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As transformações no mundo do trabalho, geradoras de uma contextualidade em que se desenvolvem autênticas transformações societárias (ANTUNES, 1998;

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AS DETERMINAÇÕES DA CATEGORIA VALOR NA APREENSÃO DO SIGNIFICADO SOCIAL DO TRABALHO DOS ASSISENTES SOCIAIS EM TEMPOS DE CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL

George Francisco Ceolin, Professor Adjunto, Mestre, Universidade Federal de Goiás georgeceolin@yahoo.com.br RESUMO

Busca-se apreender o caráter social do trabalho profissional do serviço social como fundamento necessário que possibilite avançar na análise da funcionalidade do trabalho profissional do serviço social brasileiro na particularidade histórica de crise estrutural do capital. A oposição constituinte do duplo caráter do trabalho produtor de mercadorias exige a apreensão do trabalho concreto em relação às determinações do trabalho abstrato, o que requer a apreensão do trabalho concreto enquanto conteúdo específico de uma forma social abstrata, que recoloque os termos em uma relação de interdependência contraditória, onde o conteúdo só existe enquanto modo específico determinado pela forma valor.

Palavras-chave: Trabalho profissional, Serviço Social, valor.

1 INTRODUÇÃO

As transformações no mundo do trabalho, geradoras de uma contextualidade em que se desenvolvem autênticas transformações societárias (ANTUNES, 1998;

HARVEY 1998), decorrem das respostas do capitalismo monopolista ao quadro crítico de acumulação de capital, marcado por um desenvolvimento lento e por uma superprodução endêmica em uma longa onda com tonalidade recessiva (MANDEL, 1990; CHESNAIS, 1996).

A constituição de um novo padrão de acumulação flexível (HARVEY, 1998) tem

sido caracterizada pela intensificação da precarização do trabalho, acompanhada de

uma proliferação do desemprego estrutural. As novas condições históricas têm

incidido nas relações entre o Estado e a sociedade, redefinindo o papel dos Estados

nacionais e alterando os padrões de regulação social na contemporaneidade. A atual

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configuração do desenvolvimento capitalista, com a hegemonia das corporações multinacionais, suprime as fronteiras do Estado-Nação, subsumindo os instrumentos estatais de controle e regulação a seus interesses particulares. Os Estados dos países periféricos e dependentes são dominados pelo mercado mundializado.

O conjunto de modificações na esfera produtiva incide sobre as formas de gestão da força de trabalho e, consequentemente, sobre as políticas sociais.

A agudização das expressões da questão social aponta uma nova configuração da reposição da factualidade alienada (NETTO, 1981) com que o sistema produtor de mercadorias mistifica as relações sociais em todas as instâncias e níveis sociais.

Nesse contexto de naturalização da questão social, com generalização da pobreza e da miséria, aprofunda um movimento de redimensionamento da função social da ação assistencial, que passa a ter como fundamento a administração da miséria no marco da assistencialização das políticas sociais. Essa mudança na função da assistência deve ser entendida no quadro histórico das novas configurações da crise do capital, apreendendo seu sentido social nesse contexto histórico particular, bem como as requisições que são colocadas à profissão do Serviço Social e que incidem sobre o significado social do trabalho profissional. Vê-se, pois, que o capital renova suas estratégias para remediar a crise e intensificar a exploração do trabalho, adequando-se a cada momento histórico específico. Dessa forma, subordina e confere novas atribuições e objetivos ao trabalho profissional.

Esse quadro histórico de crise estrutural do capital é responsável por um desastre social que exige a constituição de um novo quadro de políticas sociais, que responda ao cenário de estagnação e crise estrutural da economia capitalista que marca o fim do período de expansão do pós-guerra. As transformações societárias resultantes dessa crise da forma civilizatória fundada na produção do valor cria um mundo peculiar, caracterizado pela insegurança e violência como expressão dos limites civilizatórios de um tempo histórico que revela a decadência da forma social burguesa em sua totalidade.

O desastre social decorrente das respostas do capital às suas crises expressa

o esgotamento das possibilidades civilizatórias desse modo de produção e regulação

social, ao converter necessariamente os fundamentos de sua reprodução social em

produtividade destrutiva (MÉSZÁROS, p. 85, 2009). A produção destrutiva como

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forma de reprodução da vida social expande sua forma a todas as dimensões da vida, expressando no plano da cultura o esgotamento de qualquer possibilidade civilizatória.

Nesse cenário, refratário aos direitos sociais, impera o desemprego estrutural, o crescimento da informalidade, bem como o controle das classes trabalhadoras é intensificado pela militarização da segurança pública, que passa a encarar esse controle como uma questão de combate ao terrorismo contra as classes perigosas (WACQUANT, 2011).

Essas chamadas “classes perigosas” impulsionam a reformulação da ação social do Estado, que amplia a focalização de sua política de assistência social na administração da miséria social e sob a égide de um Estado penal (WACQUANT, 2011), revelando a dimensão de barbárie social do capitalismo em sua fase de crise estrutural.

Num quadro histórico de crise estrutural do capital e de barbárie social a configuração do Estado se dá num novo trato das classes perigosas caracterizado pela ação assistencial focalizada e pela militarização da segurança pública. O esgotamento dos limites civilizatórios no contexto de crise estrutural expressa-se na configuração de um Estado Penal que controla as classes perigosas com a repressão e a administração da miséria.

Nesse quadro histórico são refuncionalizadas as políticas sociais, conformando técnicas de gestão da regressão civilizatória como forma de controle do desastre social, focadas na população sobrante do processo de produção de valor e constituindo-se em uma gestão da barbárie social.

Apreender o significado social do trabalho profissional do Serviço Social nesse contexto particular de crise estrutural e barbárie social tem um significado particular em relação ao mesmo trabalho profissional em outras conjunturas. O significado social do trabalho profissional não é determinado pelo sujeito profissional, mas por uma correlação de forças em que, ainda que este possa ter um certo protagonismo, seus resultados nas condições de reprodução social não são determinados por suas intencionalidades.

No decorrer da tese empreendemos esforços teóricos para desvelar as

determinações que incidem no trabalho na formação social e histórica da riqueza

capitalista, portanto, no processo de produção de mercadorias. Contudo, a produção

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de mercadorias atende um requisito máximo que não diz respeito ao provimento de necessidade sociais, mas a produção de valor. Dessa forma, a forma geral do valor expressa-se na “enorme coleção de mercadorias” (MARX, 2013 p.113), que tem como substância geradora de valor - o trabalho humano.

Portanto, decifrar as múltiplas determinações que incidem sobre essa relação social que se expressa como forma fantasmagórica entre coisas torna-se urgente, sobretudo, para compreendermos as funcionalidades sócio-interventivas que informam o trabalho profissional do Serviço Social. Defende-se, nessa tese, que os fundamentos sócio-históricos que imprimem uma especialização do trabalho com as peculiaridades assumidas pelo Serviço Social na institucionalização e profissionalização estão ancorados na dinâmica contraditória do processo de valorização do valor.

Por mais que as particularidades socio-históricas de evicção da profissão radiquem na confluência do acirramento das lutas de classes sociais e dos projetos de dominação social de uma delas, o que se evidencia como elemento predominante em sua legitimação social e institucional, pauta-se na dinâmica imperativa da valorização do valor.

O caráter misterioso do capital, assim como tratamos no decorrer da tese, é constitutivo da forma valor-capital, ou seja, do caráter social da atividade produtiva, marcada pelos processos de intensificação e precarização da exploração do valor de uso da força de trabalho. Tendencialmente, observa-se que as determinações socio- históricas propulsoras da crise estrutural do capital implicaram a degradação do caráter social do trabalho, sobretudo em decorrência da própria dinâmica do capital no processo de autovalorização do valor. Registra-se, em níveis desproporcionais, formas de extração dos domínios do sobretrabalho que impultam as barreiras físicas e sociais de reprodução da força de trabalho.

A apreensão do significado social do trabalho profissional do Serviço Social no

complexo contexto da crise atual exige o rigor teórico na apreensão de seus

fundamentos históricos e teórico-metodológicos que possibilite o desvelamento do

fetiche de sua prática profissional. Tal desafio requer uma crítica ao conceito de

trabalho profissional que priorize as determinações do conteúdo do trabalho (seu valor

de uso) em sua relação com a forma social (valor) que o determina enquanto trabalho

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abstrato. O que exige uma análise da teoria do valor e suas implicações na conformação do trabalho profissional.

Portanto, o trato teórico da categoria valor é explicativa das tensões e fundamentos teóricos e históricos que dotam o trabalho profissional do Serviço Social de uma legalidade sócio profissional.

1 CAPITAL MONOPOLISTA, CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL E SUAS INFLEXÕES NO TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE

A organização monopolista do capital teve seu início nas últimas décadas do século XIX (MANDEL, 1985; SWEEZY e BARAN, 1986; BRAVERMAN, 1987). Nesse período, a concentração e centralização de capitais, em formas de trustes, cartéis e outras formas de combinação, começaram a firmar-se, e a estrutura moderna da indústria e das finanças capitalistas começou a tomar forma. A moderna era imperialista inaugurava-se, ao mesmo tempo, pelos conflitos armados pela divisão do globo em colônias ou em esferas de influência ou hegemonia econômica (BRAVERMAN, 1987, p. 215).

O alvo central da fase monopólica é a criação do mercado universal. Para atingi-lo, o sistema do capital busca a conquista de toda a produção de bens e de uma gama crescente de serviços em forma de mercadorias e inventa um novo ciclo de produtos e serviços. Muitos deles tornam-se indispensáveis à medida que a vida moderna vai mudando e destruindo as alternativas existentes.

O objetivo primário da nova estrutura da empresa monopolista moderna é o acréscimo dos lucros capitalistas pelo controle dos mercados (SWEEZY, 1986). A transformação de toda a sociedade em um gigantesco mercado é uma chave fundamental para a compreensão da história social recente (BRAVERMAN, 1987, p. 231).

Aumentando e acelerando os efeitos da acumulação, a centralização amplia e acelera ao mesmo tempo as transformações qualitativas na composição técnica do capital. Ocorre crescente acréscimo de sua parte constante em relação à sua parte variável, reduzindo assim a procura relativa de trabalho.

A acumulação capitalista sempre produz, na proporção de sua expansão, uma população trabalhadora supérflua relativamente, que ultrapassa as necessidades médias da expansão do capital. Dessa forma,

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Uma população trabalhadora excedente não só é produto e alavanca da acumulação capitalista, mas também condição de existência do modo de produção fundado no capital (MARX, 1968, p. 733).

O processo da dinâmica do modo de reprodução capitalista sob predominância do novo padrão de acumulação flexível e da crise do capital produz uma massa de trabalhadores supérfluos às necessidades do aparato reprodutivo do capital, provocando uma verdadeira barbárie social.

Para Mészáros (2002), o sistema sociometabólico do capital alcança a totalidade social e subordina todas as dimensões da vida em sociedade. O capital, como sistema orgânico global, impôs a generalização da produção de mercadorias como forma social e histórica, inclusive a sujeição do trabalho vivo, enquanto mercadoria comercializável, as determinações da compulsão econômica. A consequência imediata afeta frontalmente a própria existência da humanidade.

Distintamente das crises cíclicas do desenvolvimento capitalista, que inclusive são intensificadoras de novas forças de expropriação de mais-valor e dominação, há uma novidade histórica na crise das últimas décadas do século XX.

A consequência necessária do aprofundamento da crise nos ramos produtivos da

“economia real” é o “novo padrão emergente de desemprego” e, por conseguinte, da miséria humana, que assumem o caráter de indicadores do aprofundamento da crise estrutural. Assim como, a auto expansão do capital impele exponencialmente massas populares para condições degradantes de trabalho ou expele na mesma proporção ao desemprego. A preocupação máxima pauta-se na garantia da forma capital e sua expansão e, portanto, sem compromissos sociais, políticos, ecológicos com a humanidade.

2 O VALOR COMO CATEGORIA NECESSÁRIA À APREENSÃO DO SIGNIFICADO SÓCIO-HISTÓRICO DO TRABALHO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL

A aproximação da literatura do serviço social brasileiro à perspectiva da crítica marxista, possibilitou a compreensão do significado social da profissão a partir da reprodução das relações sociais, possibilitou a apreensão do significado histórico da profissão, a partir do desvelamento da função social que a legitima na divisão social do trabalho capitalista. Essa perspectiva possibilitou o aprofundamento do debate crítico com o conservadorismo tradicionalmente hegemônico na história do serviço social brasileiro, abrindo “novos caminhos para o repensar da profissão” (IAMAMOTO e CARVALHO, 1986, p. 21).

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Tendo por fundamento, “os antagonismos de interesses objetivos inerentes às relações sociais”, como a contradição central da sociedade burguesa, e o “caráter da diversidade do movimento histórico", como seu movimento dialético, tratava-se da

“formulação de novas estratégias para a ação dos agentes profissionais que se propõe a atuar a serviço dos interesses dos trabalhadores” (IAMAMOTO e CARVALHO, 1986, p. 75, 74, 21 - respectivamente).

No entanto, o movimento histórico de transição dos séculos XX e XXI, num contexto de fortalecimento da agenda neoliberal como resposta a intensificação da crise mundial do capital, cujos rebatimentos na sociedade brasileira são mais diretamente sentidos a partir da última década do século XX, nos coloca como desafio a elucidação de um contexto de intensa precarização do trabalho e retrocesso nas conquistas dos direitos do trabalho, simultaneamente à ampliação da democratização da sociedade civil e do aparato jurídico de reconhecimento de direitos sociais, expressos, especialmente, mas não exclusivamente, na constituição de 1988.

O quadro de crise estrutural do sistema produtivo e dos limites do capital como modo de reprodução sociometabólico (MÉSZÁROS, 2009) nos coloca como desafio a necessidade da reelaboração crítica da totalidade da forma capital, enquanto força totalizante que subsumi as formas de resistência e luta contra seu movimento de autovalorização incontrolável e destrutivo.

A oposição constituinte do duplo caráter do trabalho produtor de mercadorias exige a apreensão do trabalho concreto em relação às determinações do trabalho abstrato, enquanto uma relação recíproca que só se constitui como unidade na relação social que a determina enquanto totalidade. Desse modo, a análise requer a apreensão do trabalho concreto enquanto conteúdo específico de uma forma social abstrata, que recoloque os termos em uma relação de interdependência contraditória, onde o conteúdo só existe enquanto modo específico determinado pela forma valor.

Pressupõe-se que a função social que legitima a necessidade de uma determinada especialização na divisão social do trabalho, infere-se da necessidade da lógica da ordem do capital, demandada pelas formas históricas particulares de valorização do valor.

Desse modo, a apreensão do significado social do trabalho profissional do Serviço Social requer que o debate sobre o trabalho profissional priorize as determinações postas pela divisão social e técnica do trabalho capitalista, enquanto determinação de forma social do

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trabalho, que subsumi a qualidade útil do trabalho concreto dos assistentes sociais à sua determinação de forma social de trabalho abstrato.

Ainda que os sujeitos profissionais possam tencionar essa função social, a partir da polarização diante dos interesses das classes sociais em disputa na sociedade, somente podem fazê-lo a partir da materialidade da lógica social que legitima a profissão. Portanto, o fundamento de legitimidade social enquanto profissão partícipe da divisão social e técnica do trabalho capitalista não deve ser apreendido pelas respostas construídas pelos sujeitos profissionais. Os limites das possibilidades de tencionar e polarizar tal base legitimadora, esta sim, depende das estratégias e respostas historicamente construídas. O significado social da profissão deve se apreendido pelas determinações da forma social do trabalho na divisão social e técnica capitalista. Os limites e possibilidades do sujeito diante das contradições que constituem essas determinações é um desafio historicamente construído pelos sujeitos profissionais e pela classe.

A apreensão da funcionalidade sócio profissional do trabalho do assistente social, em que pese sua processualidade histórica vinculada às peculiaridades do capitalismo, na fase monopólica do capital, encontra-se lastreada pela dinâmica dos fluxos de valorização do valor.

Nessa direção, aportar-se na teoria do valor é peça indispensável para compreensão das determinações do trabalho na sociedade burguesa e, especificamente, a natureza profissional do Serviço Social e sua singular contraditoriedade na conformação da lógica reprodutiva do capital.

A constituição de um aparato profissional da natureza assumida pelo Serviço Social ganha conteúdo concreto no sistema capitalista e sua funcionalidade e alterações sócio profissionais são indicativas de um processo em curso dos fluxos de valorização do valor.

Rastrear as dinâmicas internas que movem o processo de valorização torna-se a chave heurística explicativa para compreensão da profissão, sobretudo, os limites ideo-políticos que conformam o conjunto de requisições profissionais no rompimento das bases da alienação, em seu movimento totalizante.

Para tanto, a funcionalidade sócio profissional do trabalho profissional do Serviço Social inscreve-se na contraditoriedade dos influxos valorativos do capital, referencia-se na relação salarial e assume uma legitimidade social e institucional nos processos imanentes da dominação do capital sobre o trabalho, na resposta à propulsão da forma capital de se expandir em detrimentos das sequelas próprias que lhe são geradas.

A crise estrutural do capital recoloca e agudiza substantivamente essas contradições, implicando limites à ordem sociometabólica da vida social.

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Portanto, as determinações sócias históricas explicativas da razão de ser da profissão e de sua ampliação sócio profissional são derivativas da dinâmica contraditória do valor. Em que pese o caráter reivindicativo e das lutas sociais que externalizam as tensões das classes sociais em movimento, sua aderência e reprodução social encontram-se fincadas na legalidade social da teoria do valor. Desse modo, o desvelamento do significado social da profissão do Serviço Social deve ser apreendido a partir do valor enquanto categoria fundante das relações sociais capitalistas, e na particularidade da relação dialética contraditória trabalho concreto e trabalho abstrato, na qual o conteúdo concreto do trabalho útil só se realiza pela especificidade da forma social que o concretiza enquanto trabalho abstrato e alienado.

A compreensão das estruturas e do significado social das profissões exige aprendê- las em sua inserção na dinâmica contraditória da forma capital. Portanto vinculada a valorização do valor. A reprodução da totalidade das relações sociais é um processo complexo, que contém em si mesmo a possibilidade do diverso, do contraditório, da mudança e do novo.

O mesmo movimento que cria as condições para a reprodução da sociedade de classes cria e recria os conflitos resultantes dessa relação. A reprodução das relações sociais não é mera reposição do instituído, mas também criação de novas necessidades, de novas forças produtivas sociais do trabalho, em cujo processo se aprofundam as desigualdades e se criam novas relações sociais em disputa pela hegemonia entre diferentes classes e grupos na sociedade. Nessa concepção, a história é um vir-a-ser aberto às possibilidades, à criação do novo, que captura o movimento e a tensão das relações sociais entre as classes, as formas reificadas que as constituem, assim como a possibilidade de ruptura. Portanto, se existe uma auto expansão insaciável da forma capital ela não é a-histórica e perene, mas produto de relações sociais contraditórias que se movem em torno da valorização do valor, quebrantável como qualquer dinâmica da vida social.

3 CONCLUSÃO

As transformações no mundo do trabalho, geradoras de uma contextualidade em que se desenvolvem autênticas transformações societárias (ANTUNES, 1998; HARVEY 1998) que expressam a constituição de um novo padrão de acumulação.

A constituição de um novo padrão de acumulação flexível (HARVEY, 1998) tem sido caracterizada pela intensificação da precarização do trabalho, acompanhada de uma proliferação do desemprego estrutural. As novas condições históricas têm incidido nas relações entre o Estado e a sociedade, redefinindo o papel dos Estados nacionais e alterando

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os padrões de regulação social na contemporaneidade. O conjunto de modificações na esfera produtiva incide sobre as formas de gestão da força de trabalho e, consequentemente, sobre as políticas sociais.

A agudização das expressões da questão social aponta uma nova configuração da reposição da factualidade alienada (NETTO, 1981) com que o sistema produtor de mercadorias mistifica as relações sociais em todas as instâncias e níveis sociais.

Nesse contexto de naturalização da questão social, com generalização da pobreza e da miséria, aprofunda um movimento de redimensionamento da função social da ação assistencial, que passa a ter como fundamento a administração da miséria no marco da assistencialização das políticas sociais. Essa mudança na função da assistência deve ser entendida no quadro histórico das novas configurações da crise do capital, apreendendo seu sentido social nesse contexto histórico particular, bem como as requisições que são colocadas à profissão do Serviço Social e que incidem sobre o significado social do trabalho profissional.

Vê-se, pois, que o capital renova suas estratégias para remediar a crise e intensificar a exploração do trabalho, adequando-se a cada momento histórico específico. Dessa forma, subordina e confere novas atribuições e objetivos ao trabalho profissional.

Esse quadro histórico de crise estrutural do capital é responsável por um desastre social que exige a constituição de um novo quadro de políticas sociais, que responda ao cenário de estagnação e crise estrutural da economia capitalista que marca o fim do período de expansão do pós-guerra. As transformações societárias resultantes dessa crise da forma civilizatória fundada na produção do valor cria um mundo peculiar, caracterizado pela insegurança e violência como expressão dos limites civilizatórios de um tempo histórico que revela a decadência da forma social burguesa em sua totalidade.

O desastre social decorrente das respostas do capital às suas crises expressa o esgotamento das possibilidades civilizatórias desse modo de produção e regulação social, ao converter necessariamente os fundamentos de sua reprodução social em produtividade destrutiva (MÉSZÁROS, p. 85, 2009). Nesse cenário, refratário aos direitos sociais, impera o desemprego estrutural, o crescimento da informalidade, bem como o controle das classes trabalhadoras é intensificado pela militarização da segurança pública, que passa a encarar esse controle como uma questão de combate ao terrorismo contra as classes perigosas (WACQUANT, 2011).

Essas chamadas “classes perigosas” impulsionam a reformulação da ação social do Estado, que amplia a focalização de sua política de assistência social na administração da miséria social e sob a égide de um Estado penal (WACQUANT, 2011), revelando a dimensão de barbárie social do capitalismo em sua fase de crise estrutural.

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Num quadro histórico de crise estrutural do capital e de desastre social (SOARES, 2003) a configuração do Estado se dá num novo trato das classes perigosas caracterizado pela ação assistencial focalizada e pela militarização da segurança pública.

Nesse quadro histórico são refuncionalizadas as políticas sociais, conformando técnicas de gestão da regressão civilizatória como forma de controle do desastre social, focadas na população sobrante do processo de produção de valor e constituindo-se em uma gestão da barbárie social.

Apreender o significado social do trabalho profissional do Serviço Social nesse contexto particular de crise estrutural e barbárie social tem um significado particular em relação ao mesmo trabalho profissional em outras conjunturas. O significado social do trabalho profissional não é determinado pelo sujeito profissional, mas por uma correlação de forças em que, ainda que este possa ter um certo protagonismo, seus resultados nas condições de reprodução social não são determinados por suas intencionalidades.

Portanto, decifrar as múltiplas determinações que incidem sobre essa relação social que se expressa como forma fantasmagórica entre coisas torna-se urgente, sobretudo, para compreendermos as funcionalidades sócio interventivas que informam o trabalho profissional do Serviço Social.

Por mais que as particularidades sócias históricas de evicção da profissão radiquem na confluência do acirramento das lutas de classes sociais e dos projetos de dominação social de uma delas, o que se evidencia como elemento predominante em sua legitimação social e institucional, pauta-se na dinâmica imperativa da valorização do valor.

A apreensão do significado social do trabalho profissional do Serviço Social no complexo contexto da crise atual exige o rigor teórico na apreensão de seus fundamentos históricos e teórico-metodológicos que possibilite o desvelamento do fetiche de sua prática profissional. Tal desafio requer uma crítica ao conceito de trabalho profissional que priorize as determinações do conteúdo do trabalho (seu valor de uso) em sua relação com a forma social (valor) que o determina enquanto trabalho abstrato. O que exige uma análise da teoria do valor e suas implicações na conformação do trabalho profissional.

Portanto, o trato teórico da categoria valor é explicativa das tensões e fundamentos teóricos e históricos que dotam o trabalho profissional do Serviço Social de uma legalidade sócio profissional.

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REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho, 6ª ed. São Paulo: Cortez, 1998.

BARAN, P. e SWEEZY. Capitalismo monopolista. Rio de Janeiro: Zahar, 1966.

BRAVERMAN, H. Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no século XX. 3ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.

HARVEY, D. Condição Pós-Moderna, 7ª ed. São Paulo: Loyola, 1998.

IAMAMOTO, M. e CARVALHO, R. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 1986.

MANDEL, E. O Capitalismo tardio. Coleção Os Economistas. 2ª Ed., São Paulo: Abril Cultural, 1985.

MARX, K. O Capital. Volume I, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

MARX, K. O Capital, Vol. 1. São Paulo: Boitempo, 2013.

MESZAROS, I. Para além do capital. S. Paulo: Boitempo, 2002.

MESZAROS, I. A Crise Estrutural do Capital. São Paulo: Boitempo, 2009.

NETTO, J. P. Capitalismo e Reificação. São Paulo: Ciências Humanas, 1981.

WACQUANT, L. As Prisões da Miséria. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

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Referências

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Diante do objetivo deste trabalho que é analisar a iniciação científica como espaço de formação profissional em Serviço Social na Universidade Federal do Amazonas