• Nenhum resultado encontrado

PDF CICATRIZES DA DOR: RESUMO - Universidade Federal do Maranhão

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "PDF CICATRIZES DA DOR: RESUMO - Universidade Federal do Maranhão"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

CICATRIZES DA DOR: as consequências da violência doméstica na saúde física da mulher Maria Carolina Castelo Branco Cidreira*

RESUMO: Estudo sobre a violência doméstica, realizando uma problematização acerca da implementação da Lei Maria da Penha, apresentando os seus avanços e desafios ainda presentes na conjuntura. Discute-se a desigualdade de gênero, realizando uma conexão com próprio conceito de violência doméstica, além de pontuar-se os tipos de violência, e as consequências dessa violência na saúde física da mulher. Também pontua-se o exercício profissional do assistente social no atendimento a casos de violência doméstica contra mulher.

Palavras-chaves: Violência doméstica. Gênero. Assistente Social.

ABSTRACT: Study on domestic violence, addressing the implementation of the Maria da Penha Law, presenting its advances and challenges still in the conjuncture.

Discussing gender inequality, making a connection with a concept of domestic violence, as well as punctuating the types of violence, and the consequences of such violence on the physical health of women. In addition, the professional work of the social worker in the attendance to cases of domestic violence against the woman is punctuated.

Keywords: Domestic violence. Genre. Social Worker.

1. INTRODUÇÃO

A violência doméstica é um drama vivido por diversas mulheres em nível mundial, e também nacional. O presente trabalho visa a problematização acerca da categoria violência, no mais específico a violência doméstica, e suas consequências na saúde física da mulher. Para isso, buscou-se implementar na discussão, as duas categorias que são intrínsecas na discussão da temática: gênero e violência. Para fundamentar a análise foram realizadas pesquisas exploratórias em acervos bibliográficos.

A violência doméstica contra a mulher é o tema central que será desenvolvido em todo o corpo do artigo, dividido em três partes. A primeira parte se comprometerá de trazer a discussão acerca de Lei Maria da Penha, os avanços e desafios ocorridos desde a sua implementação, e como essa Lei modificou consideravelmente a realidade vivida por

* Graduanda do curso de Serviço Social pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-mail:

mariia_cb@hotmail.com

(2)

muitas mulheres. Na segunda parte é realizada uma discussão acerca do próprio conceito de violência doméstica, destacando a questão da desigualdade de gênero e como isso afeta o comportamento social dos indivíduos, além de trazer as consequências dessa violência para a saúde física da mulher. Na terceira e última parte, o trabalho irá dedicar-se a discussão sobre o trabalho realizado pelo assistente social no atendimento de casos de violência doméstica.

A discussão dessa temática é de suma importância, visto que o Brasil está entre os países com maior índices de violência doméstica contra mulheres, e devido a isso é um debate que requer bastante atenção e cautela para uma mínima compreensão da realidade tão fragilizada vivida pelas vítimas.

2. LEI MARIA DA PENHA (LEI 11.340/06): AVANÇOS E DESAFIOS

A Lei Maria da Penha (lei 11.340/06) completou dez anos no ano de 2016, é um dispositivo legal e desde a sua entrada em vigor, serviu para aumentar o rigor das punições para crimes considerados domésticos. O nome da lei faz referência à Maria da Penha Maia Fernandes, a qual foi vítima de violência doméstica por 23 anos de casamento. O autor do crime, seu próprio marido, tentou por duas vezes assassiná-la, na primeira vez utilizou um arma, o que deixou a vítima paraplégica, na segunda vez eletrocussão e afogamento, fez com que Maria da Penha denunciasse os casos. O julgamento durou 19 anos, porém o autor ficou preso somente durante dois anos.

A Lei Maria da Penha alterou profundamente as relações entre as mulheres vítimas de violência doméstica, e seus agressores. Com a efetivação da Lei, o Brasil passa a ser o 18º país da América Latina a contar com um aparato legal específico para casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

A Lei 11.340/06 conta com 46 artigos, e representa um avanço significativo dentro da realidade brasileira. Entretanto, apesar dos avanços ainda pode-se constatar um número elevado de casos de violência doméstica, porém, sem saber se houve um aumento dos homicídios de mulheres, pois antes da Lei não eram coletados dados. Segundo o Mapa da Violência, em 2015, a cada 15 segundos, uma mulher é agredida no Brasil, e a cada duas horas, uma é assassinada. Ainda segundo o Mapa, dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. A Lei Maria da Penha trouxe visibilidade para esse tipo de comportamento inserido dentro da sociedade brasileira.

É necessária a discussão acerca dos tipos de violência doméstica contra a mulher, pois ela vai muito além do que “apenas” a violência física. Zacarias et al (2013),

(3)

classifica as violências em:

1. Violência física: qualquer conduta que venha ofender a integridade ou a saúde corporal da mulher;

2. Violência psicológica: qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima à mulher, lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou queira estabelecer algum tipo de controle mediante ameaças, constrangimentos, chantagens, dentre outros.

3. Violência sexual: qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; ainda segundo Zacarias et al (2013) é qualquer conduta que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de utilizar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto, ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação;

4. Violência patrimonial: qualquer conduta que configure a retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos pertences à mulher, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos;

5. Violência moral: qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

O Brasil ocupa o 5º lugar entre oitenta e três países registrado pelo Organização das Nações Unidas, em número de Homicídio de mulheres, atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Essa realidade demonstra como as políticas públicas de enfretamento a violência contra a mulher ainda requerem muitos avanços.

Segundo Criveletto (2016) existem avanços significativos após a implementação da Lei Maria da Penha, porém, ainda encontram-se limites e desafios a serem superados no que se diz respeito a efetividade na eficácia da Lei no combate a violência doméstica.

Segundo Criveletto (2016), dentre os avanços com a implementação da Lei Maria da Penha pode-se ser destacado, o encerramento da possibilidade da penalização por meio de cestas básicas, e torna-se obrigatório à instauração de Inquéritos Policiais para a investigação dos delitos cometidos com base em violência doméstica. Além disso, Criveletto destaca que é possível considerar um grande avanço, a possibilidade de que a mulher em situação de violência requeira Medidas Protetivas assim que registra a ocorrência em relação à prática do crime.

(4)

Dentre as medidas protetivas contidas na Lei Maria da Penha, podem ser mencionadas aquelas elencadas em seus artigos 22, 23 e 24, chamadas de medidas protetivas de urgência:

 Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

 Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

(5)

 Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

Apesar de vários avanços, os desafios colocados não serão poucos. Como já foi mencionado, o Brasil ocupa a quinta colocação entre os países registrados pela ONU, em número de Homicídio de mulheres. Segundo Criveletto (2016) ocorreu uma “interiorização”

da violência, ou seja, houve um deslocamento das capitais para municípios de menores áreas. Além disso, Criveletto (2016, p.2) destaca:

Isso significa a extrema necessidade de se buscar a implementação de estruturas de atendimento não somente quanto a Delegacias Especializadas, mas de todos os órgãos ligados ao combate à violência contra a mulher nos [...]. E mais, que estes órgãos promovam ações e políticas de atendimento que considerem os vínculos e as relações de dependência estabelecidas entre vítima e agressor.

Outro desafio é em relação ao acolhimento das vítimas. Ao se pensar em violência, deve-se também pensar em uma estrutura indispensável e de eficácia para a realização desse acolhimento. A Lei Maria da Penha trouxe, então, além da estrutura física para a realização de investigações criminais, uma estrutura com o suporte para o atendimento humanizado, ou que deveria ser, veremos mais à frente os desafios para a mulher nesse atendimento.

A violência contra a mulher é um tema atual e precisa ser discutido em todas as esferas. Segundo Criveletto (2016) observa-se a necessidade de discussões sobre respeito e dignidade da pessoa humana em diversos espaços como família, escola, comunidades e, assim, pensar em intervenções intersetoriais, trabalhando a prevenção sem deixar de atentar para a mobilização social, para o atendimento, até que tenha-se a repressão e a responsabilização como último grau de intervenção.

3. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

(6)

A violência contra a mulher está definida o caput do art. 5º da Lei Maria da Penha como sendo “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.

Com a efetivação da Lei Maria da Penha, o Brasil passou a contar com um aparato legal específico para casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Compreende-se violência familiar como atos violentos praticados por membros da mesma família que “são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade, ou por vontade expressa” (inc. II).

Entende-se por violência doméstica qualquer conduta violenta que ocorrer no

“espaço de convívio permanente de pessoas com ou sem vínculo familiar inclusive as esporadicamente agregadas” (inc. I). Vamos nos ater a discussão do conceito, e na discussão sobre violência doméstica.

É muito complexo analisar as causas para a prática de violência doméstica, visto que, é algo que não deveria ocorrer e torna-se até tolo explicar que não se pode agredir uma mulher por se achar superior a ela. Porém observa-se que apesar dos avanços da sociedade e a evolução dos conceitos, ainda existem resquícios de uma sociedade patriarcal, e é nesse processo sociocultural de construção da identidade, seja ela masculina ou feminina, que aos meninos é ensinado que “homem não chora”, que deve se espelhar no pai sendo aquele que sustenta a casa. Ao contrário dos meninos, para as meninas ocorre exatamente o oposto, ela deve se espelhar na mãe, sendo aquela pessoa dócil, dependente, dentre outras características.

Muitos casos de violência contra mulher são resultantes, sobretudo, da relação de hierarquia estabelecida entre ambos os sextos e parece que foi sendo confirmada ao longo da história pela diferença dos papéis sociais direcionados a cada um. É importantíssimo evidenciar, que essa realidade já mudou bastante, que podem ser encontrados consideráveis avanços, mas não pode-se negar a presença, ainda, dessas diferenças entre os gêneros.

Segundo Silva apud Fonseca e Lucas (2006), as relações estabelecidas entre homens e mulheres são, quase sempre, de poder deles sobre elas, pois a ideologia dominante tem papel de difundir e reafirmar a supremacia masculina, em detrimento à correlata inferioridade feminina. Desta forma, quando a mulher, em geral, é o pólo dominado desta relação, não aceita como natural o lugar e o papel a ela impostos pela sociedade, os homens recorrem a artifícios mais ou menos sutis como a violência simbólica (moral e ou

(7)

psicológica) para fazer valer suas vontades, e a violência física se manifesta nos espaços lacunares, em que a ideologização da violência simbólica não se faz garantir.

A identidade de uma mulher vítima de violência doméstica é, comumente, fruto deste padrão familiar de subordinação e não questionamento das imposições masculinas.

Apesar de constatarmos, atualmente, profundas transformações na estrutura e dinâmica da família, prevalece ainda um modelo familiar caracterizado pela autoridade paterna e, portanto, pela submissão dos filhos e da mulher a essa autoridade (BOCK; FURTADO;

TEIXEIRA, 1999).

Segundo SILVA (2008) a violência contra a mulher são atos frutos e/ou resultantes das normas de conduta distorcidas acerca do papel e das responsabilidades de homens e mulheres na sociedade. Segundo a ONU, a violência contra a mulher é a pior manifestação da desigualdade de gênero.

Em algumas situações, a violência cometida é tão brusca que deixa marcas na saúde física da mulher. Foi o caso da Maria da Penha (homenageada na Lei Maria da Penha) que ficou com uma deficiência física em decorrência da violência sofrida, e existem muitos outros casos que trazem inúmeras consequências para a vida da mulher.

3.1 Consequências da violência doméstica na saúde física da mulher

As consequências da violência doméstica contra a mulher são inquestionáveis, sejam psicológicas, ou físicas. A própria Maria da Penha, homenageada pela Lei Maria da Penha, sofre até hoje com as sequelas (violência deixou a vítima paraplégica) decorrentes da violência sofrida.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica contra a mulher como uma questão de saúde pública, que afeta negativamente a integridade física e emocional da vítima, seu senso de segurança, configurada por círculo vicioso de “idas e vindas” aos serviços de saúde e o consequente aumento com os gastos neste âmbito (GROSSI apud FONSECA; LUCAS, 2006).

Além das consequências psicológicas, as mulheres sofrem com sequelas físicas, oriundas de todo o tempo sofrendo agressões. Por meio de pesquisa bibliográficas, foi possível encontrar alguns relatos de mulheres vítimas de violência doméstica, dentre eles, o de uma aposentada F.C.A.O., de 49 anos, vítima de violência doméstica praticada pelo ex- marido:

Ele tinha ciúmes do meu passado, me humilhava e era muito controlador. Queria me proibir de tudo, como se eu fosse um objeto dele. Eu já me sentia muito machucada

(8)

com isso e tudo foi piorando, até que um dia ele me agrediu pra tentar matar mesmo. Isso doeu muito, mas é preciso transformar a dor em luta e buscar os nossos direitos.

Segundo a Associação do Ministério público de Minas Gerais, a agressão foi tão violenta, que hoje ela carrega não só as marcas do sofrimento psicológico, mas também sequelas pelo corpo. Tendo sido asfixiada e torturada com marteladas na cabeça, F.C.A.O. chegou a perder massa cefálica. O episódio lhe rendeu ainda uma diabetes, ocasionada pela alta liberação de adrenalina durante a agressão.

Evidenciam-se, em alguns relatos de mulheres vítimas da violência doméstica, segundo NETTO et al (2014) lesões como hematomas, escoriações, luxações e lacerações.

Quanto aos processos de doença, respostas inflamatórias e imunológicas, elas relataram dores pelo corpo, obesidade, síndrome do pânico, crises de gastrite e úlcera. Entre os danos da vivência de violência à saúde das mulheres estão mutilações, fraturas, dificuldades ligadas à sexualidade e complicações obstétricas.

Segundo os estudos de FONSECA; LUCAS (2006):

Um percentual de 96% das entrevistadas relataram sofrer algum tipo de consequência decorrente da situação de violência. Dentre estas, o aumento da pressão arterial, dores no 12 corpo, principalmente de cabeça, e dificuldades para dormir, foram os sintomas físicos mais relatados, correspondendo a um total de 66,6%. Em alguns casos, a presença de algum, ou até mais de um, desses sintomas contribuiu para a procura de acompanhamento médico.

Além disso, segundo SILVA et al (2015) um estudo identificou que a violência contra a mulher leva a efeitos tais como depressão, ansiedade, infecções urinárias de repetição, dor pélvica crônica, transtorno do estresse pós-traumático, síndrome do intestino irritável, entre outros sinais e sintomas.

Os serviços de saúde, assim como os profissionais, devem oferecer o devido suporte para a prevenção da violência contra a mulher, oferecendo apoio em todo o processo de reabilitação, visto que, estes serviços são os primeiros pelos quais a vítima procura.

Porém, segundo Silva et al (2015) o que se percebe é que, apesar do grave impacto da violência a saúde da mulher, há certo despreparo dos profissionais em lidar com situações de violência de gênero no sistema de saúde. Esse despreparo também está relacionado a valores culturais e morais que os profissionais tem em relação ao tema, o que acaba repercutindo em seu atendimento à vítima.

(9)

Além disso, ainda segundo Silva et al (2015), a identificação, assim como o cuidado com a mulher que sofre violência é de alta complexidade, pela existência dos mais diversos fatores que as impedem, sendo a maioria deles relacionados à falta de comunicação, falta do entendimento sobre violência e, principalmente medo de represálias por parte do agressor, entre outros fatores.

4. O TRABALHODO ASSISTENTE SOCIAL NO ATENDIMENTO A CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Segundo Instituto Patrícia Galvão (2004):

A Violência Doméstica contra mulheres ocorre em todo o mundo e perpassa as classes sociais, as diferentes etnias e independe do grau de escolaridade. Ela recebe o nome de doméstica porque sucede, geralmente dentro de casa e o autor da violência mantém ou já manteve relação íntima com a mulher agredida. São maridos, companheiros, namorados, incluindo ex. (p.25).

A profissão do Serviço Social opera no combate à violência doméstica.

Implantado dentro das instituições que prestam serviços de atendimento às vítimas de violências doméstica, a profissão tem sido cada vez mais reconhecida, valorizada e até mesmo requisitada. Atuando em uma equipe multiprofissional, configura-se como uma profissão interdisciplinar, além de configurar o seu espaço de atuação, demarcando suas atribuições, a assim chamando atenção de outras profissões

Segundo LÔBO; CARVALHO (2013) o profissional orienta, discute estratégias e encaminhando as mulheres para onde possam receber atendimento eficiente e ter os seus direitos garantidos. O assistente social utiliza alguns instrumentos técnicos para uma melhor avaliação dos casos de violência contra a mulher. Pode-se citar a entrevista, que é feita com a mulher vítima da violência, onde se desenvolve através do processo de escuta e observação, sempre priorizando a atenção aos sentimentos expressos pela mulher.

Também a visita domiciliar é utilizada para conhecer a realidade da qual a mulher vive. A reunião com grupos de mulheres que sofrem violência tem contribuído muito para retirá-las do processo de angústia e baixa estima onde elas acabam sendo inseridas depois da violência sofrida. A troca de informações entre elas é fundamental para a fortificação dos sentimentos e encorajamento para levarem adiante as denúncias.

Segundo LÔBO; CARVALHO (2013) os grandes desafios enfrentados pela profissional são de auxiliar a vítima de violência doméstica na questão de abrigá-la em local seguro no primeiro momento da violência ocorrida, logo após garantir que levando em frente o boletim ocorrência não mais sofrerá agressões. Outro desafio é a independência emocional e financeira que a vítima tem com o agressor, fazendo com que a mesma fique

(10)

acorrentada ao sendo sujeitada a constantes humilhações. Sem este porto seguro a vítima voltapara a mesma condição de vida, pois não tem nenhuma garantia de que estará segura ou que possa garantir segurança aos filhos.

O profissional do Serviço Social faz uso dos seus instrumentos técnico- operativos para amenizar os impactos sofridos pela mulher, fazendo com que a vítima seja orientada, esclarecida e respaldada acerca dos seus direitos, para que assim, talvez ela consiga se libertar dos traumas sofridos naquelas circunstâncias.

5. CONCLUSÃO

É necessário ampliar a discussão acerca da violência doméstica contra a mulher, é uma temática de extrema importância e atualíssima, onde o país ocupa o quinto lugar no que diz respeito a práticas de violência contra mulheres.

A Lei Maria da Penha alterou profundamente as relações entre as mulheres vítimas de violência doméstica, e seus agressores. Com a efetivação da Lei, o Brasil passa a ser o 18º país da América Latina a contar com um aparato legal específico para casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

É necessário questionar a estrutura em que a sociedade está organizada, fundamentada em relações desiguais de gênero, onde a desarticulação dessa desigualdade significa desarticular também os pilares que apoiam a violência contra a mulher. Toda a construção sociocultural de papéis diferençados para cada sexo é fundamentada em valores enraizados no tempo, que impõem à mulher uma posição de inferioridade perante o homem, o qual utiliza da violência recurso maior para fazer valer a sua “superioridade”.

Além disso, o profissional que irá atender as vítimas de violência doméstica, deve estar devidamente capacitado para compreender a situação, no intuito de localizar redes de apoio, possíveis riscos que a mulher possa estar vulnerável. Em virtude disso, a presença de uma equipe multiprofissional qualificada é de suma importância. No âmbito do Serviço Social interessante ressaltar a necessidadedo profissional saber intervir e propor às mulheres projetos capazes de melhorar a realidade delas, repassando a elas os seus direitos para que possam, também, em conjunto com o profissional, reivindicar os seus direitos.

A discussão acerca dessa temática não pode cessar enquanto existirem casos, seja em âmbito nacional ou mundial, além de ser imprescindível a implementação de um número maior de políticas públicas direcionadas ao âmbito da violência doméstica, a qual em muitos casos traz consequências irreversíveis para a saúde física da mulher.

(11)

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Maria Amélia. Violência física contra a mulher: dimensão possível da condição feminina, braço forte do machismo, face oculta da família patriarcal ou efeito perverso da educação diferenciada? In: ______. Mulheres espancadas: a violência denunciada. São Paulo: Cortez, 1985.

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes. Psicologias:

uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1988.

CRIVELETTO, Jozirlethe Magalhães. Dez anos da Lei Maria da Penha: avanços e

desafios. Cuiabá, 2016. Disponível em:

http://www.olhardireto.com.br/artigos/exibir.asp?artigo=dez-anos-da-lei-maria-da-penha- avancos-e-desafios&id=8032. Acesso em: Fevereiro de 2017

FAÇANHA, Josanne Ferreira. Lei Maria da Penha e Poder Judiciário: entendimento jurisprudencial do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Barra Livros, 2016.

FONSECA, Paula Martinez da; LUCAS, Taiane Nascimento Souza. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER E SUAS CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS. – Trabalho de Conclusão de Curso; (Graduação em Psicologia) – Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, 2006. Disponível em: http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/152.pdf. Acesso em:

Fevereiro de 2017

INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO. Violência Contra as Mulheres. Campanha ontem tem violência, todo mundo perde. São Paulo, 2004.

LÔBO, Nilra de Souza Pinheiro; CARVALHO, Elizangela da Silva. A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS QUESTÕES DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER. Disponível em: http://www.unijipa.edu.br/media/files/54/54_221.pdf. Acesso em:

Fevereiro de 2017

NETTO, Leônidas de Albuquerque; MOURA, Maria Aparecida Vasconcelos;QUEIROZ, Ana Beatriz Azevedo; TYRRELL, Maria Antonieta Rubio; BRAVO, Maríadel Mar Pastor.Violência contra a mulher e suas consequências. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ape/v27n5/pt_1982-0194-ape-027-005-0458.pdf. Acesso em:

Fevereiro de 2017.

PASSOS, Elizete Silva. Palcos e plateias: as representações de gênero na Faculdade de Filosofia. Salvador: UFBA; Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher, 1999.

(12)

PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: análise crítica e sistêmica / Pedro Rui da Fontoura Porto. – 2 ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.

SILVA, Jerusa Maria de Castro.VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA MULHER: a incidência de casos de mulheres atendidas na Casa-Abrigo de São Luís. 2008. – Trabalho de Conclusão de Curso; (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Maranhão.

SILVA, Susan de Alencar; LUCENA, Kerle Dayana Tavares de; DEININGER, Layza de Souza Chaves; COELHO, Hemílio Fernandes Campos; VIANNA, Rodrigo Pinheiro de Toledo; ANJOS, Ulisses Umbelino dos. Análise da violência doméstica na saúde das mulheres. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0104- 12822015000200008&script=sci_arttext&tlng=pt. Universidade Federal da Paraíba, 2015.

Acesso em: Fevereiro de 2017.

ZACARIAS, André Eduardo de Carvalho... [et al.].Maria da Penha – Comentários a Lei Nº 11.340-06. Anhanguera Editora Jurídica - Leme/SP – Edição 2013 – 208 páginas.

Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI243907,91041- A+Lei+Maria+da+Penha+e+seus+avancos+no+combate+a+violencia+domestica

Acesso em: Fevereiro de 2017

Disponível em: http://www12.senado.leg.br/jornal/edicoes/especiais/2013/07/04/criada-em- 2006-lei-maria-da-penha-protege-mulher-de-espancamento-e-assassinato

Acesso em: Fevereiro de 2017

Disponível em: https://amp-mg.jusbrasil.com.br/noticias/100383571/lei-maria-da-penha- trouxe-avancos-mas-ainda-e-um-desafio-para-o-brasil

Acesso em: Fevereiro de 2017

Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/estatisticas-de-violencia-contra- mulher-revelam-que-a-sociedade-brasileira-ainda-e-patriarcal-centro-oeste-popular-

04052015/

Acesso em: Fevereiro de 2017

Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticias/violencia-contra-mulheres-e-a-pior- manifestacao-da-desigualdade-de-genero-diz-diretora-executiva-da-onu-mulheres/

Acesso em: Fevereiro de 2017

Referências

Documentos relacionados

Assim, é importante ressaltar que a reação das vítimas de violência doméstica ocorre de diferentes formas, tendo em vista que a variação do perfil da personalidade