema exposto de forma generalizada: “A limitação deste modelo adotado pela maioria dos dicionários e glossários jurídicos reside em não considerar outros fenômenos”. Logo, na unidade apositiva, com a introdução de por exemplo, ocorre a especificação do tema: “Por exemplo: o fenômeno da alta freqüência da co-ocorrência de termos padronizados como fator de coesão (...)”

Devido à relação semântica geral-específico apresentada anteriormente, a correferencialidade é parcial que pode ser observada através do seguinte fragmento da unidade apositiva: “Por exemplo: o fenômeno da alta freqüência da co-ocorrência” que retoma e expande o significado de: “(...) reside em não considerar outros fenômenos(...)”.

(12)

O conector por exemplo ainda apresenta uma característica que Decat (1999) chama de “desgarrada”. Ou seja, é “desgarrada” porque inicia uma nova unidade entonacional depois de uma pausa marcada. Segundo a autora, utilizamos a técnica do

“desgarramento” para focalizar, destacar aquilo que queremos tratar, a partir da nossa intenção comunicativa.

Logo, encontramos as ocorrências de por exemplo em posição medial, que realizam-se após um sintagma nominal, preposicionado ou adverbial introdutor de aposição e, a partir dessa disposição, é possível percebermos o acúmulo de funções: é apositivo (por apresentar a relação geral-específico e a correferencialidade parcial) e focalizador (por apresentar-se entre fronteira de constituinte “...- sujeito” e sujeito- verbo”, focalizando um dos constituintes) ao mesmo tempo.

Assim, por exemplo medial em fronteira “...-sujeito”:

(8) Tal fato torna-se mais evidente ao atentarmos para algumas pistas de contextualização. No segmento acima, por exemplo, o emprego de um registro formal – o vocábulo “perfunctórias” – é a princípio inadequado para aquele tipo de encontro. (Metamensagens no discurso de um paciente psiquiátrico - Branca Telles Ribeiro. Veredas, Vol. 8)

O conector por exemplo se encontra após um sintagma adverbial introdutor de unidade apositiva, instituindo duas funções importantes: a função apositiva, pois há duas unidades (A) e (B) representando uma construção e constituindo as relações semânticas de geral-específico, em que a unidade (A) anuncia o tema de forma generalizada “pistas de constextualização” e a unidade (B) especifica esse tema a partir de um exemplo:No segmento acima, por exemplo, o emprego de um registro formal – o vocábulo “perfunctórias” – é a princípio inadequado para aquele tipo de encontro”. E, de correferencialidade parcial (chamamos parcial, pois não há exata correspondência entre as unidades e seus referentes), que pode ser detectada no momento em que “(...)

(13)

por exemplo, o emprego de um registro formal – o vocábulo “perfunctórias” retoma (indiretamente) e expande o sentido de “pistas de contextualização”.

Há no exemplo (8) a ocorrência da função focalizadora. Constatamos isso, pois o nosso item lingüístico localiza-se entre a fronteira de constituinte “...-sujeito”. E, devido a essa posição, a focalização recai sobre o item imediatamente anterior ao por exemplo.

Também há a estratégia utilizada nesse exemplo para evidenciar informação foi o “desgarramento”. Isto é, o autor, devido a sua intenção comunicativa, ressalta a unidade apositiva “desgarrando-a” da unidade base através de uma pausa marcada.

E, ainda, por exemplo medial em fronteira sujeito-verbo:

(9) Embora, aqui, não tenha explorado o aspecto da recorrência de usos, há evidências de que a alta recorrência de estruturas nem sempre pode ser correlacionada a estágios elevados de gramaticalização. As hipotáticas, por exemplo, são as mais recorrentes e as encaixadas, as menos recorrentes. Esses resultados, associados ao grau de gramaticalização, fariam com que fosse válida- equivocadamente - a afirmação de que hipotáticas são mais gramaticalizadas do que encaixadas. (Estágios de gramaticalização da noção de tempo- processos de combinação de orações-Maria Célia Lima-Hernandes.

Veredas, Vol. 14/15)

Assim como no exemplo (8), em (9) é possível notarmos que o conector por exemplo acumula funções, isto é, é apositivo por apresentar as relações semânticas de geral-específico, o geral é representado por “estruturas” e o específico, representado por

“As hipotáticas”, e a relação de correferencialidade parcial, já que o sintagma nominal

“As hipotáticas”, pertencente à unidade apositiva, retoma e expande o sentido de

“estrutura”, enfatizado na unidade base de referência. E, é também, focalizador, pois se encontra em fronteira de constituinte sujeito-verbo, destacando para o interlocutor a informação nova:”As hipotáticas”.

(14)

O “desgarramento” também acontece nesse exemplo, já que a intenção comunicativa de ressaltar a unidade apositiva ocorreu devido a pausa marcada inserida após a unidade base.

Por último, consideramos apositivas, estruturas que se apresentam entre as fronteiras de constituintes (verbo-complemento e fronteira final), mas que realizem funções apositivas como: a relação semântica geral-específico e a correferencialidade parcial (e, algumas vezes, a questão argumentativa). Assim temos:

(10) “O que é isso?” ou “Qual o nome disso?” e respondemos, por exemplo, “um mapa” ou “uma cafeteira”... (Em torno da palavra como unidade lexical: Palavras e composições - Margarida Basílio. Veredas, Vol.7).

Em (10), encontramos o conector por exemplo em fronteira de constituinte verbo-complemento da unidade apositiva. Sendo assim, sua função é ressaltar a informação nova contida no complemento: “um mapa ou uma cafeteira” (...)”. No entanto, é importante percebemos, também, a presença das características simbólicas da aposição como a relação semântica apositiva geral-específico, na qual a generalização é representada “O que é isso?”ou “Qual o nome disso?”e a especificação, representada por por exemplo, “um mapa” ou “uma cafeteira, encabeçada pela locução por exemplo.

E, ainda, podemos notar a correferencialidade parcial já que a unidade introduzida por por exemplo retoma e, ao mesmo tempo, expande o significado de “O que é isso?” ou “Qual o nome disso ”.

E, por último, por exemplo apositivo em fronteira final:

(11) Como, em geral, o objetivo dos autores é delimitar as fronteiras entre certas classes de palavras, deixam de ser mencionados outros tipos de locuções, como aquelas compostas por verbos, por exemplo. (Locução para quê?- Maria Carmelita Dias.

Veredas, Vol. 8)

(15)

Em (11), encontramos o conector por exemplo em fronteira de constituinte final da unidade apositiva. Sendo assim, sua função é ressaltar a informação nova imediatamente anterior ao item lingüístico: “como aquelas compostas por verbos”. Mas, é importante constatarmos também a presença das funções peculiares da aposição, como a relação semântica apositiva geral-específico, na qual, a generalização ocorre em

“outros tipos de locuções” e, a especificação, quando o autor delimita essas locuções:

“como aquelas compostas por verbos”. Já a relação de correferencialidade parcial ocorre no momento em que a unidade apositiva finalizada por por exemplo retoma e expande o significado da unidade base de referência, grifada.

O Por exemplo não-apositivo

Quando em fronteira de constituintes, por exemplo perde as características apositivas (as relações semânticas) e apresenta-se como focalizador. Nesse caso, as posições ocupadas por ele são intra-oracionais e variam muito. Dessa forma, o marcador discursivo pode encontrar-se entre as fronteiras “...- sujeito” (por exemplo encontra-se em posição anterior ao sujeito); sujeito-verbo; verbo-complemento e fronteira final.

(12) L1 –mas cê sabe que assim…igual mas apesar de ser uma coisa assim…igual cês tão falano assim…num é um ritual natural pro ser humano…assim igual esse negócio de num entrá no cemitério que o vô Sidney (inint) igual quando cê falô que tava lá a viúva agarrada com a mão …então assim…eu por exemplo tenho um problema sério com gente morta ((risos)) mais específicamente com a viúva do morto que fica passano a mão e vem te cumprimenta COM aquela mão ((risos)) (Dados Mineira)

O marcador discursivo por exemplo possui a função de colocar em evidência a informação nova. Em (12), a fronteira ocupada por por exemplo é sujeito-verbo, dessa forma, a focalização é anafórica e o elemento novo evidenciado é o sujeito “eu”.

(13) (...) a senhora não gostaria por exemplo de ir na loja e escolher um aparelho.(Brasimac Aval/Procon)

(16)

O marcador discursivo por exemplo possui a função de colocar em destaque a informação nova. Em (13), a fronteira ocupada por por exemplo é verbo-complemento, dessa forma, a focalização é catafórica e o elemento novo evidenciado é o complemento: “de ir na loja(...)”.

(14) Os nativos do português realizam padrões silábicos simples do tipo v e cv no início da aquisição da língua, tal como em estágios lingüísticos pigdnizantes (cf. Hall, 1966;

Valdman, 1977; Todd, 1974; Mühläusler, 1986; Holm, 1993, por exemplo) (Enfoques de pesquisa sobre a relação língua e sociedade – Maria Cecília Mollica. Veredas, Vol.8)

O marcador discursivo por exemplo coloca em destaque uma informação nova.

Em (14), por exemplo está em fronteira final, destacando anaforicamente toda a informação nova entre parênteses. É interessante observarmos nesta ocorrência que o por exemplo evidencia, destaca a referência bibliográfica que constitui o suporte, a base para a assertiva proposta.

(17)

Referências Bibliográficas

BYBEE, Joan. PERKINS, Revere & PAGLIUCA William.The Evolution of grammar.

Tense, Aspect, and Modality in the Languages of the World, Chicago, The University of Chicago Press, 1994.

DECAT, Maria Beatriz N. Por uma abordagem da (in) dependência de cláusulas à luz da noção de “unidade informacional”. In: Scripta. Belo Horizonte, vol.2, no. 4, p.23- 28, 1o. semestre de 1999.

DECAT, Maria Beatriz N. Orações relativas apositivas: SN’s “soltos” como estratégia de focalização e argumentação. Revista Veredas, v.8, n.1, p.79-101, jan/jun.2004

DIAS. Nilza, Barrozo. Cláusulas apositivas em português: o estatuto sintático- discursivo. Relatório Fapemig. Departamento de Letras. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004.

GRYNER, Helena. A Seqüência argumentativa: estruturas e funções. Revista Veredas, v.4. n.2, p.97 a 112, jun/dez. 2000

HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. London: Edward Arnold Publishers, 1985.

HEINE, B.; CLAUDI, U. and HÜNNEMEYER, F. From Cognition to Grammar:

Evidence from African Languages. In: TRAUGOTT, E.C. & HEINE, BERND (eds.) Approaches to grammaticalization. Volume I: Focus on theoretical and methodological issues. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing, 1991.

HEINE, Bernd. Auxiliaries, Cognitive Forces and Grammaticalization. Nova York, Oxford. Universidade de Oxford, 1993.

LIMA-HERNANDES, Maria Célia P. A Interface Sociolingüística/Gramaticalização:

estratificação de usos de tipo, feito, igual e como – sincronia e diacronia. Tese de Doutorado. Unicamp, 2005

HOPPER, Paul J. On some principles of grammaticalization. In: TRAUGOTT, Elizabeth Closs & HEINE, Bernd (eds.) Approaches to grammaticalization. Vol.I:

Focus on theoretical and methodological issues. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing, 1991

(18)

TRAUGOTT and B. HEINE (eds.) Approaches to Grammaticalization 1, Amsterdam:

John Benjamins, 1991.

TRAUGOTT, E. The framework. In: Regularity in Semantic Change. Cambridge:

Cambridge Press, 2005.

VIEIRA, Amitza. Movimentos argumentativos em uma entrevista televisiva: uma abordagem discursivo-interacional. Dissertação de Mestrado. Juiz de Fora. 2002

Referências

Documentos relacionados

Carta aos Cegos;.. • Religiosidade: Carta aos Crentes; Carta aos Espíritas; Carta aos investigadores do Espiritismo; Carta aos Médiuns; Carta aos Crentes Novos; Carta