• Nenhum resultado encontrado

PINHEIRO-MACHADO, R. - Amanha vai ser maior

N/A
N/A
Ramiro Valdez

Academic year: 2023

Share "PINHEIRO-MACHADO, R. - Amanha vai ser maior"

Copied!
197
0
0

Texto

O quotidiano de grande parte da população que dependia, por exemplo, dos transportes públicos e dos cuidados de saúde, ainda estava repleto de incerteza e vulnerabilidade. 20 centavos: foi também um grito pela melhoria dos bens públicos, que é o termômetro de uma sociedade democrática. Mas, principalmente, o que aconteceu no Brasil foi a ascensão de uma geração jovem que não conhecia o passado petista e que cresceu numa época em que o PT simbolizava a ordem, o establishment e o governo de coalizão.

O apoio da Globo, a mensagem de apartidarismo (que foi mal interpretada como antipartidarismo) e a possibilidade de ler aqueles protestos como uma crítica pura e simples à corrupção do governo do PT foram uma janela de oportunidade para a elite assumir o controle de nas ruas (e incluindo o slogan “Venha para as ruas”, que foi inicialmente utilizado por grupos de esquerda). Mas você pode concluir que cartas como esta são repelidas pela moralidade hipócrita. Num momento oportuno, pouco antes de uma das piores crises econômicas da história do Brasil, os filhos dos novos consumidores mostraram a cara.

Nunca alimentei ilusões românticas sobre uma “revolução dos camiões” – isso não aconteceria a nenhum dos lados. O evento teve papel fundamental na consolidação da rede de empresários, políticos e intelectuais de direita e extrema direita. Apresentavam-se como liberais, tinham forte presença na Internet e operavam através de uma forte estética juvenil, principalmente através da produção de memes.

Disseram que as manifestações organizadas pelo movimento foram as maiores da história do Ocidente, pois catalisaram, através de uma estética nova e moderna, grupos furiosos que não aceitavam o discurso criminoso e os aviões dos políticos. Ele deu a notícia de uma forma ainda mais distorcida, dizendo que se tratava de uma “postagem de protesto” através de um meme cuja foto foi cuidadosamente escolhida para que eu parecesse estar gesticulando de forma “zangada”. O desacordo sobre as agendas políticas no século XXI é construído através de uma guerra que é fundamentalmente discursiva, isto é, baseada em palavras, estátuas, símbolos.

Donovan é, na verdade, uma caricatura de uma moralidade masculinista – ou seja, a supremacia masculina – que está em toda parte: do Palácio do Planalto ao homem comum que se sente autorizado a matar a propriedade de uma mulher. Quando falamos de “esperança” para nos referirmos à era Lula, sempre enfatizamos que era uma esperança incerta. O celular roubado custou um mês inteiro de salário – em quem Cássio votou para presidente?

O lixo tomou conta da área do Morro da Cruz, na periferia de Porto Alegre. Numa das maiores áreas periféricas da capital brasileira, simplesmente não existe escola secundária. Durante as eleições, muitos eleitores mencionaram que pela primeira vez gostavam de política, que se sentiam verdadeiramente parte da campanha.

Basta subir o morro de qualquer periferia da cidade e ver quem está lá no topo, repondo a falta de remédios e vendendo sonhos de um futuro melhor.

BOLSONARISMO

Este trecho de um artigo acadêmico dos autores revela o contexto norte-americano em particular, mas serve para descrever os eleitores de Bolsonaro: “Ao rir com Trump, seus eleitores se sentem fortalecidos, suas diferenças diminuem [...] os insultos contra as minorias tornam-se engraçados”. [42] Bolsonaro é um político do mesmo tipo. Infelizmente, o único político que chegou à periferia, depois de Lula, foi Bolsonaro através do (primeiro) engajamento orgânico: esses jovens fizeram questão de editar os vídeos onde ele assistia. sentir-se parte da política. Presidente eleito, diante de um governo já iniciado com escândalos de corrupção, nepotismo e uma economia estagnada, resta a Bolsonaro continuar investindo em sua imagem de “mito”, agora no “simples homem de família”. “Versão que vai aos jogos do Palmeira e joga videogame.

O sentimento fascista que cresce no Brasil não mobiliza o medo de um inimigo externo, como costuma acontecer no hemisfério norte. Lula é um vagabundo, embora tenha liderado um dos governos mais bem-sucedidos e respeitados internacionalmente da história do país. Ainda nos lembramos do ano de 1997, quando jovens brancos, privilegiados e filhos do poder, queimaram na rua um homem adormecido e ficaram chocados ao ver que era um aborígene: “Achávamos que era.

Devemos compreender que estamos perante uma explosão colectiva que traz à tona muitos salvadores voluntários. Por um lado, temos uma geração de mulheres politizadas e feministas; por outro lado, uma forte reação masculina negativa. A identificação com Bolsonaro é também um movimento desesperado de uma equipa que se vê cair na mesa, uma reacção às muitas vozes políticas emergentes que decidiram rebelar-se dentro e fora do país.

Tanto o Occupy nos Estados Unidos como as jornadas de junho de 2013, por exemplo, foram marcos no reforço de um novo pensamento político que procura, na micropolítica e na ação direta, o afeto radical, a imaginação e a horizontalidade. Concordamos com essa premissa básica, mas ressaltamos que #EleNão se trata apenas de propaganda negativa, mas de um processo inédito no Brasil. Não fez parte de um processo contínuo para expandir a participação das mulheres no debate público e pode crescer muito além da rejeição do actual presidente.

Bolsonaro empodera esse homem que sente que está perdendo privilégios e tem saudades de um Rio Grande do Sul virtuoso. No entanto, o que aconteceu no Brasil não se deveu a um surto coletivo, mas sim a uma falha na ruptura com o nosso passado autoritário e com as estruturas que perpetuam a desigualdade. Aqui estamos nós, quase três décadas depois, vivenciando as consequências de um golpe que derrubou o primeiro presidente a governar o país, resultando em um dos governos mais reacionários da nossa história.

Por um lado, grupos organizados como o MBL competem fortemente por espaço nas associações estudantis no Brasil. Tendo em conta todos estes exemplos, penso que a esquerda institucional precisa de um horizonte para sonhar e consequentemente construir.

Referências

Documentos relacionados