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Palavras Chaves: Educação Rural; Educação do Campo; Políticas Públicas

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Academic year: 2023

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A NEGAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NA BUSCA POR POLÍTICAS PÚBLICAS

Lucas Casimiro Soares Ferreira1 Matheus Casimiro Soares Ferreira2 Meubles Borges Júnior3 Vanessa Cristina Silva Neco4 Resumo: o presente trabalho busca evidenciar uma pesquisa textual/documental a respeito da Educação Rural e Educação do Campo. Para isso, busca-se analisar a “Educação no Campo” em seu processo histórico, destacando o ruralismo pedagógico como proposta educacional para o meio rural, como instrumento de manipulação do campesinato aos projetos hegemônicos. Pretende-se ainda, destacar a

“Educação do Campo” como projeto contrário ao modelo educacional da Educação Rural, que defende a autonomia saberes, culturas dos sujeitos do campo, enfatizando a sua importância na busca de políticas públicas.

Palavras Chaves: Educação Rural; Educação do Campo;

Políticas Públicas.

Abstract: the present work seeks to evidence a textual/documentary research regarding Rural Education and Education of Countryside. In order to do this, we seek to analyze "Education in the Countryside" in its historical process, highlighting pedagogical ruralism as an educational proposal for the rural environment, as an instrument of manipulation of the peasantry to hegemonic projects. It also aims to highlight

"Education of Countryside" as a project contrary to the educational model of Rural Education, which defends the autonomy of knowledge, cultures of the subjects of the field, highlighting its importance in the search for public policies.

Keywords: Rural Education; Education of Countryside; Public Policies.

1 Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia e bolsista do PET Ciências Naturais (Interdisciplinar Ciências Naturais/Ciências Humanas), do Campus III (Bacabal) da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-mail: lucascasimiro_@hotmail.com

2 Discente do Curso de Licenciatura em Educação do Campo/Ciências Agrárias e voluntário do programa de Educação Tutorial – PET, do Campus III (Bacabal) da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-mail: Matheuscasimiro1234_@hotmail.com

3 Professor do Curso de Licenciatura em Educação do Campo e Tutor do PET Ciências Naturais (Interdisciplinar Ciências Naturais/Ciências Humanas) do Campus III (Bacabal) da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-mail: Meublesbjr@gmail.com

4 Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia do campus III (Bacabal) da

Universidade Federal do Maranhão. E-mail: vanessaneco40@gmail.com

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1 INTRODUÇÃO

A colonização do território brasileiro, se dá exclusivamente no meio rural, influenciada fortemente por concepções societárias dos povos Europeus. Valida-se, dessa forma, uma cultura em detrimento das demais. A propagação dessas concepções é fonte de vários preconceitos na estrutura societária brasileira.

A diferenciação entre cidade e campo e a valoração atribuída à primeira em relação à segunda, gerando vários estigmas sociais aos povos camponeses, tem seus resquícios e fundamentos no processo de colonização ocorrido no Brasil no século XVI.

Até a década de 1980, a maior parte da população brasileira morava no campo, entretanto, poucos são os registros de educação no meio rural. Quando aparece no cenário nacional, teve o objetivo de potencializar projetos de “desenvolvimento” no campo. O ano 1934 marca a primeira menção sobre a educação no meio rural no ordenamento jurídico.

Em 1950, algumas ações mais concretas foram destinadas ao meio rural, principalmente no que se refere à alfabetização. Cavalcante (2011) destaca que a partir de 1960, vários movimentos em defesa de uma educação de base, bem como, os de educação e cultura popular, se fizeram presente no campo. No entanto, com o início da ditadura militar de 1964, muitos desses movimentos em prol de uma educação popular foram interrompidos

.

A partir desse entendimento e, tomando como referência a Educação do Campo, pode-se desvelar que nas constituições Federais e Leis educacionais brasileiras houve, ao longo do tempo, a negação do direito à educação aos povos especificamente do campo ou que integram a zona rural, negação esta legitimada, institucionalizada e sancionada, exceção feita à constituição Federal de 1988 (ROCHA, 2011, P 63).

O movimento em defesa da Educação do Campo surge nas ultimas décadas do século XX, objetivando romper com a histórica negação de direitos aos povos camponeses.

Ou seja, um movimento politico, social, em defesa de uma sociedade fundada em princípios de igualdade.

Tendo os povos do campo sofrido esta negação histórica de acesso ao direito a educação, esse artigo, constitui-se como uma abordagem histórica conceitual, utilizando de análise de referenciais teóricos na investigação da educação no e do campo. Desta forma, tem-se como objetivo, realizar uma abordagem teórica conceitual, realçando a Educação Rural como mecanismo de subordinação e desvalorização dos povos camponeses, apresentando a Educação do Campo, como mecanismo de ruptura com o histórico tradicionalismo educacional das escolas Rurais.

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2 A EDUCAÇÃO DO CAMPO NA CONTRAMÃO DA HISTORICA EDUCAÇÃO RURAL

Na história da educação brasileira, poucos são os registros de educação nos territórios camponeses, apesar da maior parte da população brasileira sendo do meio rural até a década de 1980. “Até o início do século XX, a maioria das ações realizadas no meio rural, no campo da educação, tiveram sempre o objetivo de retirar os camponeses de seus territórios, fazendo com que migrassem para os perímetros urbanos [...]” (FERREIRA, 2016, p, 02).

O meio rural brasileiro, a muito tempo vem sofrendo com descaso das oligarquias rurais, de governantes e das constantes ameaças impostas pelo sistema capitalista de produção. A negação do direito a educação aos povos do campo é apenas uma das inúmeras marginalizações que estes sujeitos vem sofrendo ao logo da história brasileira. Isso por que,

[...] A educação brasileira se desenvolveu de forma alheia à realidade rural e agrícola do Brasil. Assim, a educação do meio rural foi silenciada por mais de quatro séculos e quando aparece no ordenamento jurídico brasileiro se vincula a uma concepção salvacionista ou compensatória da educação, voltada aos interesses da elite e não como um instrumento de emancipação dos camponeses (CAVALCANTE, 2011, p 01-02). Grifo da autora.

A educação ofertada aos camponeses nas primeiras décadas do século XX, visava apenas à alfabetização, direcionando os camponeses a aceitação dos projetos e ideologias defendidas para o meio rural pelas oligarquias e patronatos agrícolas. Desta forma, algumas iniciativas de educação no meio rural

[...] como [d] os Patronatos agrícolas, as Escolas de aprendizado agrícola dos pés- descalços, ente outras, revelam uma concepção de educação dos camponeses restrita à alfabetização e ao ensino agrícola, visando a formar mão de obra e mentes ajustadas à necessidade do modelo de desenvolvimento agrário e industrial da época (CAVALCANTE, 2011, P 02).

Contrariando o modelo de educação camponesa restrita à alfabetização e ao ensino agrícola Cavalcante (2011), destaca a educação como prática de liberdade, vinculada as práticas sociais, visando à contribuição nos processos de transformação social.

Neste sentido, a educação deve tornar os sujeitos do processo educativo construtores de sua própria história; sujeitos autônomos capazes de lutar por novos direitos, pela efetivação no plano real dos direitos constitucionais através de políticas públicas.

A educação rural a partir dos anos de 1930 (que ficou conhecido como

“ruralismo pedagógico”) defendia uma pedagogia que objetivava frear o processo de migração campo/cidade, pretendendo fixar os homens do campo, no campo. Essa estratégia tinha como finalidade transformar o meio rural (grosseiro, atrasado e etc.) em algo agradável

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para os povos civilizados da cidade. Além disso, Bezerra Neto (2016) atesta que o ruralismo pedagógico, estava fundado em um nacionalismo pensado para o país por meio da fixação tanto do professor como do aluno no meio rural. Caracteriza-se como uma proposta educacional hierarquizada, pensada e imposta aos povos do campo como salvadora dos problemas que historicamente os territórios camponeses têm passado. Desta forma,

O ruralismo pedagógico surge com a intenção de assinalar a educação rural com uma concepção pragmática e utilitária, enviesada por um projeto de nação nascido num contexto histórico, político e social paternalista, coronelista e dos grandes latifúndios, que enxergava o homem rural como um ser inferior (RAMAL, 2006, p 20).

O ruralismo pedagógico constitui-se como uma pedagogia que visa apenas a inculcação de conteúdos. Na perspectiva de Paulo Freire (2011) esse modelo está fundado no autoritarismo e funciona como uma educação bancária, pois trata os sujeitos como vasilhas que devem ser cheias por conteúdos, fugindo totalmente de uma educação fundada em princípios humanistas.

É importante notar, que na história brasileira, a educação em grande parte, com algumas exceções, esteve atrelada ao modelo de sociedade defendido pela classe hegemônica, contribuindo na propagação de ideias e servindo de instrumento de fortalecimento dos meios de produção da época. Assim sendo,

Compreendida no interior das relações sociais de produção capitalista, a escola, tanto urbana quanto rural, tem suas finalidades, programas, conteúdos e métodos definidos pelo setor industrial, pelas demandas de formação para o trabalho neste setor, bem como pelas linguagens e costumes a ele ligados (RIBEIRO, 2012, p 294).

O modelo de educação ruralista (ruralismo pedagógico) das primeiras décadas do século XX tem seus objetivos e metas fundados num projeto nacionalista, defendido para o país no período em questão, e não à atribuição de uma educação adequada e de qualidade para os povos do campo. O modelo do ruralismo pedagógico

[...] pode ser caracterizado como uma tendência de pensamento articulada por alguns intelectuais que, no período em questão, formularam ideias que já vinham sendo discutidas desde a década de vinte e que, resumidamente, consistiam em defesa de uma escola adaptada e sempre referida aos interesses econômicos das classes e de grupos capitalistas rurais ou com interesses de grupos, principalmente políticos interessados na questão urbana... (PRADO, 1995, apud RAMAL, 2006, p 56).

A educação rural tem visado apenas diminuir as altas taxas de analfabetismo no Brasil (reflexo do descaso histórico pelo qual o campo tem passado). Isso porque, a ideia do camponês não precisar de educação de qualidade; qualquer coisa servindo, pois para trabalhar com enxada não precisa ler nem escrever, vem historicamente sendo disseminado tanto na cidade como no campo. Dessa forma, a escola rural longe de valorizar a cultura camponesa, renega os saberes tradicionais, propagando a civilidade citadina; ao mesmo

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tempo, põe a vida do campo como atrasada, pobre, sem perspectiva de melhora. Isso, porque o modelo de escola rural tem servido e funcionado como

[...] um instrumento formador tanto de uma mão de obra disciplinada para o trabalho assalariado rural quanto de consumidores dos produtos agropecuários gerados pelo modelo agrícola importado. Para isso, haveria a necessidade de anular os saberes acumulados pela experiência sobre o trabalho com a terra, como o conhecimento dos solos, das sementes, dos adubos orgânicos e dos defensivos agrícolas (RIBEIRO, 2012, p 296).

A educação rural, neste sentido, pode ser entendida também como um instrumento de difusão da pedagogia do capital5, pois, visa à adequação dos sujeitos sociais aos projetos e ideais políticos da classe hegemônica. Nesse sentido, Martins e Neves (2012, p 544) destacam que “a subordinação da educação escolar aos interesses das classes dominantes e dirigentes transforma a escola brasileira atual em sujeito político estratégico na formação de intelectuais da nova pedagogia da hegemonia” e da manutenção de trabalhadores (servos) úteis ao negócio capitalista.

3. A EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA E HUMANISTA

Dentre as várias estratégias que vem sendo utilizada pela pedagogia da hegemonia, no consentimento de projetos de reprodução e expansão do modelo de produção capitalista, nas sociedades contemporâneas, a dominação pelo convencimento tem sido um elemento grandioso. Onde os sujeitos

Mesmo sentindo os efeitos da exploração de classe em seu cotidiano, os dominados passam a acreditar que sua condição de vida/trabalho é imutável, ou que pode ser mudada exclusivamente pelo esforço pessoal e/ ou pela „humanização‟ do capitalismo (MARTINS e NEVES, 2012, p 539).

Conforme Oliveira e Campos (2012) a educação rural (ao contrário da Educação do Campo) sempre esteve vinculada aos organismos oficiais. Essa educação teve como objetivo, a escolarização como instrumento de adaptação dos sujeitos do campo, aos setores produtivos e da valorização de um mundo urbano, contribuindo com o fenômeno do êxodo rural, inserindo os sujeitos do campo na lógica mercantil, de servidão do sistema capitalista de produção; como alternativa para uma vida de qualidade. Tendo, portanto, um caráter “colonizador”.

5 Por pedagogia do capital, entendemos as estratégias de dominação de classe utilizadas pela burguesia a fim de obter o consentimento do conjunto da população para o seu projeto político nas diferentes formações sociais concretas ao longo do desenvolvimento do capitalismo monopolista (capitalismo nos séculos XX e XXI). A estas estratégias de educação política denominamos pedagogia da hegemonia (MARTINS e NEVES, 2012, p 538-539).

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A educação, assim como outros direitos essências a vida, por muito tempo foi direito de poucos. O seu reconhecimento como um direito de todos independentemente das classes e condições dos sujeitos é resultado de muitas lutas e conflitos. No entanto, a mera institucionalização da educação como direito de todos, não a torna concreta. Desta forma, a luta dos movimentos sociais camponeses, indígenas, caiçaras e etc., na busca de políticas públicas que possam efetivar no plano real os direitos institucionais, são de grande importância para a consolidação de uma vida digna em sua plenitude.

Lutar por educação, significa buscar a efetivação de outros direitos essenciais à vida, seja na cidade ou no campo. A educação escolar é um meio e fundamento constitutivo da formação das pessoas, podendo auxiliar no acesso a outros direitos (saúde, alimentação saudável, infraestrutura e etc.), por isso, “também é chamada um direito de síntese, por que ao mesmo tempo que é um fim em se mesma, ela possibilita e potencializa a garantia de outros direitos, tanto no sentido de exigi-los quanto no de desfruta-los” (HADDAD, 2012, p 216).

A luta dos movimentos sociais camponeses, indígenas, sertanejos, quebradeiras de coco babaçu, MST, dentre outros que vem travando grandes lutas no plano nacional em busca de reconhecimento e da aplicabilidade dos direitos constitucionais no plano real, tem sido de soberana importância na defesa de um projeto de vida alternativo ao capitalismo.

Isso por que,

A democracia é a única forma política que considera o conflito legal e legítimo [...].

Significa que os cidadãos são sujeitos de direitos, e que onde eles não estejam garantidos, tem-se o dever de lutar por eles e exigi-los [...] A mera declaração do direito à igualde não faz existir os iguais, mas abre o campo para a criação da igualdade através das exigências e demandas dos sujeitos sociais (Chauí, 2003, apud MOLINA, 2012, p 590).

A luta pela Educação do Campo não é isolada e com fins restritos ao campo educacional, ela está vinculada a luta pela terra, por saneamento básico, saúde, igualdade entre homens e mulheres e várias outras questões de grande importância para uma vida de qualidade, seja na cidade ou no campo6. No projeto de sociedade defendido pela Educação do Campo, “campo” e “cidade” são vistos como territórios que se completam.

A Educação do Campo nasceu como mobilização/pressão de movimentos sociais por uma política educacional para comunidades camponesas: nasceu da combinação das lutas dos sem-terra pela implantação de escolas públicas nas áreas de reforma agrária com as lutas de resistência de inúmeras organizações e

6 A concepção de Educação do Campo, em substituição à Educação Rural, entende campo e cidade enquanto duas partes de uma única sociedade, que dependem uma da outra e não podem ser tratadas de forma desigual. [...] não basta, por exemplo, trabalhar uma perspectiva de crítica e de emancipação na educação dos povos indígenas, se no espaço urbano continuarmos a difundir conceitos falsos, visões distorcidas ou preconceitos acerca dos povos indígenas (CALVALCANTE e ROCHA, 2011, p 04).

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comunidades camponesas para não perder suas escolas, suas experiências de educação, suas comunidades, seu território, sua identidade (CALDART, 2008, p 71).

A Educação do Campo é um conceito relativamente novo que nasce das demandas, necessidades e experiências dos povos do campo, e é, um projeto contrário ao apresentado pela classe hegemônica. Ou seja, um projeto educacional contrário à histórica educação rural, que tem a prescrição como “um dos elementos básicos na mediação opressor-oprimidos [...]” (FREIRE, 2011, p 46). Assim, esse projeto respeita e leva em consideração os saberes tradicionais, tendo o pluralismo como um dos princípios. Pois “os sujeitos do campo são diversos e essa diversidade precisa ser incorporada em nossa reflexão político-pedagógica” (CALDART, 2008, p 84). Vai de encontro com as propostas educacionais defendidas por Paulo Freire em seu livro “Pedagogia do Oprimido”, como educação emancipatória e humanista, que visa a libertação dos oprimidos para a constituição de uma sociedade mais igualitária. Uma educação pensada com e para o povo do meio rural, visando tornar homens e mulheres do campo, conhecedores das contradições que estão postas, que são e podem ser construtores dos seus próprios destinos e não apenas simples reprodutores dos interesses alheios. Tendo essas propostas, a Educação do Campo tem grande importância, pois

A realidade social, objetiva, que não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens, também não se transforma por acaso. Se os homens são produtores desta realidade e se esta, na „inversão da práxis‟, se volta sobre eles e os condiciona, transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa dos homens (FREIRE, 2011, p 51).

Ao nascer lutando por direitos coletivos, rompe com o individualismo e com a lógica da disputa do sistema capitalista de produção, disseminado por muitas escolas rurais.

Por isso, surge afirmando que não é qualquer política pública, pois, nasce do povo e pensada a partir de suas necessidades, objetivando romper com o estado de opressão instalado e propagado historicamente. Neste sentido, uma das demandas da Educação do Campo é implantação de um sistema de ensino em que o debate pedagógico seja construído, tendo como fundamento a sua realidade, das “relações sociais concretas, de vida acontecendo em sua necessária complexidade” (CALDART, 2008, p 72).

Caldart (2009) atesta que a Educação do Campo, luta contra o modelo tradicional de educação, que tem a escola como centro de todo o processo de ensino- aprendizagem. Neste sentido, a Educação do Campo vai ao encontro com o pensamento de Mészáros (2008) ao defender que a educação deva sair das estruturas escolares e percorre as ruas e comunidades e etc. Assim sendo, a Educação do Campo tem o processo educativo

[...] como uma prática de liberdade, vinculado organicamente à dinâmica social e que deve contribuir com os processos de transformações sociais, com vista à justiça

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e à humanização da sociedade. Enfim, uma educação que possibilite uma intervenção consciente do individuo no processo histórico, o que implica a defesa do vínculo orgânico entre processos educativos, processos políticos, econômicos e culturais (CAVALCANTE, 2011, p 13).

A dificuldade de concretização dos projetos defendidos pela Educação do Campo está no fato dela tencionar e propor um modelo de sociedade com bases na igualdade econômica, social, política, cultural, contrário ao modelo e interesses da classe dominante, que tem o Estado “ajustador” 7 como defensor dos seus interesses. Esse modelo tem a exploração e as desigualdades como princípios fundamentais na perpetuação do sistema. Isso porque, o modelo de produção atual utiliza a escola com dois propósitos:

Por um lado, é um corredor que leva a produção ou ao desemprego e, consequentemente, a exploração da força de trabalho. Por outro lado, uma minoria de indivíduos passa por um longo período de escolarização, preparando-se para exercer a função de dono dos meios de produção, ou para assumir postos de trabalho confiados somente a alguns privilegiados (ROCHA, 2011, p 48).

O modelo de educação defendido pelo sistema capitalista propaga a sua ideologia, de modo a levar homens e mulheres a pretender sair do estado de pobreza e opressão para se tornarem novos opressores, dando continuidade as inúmeras desigualdades sociais. É uma educação direcionada em vários aspectos a manutenção dos interesses da burguesia mundial. “Portanto, nessa lógica de desenvolvimento, o campo não é visto como espaço de vida, de cultura, de produção do saber, mas como espaço de produção de mercadorias, onde impera a lógica do mercado” (CAVALCANTE, 2011, p 02). E por isso, não tem sentido a criação de políticas públicas para atender os povos do campo ao sistema capitalista; que visa um espaço sem gente para a expansão do mercado.

Ao contrário do modelo referenciado acima, a Educação do Campo, trabalha na busca da superação da valida contradição entre opressor-oprimidos, que não significa segundo Freire (2011) a troca de lugar entre opressores de hoje em oprimidos de amanhã, mas na construção de uma sociedade fundada em princípios socialista.

4 A EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO PROJETO POLÍTICO-SOCIAL

Cavalcante (2011) destaca que a Educação do Campo vem se consolidando como um projeto político-social, em defesa da soberania e independência do país, atrelado

7 O Estado ajustador segundo Molina (2012) age no sentido de promover os ajustes e mudanças necessárias pela reconfiguração da lógica de acumulação do capital. Ao mesmo tempo em que promove os ajustes necessários que favoreçam o acumulo do capital, “vai progressivamente isentando-se do seu papel de garantidor de direitos [...]” (MOLINA, 2012, p 588).

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a um projeto de desenvolvimento que tem a educação como um dos elementos necessários à transformação social.

A educação do campo projetada nesse processo coloca-se, então, como contraponto à existência de uma escola qualificada como „rural‟. Historicamente, a escola rural tem-se prestado a disseminar a civilidade e os valores relacionados ao trabalho e à vida urbanos, anulando, desta forma, os sujeitos que trabalham e vivem no campo, ou seja, os agricultores enquanto produtores de matérias primas, de conhecimentos, linguagens, culturas e artes, (RIBEIRO, 2011, p 25).

A Educação do Campo visa à efetivação de um modelo educacional com caráter emancipador. E por isso, também “assume a dimensão de pressão coletiva por políticas públicas mais abrangentes ou mesmo de embate entre diferentes lógicas de formulações e de implementação da política educacional brasileira” (CALDART, 2012, p 261).

Molina (2012) destaca a importância da luta por políticas públicas no domínio da Educação do Campo, com base na luta histórica dos movimentos sociais em prol da institucionalização e das constantes possibilidades de reversão dos direitos humanos, no atual processo histórico. Isso porque, os momentos atuais estão permeados de grandes desconstruções de direitos, resultante da lógica de produção e acumulação de riqueza, nessa nova fase da mundialização do capital.

O movimento em defesa do projeto de Educação do Campo incorpora-se, a um movimento maior de homens e mulheres que não reconhecem esse modelo de sociedade do capital, que vê tudo como mercadoria, que tem seus fundamentos em sociedades hierarquizadas, marcada por profundas desigualdades sociais. “[...] Portanto não se trata de lutar por um direito, a educação, a terra, de forma isolada; trata-se de disputas de projetos político-ideológicos, filosóficos e culturais diametralmente opostos, sem sua essência, de luta de classes” (ROCHA, 2011, p 71).

Para Caldart (2012) a lógica do modelo hegemônico, é a “educação no campo”

que deve ser retomada em discursão na agenda do Estado e não a “Educação do Campo”.

Ou seja, o modelo dominante, mira uma escola que contribuía com o processo de expansão do capital no campo, ofertando mão de obra barata e adequada aos fins de modernização especifico dos “projetos de desenvolvimento”. “Neste sentido, a educação rural liga-se ao campo do agronegócio – agro-negócio, expropriando o trabalhador rural de seus direitos, expulsando-o da terra para a marginalização” (ROCHA, 2011, p 75).

A Educação do Campo, como já referenciado anteriormente, visa à construção de uma sociedade igualitária, tendo a educação como um segmento de grande importância na concretização dessas ideias. Para isso, luta para romper com um modelo de educação pragmático que em nada contribui nem respeita os sujeitos do processo educativo; que serve ao modelo de produção alheio a realidade dos territórios camponeses. Desta forma,

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luta por uma educação que tenha: “disponibilidade, acessibilidade material e acessibilidade econômica, aceitabilidade e adaptabilidade [...]” (HADDAD, 2012, p 217).

O movimento em defesa da Educação do Campo constitui-se como um projeto de retomada dos territórios pelos povos camponeses, reivindicando a intervenção do Estado no processo de concretização dos direitos constitucionais por meio de políticas públicas.

Luta, simplesmente por algo que é direito de todos; não luta por privilégios, mas pelo contrário, pela concretização de direitos que o Estado brasileiro comprometeu-se ofertar.

5 CONCLUSÃO

Diante da histórica negação de direitos aos povos do campo, a Educação Rural constitui-se como um instrumento de propagação dos estigmas sociais atribuídos aos sujeitos do campo, tendo um caráter colonizador, e uma estrutura hierarquizada. Constitui- se como uma educação a serviço da máquina do capital, uma educação pensada e praticada por atores externos aos territórios dos povos camponeses.

A Educação do Campo surge e apresenta-se como projeto alternativo ao até então defendido pela classe hegemônica, propagado pela Educação Rural. Busca a soberania e autonomia aos povos do campo, tornando-os conhecedores das contradições que foram lançados historicamente, que são e podem ser capazes de construir um modo de vida adequado as suas realidades. Luta pela construção de uma sociedade que respeite homens e mulheres, independentemente das condições e opções tomadas. Nesse sentido, a Educação do Campo é um elemento de grande importância na conscientização dos sujeitos do campo, na luta por e pela efetivação de direitos por meio de políticas públicas, negadas historicamente.

O acesso à educação de qualidade possibilitará aos povos do campo a compreensão das contradições a que são lançados, pelos projetos de desenvolvimentos defendidos pelo Estado e por empresas privadas, como solução dos problemas no meio rural. Essa compreensão constitui um grande passo na defesa de territórios, saberes e culturas, na luta pela efetivação de políticas públicas que concretizem os direitos humanos negados ao longo da história brasileira aos povos do campo.

REFERÊNCIAS

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