• Nenhum resultado encontrado

A narrativa como ensaio para aprendizagem da História: arte e ficção na constituição do tempo e de si

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "A narrativa como ensaio para aprendizagem da História: arte e ficção na constituição do tempo e de si"

Copied!
170
0
0

Texto

Tendo isso em mente, podemos dizer que o presente trabalho visa proporcionar um contato fecundo entre teoria e prática no campo do ensino de história. Este trabalho busca o caráter poético da atividade de composição da intriga sinalizada por Ricoeur (1994), capaz de dar forma e estrutura à narrativa e ao tempo que ela contém, uma alternativa a um pensamento didático da história a partir de uma didática geral, bem como a uma associação absoluta. das práticas de ensino de História com a metodologia e epistemologia da ciência histórica. A prática do ensino de história é orientada (conscientemente ou não) por um conjunto de objetivos, e somente no seu contexto podemos fazer qualquer escolha entre métodos.

Didática da História, um campo em disputa

Para Bergmann, o ensino de história tem um papel na ciência histórica como um todo. Contudo, a formação de uma disciplina denominada didática da história como subcampo da história científica tem causado insatisfação entre aqueles que defendem o papel da pedagogia no processo de ensino e aprendizagem de história escolar. Quando a didática da história negligencia sua conexão com as ciências afins, ela não consegue cumprir seus objetivos.

A função semântica da imaginação em Ricoeur

A implicação da imagem na linguagem através da Iconicidade, onde a imagem é controlada em favor do seu significado, permite-nos compreender que o viés semântico de ver como mais importante do que uma explicação psicológica poderia sugerir. Nesse jogo de sentido, a linguagem representa o poder pictórico de evocar a experiência da imagem em nosso imaginário por meio da construção, que serve então de exemplo da plenitude do imaginário, estabelecendo o ver como. A primeira, que não focarei neste trabalho, parte da consideração de que as imagens possibilitam a leitura da realidade que produzem por meio da pesquisa sobre quem as produziu e o contexto de produção (MAUAD: 2009, pp. 247- 262). .

Objetivos da história escolar e objetivos da história acadêmica

Em Rüsen (2012), a competência narrativa é uma competência específica e essencial da consciência histórica, pois através da narrativa é possível alcançar uma orientação temporal que sintetiza historicamente as dimensões de tempo, valor e experiência. No momento da produção narrativa, da escrita da história através da interpretação do tempo expresso em outras diferentes narrativas históricas, pictóricas, orais ou escritas, há uma apropriação do tempo histórico e, consequentemente, uma aprendizagem. O objetivo parece ser modernizar os métodos de ensino para atender às demandas de um público crescente.

O tempo histórico da narrativa escondido entre a imagem, a linguagem e o

Ele poderia ter descrito um monstro (como fizeram alguns de seus colegas) em vez de um “homem das cavernas”. Para eles, a imaginação não pode ser entendida como uma atividade mental separada das experiências estéticas da vida, uma vez que a mente só é capaz de funcionar dentro de um sistema de significados atribuídos através do simbolismo da linguagem e da imagem. A tradução do significado de um conceito através da concepção intuitiva de uma imagem anacrônica de sua realidade é natural entre as crianças, mas indica claramente sua dificuldade em compreendê-lo historicamente.

Imagem, linguagem e história no desenho dos alunos

Abrir mão da imagem é tornar a narrativa que se afirma histórica refém de um imaginário anacrônico, dominado ora pela imagem do presente, ora pelo conjunto de imagens do “dia passado”, modo geral como as crianças costumam se referir para o passado34. O desenho de uma criança é uma representação da experiência que a criança tem com determinado objeto, na qual deixa transparecer suas emoções. É uma forma universal de representar a realidade, de representar o mundo tal como é observado.

A primeira atividade sugerida envolveu o desenho de uma cena a partir de uma explicação oral dos principais acontecimentos do período de reforma urbana ocorridos na cidade. Com os casarões de 1902 acontece o contrário: cada um tem seu formato, e é possível perceber a variação de tamanho. Além disso, em determinado tipo de narrativa, o desenho pode expressar o que a imaginação de uma criança ou adolescente percebe em um nível de pensamento mais profundo do que a linguagem escrita é capaz de alcançar.

Ou seja, a interpretação histórica do conceito “ditadura” só é possível quando o termo aparece na consciência associado a uma memória, expressa em forma de narrativa. Em segundo lugar, tenhamos em mente que a consciência atua diante de uma situação nova por causa de experiências pessoais, e que no caso de uma aula de história essas situações são narradas porque obviamente não podem ser vivenciadas pessoalmente pelo aluno. Mas nos deram elementos para atuarmos em prol de uma aprendizagem capaz de desenvolvê-la.

O modelo narrativo apresentado deve estar o mais próximo possível de uma reprodução da experiência sensível, promover a imaginação do aluno e assim alterar a percepção e interpretação da realidade temporal.

Figura  1.1  -  Vista  do  centro  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro nos anos de 1902 (acima) e 1906 (abaixo),  segundo Mariana, de 15 anos e Maria também de  15
Figura 1.1 - Vista do centro da cidade do Rio de Janeiro nos anos de 1902 (acima) e 1906 (abaixo), segundo Mariana, de 15 anos e Maria também de 15

Imagem e tempo: dando sentido à narrativa pictórica

A movimentação dos personagens rapidamente faz sentido, ação que o pensamento infere ser uma ação típica de um governante ou do povo. Sem a utilização da imagem do passado entendida como construção icônica de uma realidade visualizada por pessoas desse passado – pessoas que compõem os personagens de nossa narrativa – o caráter histórico da interpretação fica comprometido. Baseou-se na observação de uma gravura e na posterior construção de uma narrativa ficcional a partir do observado.

O mundo narrado é permeado por seu simbolismo, que o narrador-personagem explica por meio de seus pensamentos e ações. Trata-se de uma trama vivenciada por um homem, identificado desde o início como um “escravo” que vai trabalhar numa fazenda onde foi capturado à força. O protagonista parece não entender o que está acontecendo, é vítima de uma injustiça cometida por agentes sem escrúpulos.

O mundo da narrativa, mesmo sendo obra da imaginação de Renata, é novamente baseado analogicamente na memória de uma realidade vivida. Esta não é uma projeção psíquica das atitudes e da consciência de Daniel expressa através de um personagem inventado, como se ele representasse uma espécie de alter ego freudiano. Falta, portanto, o exercício de tentar reconstruir um “presente-passado” através de uma narrativa que dê sentido histórico à sua perspectiva.

Só assim é possível transformar o ato interpretativo em uma tentativa cognitiva de compreender ações e acontecimentos em um mundo ultrapassado, cujos significados são determinados historicamente - mesmo que relacionados ao presente -, ao invés de uma acomodação das experiências das pessoas. o passado contado à luz da percepção e interpretação do presente.

A historicização da ficção: como fica o tempo histórico?

Se for possível diagnosticar brevemente alguns dos resultados desta retomada da história desde o último quartel do século passado, podemos dizer-o com Francisco Paz. Nesse caso, a estruturação do tempo da história não se dá pela ação, mas é transferida para o personagem. O deslocamento da origem a partir da qual os acontecimentos passados ​​são narrados é uma característica exclusiva das histórias ficcionais.

Contudo, Ricoeur (1997) observa que a ficcionalidade de tal narrativa não está completamente afastada do tempo passado dos acontecimentos narrados pela personagem ou do tempo que a personagem viveu; assim como o tempo da história não está isento. No entanto, no que diz respeito ao tempo narrado – que mais nos interessa neste capítulo – as variações possíveis do tempo narrativo consistem no conjunto de estratégias temporais que são postas ao serviço de uma concepção de tempo, tal como originalmente formulada na ficção. pode constituir um paradigma para reescrever o tempo vivido e perdido. Fantasiar sobre as possibilidades de vivenciar o passado também significa dar a essas experiências um “efeito real”, se assim podemos dizer.

Portanto, a coerência e a compreensibilidade da narrativa também são limitadas pelas informações contidas nos documentos – apesar dos traços ficcionais da história, inerentes à interpretação desses documentos, como dito anteriormente. Quando falamos em ficção histórica, é necessário ao mesmo tempo identificar o simbolismo das ações narradas pela trama, necessário também que esse simbolismo esteja de acordo com o tempo histórico da narrativa. Por outro lado, a animação dos personagens independe da narrativa ou dos nomes próprios encontrados nos documentos.

É verdade que a narrativa histórica consiste na ligação de acontecimentos numa trama inteligível, e que estes acontecimentos distinguem a narrativa histórica da narrativa.

As especificidades da escrita da história na escola

Em segundo lugar, a escrita da história envolve o uso de citações de crônicas documentais ou de opiniões de outros cientistas como um componente essencial para dar credibilidade ao seu discurso. Em segundo lugar, a construção do texto historiográfico depende da administração de conceitos específicos da história. Por fim, vale dizer que a escrita da história pressupõe uma dependência inevitável entre a ordenação dos fatos e a cronologia.

Embora tal dependência pareça clara, foi mais uma vez Michel de Certeau (1982, p.95) quem notou que o discurso historiográfico não estava mais vinculado à ordem cronológica. Essa diferença, em sua opinião, criou o jogo de escrever história e proporcionou conhecimento. com a possibilidade de produzir-se no “tempo discursivo”. Como disse, os fatores que se impõem ao historiador podem: ser exógenos, quando relacionados ao seu local de produção; ou endógenos, quando se referem aos detalhes da escrita da história que estão diretamente relacionados aos fundamentos epistemológicos da ciência histórica. Como já disse, não acredito que a missão da história escolar seja formar mini ou pré-historiadores.

Em vez disso, o processo de aprendizagem é geralmente racionalizado, associando-o a procedimentos específicos de gestão do tempo que estão fielmente comprometidos com a epistemologia da história. 2011, pp. 52-53). . de um olhar onisciente que vê uma realidade atemporal, mas através do filtro da consciência dos protagonistas da história; 3) a perspectiva múltipla, onde o mundo não é visto de forma inequívoca, mas simultaneamente através de uma série de prismas, cada um capturando parte dele. Contudo, não me parece que a simples proposta de problematizar a história seja uma garantia de interpretação histórica.

É óbvio que ainda é essencial que os alunos aprendam sobre a filosofia da história e as formas como o passado é reconstruído.

Análise dos contos produzidos pelos estudantes

Nesta segunda parte destacada da narrativa de Victor, o nome do herói também aparece, ainda que de forma incorreta. Mas a narrativa histórica depende destes recursos linguísticos característicos do modelo de narrativa ficcional se o tempo da ficção e o tempo da história forem diferentes. O caráter discursivo e os objetivos retóricos da narrativa histórica dependem da manipulação do tempo diegético para expressar um tipo de consciência histórica (a menos que acreditemos na neutralidade do discurso historiográfico).

A analepse pode ser entendida como uma volta no tempo (como ocorre nos flashbacks dos filmes) e a prolepse como uma antecipação da narrativa. Cerri (2010) refere-se a isso quando sugere que o propósito da história escolar deveria ser desenvolver a competência narrativa dos alunos. Este é um caminho que deve ser seguido quando se busca dar ao ensino de história uma função humanística, em que a reflexão histórica conduz à percepção empática do outro (RÜSEN: 2015).

Por outro lado, porém, é evidente que não conseguem esclarecer a totalidade dos processos envolvidos na compreensão da história e do conceito de tempo. Os factos não existem isoladamente, no sentido de que o tecido da história é o que chamaremos de enredo, uma mistura muito humana e muito pouco “científica”. A prática do ensino de história deve utilizar o conhecimento da pesquisa e da objetividade da história, bem como dos aspectos formativos relacionados à sua produção, e deve ser capaz de transitar entre as duas categorias que a definem de acordo com os objetivos pedagógicos, relacionados ao social. função que a prática transfere.

A escrita da história/Michel de Certeau; traduzido por Maria de Lourdes Menezes; revisão técnica [por] Arno Vogel. Os guias do professor como fonte de pesquisa na história ensinada: relatório parcial da pesquisa. História viva: teoria da história: formas e funções do conhecimento histórico / Jörn Rüsen; traduzido por Estevão de Rezende Martins.

Imagem

Figura  1.1  -  Vista  do  centro  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro nos anos de 1902 (acima) e 1906 (abaixo),  segundo Mariana, de 15 anos e Maria também de  15
Figura 1.2 - A direita, vista do centro  da cidade do Rio de Janeiro nos anos  de  1902  (a  esquerda)  e  1906  (a  direita),  segundo  Milena,  15  anos  e  Vitória de 16
Figura  1.3 - Vista do centro da cidade  do  Rio  de  Janeiro nos  anos  de  1902  (a  esquerda)  e  1906  (a  direita),  segundo  Jade  de  15  anos  e  Júlia  de  14
Figura 1.4 - Vista do centro da cidade do Rio de Janeiro nos  anos de 1902 (a esquerda) e 1906 (a direita), segundo Talia  eTânia,  ambas  com  idade  de  15  anos
+7

Referências

Documentos relacionados

A partir do entendimento dos conceitos que justificam o pragmatismo de James, como as situações em que podemos acreditar de acordo com a vontade, o significado da