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Resenha - Uniandrade

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Academic year: 2023

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OLIVEIRA, LUCIENE GUIMARÃES DE. Resenha de Media do not Exist – Performativity and Meadiating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue et Marcello Vitali_Rosati, Amsterdam, Institut of Network Cultures, 2019, 114 p. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 417-424.

Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 07 dez. 2020.

417 Resenha

MEDIA DO NOT EXIST – PERFORMATIVITY AND MEDIATING CONJUNCTURES, DE JEAN-MARC LARRUE ET MARCELLO VITALI_ROSATI, AMSTERDAM, INSTITUT OF NETWORK CULTURES, 2019, 114 P.

LUCIENE GUIMARÃES DE OLIVEIRA (DOUTORANDA) Université Laval Quebec, Canadá (guimalucienne@gmail.com)

Publicado em 2019, o livro Media do not exist - Performativity and Mediating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue e Marcello Vitali-Rosati (ainda inédito no Brasil), é fruto de uma pesquisa sobre estudos intermediais realizada através de The Canada Research Chair on Digital Textualities, sendo os autores professores e pesquisadores da Université de Montréal. Surgindo no fim dos anos 1980 e, em meados dos anos 1990, na esteira da “revolução digital ", os estudos sobre intermidialidade apresentam um campo de pesquisa relativamente recente. A reflexão dos autores permite ao leitor, ao pesquisador e aos que se interessam pela intermidialidade acompanhar a trajetória dos estudos intermidiais desde o seu surgimento até os dias atuais, com o advento da cultura digital. É importante lembrar que, embora os estudos intermidiais estabeleçam vínculos com os estudos interartes, com a intertextualidade e com a interdisciplinaridade, a intermidialidade se insere num campo mais amplo, tendo em conta o aparecimento de novas mídias, de dispositivos, de técnicas e das mediações humanas.

O título, Media do not exist, que parece negar a existência do termo “mídia”, suscita a hipótese tentando elucidá-la no decorrer da obra, lançando assim uma nova compreensão do conceito. O subtítulo – Mediating conjunctures – revela o argumento principal dos autores que defendem o termo “conjunturas mediadoras”

ao invés de “mídia”. Como muitos intermidialistas já demonstraram, a exemplo de Jürgen Müller, uma mídia nunca está isolada, mas sim em constante interação

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OLIVEIRA, LUCIENE GUIMARÃES DE. Resenha de Media do not Exist – Performativity and Meadiating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue et Marcello Vitali_Rosati, Amsterdam, Institut of Network Cultures, 2019, 114 p. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 417-424.

Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 07 dez. 2020.

418 com outras mídias. É a essa dinâmica que Larrue e Vitali-Rosati chamam de

"conjunturas mediadoras". Essa constatação leva à hipótese de que "a mídia não existe", justificando o título do livro.

Organizada segundo um pensamento linear, que privilegia a história da intermidialidade, e à luz da filosofia, a obra se dedica à evolução das ideias que culminam no surgimento dos estudos intermidiais. Assim, um panorama histórico é traçado desde meados dos anos 1980, incluindo o aparecimento de novas disciplinas no campo dos Media studies, como a arqueologia das mídias. Os autores esclarecem, por exemplo, a distinção entre estudos intermidiais e aqueles do sociólogo canadense Marshall McLuhan, no campo dos Media Studies, no âmbito da Sociologia da comunicação.

A estrutura da obra

Dividido em cinco capítulos, o primeiro apresenta um panorama histórico que vai desde o nascimento do pensamento intermedial até a noção de remediation, esta concebida por Jay David Bolter e Richard Grusin .

A fim de mapear o discurso do pensamento intermedial, os autores ressaltam que, embora a Alemanha seja considerada o berço do pensamento intermedial, (o termo intermedialität se espalhou pela primeira vez na Alemanha, Bélgica, Holanda), é no Canadá onde se estabelece e se consolida o primeiro centro de estudos e pesquisa dedicados aos estudos intermediais. Trata- se da abertura do Centre de recherche intermédiale (CRI) da Université de Montréal, fundado em 1997, hoje CRIalt (Centre de recherches intermédiales sur les arts, les lettres et les techniques). Mas é preciso salientar que a intermidialidade está longe de ser um campo de pesquisa puramente circunscrito a Montreal. Desde o seu início, os estudos intermidiais se bifurcaram simultaneamente em diferentes lugares, e os grandes nomes da primeira onda na pesquisa intermidial – Jürgen Müller, Werner Wolf, Irina Rajewsky, François Jost, Lars Elleström, Hans-Jürgen Lüsebrink, Leonardo Quaresima, André Gaudreault, Éric Méchoulan, Philippe Despoix, Silvestra Mariniello – representam tanto disciplinas (Literatura e Literatura Comparada, Cinema, Filosofia, etc.) quanto territórios (França, Itália, Alemanha, Áustria, Suécia, Québec). Nesse sentido, se por um lado, o termo intermidialidade permanece confinado a um pequeno círculo de pesquisadores, por outro lado, a reflexão intermidial avança, mesmo que alguns autores jamais mencionem o termo "intermidialidade". A título de exemplo, destacamos o trabalho dos autores americanos Jay David Bolter e Richard Grusin. Em 2000, publicaram uma obra de grande relevância na perspectiva dos estudos intermediais: Remediation: Understanding New Media. O conceito de remediation desenvolvido por esses autores, cujo slogan consiste em

“uma mídia é o que remedia” está no cerne da dinâmica intermidial. Na esteira do

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OLIVEIRA, LUCIENE GUIMARÃES DE. Resenha de Media do not Exist – Performativity and Meadiating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue et Marcello Vitali_Rosati, Amsterdam, Institut of Network Cultures, 2019, 114 p. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 417-424.

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419 conceito de remediation, a chegada da arqueologia das mídias como uma disciplina científica também se tornou um importante ramo da intermidialidade. Assim, os

autores apontam outro livro, What is media

archaeology?, de Erkki Huhtamo e Jussi Parikka, como uma referência significativa quanto a do modelo de remediation. Outras obras estadunidenses ou em todo o mundo, seja de diferentes perspectivas teóricas, como a narratologia, os estudos da adaptação e da literatura e outras artes, ou mesmo no campo da eletroacústica, contribuem, adotando uma perspectiva intermedial. Ainda, no que concerne à pesquisa no Canadá em torno do CRIalt, os autores lembram que a obra de “Philippe Marion sobre as interações entre as mídias, de François Odin sobre os ‘primórdios’ do cinema, de Jean-Louis Déotte sobre o conceito de appareil e do grupo de Toulouse sobre o conceito de dispositivo, exploram as questões da intermidialidade sem, no entanto, chamá-las por esse nome” (LARRUE ET VITALI-ROSATI, 2019, p. 8). Da mesma forma, devemos levar em conta os textos sobre o médium1 e sobre o espectador emancipado, de Jacques Rancière, bem como os de Daniel Sibony (in-between), assim como os de Deleuze sobre o cinema, (a imagem-cristal). Estes são exemplos emblemáticos que contribuem para os estudos intermidiais, mesmo sem nomeá-lo. Entretanto, mesmo que os autores se esqueçam de incluir nessa lista de leituras essenciais, fazemos jus à reflexão de Walter Benjamin sobre a cultura midiática. Sem dúvida, sua reflexão sobre a cultura, sobre o cinema, sobre a arte, sobre a literatura é precursora da mediação entre técnica e reprodução, o que contribui para o avanço dos estudos intermidiais.

Também é importante ressaltar quanto à dinâmica intermidial, as práticas artísticas como o uso de fotografias ou imagens em textos literários, a projeção de imagens, a relação simbiótica entre filmes e videogames.

Um período midiático e outro pós-midiático

A história relativamente curta da intermidialidade é dividida em dois períodos, levando em conta a dicotomia de midiático e pós-midiático. A lógica dos autores é organizada segundo essa linha cronológica de divisão de períodos, sendo tal dicotomia fundamental para compreender a evolução do pensamento intermidial determinada pela transição do analógico ao digital. Esse divisor de águas é também fundamental na relativização do termo “mídia”. Assim, o período midiático é determinado segundo uma concepção considerada tradicional de mídia herdada da teoria da comunicação de Marshall McLuhan dos anos 60. Considerar a mídia como estável, que não é produto de qualquer interação, ou seja, como “mônada”, isolada, caracteriza o período midiático. Como

1 Confira : Jacques Rancière, « Ce que « medium » peut vouloir dire : l’exemple de la photographie », Revue Appareil, 2008. https://journals.openedition.org/appareil/135

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OLIVEIRA, LUCIENE GUIMARÃES DE. Resenha de Media do not Exist – Performativity and Meadiating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue et Marcello Vitali_Rosati, Amsterdam, Institut of Network Cultures, 2019, 114 p. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 417-424.

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420 Jürgen Müller observa, o pensamento intermidial nasceu de uma ruptura com a compreensão de uma mídia como uma 'mônada' operando de forma independente e analisável isoladamente. Partindo da ideia de McLuhan de que “toda mídia inclui outra mídia”, Müller e os primeiros intermedialistas mostraram que uma mídia está sempre em interação com outras. Portanto é a intermidialidade que produz a mídia. Os autores demonstram que o período midiático permaneceu focado no conceito de mídia até meados dos anos 2000. Nesse período midiático da história da intermidialidade, a máxima de McLuhan exerce forte influência na obra de Jay David Bolter e Richard Grusin publicada em 2000 e seu conceito de remediation. Baseado na fórmula “a mídia é o que remedia”, o livro de Bolter e Grusin exclui definitivamente a ideia de mídia pura. Essa inovação é positiva porque vai além das constatações dos primeiros intermedialistas. No entanto, os autores são criteriosos quanto a alguns princípios de Bolter e Grusin. Primeiramente, está a do princípio de origem, de anterioridade, relativo à remediation. Os autores questionam que, se um médium deveria sempre remediar outro médium, haveria então um primeiro? A pergunta não encontra resposta na teoria de Bolter e Grusin. Por outro lado, segundo os autores, as ideias de McLuhan agradam sobremaneira a Bolter e Grusin, pois estes se mantêm apegados à ideia de progresso. Assim, estar atrelado à evolução do elétrico ao digital, seria se ater a uma concepção darwiniana na evolução da mídia, o que os autores consideram ser a fragilidade do modelo de remediation. Essa ressalva critica um modelo que permanece limitado e não leva em conta a complexidade e a diversidade da dinâmica intermidial. A transição para o período pós-midiático ilustra, segundo os autores, a árdua, mas bem- sucedida, luta da intermidialidade pela emancipação da mentalidade pós- estruturalista da qual ela é concebida.

Por fim, os autores entendem a intermidialidade como: um campo de estudo, uma dinâmica e uma perspectiva, portanto, uma tríade. Enquanto campo de estudo, trata das relações complexas, ricas, polimórficas e multidirecionais entre as “conjunturas mediadoras”. Como dinâmica, a intermidialidade é o que torna "possível" a produção e evolução das conjunturas. Práticas artísticas e relações intermediárias podem ser aí consideradas. Como perspectiva original, a intermidialidade nos permite compreender melhor esse campo de estudo e essa dinâmica.

Quanto à terminologia, a palavra "intermídia" (o que se situa entre as mídias) surge pela primeira vez na década de 1960, e a invenção do termo é atribuída ao poeta e compositor Dick Higgins, co-fundador do movimento neo- vanguardista Fluxus. Os autores consideram essa era “pré- intermedial'', e é ela que dá origem ao período midiático, pois as mídias eram percebidas como mônadas, ou seja, estáveis, separáveis e independentes uma da outra, tendo como

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OLIVEIRA, LUCIENE GUIMARÃES DE. Resenha de Media do not Exist – Performativity and Meadiating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue et Marcello Vitali_Rosati, Amsterdam, Institut of Network Cultures, 2019, 114 p. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 417-424.

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421 mídias eletrônicas dominantes o rádio, a televisão e o cinema. Quanto à palavra

"intermidialidade", ela apareceu originalmente em alemão (intermedialität), na década de 1980, e foi popularizada pelo pesquisador alemão Jürgen E. Müller, um dos pioneiros nos estudos intermediais. Diferentemente do período pré- intermedial, Müller questiona a noção de intermidialidade ao considerar as relações entre as mídias e rejeitar a hipótese de uma mídia pura, isolada porque, segundo ele, “à mídia se integrariam estruturas, procedimentos, princípios, conceitos, questões de outras mídias. [...]” (LARRUE E VITALI-ROSATI, 2019, p.

18). Isso é, segundo os autores, um avanço teórico significativo nos estudos intermediais.

Os autores também discutem os conceitos de hipermidialidade, da convergência intermidial e da transmidialidade, que há 10 anos está no centro da dinâmica intermedial. A hipermídia, segundo entende o intermidialista Chiel Kattenbelt, deve ser compreendida como uma mídia unificadora. Seu exemplo é o teatro como resultado da interação de várias práticas, de formas artísticas que confirmam a singularidade da prática teatral.

O pensamento atual da intermidialidade, ou seja, o período pós-midiático é caracterizado pelo abalo da crença no determinismo e no progresso – tanto quanto pela ruptura da concepção tradicional de mídia e pelo desaparecimento da primazia tecnológica. No intuito de precisar o período pós-midiático, os autores sustentam que a dificuldade de definição de mídia levou os pesquisadores da intermidialidade a abandonar o conceito em favor da ideia de mediação, ou o que chamamos de “conjunturas ou circunstâncias mediadoras”. Assim, nos últimos 15 anos, entramos gradativamente na fase pós-midiática da intermidialidade. A questão da identidade de um médium tornou- se secundária à sua ação e sua posição nas configurações transmídiais. Não apenas sabemos agora que o conjunto de características do passado usado para definir um médium é de fato instável, mas também entendemos que uma característica não é propriedade exclusiva da mídia, pois nenhuma é tomada isoladamente.

O segundo capítulo, intitulado "Essência e performatividade ", evidencia o constante declínio dos modos essencialistas de pensar a mídia. Conforme demonstrado no capítulo anterior, o período midiático assegurava uma identidade de uma mídia estável. Neste caso, as mídias são objetos; qualquer mídia, seja o rádio, televisão, web – tem sua própria especificidade. Segundo os autores,

“podemos dizer que a intermidialidade nasceu da passagem de uma heurística essencialista (baseada na suposta existência de mídias concorrentes) para não- heurística, não-essencialista (questionando a noção de mídia a fim de considerar convergências dinâmicas produzindo formas de mediação), o que os autores chamam de “conjunturas mediadoras” (LARRUE E VITALI-ROSATI, 2019, p. 31).

Assim, o período pós-mídiatico envolve uma mudança de paradigma no

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OLIVEIRA, LUCIENE GUIMARÃES DE. Resenha de Media do not Exist – Performativity and Meadiating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue et Marcello Vitali_Rosati, Amsterdam, Institut of Network Cultures, 2019, 114 p. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 417-424.

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422 pensamento intermedial. A perspectiva pós-midiática, portanto, rejeita o conceito de mídia em favor da mediação.

O terceiro capítulo retoma o tema “conjunturas mediadoras”, constituindo o próprio título do capítulo. Como os autores já haviam mencionado anteriormente, este insiste na fragilidade do termo mídia, uma vez que o período pós-midiático favorece o processo de mediação. Daí o título “a mídia não existe”. Eles ressaltam três dimensões nas conjunturas mediadoras: a mediação técnica, a mediação discursiva e a mediação prática, sendo a dinâmica intermedial o resultado da fusão dessas dimensões. Dessa forma, o espaço interativo que conecta o palco ao público implica uma dimensão técnica, pois elementos como a iluminação e a acústica fazem parte desse contexto espacial. A dimensão técnica vem acompanhada de uma dimensão discursiva, que consiste em todos os documentos, textos ou outras formas de traços em que se baseia nossa interpretação do mundo. A dimensão prática é complementar, pois sem, por exemplo, a encenação, não há público. Essas são as dimensões que coexistem e se complementam nas conjunturas mediadoras.

No último capítulo, os autores enfocam a cultura digital para demonstrar como a intermidialidade pode nos ajudar a entender melhor essa realidade, sua natureza e sua conjunção. A discussão é então reorientada para o teatro e sobre conceitos “que ocuparam, e continuam a ocupar, um lugar considerável na reflexão teatral: presença e teatralidade”. O surgimento do termo digital nos anos 90 dá origem a muitos discursos em torno do assunto, mas é verdade que estamos de fato imersos na cultura digital e essas mudanças que dela decorrem ocorrem em nossas vidas, em nossa sociabilidade.

Os autores observam que é curioso que o teatro ofereça um campo de pesquisa tão fértil para os estudos intermediais, que é surpreendente que um atraso de quase vinte anos separe o surgimento dos primeiros conceitos intermediais (em meados da década de 1980) e sua aplicação às práticas teatrais (em meados dos anos 2000).

Para situar adequadamente a tecnologia digital na atualidade, os autores levam em consideração os debates tanto em torno da realidade virtual, quanto da era da comunicação, e das novas tecnologias. Essas são três perspectivas que representam o imaginário coletivo em torno da tecnologia digital. O termo

"realidade virtual" apareceu pela primeira vez na década de 1980 e é concebido como um "espaço modelado, imersivo e interativo". O digital é definitivamente uma cultura de rede em que ideias como compartilhamento, conectividade de entrada e colaboração são o coração da cultura digital, mesmo que elas desafiam ideias como originalidade. Os autores ressaltam que uma importante característica

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OLIVEIRA, LUCIENE GUIMARÃES DE. Resenha de Media do not Exist – Performativity and Meadiating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue et Marcello Vitali_Rosati, Amsterdam, Institut of Network Cultures, 2019, 114 p. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 417-424.

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423 do digital é a oposição entre dois paradigmas: representacional e performativo. O exemplo referente à prática da escrita ilustra, ao mesmo tempo que elucida, o paradigma da representação:

Simplificando, podemos pensar sobre práticas de escrita da mesma forma que pensamos em formas de representação do real, ou seja, uma maneira de formar uma relação entre um significante – escrita -- e um referente -- o real, ao qual a escrita se refere. Nesse sentido, podemos pensar na escrita como tendo uma função mimética e inseri-la na série de formas de representação, como foram praticadas e analisadas desde a Antiguidade – de Platão até hoje. Dentro deste contexto, a pergunta a ser feita estaria relacionada à forma como atos linguísticos correspondem aos seus referentes ou, dito de outra forma, a relação entre a verdade e ficção: escrever é uma representação fiel do real ou é uma ficção, como o romance? (LARRUE E VITALI- ROSATI, 2019, p. 86)

No entanto, a cultura digital não parece privilegiar este paradigma da representação e, em vez disso, sugere outro: o paradigma performativo. De acordo com o paradigma performativo, a escrita deve ser considerada como um ato produtor do real. Em outras palavras, não é o caso de representar uma realidade, mas de construí-la. A cultura digital privilegia essa perspectiva.

A fim de explicar a performatividade do teatro, os autores colocam a seguinte questão: “existe uma performatividade teatral?' A resposta é positiva. Toda mediação é performativa e, claro, uma performatividade teatral existe e é constantemente redefinida. Essa performatividade decorre de um conjunto de conjunturas mediadoras que chamamos teatralidade. Eles asseguram também que o que distingue essa performatividade de outras performatividades é sua teatralidade, “é o conjunto de conjunturas mediadoras às quais a teatralidade está vinculada e que, no melhor de casos, resulta no espetáculo de teatro” (LARRUE ET VITALI-ROSATI, 2019, p. 105). Os autores enfatizam então o crescimento do paradigma performativo em detrimento do paradigma representacional.

Media do not exist – Performativity and Mediating Conjunctures, embora seja densa no volume de informações, traz aos interessados pelo campo da intermidialidade uma leitura rica e fundamental para a compreensão do fenômeno intermidial, assim como a trajetória do pensamento intermidial.

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OLIVEIRA, LUCIENE GUIMARÃES DE. Resenha de Media do not Exist – Performativity and Meadiating Conjunctures, de Jean-Marc Larrue et Marcello Vitali_Rosati, Amsterdam, Institut of Network Cultures, 2019, 114 p. Scripta Uniandrade, v. 18, n. 3 (2020), p. 417-424.

Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 07 dez. 2020.

424 LUCIENE GUIMARÃES DE OLIVEIRA é mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (2005) e doutoranda no programa Littérature et arts de la scène et de l'écran pela Université Laval (2020). Atualmente é tradutora literária. Dentre suas publicações, estão o artigo "L"expérience de la flânerie dans le court-métrage Les mains négatives, de Marguerite Duras" (2018), na revista de Cultura visual Vista, Sopcom, Portugal. É membro dos seguintes centros de pesquisa: CRIalt - Centre de recherches intermédiales sur les arts, les lettres et les techniques) Université de Montréal, et CRIV – Communauté de recherches interdisciplinaires sur la vulnérabilité (ULaval).

Referências

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