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PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da UFMG

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Academic year: 2023

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A teoria queer tem seus fundamentos articulados no encontro entre os estudos culturais americanos e a corrente filosófica pós-estruturalista francesa, e o termo foi utilizado pela primeira vez na conferência da pesquisadora italiana Teresa de Lauretis em 1990 nos EUA. . Nesse sentido, a Teoria Queer investe em processos de subversão de pautas heteronormativas para refletir os modos de ser/viver de corpos dissidentes, ou seja, daqueles que não respeitam os padrões sexuais/de gênero estabelecidos pela heteronormatividade. Segundo Tales Gubes Vaz (2012), não existe uma tradução literal e equivalente da palavra “queer” em português, principalmente aquela que carrega o peso histórico do termo nos EUA – recorrentemente utilizado como forma de insulto. / calúnia depreciativa para todas as mulheres. pessoas não heterossexuais.

Guacira Lopes Louro (2001), professora e importante referência no campo dos estudos queer no Brasil, cria uma salvação histórica para as políticas sexuais e de gênero que, aos poucos, foram limitando uma certa identidade da comunidade gay e que fornece dados para analisamos as interseções discursivo-crítico-reflexivas por que passa a teoria queer. De forma bricolage, a Teoria Queer – talvez chamando-a de “teoria” (MELO; JÚNIOR; MARQUES, 2020)5, por ser produzida na diferença e na pluralidade – está ligada a pensamentos e discussões pertencentes a um amplo espectro do pós-estruturalismo. Segundo Dinis (2013, n. f.), o campo da Pedagogia Queer “surge do esforço teórico de pesquisadores da área da Educação em utilizar os conceitos produzidos pela Teoria Queer para pensar novas estratégias pedagógicas não normativas”.

Na trama entre a Teoria Queer e a Educação tecida pela Pedagogia Queer, aprofundam-se, assim, uma série de interseções que incluem o poder disruptivo dos padrões heteronormativos e a lógica obrigatória da heterossexualidade para desenvolver estratégias pedagógicas, metodológicas e artísticas que estejam em consonância com a subversivo. e pensamento inclusivo promovido pelos estudos queer. Essas questões permanecem vivas em termos do que a educação pode fazer quando imbuída de princípios tecidos pela Teoria Queer. Pelas lentes da Cultura Visual/pedagogia cultural: o poder queer em Pose, cultura dos bailes/salões e dança da moda.

Por outro lado, da teoria queer - e especialmente da pedagogia queer - destacamos preocupações, descontinuidades e subversões de identidades sexuais e de gênero, bem como modos de saber.

Fig. 1. Damon dançando Voguing. Fonte: Pose (2018). Ryan Murphy, Brad Falchuk e Steven Canals, Estados Unidos
Fig. 1. Damon dançando Voguing. Fonte: Pose (2018). Ryan Murphy, Brad Falchuk e Steven Canals, Estados Unidos

Enredando a formação em Dança às possibilidades de uma Pedagogia Queer

A dança contemporânea, por sua natureza interrogativa (KATZ, 2004), estabelece um estado de questionamento que pode afetar os corpos de maneiras que problematizam as noções tradicionais de corpo e criação. Como criar formas de mostrar as experiências que constituem os corpos através da dança. Nesse sentido, atentos às exigências observadas pelo curso PPC e sua realidade educacional, bem como às especificidades investigativas da pesquisa de doutorado que norteia essa prática, analisaremos as possibilidades de construção de uma pedagogia queer a partir de uma proposta artístico-pedagógica experiência.

São elas: CATEGORIA 1 – Dança de salão e a produção de identidades e subjetividades dissidentes – enfatizando a relação entre a imagem corporal por meio da ideia de inventar uma outra realidade possível; CATEGORIA 2 – Ballroom e a expansão dos modos de representação – problematizando modos de ver e ser visto com imagens e compreender corpos, histórias e contextos que (r)existem; e CATEGORIA 3 – Dança de Salão e Voguing – movimentos queer – explorando os elementos técnicos/estéticos da dança Voguing e sua posição político/artística no mundo. Tais categorias desenvolvem o caráter performativo de confrontar os discursos dominantes, estimulando esses corpos dissidentes a produzirem diferentes modos de ser e a produzirem suas identidades e subjetividades a partir de outra realidade: aquela que se dá no ovo e que por sua vez inventa as possibilidades de existência. pois esses corpos são constantemente marginalizados em contextos heteronormativos. A ideia foi, portanto, destacar a forma como tais imagens influenciam os alunos e incentivá-los a pensar sobre uma perspectiva queer a partir de suas experiências na forma de movimento/dança.

Embora esse processo artístico-pedagógico seja incipiente, as imagens de Pose têm se mostrado uma ferramenta para pensar os diferentes processos de produção de conhecimento por caminhos mais porosos, híbridos, abertos à descentralização do saber e à valorização de outros caminhos. sobre arte e cultura. Tratando-se de uma abordagem contemporânea da criação, como o PPC do curso assume ao destacar caminhos investigativos que elucidam um caráter interdisciplinar, o uso de imagens, principalmente aquelas que não estão no hall das imagens eruditas e como consideradas oficialmente para as Artes sistema. , torna-se uma poderosa estratégia para “articular processos de produção artística acompanhados de análise crítica, que intervenham qualitativamente na cultura do tempo presente” (ESCOLA TÉCNICA DE ARTES, 2013, p. 13). Portanto, a inscrição de tais imagens no campo dos processos pedagógicos "como componente fundamental para o desenvolvimento de uma pedagogia crítica" (GIROUX, 1999, p. 212) pode ser uma forma de produzir sentidos influenciados por profundos vieses políticos. educar.

Reconhecemos que a interseção desses elementos – pose, dance culture/dancehall e voguing – na composição da presente proposta artístico-pedagógica aqui compartilhada pode funcionar de forma que ressoe na pedagogia queer. A partir do viés educativo da criação em dança, especialmente no que diz respeito à presença visceral do corpo no processo de construção/criação, pensar/viver a pedagogia queer é essencial para compreender os efeitos/influências dos corpos dissidentes na dança. Promover a produção de espaços e possibilidades para que os alunos se vejam de forma crítica e performática nos mais diversos ambientes e neste caso na emergência da pedagogia queer em seus modos de ser/viver e aprender dança.

Nesse sentido, a dança criada a partir dessa proposta e, portanto, conectada a uma perspectiva pedagógica queer, interessa interromper (cis)tematizar e regular padrões de movimento, opondo-se a práticas que solidificam e normalizam modos de criar/ensinar/. ensinar em prol de uma experiência de dança que se torne realmente acolhedora e humana. Em particular, considerando o campo de formação do curso, quando pensamos na dança da moda e seu contexto underground, verificamos que o movimento contracultural que ela estabelece estimula o desejo de criar uma pedagogia queer neste ambiente. A ênfase da pedagogia queer não está na informação, mas na metodologia para a análise e compreensão do conhecimento e identidade de gênero (SILVA, 2007, p. 108).

Por isso propomos a Pedagogia Queer a partir de uma experiência artístico-pedagógica em dança, não como receita formativa, nem como metodologia a ser aplicada. Ao contrário, a Pedagogia Queer não quer ser prescritiva, mas experimental, atenta às relações que se entrelaçam ao mesmo tempo em que aciona/respeita/valoriza as experiências dos sujeitos, em prol de uma abordagem de ensino que, neste caso, tem impacto sobre gênero e discussões sobre sexualidade, mas também pensa caminhos mais democráticos e emancipatórios em múltiplas frentes que moldam a prática pedagógica.

Fig. 2. Estudo do primeiro procedimento criativo (Category). Fonte: Imagens da parte superior: arquivo do autor
Fig. 2. Estudo do primeiro procedimento criativo (Category). Fonte: Imagens da parte superior: arquivo do autor

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012. 2 Séries de TV americanas criadas em 2018 por Ryan Murphy, Brad Falchuk e Steven Canals e produzidas/exibidas pelo canal FOX. 3 Abreviação de pessoas que se identificam de várias formas como lésbicas, gays, bissexuais, transexuais/travestis/transgêneros, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais, não-binários.

4 Fizemos uma analogia com o prefixo 'cis', que se refere ao termo 'cisgênero' e se refere a indivíduos que se identificam com o sexo que lhes foi atribuído no nascimento, em oposição ao termo 'transgênero', que se refere a pessoas cujo gênero identidade não corresponde ao seu sexo biológico. Assim, se considerarmos a ideia como um tema "cis", trata-se de compreender um determinado sistema regido pelo aparato cisheteronormativo que modula nossas ações cotidianas. 5 Segundo Glenda Melo, Paulo Melgaço Júnior e Anderson Marques (2020), a Teoria Queer apresenta diferentes pontos de vista dependendo dos interesses e enfoques de cada contexto, e por isso é preciso observá-la em sua multiplicidade.

Ressaltam ainda a crítica que Ian Barnard fez em relação à questão racial: “as questões de sexualidade, gênero, raça e classe social não podem ser trabalhadas de forma dissociada. Apesar de focarmos na Teoria Queer neste texto, enfatizamos o reconhecimento desses múltiplos aspectos e, sobretudo, suas influências e relevância para o campo. 7 Jéssica Freisleben, citando Paul Du Gay, define um artefacto cultural como “algo que tem um conjunto particular de significados e práticas culturais à sua volta.

São conceitos construídos em torno de um objeto, uma produção cinematográfica [..] uma boneca, um aparelho eletrônico” (FREISLEBEN, 2018, p. 60) e que, ao mesmo tempo que elaboramos um pequeno universo de significados e o vinculamos a um objeto específico, torna-se um artefato cultural que pertence à nossa cultura. 9 Espaços físicos/emocionais formados por LGBTQIAPN+ mais velhos, denominados “pais”, por ex. Como abordagem criativa/metodológica/pedagógica, aponta modos de criar/ensinar/aprender dança a partir das relações estabelecidas pelos corpos com diversos artefatos culturais – especialmente imagens – no amplo cenário da pedagogia cultural.

Berté (2015, p. 133) explica que “a dança contemporânea não se apresenta como um novo estilo de dança, mas como uma forma de pensar a dança contemporânea”. 12 Graduada em Dança (UFAL), professora de Voguing e Runaway e uma das pioneiras da comunidade Ballroom em Alagoas (https://www.instagram.com/fenixzion/). 13 Mãe da Casa de Muzi, pioneira Kiki House de Alagoas, bailarina e pós graduanda do curso de Dança - UFAL (https://www.instagram.com/diamondmuzi/).

Imagem

Fig. 1. Damon dançando Voguing. Fonte: Pose (2018). Ryan Murphy, Brad Falchuk e Steven Canals, Estados Unidos
Fig. 2. Estudo do primeiro procedimento criativo (Category). Fonte: Imagens da parte superior: arquivo do autor
Fig. 3. Once Upon A Time. Fonte: Pose (2022). Ryan Murphy, Brad Falchuk e Steven Canals, Estados Unidos.

Referências

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Para tanto, busca-se estudos filosóficos, ético-estéticos e de redistribuição da epistemologia heterociscolonial, através tese de que corpos dissidentes sexuais e desobedientes de