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PATERNIDADE PARA A EQUIDADE DE GÊNERO

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Academic year: 2023

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No entanto, mostra-se que essa medida reforça a divisão social de gênero, atribuindo apenas à mulher a tarefa de criação e responsabilidade pelos filhos, mesmo aqueles que trabalham no espaço público. Desta forma, no espaço público, o homem com todas as suas qualidades de força e masculinidade, participa da vida ativa, pautado pelo direito à liberdade e igualdade, enquanto o confinamento da mulher no espaço privado é pautado pelo signo da opressão e violência, portanto, sem liberdade e menos ainda com igualdade. Dito isso, o trabalho da mãe no espaço privado, que sempre foi tratado como trabalho inferior, torna-se ainda mais invisível e sem valor, mesmo sendo essencial para o desenvolvimento e manutenção do sistema capitalista, enquanto o trabalho no espaço público, que se torna parte da realidade feminina, dá a ilusão de igualdade.

É um paradoxo da vida feminina em que ela sempre teve o papel de mãe, todo o trabalho feito no espaço privado e o acumula com o papel que ela desempenha no mercado de trabalho e no Estado, para proteger a maternidade, a tutela dos esse. questão de dar às mulheres o direito à licença de maternidade. A existência da licença de maternidade tem, sem dúvida, contribuído para a independência da mulher, de forma a preservar a sua posição no trabalho e garantir a constituição de uma família, habilitando-a a atuar no espaço público na medida do seu interesse, mas também permitindo-lhe elas são mães. Assim, a ordem social divide o trabalho que pertence aos homens e o trabalho que pertence às mulheres, enfatizando a superioridade dos homens sobre as mulheres por justificativa biológica, reforçando a opressão masculina que sempre manteve as mulheres no espaço privado (BOURDIEU, 2009, p. .20) .

Assim, enquanto havia valorização do trabalho remunerado, o outro tipo de trabalho, que era exercido principalmente por mulheres no espaço privado, era obscurecido, perpetuando assim a desigualdade entre homens e mulheres (FRASER, 2009, p. 16). Enquanto o trabalho dos homens é valorizado, o trabalho das mulheres, tanto no âmbito público quanto no privado, é obscurecido e, consequentemente, desvalorizado, havendo superabundância de tarefas atribuídas às mulheres. Nesse sentido, o primeiro problema a ser levado em consideração é que as mulheres realizam trabalhos ocultos no espaço privado e esse trabalho é fundamental para garantir a manutenção do sistema capitalista.

Dessa forma, a mulher é obrigada a permanecer no espaço privado, que é um espaço sem visibilidade e relevância social, pautado na desigualdade e na verticalidade, espaço, portanto, de violência.

2 O PAPEL DA MULHER

Badinter (1985, p. 95) ainda fala da recusa em amamentar como uma forma de negação da maternidade por mulheres que não queriam perder a vida social ou a posição na corte. A maternidade era assim vulgarizada e desprovida de nobreza, sendo as mulheres reservadas apenas para esse papel social. Entretanto, começaram a querer libertar-se do papel de mãe, que as definia e à sociedade e elas próprias desprezavam completamente este papel decisivo.

Consequentemente, há uma redefinição radical do papel da mãe, algo que pode ser datado do último terço do século XVIII (BADINTER, 1985, p. 145). É o início da formulação do amor materno como instintivo e natural para as mulheres e a ideia do prazer da mulher na maternidade. Enquanto o cuidado dos filhos era atribuído à mulher, o homem perdia importância na formação e participação da família a ponto de o ordenamento jurídico renunciar à sua presença com uma irrisória licença paternidade.

Nesse sentido, o Estado amplia a ideia de amor materno e o reproduz, pois a criança é uma potencial força produtiva e a alta mortalidade infantil era um grande obstáculo para atingir esse objetivo (BADINTER, 1985, p. Por outro lado, responsáveis os homens querem que as mulheres desempenhem um papel mais importante na família, e principalmente com os filhos (BADINTER, 1985, p. Soma-se a isso o discurso sobre a importância da maternidade para a criação e construção da sociedade, destinada às mulheres, criando assim o papel da mãe baseado no amor, conforme Badinter (1985, p. 202).

Para as mulheres, a adoção desse papel materno como principal foi claramente benéfico em dois sentidos: elas poderiam ter autoridade sobre os bens materiais da casa e seriam o eixo da família, “[..] responsáveis ​​pela casa, por seus bens e suas almas, a mãe do mundo, 'a rainha do lar'” (BADINTER, 1985, p. 222). Não obstante, as relações conjugais tornam-se mais harmoniosas e a mulher torna-se a "rainha do lar" (BADINTER, 1985, p. 222). Conciliar esses dois papéis torna-se algo complexo e algo que a legislação tentou resolver ao reservar o direito da mulher à licença-maternidade.

O ritmo da maternidade é instável, mas a tarefa familiar ainda está intrinsecamente ligada à mulher como algo instintivo. Nesse sentido, em sociedades que ainda permanecem muito sob a estrutura patriarcal, o papel de mãe absorve toda a identidade feminina e essas mulheres, então, acabam adiando ou negando a maternidade, levando a baixas taxas de natalidade (BADINTER, 2011, p. Nota-se que o papel de mãe pesa e paira tanto sobre a mulher que a idealização da mãe perfeita, como estabelecida socialmente e difundida até pelas instituições e, portanto, pela ordem social, afeta diretamente a queda da natalidade, como um ideal inatingível.

Em caso de aborto espontâneo ou aborto legal, são reservados 14 dias de licença para a mulher (BRASIL, 2017). Diante disso, a diferenciação positiva na lei apenas reforça a segregação de funções dividida pelo critério sexual (BOURDIEU, 2009, p. 20) a fim de acorrentar a mulher ao seu papel social de mãe, sem possibilidade de redefinição em maternidade em si, mas também dentro de sua própria família (BADINTER, 1985, p. 100). Por exemplo, a violência de gênero não recai apenas sobre a mulher que é atendida.

Excluídas do universo das coisas sérias, dos negócios públicos e sobretudo dos negócios económicos, as mulheres estiveram durante muito tempo confinadas ao universo doméstico e às atividades ligadas à reprodução biológica e social da prole; atividades (principalmente maternas) que, mesmo quando aparentemente reconhecidas e às vezes celebradas ritualmente, são de fato apenas na medida em que permanecem subordinadas às atividades produtivas as únicas que recebem uma genuína sanção econômica e social, e organizadas em relação a os interesses materiais e simbólicos da linhagem, ou seja, dos homens (BOURDIEU, 2009, p. 116). Ambas as formas de violência, tanto contra mulheres quanto contra homens, devem ser percebidas e combatidas para que toda a sociedade seja livre e conviva pacificamente em plena democracia. Porém, do ponto de vista biológico, Simone de Beauvoir acredita que ambos são essenciais para a criação dessa vida de forma igualitária, não havendo, portanto, justificativa para que essa função seja reservada apenas às mulheres.

Isso mostra que a mudança legislativa não é uma medida efetiva se for a única a equilibrar as relações de gênero em termos de divisão de tarefas no espaço doméstico. A proporção epidêmica da violência contra a mulher é entendida em termos de sua tolerância social. Isso fortalece o entendimento, defendido por diversos teóricos brasileiros, de que o machismo e o racismo – evidenciado pela maior violência contra mulheres pretas e pardas nesses indicadores – são elementos estruturantes das relações sociais no Brasil (SILVA GREGOLI; RIBEIRO; 2017, p.7 ). ).

Refira-se que a legislação que confirma a igualdade de direitos à licença de paternidade e de maternidade é de extrema importância para demonstrar a vontade do país de equilibrar as relações de género, o que contribui para a igualdade, embora não possa ser a única medida. Isso porque, ao equiparar a licença-maternidade à licença-paternidade, o legislador alocaria o cuidado dos filhos igualmente a ambos os sexos. No entanto, nenhuma autoridade estatal pode controlar as relações privadas e obrigar esses homens a serem pais responsáveis.

Já Badinter (2011, p. 35) afirma que a generosa licença paternidade não é suficiente para que esses homens se dediquem à tarefa de cuidar dos filhos e arrumar a casa. Como pensa Bourdieu (2009, p. 139), todos os fatores que influenciam a questão devem ser levados em consideração, e o direito é apenas um deles. Portanto, a mudança temporal da licença paternidade com a equiparação da licença maternidade é uma das propostas para equilibrar as relações desiguais entre os sexos.

CONCLUSÃO

Após consideração, homens e mulheres são igualmente responsáveis ​​pela criação da vida, portanto, devem ser igualmente responsáveis ​​por ela, mesmo após o parto. Atribuir exclusivamente o cuidado dos filhos à mulher é muito difícil, pois limita as opções que essa mulher poderia ter, pois ela mesma será responsável por todos os possíveis acontecimentos com os filhos, o que resulta em uma baixa taxa de natalidade. Além disso, o homem é privado da presença em sua família, que constrói ao lado da mulher, pois seu trabalho é explorado mesmo quando acaba de ser pai.

A violência de gênero insere-se nos dois polos da estrutura analisada e a mudança temporal positiva na licença maternidade e paternidade, evidenciando assim a necessidade imediata de mudança. Como a violência de gênero está enraizada na ordem social estrutural brasileira, uma mudança legislativa não seria suficiente para acabar com a violência de gênero. Acreditar nisso seria uma utopia, porém, a mudança daria a dimensão de que lado caem as inspirações do governo e, a partir disso, novas políticas públicas de acompanhamento seriam possíveis para promover a igualdade de gênero e a harmonização das relações conjugais, dado o família um novo molde, ou seja, um espaço de igualdade onde reinam o amor, a segurança e a parceria.

Dispõe sobre regimes de segurança social e outras medidas.

Referências

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