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POLÍTICAAGRÁRIANOBRASIL:contextos e análises

Brenda Rayanne Sampaio de Oliveira1 Tainá Rocha dos Santos2

Resumo

Este trabalho tem por objetivo salientar a Política Agrária no Brasil, visando ressaltar seus contextos e implicações na realidade social do país. Para tanto, parte de análises em torno do levantamento sobre o que vem a ser a Questão Agrária, para assim, salientar a instituição da Reforma Agrária como campo da reivindicação concreta da sociedade. Dessa forma, tem por objetivo salientar a necessidade de articulação do movimento rural com a classe operária, visando propostas da Reforma Agrária que perpassem os interesses de classe que não se delimitam no campo, mas são constituídos pelo ideal de uma nova Política Agrária.

Palavras-chave: Questão Agrária; Reforma Agrária; Política Agrária;

Desigualdade social.

Abstract

This paper aims to highlight the Agrarian Policy in Brazil, aiming to highlight their contexts and implications in the social reality of the country. To do so, part of the analysis about the survey on what is to become the Agrarian Question, to emphasize the institution of Agrarian Reform as a field of concrete claim to society. In this way, it aims to emphasize the need to articulate the rural movement with the working class, aiming at Agrarian Reform proposals that pervade class interests that are not delimited in the countryside, but are constituted by the ideal of a new Agrarian Policy.

Keywords: Agrarian Question; Land reform; Agrarian policy; Social inequality.

1 Discente do 8º período em Serviço Social, pela Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, Unidade de Palmeira dos Índios. Email: (rayannnesampaio@gmail.com).

2 Discente do 8º período em Serviço Social, pela Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, Unidade de Palmeira dos Índios. Email: (taina.rds@hotmail.com)

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I. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa busca analisar a Política Agrária no Brasil, ressaltando seus contextos e implicações na realidade social do país. Para tanto, parte de análises em torno do levantamento sobre o que vem a ser a Questão Agrária, para assim, salientar a instituição da Reforma Agrária como campo da reivindicação concreta da sociedade, particularizando a realidade brasileira.

Em relação à compreensão da Reforma Agrária, retrataremos sobre um necessário levantamento histórico, compreendendo seu processo de evolução, ao levar em consideração as circunstâncias de sua efetivação desde 1950 até a Constituição Federal de 1988, e salientando, ainda, a caracterização da Reforma como um conjunto de reformas setorizadas, direcionadas à melhoria das condições de vida no campo, principalmente para os trabalhadores rurais.

Partindo do exposto no MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (BRASIL, 2015b) e no INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (BRASIL, 2015c), buscaremos analisar e contribuir para a discussão em torno da implementação da Política Agrária, como a ação da Reforma aplicada nos marcos da legislação.

Contudo, tem por objetivo salientar a discussão em torno do papel sociopolítico da Reforma Agrária e de sua implementação através da Política Agrária, levando em consideração as expectativas e limitações postas socialmente.

II. A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL COLONIZADO E A REFORMA AGRÁRIA

Segundo Galeano (2010), em um contexto latino-americano, o Brasil não foi apenas colonizado, mas o ouro e a prata encontrados nessas terras eram “chaves que o renascimento usava para abrir as portas do paraíso no céu e as portas do mercantilismo capitalista na Terra” (p. 32). Nesta passagem um novo mundo econômico surge através da crescente intensificação de exportação das riquezas do Brasil e de uma mão de obra barata na produção agrícola. Como reflexo disso, a questão agrária se desenvolve, a terra passou a ser distribuída pelos portugueses de acordo com seus interesses, a fim de ocupar as terras desabilitadas e auxiliar no controle territorial e produção de alimentos extremamente

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apreciados pelos Europeus. Devido ao não cultivo dessas terras, as mesmas foram devolvidas aos colonizadores portugueses.

Silva (1981), afirma que foi com a expansão da produção de café em 1850, e com a criação da Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico negreiro, o governo incentivou a entrada de imigrantes europeus para substituição do trabalho escravo. Nesse mesmo ano o governo criou a Lei de Terras que permitia a venda das terras em leilões, tornando as terras que foram devolvidas se tornavam propriedade do Estado, o capital pago por elas deveria custear a vida dos imigrantes europeus e asiáticos que vinham ao Brasil com o promessas de obtenção de terras, todavia isso não acontecia, quando chegavam ao Brasil pois essa lei os impedia de comprar as terras os obrigando a trabalhar com baixos salários o que os levou a procurar empregos nas fazendas, os únicos lugares que o ofereciam.

Devido essa nova estrutura, dada pelo valor econômico atribuído as terras, a desigualdade fundiária se acentuou no país. Através disso começou no Brasil, a escravidão por dívida, que atingiu os imigrantes estrangeiros e as pessoas de baixa renda, em 1872, o governo alemão proibiu a imigração para o Brasil. Apenas em 1988 a constituição passou a prever a expropriação das terras, e utilizar a reforma agrária em fazendas que utilizavam da mão de obra escravas, momento em que a escravidão foi reconhecida no país.

Todavia, para compreensão da Política Agrária é preciso assimilar a diferença entre Reforma Agrária e Questão Agrária: a Questão Agrária, segundo Martins (2001) representa a dificuldade que a propriedade apresenta ao desenvolvimento capitalista. Essa dificuldade se apresenta de várias formas, como por exemplo, através da redução da taxa média de lucro, que é baseada na importância que a renda fundiária pode ter no ordenamento da mais-valia. Já a Reforma, em termos legais, é considerada como:

[...] § 1° [...] o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade. (JUSBRASIL, 2015, p.1).

Se fazendo necessário um levantamento sobre o processo de evolução da Reforma no cenário brasileiro.

II.i O processo de evolução da Reforma Agrária

Segundo Polinski e Pinto (2015), foi a partir do final dos anos 1950 e início dos anos 1960 que o debate a respeito da questão fundiária surge, por parte da sociedade,

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como impedimento no processo de industrialização e urbanização em que o Brasil passava, restringindo-o ao campo intelectual e político-partidário. Tornando a reforma agrária uma reivindicação concreta por parte da sociedade, que se fortalece em diversos lugares do Brasil, fazendo que o governo passe a dar importância ao debate se tornando um elemento de grande relevância para o progresso econômico e social que o país passava naquele momento.

Assim, em busca da efetivação da reforma agrária como primeira iniciativa em 1962 o Governo Federal implanta o decreto da Superintendência de Política Agrária (SUPRA) e no ano seguinte, em 1963, é acrescentada à Legislação Trabalhista a regulação das relações de trabalho no campo, com aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural.

De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Brasil, 2015c), é com a chegada do regime militar em 1964 que o governo inicialmente apresenta um posicionamento favorável à reforma agrária a partir de medidas tomadas pelo Presidente da República João Goulart, de acordo com o §1°, do art. 1°, que se encontra na Lei 4.504/64: o objetivo era de atender aos interesses sociais com a desapropriação de terras que se localizavam ao longo das rodovias, ferrovias e açudes que pertenciam exclusivamente à União. Também foi realizado pelos militares o primeiro documento oficial sobre a reforma agrária com a aprovação da Lei n° 4.504 de 1964 no Estatuto da Terra3, e com a criação do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário4 (INDA) com o objetivo de substituir a SUPRA.

No período do primeiro governo militar, regido por Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, a efetivação da reforma agrária passa a ser deturpada, pois, a respeito da questão fundiária, começa a se utilizar de medidas que não provocassem prejuízos ao direito de propriedade.

Segundo Polinski e Pinto (2015), é em 1969 que grandes mudanças ocorrem: os ministérios passam a ser regidos por ministros com interesses opostos aos propostos pela reforma agrária, com o objetivo de implantar grandes empresas no campo. Assim, esse novo objetivo se torna a mecanização do processo produtivo e a promoção da cultura de exportação, contribuindo com o aumento numeroso de latifundiários. Diante dessas circunstâncias em 1970 “[...] A reforma agrária baseou-se num modelo de colonização da Amazônia, incentivado pelos agropecuários atraídos por incentivos fiscais que tinham a intenção de ‘substituir’ a reforma agrária” (POLINSKI; PINTO, 2015, p.1), com a criação de novos projetos que tem como intuito se sobrepor a reforma agrária, difundidos pelo Governo

3 A partir do momento em que a o regime militar passa a desfavorecer as contribuições para a efetivação da reforma agrária, o Estatuto da Terra passa a ter suas funções direcionadas para a política agrícola.

4 Posteriormente o IBRA e o INDA irão se unir e formar o INCRA, a partir do Decreto n° 1.110.

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Federal para promover o crescimento regional do país como o Programa de Integração Regional (1970), o Programa de Redistribuição de Terras e de Estimulo a Agroindústria do Norte e Nordeste (1971), o Programa Especial para o Vale do São Francisco (1972), o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais na Amazônia (1974) e o Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste (1974)5, no entanto nenhum destes obtiveram algum êxito.

Com o estabelecimento do regime militar muitos progressos adquiridos para a efetivação da reforma agrária foram obrigatoriamente bloqueados, assim como organizações que tinha isso como finalidade. De acordo com Polinski e Pinto (2015), a participação da Igreja Católica como promotora da reforma agrária se dá a partir da fundação do Movimento de Educação de Base (MEB), constituído por agentes pastorais e militantes que tinham como finalidade promover uma organização sindical e alfabetizar a população e teve sua mobilização interrompida pelo regime militar. Mas, em 1975 a Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) cria a Comissão da Pastoral da Terra (CPT) com o lema “Terra para quem não trabalha” e tinha por finalidade retomar as lutas pela reforma agrária através da resistência, proporcionando espaços e infraestrutura para reuniões que favorecessem o combate aos interesses contrários à reforma.

A partir da luta contra a ditadura, que tem início no final dos anos 1970 e chegada dos anos 1980, a fim de promover a redemocratização do país, houve uma mudança no quadro de luta pela busca da reforma agrária. Com o final do período de repressão, mais intensa se mostra a aparição de novos grupos sociais constituídos pelas famílias sem-terra, indígenas, remanescentes de quilombos e ribeirinhos prejudicados pelas barragens, ocasionando a formação de alguns grupos sociais – estes tinham como finalidade a busca pela efetivação dos direitos trabalhistas e acesso à terra, sendo constituídos por assalariados, lavradores, pequenos arrendatários, etc.

Para Polinski e Pinto (2015), além dos movimentos sociais, com o objetivo de prover os interesses da classe dos trabalhadores rurais, existiram outros movimentos independentes, como os posseiros (trabalhadores rurais que ocupam as terras sem nenhum título ou amparo legal), grileiros de terra (aqueles que falsificam documentos para adquirirem a posse de terras ou prédios de modo ilegal, por meio de falsas procurações conseguindo obter várias propriedades), madeireiros, arrendatários e produtores rurais que defendiam seus próprios interesses.

De acordo com Brasil (2015c), em 1985 foi instituído o novo Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), a partir do Decreto nº 97.766, que tinha como propósito atingir as metas ao propor o desígnio de 43 milhões de hectares de terra para o assentamento de 1,4

5 Respectivamente PIN, PROTERRA, PROVALE, POLOAMAZÔNIA, POLONORDESTE.

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milhões de famílias até o ano de 1989, através do Ministério Extraordinário para o Desenvolvimento e a Reforma Agrária (MIRAD). Porém, os planos fracassam devido as metas irreais que, de fato, só atingiram numa quantidade mínima daquilo que foi proposto com 82.689 famílias assentadas em menos de 4,5 milhões de hectares de terra.

Posteriormente vai ser extinta a MIRAD atribuindo a responsabilidade da reforma agrária ao Ministério da Agricultura.

Para Silva Filho (2015), com a instituição da Constituição de 1988 a política agrária passa a ter a finalidade de promover e priorizar a justiça social conceituando6 a Reforma como “[...] O conjunto de medidas que visam a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento da produtividade” (SILVA FILHO, 2015, p.1), ao fornecer uma divisão igualitária de terras para as pessoas obterem uma propriedade e uma renda fundiária, e para incentivar uma maior produtividade.

De acordo com o art. 184 da Constituição a desapropriação ocorre quando se consegue a declaração de que o imóvel rural não está exercendo sua função social, ou seja, não está sendo utilizado; assim é necessário realizar a desapropriação por interesse social, tomando o imóvel para objetivar a reforma agrária, oferecendo ao proprietário uma indenização em títulos de reforma agrária de acordo com os critérios apresentados nos incisos de I a V, §3 °, do art. 5° da lei nº. 8.629/93.

A Constituição de 19887 apresenta que a desapropriação de imóveis rurais não pode ser realizada ao se constatar que “[...] são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: a pequena e média propriedade rural desde que seu proprietário não possua outra; e a propriedade produtiva” (CRUZ, 2015, p.1).

Cruz (2015), afirma que não convém realizar a desapropriação de uma propriedade pequena e média, pois seria tirar a propriedade de um indivíduo para repassá-la a outro que também não possui, impedindo a produtividade e a concessão do direito à propriedade. Assim, a reforma agrária é caracterizada como um sistema de medidas direcionadas a fornecer melhorias aos trabalhadores rurais e à vida no campo, a partir da utilização coesa da terra. Ela também vai apresentar em seus objetivos um aspecto político social (acessibilidade à propriedade da terra, aos trabalhadores que nela trabalham e consequentemente garantir a permanência do trabalhador do campo e suprimir as desigualdades sociais) e econômico (descentralizando a renda e ocasionando no aumento da produtividade na agricultura).

6 Está contido no Art. 1º, § 1º, Lei 4504/64 do Estatuto da Terra.

7 De acordo com o art. 185.

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A reforma agrária é constituída por um conjunto de reformas que envolve diversos setores e cada um deles compõe uma reforma parcial. O primeiro deles é a Reforma Fundiária que se trata da redistribuição de terras realizada pelo governo, através da desapropriação de terras do próprio governo (terras devolutas8, da Federação, dos Estados e dos Municípios) e a divisão dos latifúndios, caracterizados como terras improdutivas em áreas de agricultura tradicionais e de produtividade baixa.

A segunda é a Reforma Agrícola que é um agrupamento de medidas direcionadas ao aumento da produtividade das terras e da mão-de-obra agrícola, como iniciação de técnicas avançadas de cultivo, assistência técnica, crédito fácil e acessível, fácil acesso a mercadorias e a preços compensatórios, escolas, serviços médicos e etc., fornecendo infraestrutura, assistência social e consultorias.

A terceira é a Reforma Rural: para entendê-la primeiramente é necessário compreender a terra como uma empresa rural, onde as grandes propriedades são as grandes empresas com melhores condições de uso da terra, maiores chances de alcançar o mercado e inovar suas técnicas e instrumentos; já as pequenas propriedades são como pequenas empresas rurais que se assemelham aos operários, que vão buscar um meio de subsistência digno, além de ser parte do suporte da prosperidade agrícola do país. A Reforma Rural tem como propósito a implantação de um sistema de produção que reúna essas pequenas propriedades como cooperativas e que possuam um único fim, obtendo os mesmos níveis de vantagens que as grandes propriedades rurais possuem, com vantagens sociais que elas não ofertam.

A quarta medida é o Regime das Relações de Poder, que se trata da reformulação de leis que concedam aos trabalhadores rurais um aparato legal para realizar suas reinvindicações, exigindo seus direitos e facilitando a organização sindical dos trabalhadores rurais.

II.ii A implementação da Política Agrária

A ação da Reforma Agrária é aplicada legalmente através da Constituição Federal de 1988, com o objetivo de assegurar os direitos sociais e individuais, partindo de uma visão fundiária que busca a garantia do direito à propriedade da terra, ao atender sua função social; do Estatuto da Terra (implementado em 1964), que busca a regulamentação do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA, desde 1985), visando a promoção da distribuição mais igualitária da terra, partindo de princípios de justiça social, ao refutar o

8 São terras não aproveitadas, que pertencem ao patrimônio jurídico de direito público que podem ser concedidas a particulares.

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aumento de produtividade; e através do Código Civil Brasileiro e suas leis complementares (que entraram em vigor a partir de 2003), que visam estabelecer os direitos e deveres na sociedade, partindo do ideal, no caso fundiário, de que o proprietário poderá apenas ser privado de seu direito à terra quando do pagamento de indenização da mesma, em caso de desapropriação (seja por interesse social ou ambiental). Segundo Polinski e Pinto (2015), a finalidade de tal aplicação legal pretende fomentar a regulamentação de atividades quanto ao uso, distribuição e redução da concentração de terras no Brasil. De acordo com as autoras supracitada, a Política Agrária possui uma estrutura estabelecida em torno do controle democrático e dos atores ou instituições envolvidas na sua efetivação, que partem de legislações aplicadas desde de 1850 até a Constituição de 1988 e suas emendas.

Segundo o MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (BRASIL, 2015b), frente a necessidade de legitimação das questões agrárias e fundiárias, a partir de políticas de Estado, e da busca por respostas as demandas apresentadas pela sociedade quanto às políticas de Reforma Agrária e desenvolvimento rural, é instituído o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que possui competências tais quais: a reforma agrária; o desenvolvimento sustentável do rural; a delimitação, reconhecimento e demarcação das terras ocupadas por quilombolas e seus remanescentes; e a regulamentação fundiária na Amazônia (a partir da Lei nº 11.952/09). Em relação aos programas do MDA, suas ações se encontram estabelecidas em cinco secretarias, cada qual com seus respectivos sistemas e ações.

A instância federal que possui a missão de executar a Reforma Agrária e estabelecer o ordenamento fundiário no país, no formato legal, é o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o INCRA, criado a partir do Decreto nº 1.110, de 09 de julho de 1970. Com o intuito de implantar um modelo de assentamento rural que vise a viabilidade econômica, a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento territorial, tal autarquia procura utilizar instrumentos adequados a cada singularidade social, em âmbito regional, buscando realizar intervenções rápidas e eficientes quanto a institucionalização e normatização desses instrumentos (BRASIL, 2015c). Para tanto, a atuação do INCRA se refere a instituição da igualdade de gênero na reforma, ao direito à educação, à cultura e à seguridade social, com fins a contribuir com o Estado quanto aos instrumentos e à aplicação de métodos necessários no trato nacional, referente a Política Agrária.

Segundo o INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (Ibid.), com o objetivo de promover a Reforma de maneira sistematizada e igualitária, num espaço de tempo de médio e longo prazo, o INCRA possui diretrizes que procuram democratizar o acesso e o direito à terra, de modo a implantar assentamentos sustentáveis e regularizar as terras públicas para que sejam destinadas a esses assentamentos,

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buscando organizar o campo fundiário do país quanto a desconcentração da atual estrutura latifundiária.

Todavia, Polinski e Pinto (2015) salientam o caráter burocratizado da atuação do INCRA e de seus programas, que vem a ser fortemente relacionada às práticas assistenciais, muitas vezes “[...] cumprindo [um] papel subalterno à política econômica, mostrando-se tímida e ineficaz para os sem-terra e assentados de reforma agrária” (p.1), fomentando uma discussão quanto ao significado social e político da Reforma e sua implementação pela Política Agrária.

III. AS IMPLICAÇÕES DA POLÍTICA AGRÁRIA BRASILEIRA E AS PROPOSTAS DA REFORMA AGRÁRIA

A questão agrária brasileira, ascendente no período de 1950 a 1960, é ressaltada na pauta política como uma das propostas das Reformas de base9 no governo de João Goulart. As Reformas propostas pelo governo como uma das saídas para a atual crise desencadearam as mais diversas discussões teóricas acerca do posicionamento política frente a constituição de uma "nova sociedade".

Em 1964, quando se instaura um outro momento político na história do Brasil, a ditadura militar, que sufoca o debate e as organizações de trabalhadores que encontravam na Reforma agrária uma solução para o fim da injustiça social e da escravidão tão presentes no meio rural na relação entre proprietários e lavradores, "[...] A política agrícola implantada resultou na chamada 'modernização conservadora', com mudanças na base técnica e integração aos mercados internacionais" (POLINSKI; PINTO, p.1, 2015).

Essa tomada de mudanças provocou um retrocesso para a população rural quando o Estado deu início ao processo de desapropriação das terras que não tinham a

‘função econômica’ estabelecida pelo governo ditatorial, que era o investimento no sistema financeiro internacional, por essa razão se inicia um processo de concentração de terras, onde a manutenção do grande latifúndio e a expulsão do campesinato das terras para a zona urbana tornam-se as prioridades estatais:

Esse modelo de desenvolvimento provocou transformações na agricultura gerando desemprego e migração dos camponeses para

9 Medidas de caráter desenvolvimentista que almejavam a manutenção da política em termos econômicos e sociais através do resgate de recursos externos para a sua realização, e sua pretensão era redirecionar o Estado para maior intervenção na economia. Essas medidas reformistas incluem vários setores econômicos e sociais, são eles, bancário, fiscal, urbano, eleitoral, educacional e agrário.

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as cidades. Essa tendência é uma das bases do acelerado processo de urbanização da sociedade brasileira, transformando os camponeses em 'exércitos industriais de reserva', assalariados urbanos e 'boias-frias' (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 277).

Sendo assim, a modernização capitalista no campo traz consigo profundos prejuízos, além do empobrecimento dos trabalhadores rurais o que caracteriza a "nova"

questão agrária10 são embates como, a diversificação do trabalho escravo, mortes por exaustão, prejuízo para a segurança alimentar e afins. Desta forma,

[...] As implicações negativas do processo de modernização capitalista no campo, por si só, justificariam a volta da questão agrária ao debate nacional. Todavia, quem de fato o fez foi os sem- terra, que reivindicavam o acesso à terra e lutam por direitos sociais.

Os camponeses se organizaram, por exemplo, no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e confrontaram a estrutura agrária colocando a questão agrária na pauta política nacional.

(POLINSKI; PINTO, p.1, 2015).

No fim dos anos de 1970 houve a acentuação de movimentos por parte das famílias dos trabalhadores rurais, que se organizaram reivindicando o direito a terra: devido o apoio político-sindical e partidário da CUT e do PT, a massa ganhou força e obteve espaços políticos importantes de reivindicação, a saber, a materialização do mesmo no 1º Encontro Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Foi a partir daí que a questão agrária é recolocada em pauta na discussão da política brasileira.

Com tais desdobramento, a Constituição de 1988 foi formulada com diretrizes que aparentemente se comprometiam com a questão agrária e suas implicações, isto é, "[...]

um sistema normativo adequado para a redução do grau de injustiça nas relações entre lavradores e proprietários capitalistas do solo rural; nos últimos anos verificou-se, em todo o país, um alastramento sensível da violência no campo"11 (ESCOLA, 2015, p.1). É evidente que questões como o apossamento ilícito de terras públicas estão presentes no meio rural com o apoio do Estado em favor dos membros das oligarquias locais, a defesa do agronegócio transformou-se como uma justificativa para o apossamento dessas terras.

Segundo Cruz (2015),

10 O que se pode compreender por "nova questão agrária" é na verdade o agravamento dos efeitos contundentes e brutais do avanço do capital em detrimento dos trabalhadores e camponeses, a diferença é que agora o Estado passa a legitimar no sentido de proteger à burguesia rural através de forte investimento no agronegócio.

11 Segundo dados apurados pela Comissão Pastoral da Terra, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, em 2007 ocorreram homicídios ligados a conflitos agrários em 14 Estados da federação, seis a mais do que no ano anterior. Análogo espraiamento territorial registrou-se quanto à expulsão de famílias do campo: enquanto em 2006 tais incidentes ocorreram em 10 unidades da federação, em 2007 eles foram registrados em 14 Estados (ESCOLA, p.1, 2015).

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[...] as políticas governamentais de acesso à terra no Brasil não conseguem promover um pacto político de sustentação para um projeto de redistribuição de terras, apesar de possuir um dos mais belos diplomas sobre a questão agrária (...) Reforma agrária não consiste apenas na entrega da terra a quem não a tem e a quer, precisamos sim de uma reforma acoplada à política agrícola, que responda aos anseios do homem sem terra (p.1).

Ao deparar-se com a realidade do campo frente os embates do MST com os grandes latifúndios e a luta por condições dignas de trabalho e pelo fim da violência e escravidão no campo, é fácil perceber que a autêntica Reforma Agrária ainda não foi alcançada pelos trabalhadores rurais, e que a Política Agrária brasileira nos dias de hoje é incapaz de reconhecer a importância do trabalhador rural e fazer a articulação entre a agricultura familiar e agricultura do agronegócio.

IV. CONCLUSÃO

A luta dos trabalhadores rurais, apesar de fortes expressões nas manifestações representativas no quadro de conquistas, desapropriou-se do vínculo com os direitos trabalhistas, e se expressa através de manifestações diretas e autônomas. Segundo Montaño e Duriguetto (2010), os trabalhadores do campo foram historicamente excluídos das leis trabalhistas conquistadas pelos trabalhadores urbanos e do direito de organização sindical. Por isso os Movimentos do campesinato ainda sofrem tamanha dificuldade na conquista da garantia de direitos em meio a desordem no que se refere à ocupação de terras brasileiras por estrangeiros e no cumprimento de uma autêntica reforma agrária.

À vista disso, compreende-se a necessidade da articulação do movimento rural com a classe operária, pois as propostas da Reforma Agrária vão além de interesses de caráter corporativo sindical, elas perpassam interesses de classe que não se delimitam no campo, mais é constituída pelo ideal de uma nova Política Agrária que atenda não apenas aos interesses da burguesia rural, mais que também viabilize as condições necessárias e justas para o trabalhador mesmo em tempos de modernidade no campo.

REFERÊNCIAS

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