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Palavras-chave: Santo Agostinho; Educação; Idade Média

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Academic year: 2023

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SANTO AGOSTINHO, O TEÓRICO DA IGREJA NA IDADE MÉDIA

Maria Rita Sefrian de Souza Peinado* Resumo: A Igreja, na Idade Média, assume a função articuladora da sociedade, por meio de sua mensagem evangelizadora. Santo Agostinho, um dos principais representantes desta instituição, viveu na transição da Antiguidade para a Idade Média, período de intensas transformações sociais e políticas. Analisaremos algumas proposições que esse autor fez porque elas direcionaram o pensamento medieval sob inúmeros aspectos como, por exemplo, no ensino de leitura e escrita. Estes conhecimentos comporiam, de acordo com o autor, aspectos da formação dos cristãos. A Igreja, por seu turno, como instituição, por meio dos discursos dos padres, inclusive os de Santo Agostinho, assumiu o governo dos povos, na medida em que criou condições para o estabelecimento da comunicação entre nômades e romanos. Consideramos que ao se estabelecer entre os povos, a Igreja contribuiu com a organização da sociedade medieval efetivando a transmissão de um legado cultural, pois na medida em que evangelizava também educava os povos, a partir da conservação do conhecimento greco-latino.

Palavras-chave: Santo Agostinho; Educação; Idade Média.

Abstract: The Church, in the Middle Age, assumes the function of organizing the society, by means of his evangelization message. Saint Augustine, one of the main representatives of this institution, lived in the transition of Seniority to the Middle age, period of intense social changes and policies. We are going to examine some propositions that this author did because they conducted the medieval thoughts under many aspects such as, for example, in the teaching of reading and writing. These knowledge composes, in accordance with the author, aspects of the training of Christians. The Church, as an institution, by means of the speeches of the priests, including those of Saint Augustine, took the government of the people, to the extent that created the conditions for the establishment of the communication between nomads and Romans. When the Church established among people, it has contributed with the organization of medieval society realizing the transmission of a cultural legacy, because in so far as evangelized also raising the people, from the knowledge greco-Latin preservation.

Key-words: Saint Augustine; Education; Middle Age.

Na primeira parte da Idade Média, numa sociedade convulsionada por invasões e lutas internas, num regime social essencialmente agrário, o centro vital deslocou-se das cidades para os campos, fixando-se nos castelos – praças-fortes contra os ataques dos invasores ou adversários políticos – e nos mosteiros – focos de espiritualidade e refúgios das letras –, onde se organizaram as melhores e mais numerosas escolas dessa época, as monásticas ou claustrais. Em torno dos mosteiros e dos castelos viviam os camponeses nas suas aldeias. (NUNES, 2001, p. 40, 41)

* Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá, sob a orientação da Dra. Terezinha Oliveira. Esta integra o Grupo GTSEAM.

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Encontra-se na proposta de Santo Agostinho (354-430) um princípio de educação cristã que contempla diferentes áreas do conhecimento como pré-requisitos à formação do leitor das Escrituras. Analisaremos sua proposta para a educação, pois, em virtude da sua difusão, tornara-se proposta educativa para a sociedade. Com a desagregação das instituições escolares, bem como das demais instituições do próprio Império Romano, a Igreja, com sua organização institucional torna-se articuladora da própria sociedade. Nesse trabalho educativo realizado nos mosteiros e pela Igreja, enquanto ensinava os povos transmitia-lhes a cultura greco-latina e preservava o conhecimento produzido na Antiguidade.

Santo Agostinho, um dos principais representantes da Igreja no período de transição da Antiguidade para a Idade Média, expõe seu pensamento acerca da difusão do cristianismo em uma perspectiva de professor de retórica.

Assim, nossa questão é pensar que o cristianismo foi difundido a partir das bases teóricas do conhecimento clássico produzido na Antiguidade. Ao entender que essa composição teórica se constituiu em base para as formulações das propostas de ensino cristãs, podemos inferir que o cristianismo levara consigo a cultura clássica. O próprio Agostinho utilizou o conhecimento de retórica para elaborar seus tratados e seus discursos. As interpretações das ilustrações pressupunham o conhecimento da natureza, dentre outros.

Nas Confissões, ao escrever sobre como aprendeu a falar, posteriormente a ler e a escrever, Santo Agostinho enuncia um princípio à educação das crianças, a saber, um princípio de ensino a partir de conteúdos cristãos. Para esse autor deveria ensinar as crianças por meio dos nomes que se encontravam nas Escrituras e por meio dos Salmos.

Cumpre ressaltar que o conhecimento de leitura e de escrita era considerado imprescindível por este autor àqueles que desejassem se tornar estudiosos das Escrituras.

Nesse sentido, a educação cristã contribuiu efetivamente na disseminação da leitura e da escrita e na difusão do conhecimento dos clássicos que, subsidiaram a formação intelectual e moral dos homens. A própria língua latina, os conhecimentos de escrita e de articulação de como se deveria organizar um discurso, além dos conhecimentos para se compreender as alegorias ou ilustrações utilizadas nas Escrituras foram preservados.

Esse acesso ao conhecimento de leitura e escrita não era a todos, no entanto, considera- se que por meio dos postulados desse autor, pela organização institucional da Igreja, bem como pela influência que ela exercia na sociedade, inclusive pela divulgação oral de sua mensagem, houve um procedimento educativo pelo qual, além de se preservar o conhecimento do Trivium e do Quadrivium, ou as sete artes liberais, como Nunes as

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denomina, formou no homem novos valores, as virtudes cristãs mediante uma cultura fundamentalmente helênica.

Durante a Idade Média, o ensino tornou-se quase o monopólio dos mosteiros. As crianças aí aprendiam a ler, a escrever e a entoar salmos. O saltério era o primeiro livro de leitura. Os nobres podiam dispensar aos filhos a instrução proporcionada por um clérigo. As escolas monásticas do Ocidente surgiram antes do ano 500, e atingiram o ápice da sua influência à volta do ano 1100. O ensino monástico abrangia a instrução elementar, as sete artes liberais e a Sagrada Escritura. Quanto à primeira, dela se incumbiam, também, as escolas paroquiais que se desenvolveram primeiro na Itália, desde que desapareceram as escolas leigas e se difundiram pela Gália e Espanha e depois através do Império Carolíngio. A escola paroquial foi o início da escola popular ou primária na Europa. (NUNES, 2001, p. 39)

Para pensar esta educação cristã para a formação daqueles que se preparavam para o sacerdócio levaremos em consideração dois aspectos. O primeiro é o fato de que nem todos os jovens que receberam a formação quiseram dedicar-se ao sacerdócio. Portanto, cabe ressaltar que aqueles não seguiriam o ofício de sacerdotes, participariam em outros setores da sociedade. Constituiriam suas famílias, enfim, se dedicariam a outras atividades que não as exclusivamente religiosas.

O segundo aspecto é de que no exercício do sacerdócio estes jovens cumpririam uma função de ensinar a outros e assim, contribuiriam para a organização de uma sociedade pautada em uma educação cristã. Pois esta educação recebida pelos sacerdotes não poderia ser deslocada do seu fundamento, ela fora gerada nos fundamentos do conhecimento clássico.

O cristianismo surgiu no mundo antigo e difundiu-se através do Império Romano.

Os cristãos educavam seus filhos de acordo com a tradição do próprio povo: judeu, grego, romano, etc. Na escola elementar por eles organizada, as crianças aprendiam a ler, a escrever e a cantar salmos. As primeiras escolas desse tipo teriam surgido na Síria, e o seu fundador teria sido Protógenes de Edessa, na segunda metade do 2º século da era cristã.

Os monges, por sua vez, desde cedo organizaram escolas elementares, e o berço dessas escolas monásticas foi o Egito, primeira pátria do monaquismo cristão. No fim do mundo antigo, os meninos cristãos freqüentavam as escolas do gramático e do retórico, mas aprendiam os primeiros elementos do saber, antes do curso de gramática, como atesta Santo Agostinho, no fim do século IV d.C. Diz ele nas Confissões (Livro I, 13). (NUNES, 2001, p. 38)

Conforme salienta Nunes, o cristianismo surgiu no mundo antigo, posteriormente as escolas monásticas foram organizadas pelos monges, com um funcionamento diferente da Antiga. Pois na antiga o ensino era realizado separadamente.

Queremos situar, segundo Marrou, que esta formação monástica que permeou a educação religiosa ocidental, na medida em que estabelecia uma certa erudição por parte dos monges, formou bispos que assumiram na Igreja em seus espaços episcopais a

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responsabilidade com a difusão da educação religiosa e do conhecimento. Bem como padres que assumiram as escolas paroquiais junto às suas paróquias.

[...] muitos entre os grandes bispos do Ocidente, monges por formação e por ideal, organizaram em torno ou junto à sede de seu episcopado comunidades monásticas:

lembremo-nos de Santo Eusébio em Verceil, Santo Agostinho em Hipona, São Martinho de Tours em Marmoutier...). (MARROU, 1975, p. 508)

Conforme Marrou cita, Santo Agostinho dedicou-se ao ensino, com esse ideal monástico.

Com as seguintes palavras, Agostinho dedica ao Senhor o conhecimento profano adquirido antes de sua conversão: “Senhor, “tu és o meu Rei e o meu Deus”! Que para o teu serviço se consagre tudo o que de útil eu aprendi em criança: para ti a minha capacidade de falar, escrever, ler e contar” (Agostinho, Confissões, Livro I, cap. 15). Ele os considera úteis tanto para a compreensão quanto para o trabalho de divulgação ou para o ensino.

Compreendendo, desse modo a importância do conhecimento como pré-requisito, Agostinho dedicar-se-á pessoalmente ao estudo das Escrituras, ao ensino, bem como ao preparo de outros para continuarem esse trabalho.

O ensino, de Santo Agostinho alcançava a sociedade por meio de seus sermões, os quais eram elaborados na técnica da retórica que dominava, além de didáticos, primavam pela beleza.

Entender essa articulação dos postulados agostinianos nos permite compreender o alcance das suas proposições. Ele aliou o conhecimento à mensagem cristã, tornando-se referência para outros padres e leigos que recorreriam às suas explicações nos sermões e livros escritos por Santo Agostinho para darem continuidade ao trabalho de difusão do cristianismo durante séculos na Idade Média.

Desse modo o pensador cristão Agostinho delineou a educação medieval, em virtude do seu trabalho de dedicação aos estudos, à produção escrita de seus sermões e dos tratados que escreveu, deixou seu legado à humanidade. Sua produção escrita permitiu que seus sermões fossem lidos em outras paróquias, seus livros foram estudados e sua doutrina fosse difundida.

Santo Agostinho transitava pelas questões teológicas, filosóficas, pedagógicas, entre outras. Inquieto com assuntos doutrinários, ou relativos ao aspecto subjetivo do ser humano, à fé, ao conhecimento, à alma, ao comportamento, ou sobre como conduzir o ensino não só no que diz respeito ao ensino da doutrina cristã, mas em âmbito mais amplo, numa abrangência de vários aspectos da vida do ser humano. Sobre inúmeros temas deixou sua impressão.

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Escreveu um tratado sobre a Trindade, argumentando que o Deus único subsiste em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Sua compreensão sobre a alma era marcada pela filosofia platônica, influenciada por Plotino. “Esse neoplatonismo difuso não merecia, de fato, reter tanto a atenção, se ele não fosse como o próprio solo em que nasceu a doutrina de santo Agostinho”(GILSON, 2001, p. 142).

Nos livros A Doutrina Cristã, em De Magistro, em A Instrução dos Catecúmenos:teoria e prática, dentre outras obras Santo Agostinho escreveu sobre como ensinar, delineando as ações pedagógicas de seus seguidores.

No excerto abaixo Agostinho demonstra sua inquietação quanto ao estudo das Escrituras quanto à divulgação da fé cristã em forma de oração, com se estivesse falando com Deus:

Quando conseguirei, com a linguagem da minha pena, descrever todas as exortações, todos os terrores, todas as consolações, todas as inspirações, das quais te serviste para levar-me a pregar a tua palavra e a dispensar ao povo os teus sacramentos? Mesmo que eu fosse capaz de tudo expor ordenadamente, cada gota de tempo me é preciosa. De longa data desejo ardentemente meditar a tua lei e confessar-te o meu conhecimento e a minha ignorância sobre o assunto, os primeiros raios da tua luz e o que resta em mim de trevas, até que a minha fraqueza seja absorvida pela tua força. Não quero gastar noutra coisa as horas livres que me sobrarem do necessário repouso do corpo, do trabalho intelectual e do serviço que devemos aos homens ou que, mesmo não devido, ainda assim prestamos.

(AGOSTINHO, 2004, p. 326

Destacamos, com esta passagem, a intensidade com que Agostinho se dedica ao trabalho intelectual no intuito de prestar serviço aos homens. Este é o objetivo de suas Confissões. Obra que expressa a preocupação com os indivíduos, pois ao relatar a condição de pecador, no entanto alcançado pela graça, entende que os leitores poderiam também, tornando-se cristãos se constituir em alvo da mesma graça de Deus.

Enfim, quando pensamos nas formas como Santo Agostinho ensinou pensamos também, no presente, nos cursos de formação de professores, os quais, além de instrumentalizar pelo conhecimento, contribuem com a reflexão sobre o ser humano e sua humanização no encaminhamento educativo escolar.

No período em que Santo Agostinho viveu e posteriormente, na Idade Média, a instrução no conhecimento e nas virtudes cristãs foram assumidas pelos teóricos da Igreja, seja nas escolas monacais, paroquiais, episcopais e nos próprios sermões realizados pelos padres nas Igrejas com o intuito de organizar a sociedade e estabelecer minimamente, condições de convívio.

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No presente, a instituição escolar tem grande responsabilidade na educação e humanização da sociedade. Tendo em vista a quantidade de tempo que as crianças permanecem nesses espaços de socialização, de acesso ao conhecimento historicamente produzido pelo homem, torna-se necessária uma formação teórica consolidada aos profissionais que atuam nas escolas. A fim de contribuir com uma formação humanizadora que viabilize as relações sociais, a produção de conhecimentos, bem como a reflexão, de modo que as novas gerações possam se pensar situadas no contexto histórico e social na qual está inserida.

Cabe, portanto, um convite à reflexão. Em que medida os cursos de formação de professores têm contribuído com a humanização das relações sociais e trabalhado para que haja a compreensão da subjetividade humana, assim como a compreensão da responsabilidade individual sobre as escolhas e os atos? Temos discussões formativas para que se encaminhem propostas pedagógicas preventivas de maneira que a situação de violência seja trabalhada contento?

Dentre as inquietações de Agostinho, ele esteve preocupado com a origem do mal. E procurou suas explicações para entender a livre vontade como a causa do mal que o indivíduo pratica. [...] “tinha a certeza de que, sempre que decidia querer ou não querer uma coisa, era eu e não outro que queria” (AGOSTINHO, 2004. P. 173).

Discutiu sobre este assunto, amplamente em seu livro O Livre-arbítrio. Uma vez conhecedor do bem, caberia ao homem escolher praticá-lo. Esse conceito analisado por Agostinho conferia ao indivíduo a responsabilidade sobre as decisões quanto aos atos que deveria ou não praticar. Nesse sentido, seu ensino torna-se relevante para a organização dessa sociedade que principiava a existir. Ele tomou para si a responsabilidade de educar, pois entendia ser necessário conhecer o bem para poder escolhê-lo.

Pela evidente responsabilidade daquele que ensina, consideramos pertinente destacar que Agostinho fora ensinado por Ambrósio, bispo conhecedor das Escrituras, o qual tinha o hábito de leitura. Segundo Agostinho seu mestre “alimentava a alma com leituras”.

Ao ler, corria os olhos pelas páginas: a mente penetrava o significado, enquanto a voz e a boca se calavam. Muitas vezes, ao entrarmos (pois a ninguém era proibido o ingresso nem precisava anunciar-se), o víamos lendo, sempre em silêncio (quem ousaria perturbar tão intensa concentração?) e depois nos afastávamos, pensando que, durante o pouco tempo que lhe restava para restabelecer a mente, livre de problemas alheios, não quisesse ser distraído por outras coisas. (AGOSTINHO, 2004, p. 142, 143)

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A concentração com que Ambrósio se dedicava à leitura, com certeza, se constituiu em exemplo a Agostinho. O prazer da leitura, a compreensão e o conhecimento que esta proporcionava, também nos levam a pensar que o exercício da leitura cultivado pelos padres da Igreja, pelos monges, nos mosteiros proporcionaram o não desaparecimento de uma cultura letrada. E, nesse sentido, a língua latina, bem como a própria cultura greco-romana fora preservada. Como Le Goff destaca:

A herança romana é muito mais rica. E a Europa Medieval saiu diretamente do Império Romano. A primeira herança capital é a língua, veículo de civilização. A Europa Medieval fala e escreve em latim, e quando o latim recuará diante das línguas vulgares após o século X, as línguas ditas romanas – espanhol, francês, italiano e português – perpetuarão esse patrimônio lingüístico. Todas as outras partes da Europa se beneficiarão, em grau menor, dessa cultura latina, particularmente na universidades, na igreja, na teologia, no vocabulário científico e filosófico. (LE GOFF, 2007, p.24)

Esta herança romana será legada especialmente pelo ensino realizado, tanto pelos padres nas escolas paroquiais e episcopais, quanto pelos monges, nos mosteiros. Constituído pelas disciplinas do Trivium e do Quadrivium, por aulas de canto dos Salmos, por períodos dedicados à leitura, além da disciplina própria dessas instituições que se tornaram em modelos de organização social.

Tendo em vista que as incursões dos nômades no território do Império Romano provocaram intensas transformações produzindo novas relações sociais, políticas, as organizações religiosas passaram a desempenhar um papel significativo na organização dessas

“novas” relações que se estabeleceram entre esses povos, os romanos e os nômades.

Ao evangelizar o povo ensinava-se a leitura, a escrita e novos padrões de comportamento que vieram contribuir com o estabelecimento da organização de um sociedade que principiava a se formar, com a orientação das virtudes que o cristianismo ensinava.

Para tratar da difusão das idéias pedagógicas de Santo Agostinho, ponderamos a influência desse autor. Boehner e Gilson citam Ehrle, para quem as proposições de Santo Agostinho são lançadas sobre fundamentos da filosofia e posteriormente será retomada pelos sucessores de Agostinho.

A história da filosofia cristã desconhece qualquer tentativa de demolir a totalidade daquilo que se construíra no passado, com o fim de erguer um edifício em bases inteiramente novas. Quase todos os pensadores cristãos levam em conta os seus predecessores imediatos, cuja obra procuram aprofundar e melhorar. E todos, sem exceção, reportam-se pelo menos a um ou outro antecessor, de quem se sentem devedores; Justino, por exemplo, descobre elementos cristãos na filosofia grega, e muitos “escolásticos” do século XVIII se apóiam em Agostinho e nos Padres da

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no período áureo da escolástica: conservam-se as fórmulas tradicionais, embora emprestando-se-lhes um sentido diverso do original, a fim de garantir o apoio das autoridades para as próprias opiniões. – Como se vê, a filosofia cristã remonta ininterruptamente ao tempo dos apóstolos. (l Ehrle, apud: BOEHNER; GILSON, 1970, p. 11)

Com essa perspectiva de levar em consideração o conhecimento das autoridades, Santo Agostinho faz suas proposições levando em consideração o arcabouço teórico antigo e também será referenciado pelos seus sucessores. Este autor marca de maneira significativa a produção teórica do período de transição da Antiguidade para a Idade Média e se tornará o referencial da nova sociedade. Buscando um viver coerente com sua fé e com sua produção intelectual será referência durante séculos na Idade Média, pois os teóricos desse período buscaram a fundamentação nos postulados agostinianos.

Portanto, ao pensarmos em Agostinho como teórico, percebemos a influência pedagógica e filosófica que ele exerceu, o vemos como um educador comprometido com o seu tempo e com a sociedade.

REFERÊNCIAS:

AGOSTINHO, SANTO. Confissões. Traduzido por Maria Luiza Jardim Amarante. 17. ed. São Paulo:

Paulus, 2004.

BOEHNER, Philotheus; GILSON, Étienne. História da Filosofia Cristã – Desde as origens até Nicolau de Cusa. Traduzido por Raimundo Vier. Petrópolis, RJ: Vozes, 1970.

GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média. Traduzido por Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Traduzido por Jaime A. Clasen. Petrópolis, RJ:

Vozes, 2007.

MARROU, Henri Irénée. História da Educação na Antigüidade. Traduzido por Mário Leônidas Casanova. São Paulo: EPU, Brasília: INL, 1975, 4ª reimpressão.

NUNES, Ruy Afonso da Costa. Evolução da Instituição Escolar. In: MENESES, João Gualberto de Carvalho; MARTELLI, Anita Fávaro. Estrutura e Funcionamento da Educação Básica: leituras.2. ed.

São Paulo: Pioneira Thomson Learning. 2001, p.36-58.

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