NÍVEIS DE ANSIEDADE E SUA ASSOCIAÇÃO COM RISCO DE SUICÍDIO EM ADULTOS UTILIZADOS NA ATENÇÃO BÁSICA. C837n Níveis de ansiedade e sua relação com o risco de suicídio em adultos atendidos na atenção primária à saúde / Ana Paula Cardoso Costa. Objetivo: Avaliar os níveis de ansiedade e sua associação com o risco de suicídio em adultos atendidos na atenção primária à saúde no município de Teresina-Piauí.
50 Tabela 7 – Relação entre níveis de ansiedade (BAI) e variáveis sociodemográficas e econômicas, problemas de saúde e estilos de vida na amostra estudada. 51 Tabela 8 – Análise de regressão logística multinomial com níveis de ansiedade (BAI) e variáveis sociodemográficas e econômicas, estado de saúde e estilo de vida.
Contextualização do problema e construção do objeto de estudo
Um estudo realizado no Nepal constatou que o risco de comportamento suicida aumentava em pessoas que sofriam de ansiedade (PANDEY et al., 2019). Devido à quantidade de mortalidade e morbidade associada ao fenômeno, essa violência autoinfligida constitui um grave problema de saúde pública (NUGENT et al., 2019; . FÉLIX et al., 2016). No entanto, a atenção aos sintomas ansiosos também identifica pacientes de alto risco e otimiza a prevenção do suicídio nos serviços de atenção primária à saúde (SHEPARDSON et al., 2019).
Uma parte representativa da população afetada por pensamentos e desejos de acabar com a própria vida é adulta (O'CONNOR et al., 2018). Nesta faixa etária também existem muitos indivíduos acometidos pela ansiedade (BENTLEY et al., 2016; . GOODWIN et al., 2020).
Objetivos
Objetivo Geral
Diante da hipótese de que existe relação entre os níveis de ansiedade e o risco de suicídio em adultos, formulou-se a seguinte questão de pesquisa: qual a relação entre os níveis de ansiedade e o risco de suicídio em adultos.
Objetivos Específicos
Justificativa e relevância do estudo
Ansiedade: abordagem conceitual e epidemiológica
Vale ressaltar que a diversidade de sintomas causados por esse transtorno pode variar entre as pessoas (VELOSO et al., 2016). Além dos efeitos motores e viscerais, esse distúrbio pode afetar a atenção e o aprendizado (CHAVES et al., 2015; CUNHA et al., 2017). Quanto ao aspecto fisiológico, observam-se sintomas neurovegetativos, como insônia, taquicardia, palidez, tensão muscular, tremores, tonturas, distúrbios intestinais (CHAVES NETO et al., 2014).
Fernandes e cols. 2017) consideram que esse problema de saúde pública, se ocorrer em nível elevado, pode causar danos não só ao acometido, mas também às pessoas que o cercam. Dentre eles destacam-se: transtorno de ansiedade social (medo ou ansiedade intensa em situações sociais); transtorno do pânico (sentimentos intensos de ansiedade, desespero); agorafobia (medo de ficar sozinho em público ou em determinados lugares); transtorno de ansiedade generalizada (sintomas de ansiedade com frequência constante); transtorno de estresse pós-traumático (memórias repetidas de situações traumáticas), transtorno obsessivo-compulsivo (pensamentos e atitudes repetidos) (APA, 2015; FERNANDES et al., 2017; . GUIMARÃES et al., 2015).
Comportamento suicidário: conceito e epidemiologia
Atualmente, as pessoas estão interligadas com múltiplas situações que promovem pensamentos e atitudes suicidas (PEREIRA et al., 2018). O desafio dessas estratégias está em identificar pessoas em estado de vulnerabilidade, verificar as circunstâncias que influenciam seu comportamento suicida e estruturar intervenções de resolução (CONTE et al., 2012). Ainda naquele ano, foi lançado o Manual de Prevenção do Suicídio para Profissionais de Saúde Mental, com o objetivo de capacitar os profissionais na detecção precoce de condições relacionadas à adversidade e na implementação de ações preventivas (OLIVEIRA et al., 2016).
Aponta também para a alta probabilidade de tentativas de suicídio após uma experiência anterior fracassada, até que a morte seja alcançada (BEGHI et al., 2013). É importante que os profissionais sejam competentes para entender seu papel nesse processo e estejam preparados para atuar de forma adequada (SOUSA et al., 2019).
Políticas públicas de enfrentamento à saúde mental no Brasil
Em 1991, o Ministério da Saúde viabilizou a criação da Coordenação Nacional de Saúde Mental, órgão inédito no Brasil, que representaria politicamente esse setor. Ressalta-se que nesse percurso de formulação e reorganização das políticas de saúde mental, o comportamento suicida assumiu visibilidade. Em 2006, o Ministério da Saúde lançou o "Manual de Prevenção do Suicídio" destinado aos profissionais da equipe de saúde mental como parte da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio (BRASIL, 2006).
A literatura revela que a capacitação dos profissionais deve ser uma estratégia prioritária das políticas de saúde mental para oferecer esse cuidado na área (SOUZA; AMARANTE; ABRAHÃO, 2019). Desde 2003, o Ministério da Saúde instituiu o Apoio Matricial como norteador das ações de saúde mental na APS (BRASIL, 2003), mas o incentivo financeiro só foi introduzido em 2008, por meio da criação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).
O cuidado em saúde mental no contexto da Atenção Primária à Saúde
Pesquisa desenvolvida por Silva et al. 2019) avaliou a percepção dos enfermeiros da AB sobre os desafios da saúde mental nesses serviços. Outros requisitos essenciais são a educação permanente em saúde e o apoio institucional para o desenvolvimento de recursos terapêuticos que integrem os profissionais e a comunidade (OLIVEIRA et al., 2017). No estado de Minas Gerais, Brasil, 23,2% dos 297 adultos atendidos pela ESF apresentavam transtorno mental comum (SOUZA et al., 2017a).
Segundo Hauge et al. 2018), um grande número de indivíduos com esse comportamento consulta a atenção primária à saúde no período que antecede o ato suicida. Entre as justificativas para essa dificuldade estavam a falta de habilidade para lidar com o problema e a falta de treinamento sobre esse tema (SILVA et al., 2017).
Tipo de estudo
Local do estudo
População e amostra
Gráfico 1 - Distribuição das eSF do município de Teresina e sua respectiva população adulta cadastrada na ESF, segundo a territorialização do NASF.
Critérios de inclusão e exclusão
Coleta de dados
Instrumentos de coleta de dados
- Inventário de Ansiedade de Beck
- Nurses Global Assessment of Suicide Risk
De acordo com esse resultado, os níveis de ansiedade podem ser classificados conforme descrito no quadro 2 (CUNHA, 2001). Quadro 2 - Classificação dos níveis de ansiedade por meio do BAI, de acordo com a soma do escore final. Cabe ressaltar que os escores do BAI de todos os participantes desta pesquisa foram validados por profissional psicólogo de referência do NASF.
O Nurses Global Assessment of Suicide Risk (NGASR) é um instrumento de avaliação do comportamento suicida em enfermeiros, desenvolvido por Cutcliffe e Barker (2004) numa Unidade de Saúde Mental na Grã-Bretanha. O NGASR é um índice de pontuação simples, possui 15 itens que abordam variáveis preditivas para suicídio e fornece um modelo útil para avaliar o risco dessa violência autoinfligida para enfermeiros (CUTCLIFFE; BARKER, 2004). Vale ressaltar que em estudo de Veloso (2020), foi realizada adaptação transcultural e validação do índice NGASR para a população brasileira.
Mostrou-se um instrumento confiável, responsivo e válido, em termos de critérios e construtos, para rastrear o risco de suicídio na população adulta atendida na atenção primária à saúde no Brasil. Após o processo de ajuste e validação para a população brasileira, o instrumento foi estruturado em 15 itens, a saber: presença de desesperança, por exemplo, perda de esperança no futuro, perda de sentido na vida, falta de perspectivas atuais; evento estressante recente, por exemplo, perda de emprego, problemas socioeconômicos, ação judicial pendente, acidentes; história de psicose (presença de vozes/crenças perseguidoras); presença de sintomas depressivos (tristeza/perda de interesse ou perda de prazer em realizar atividades cotidianas); presença de isolamento social; aviso de intenção/pensamentos suicidas; presença de plano suicida; presença de histórico familiar de problemas psiquiátricos graves e/ou suicídio; presença de sofrimento pela morte de um ente querido (processo de luto recente) ou término de relacionamento; história de violência interpessoal (física, psicológica, sexual); viúvo/viúvo ou morando sozinho;. A classificação do risco de suicídio é avaliada pela soma dos itens, ou seja, a pontuação final do instrumento.
Tabela 3 - Classificação do risco de suicídio pelo NGASR, segundo a soma do escore final. Todos os participantes deste estudo que apresentavam risco médio, alto ou muito alto foram encaminhados para atendimento psicológico, médico ou de enfermagem (dependendo da disponibilidade no momento) imediatamente após a entrevista.
Variáveis do estudo
Organização e análise dos dados
Aspectos éticos e legais
Análise descritiva
Caracterização sociodemográfica e econômica
Levantamento das condições de saúde e hábitos de vida
Quanto aos hábitos de vida, 20,8% dos entrevistados faziam uso de substâncias psicoativas, 18,5% faziam tratamento psicológico ou psiquiátrico, 4,1% faziam algum outro tratamento alternativo, 42,3% praticavam atividade física, 20,5%.
Prevalência de níveis de ansiedade e padrão de risco de suicídio
Em relação à amostra de risco de suicídio, 80,8% da amostra foi de baixo risco, 10,0% de médio risco, 4,1% de alto risco e 5,1% da amostra foi classificada como de muito alto risco (Gráfico 2). Dentre os preditores de suicídio, prevaleceram na amostra: história de uso de álcool ou outras drogas (40,9%), evento estressante recente (32,2%) e presença de sintomas depressivos (25,3%). A presença de desesperança, por exemplo, perda de esperança no futuro, perda de sentido na vida, falta de perspectivas atuais.
Presença de sintomas depressivos (tristeza/perda de interesse ou perda de prazer em realizar atividades diárias). Histórico de preconceito (questões étnicas/sexuais/sociais/religiosas. Histórico pessoal de uso/abuso de álcool e/ou outros.
Análise bi e multivariada
Aqueles que não apresentavam problemas de sono tiveram 8,060 vezes mais chances de apresentar nível mínimo de ansiedade em comparação aos que apresentavam nível grave (p=0,003). Indivíduos que não passaram por tratamento psicológico ou psiquiátrico tiveram 11,545 vezes mais chance de apresentar nível mínimo de ansiedade em relação aos que apresentaram nível grave de ansiedade (p=0,000). Verificou-se também que os participantes que não apresentavam histórico de discriminação tinham 6,824 vezes mais chances de apresentar nível mínimo de ansiedade, em comparação com aqueles com nível grave de ansiedade (p=0,001); e os participantes que não passaram por tratamento psicológico ou psiquiátrico tiveram 9,069 vezes mais chances de apresentar nível leve de ansiedade em comparação aos que apresentaram nível grave de ansiedade (p=0,001).
A Tabela 11 mostra a associação entre a Classificação do Nível de Ansiedade (BAI) e a Classificação do Risco de Suicídio (NGASR). Com base no teste de associação exata de Fisher, existe associação entre níveis de ansiedade e escores de risco suicida (p<0,001). A Tabela 12 mostra uma comparação entre os escores de nível de ansiedade (BAI) e avaliação de risco de suicídio (NGASR).
Verificou-se que existe diferença entre os níveis de ansiedade em relação ao risco de suicídio (p<0,001). Com base na correlação de Spearman, verificou-se que o escore de ansiedade (BAI) tem correlação positiva moderada com o escore de risco suicida (NGASR). Em um estudo de base populacional realizado com adultos jovens no Brasil (n=1.953), os resultados mostraram que ter uma doença crônica teve associação estatisticamente significativa com transtorno de ansiedade (p=0,001) (COSTA et al., 2019).
Essas situações podem confirmar a ocorrência de vários transtornos, incluindo ansiedade (MARGIS et al., 2003) e comportamento suicida (FJELDSTED et al., 2017). A exposição ao estresse está associada ao risco de diversas condições de saúde, como depressão e transtornos de ansiedade (SLAVICH, 2016). Neste estudo, participantes sem histórico de discriminação tiveram 6,824 vezes mais chances de apresentar níveis mínimos de ansiedade em comparação com aqueles com níveis graves de ansiedade (p=0,001).
Os resultados deste estudo mostraram associação estatisticamente significativa entre níveis de ansiedade e escores de risco suicida (p<0,001). A hipótese levantada por esta pesquisa foi confirmada, pois foi detectada uma ligação entre os níveis de ansiedade e o risco de suicídio em adultos. Essas variáveis mostraram uma correlação positiva moderada, de modo que adicionar uma unidade ao escore de ansiedade aumenta o risco de suicídio em 0,522.
Informamos que os dados a utilizar dizem respeito aos sintomas de ansiedade em adultos, ao risco de suicídio em adultos e à relação entre estes fenómenos.