XXV Congresso de Iniciação Científica
O Direito como elemento de coesão do bloco histórico: uma leitura gramsciana das reformas constitucionais da década de 1990
Leonardo Henrique Gomes Rodrigues. Universidade Estadual Paulista, UNESP, Curso de Direito.
leohgr@yahoo.com.br. Orientadora Profª. Regina Laisner.
Palavras Chave: neoliberalismo, reformas constitucionais, Gramsci.
Introdução
O final da década de 1980 marcou a História do Brasil como o período da redemocratização, culminando na promulgação da Constituição Federal de 1988. Interessante observar que apesar do desgaste do modelo de desenvolvimento intervencionista e da expansão dos ideais neoliberais no contexto global, a Constituição assegurou um Estado forte e indutor, mantendo diversos monopólios estatais e garantindo uma ampla gama de direitos sociais.
Na década de 1990, a ideologia neoliberal expandiu- se, tornando-se praticamente hegemônica no contexto global. No Brasil, a inserção desta ideologia, que trazia consigo a necessidade da refundação do papel e das funções do Estado, não é autoaplicável¹, requerendo, portanto, a eliminação prévia de alguns entraves legais. A Reforma Constitucional torna-se então o meio técnico-legal necessário para se construir outro modelo de Estado.
Desta forma, este trabalho tem como objetivo realizar uma leitura de caráter gramsciano deste processo, pois se compreende que temos, a partir de meados da década de 1990, a formação de um novo bloco histórico no Brasil, tendo em vista a formação de uma nova relação entre estrutura e superestrutura.
Material e Métodos
O presente trabalho se desenvolve a partir da análise da reforma constitucional ocorrida no Brasil na década de 1990, principalmente em relação às Emendas Constitucionais nº 05, 06, 07, 08 e 09, todas de 1995. São levados em consideração não apenas as mudanças no texto constitucional, mas também os debates legislativos acerca das emendas, tanto de seus propositores quanto de seus críticos.
Em relação ao recorte gramsciano, tanto os textos do autor quanto de comentadores consagrados na Academia, como Portelli, Gruppi e Coutinho são utilizados, a fim de realizar a aproximação da teoria e das reformas analisadas.
O método utilizado, portanto, é o embate crítico entre os documentos oficiais e textos de seus colaboradores e a bibliografia levantada, tendo assim por objetivo final a construção análise crítica sobre este período.
Resultados e Discussão
A hipótese central deste trabalho é que a reforma constitucional da década de 1990 possibilitou a formação de um novo bloco histórico, segundo a teoria gramsciana, já que retirou do aparato jurídico nacional certas limitações que impediam o desenvolvimento pleno da ideologia neoliberal, construindo, assim, uma nova relação entre estrutura e superestrutura.
A ideologia neoliberal tornou-se projeto político na década de 1990, entretanto ainda não havia condições estruturais para que se tornasse hegemônica, já que a Constituição dava respaldo a um Estado forte e interventor, ou seja, estrutura política e legal brasileira impedia o desenvolvimento da ideologia neoliberal ascendente.
Este conflito entre a estrutura e superestrutura caracteriza, para Gramsci, um momento de crise no bloco histórico, sendo resolvido no caso brasileiro, pela reforma da estrutura a fim de adequá-la aos paradigmas ascendentes do neoliberalismo.
Conclusões
A análise realizada leva a concluirmos que o Direito é um elemento de coesão de um novo bloco histórico, pois é o aparato jurídico que irá dar o respaldo legal a uma ideologia que pretende tornar- se projeto político. A ideologia neoliberal já se desenvolvia desde o final da década de 1980, entretanto a Constituição Federal impedia seu livre desenvolvimento, pois a estrutura nacional, com forte presença do Estado na esfera econômica, limitava sua aplicação. Apenas após a reforma é que a estrutura nacional deu condições para o neoliberalismo tornar-se a hegemônico, constituindo um novo bloco histórico no Brasil.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a professora Regina Laisner pelo apoio e orientação, relação que se mostra promissora.
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¹ BARROSO, Luís Roberto. Constituição e Ordem Econômica e Agências Reguladoras. Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico. Salvador, Instituto de Direito Público da Bahia, nº 1, fevereiro de 2005.
