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universidade federal de ouro preto - LPH

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Academic year: 2023

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A LUZ NO FUNDO DA TELA”: A LEGITIMAÇÃO DE UMA TERRA ESTRANGEIRA E DO BRASIL CENTRAL COMO CONTRAPOSIÇÃO À INDÚSTRIA CULTURAL. A monografia submetida ao Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em História. Monografia apresentada no curso de História do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em História.

O cinema brasileiro quase viu seu fim com a falta de incentivos estatais no início da década de 1990. Naquela época, os cinemas brasileiros receberam Terra Estrangeira e Central do Brasil, ambos do diretor Walter Salles Jr., entre os filmes exibidos naquele período. Procuro também identificar um viés de crítica social e de construção da identidade nacional em ambos os filmes, discutindo assim a história do cinema brasileiro durante a década de 1990.

Nessa época, os cinemas brasileiros receberam os filmes Terra Estrangeira e Central do Brasil, ambos do diretor Walter Salles Jr., entre os filmes lançados nesse período. No ano seguinte ao lançamento de Carlota Joaquina, o filme Terra Estrangeira, do diretor Walter Salles Júnior, foi considerado um marco no cinema brasileiro, um sucesso de crítica e público. Feito isso, queria explicar como se deu a retomada do cinema brasileiro e alguns dos produtos lançados nesse período.

No segundo capítulo, procuro percorrer as obras Terra Estrangeira e Central do Brasil do diretor Walter Salles (o primeiro tem parceria de codireção com Daniela Thomas).

1 – CENÁRIO NACIONAL E RETOMADA DO CINEMA BRASILEIRO

Esse fato se deve à criação da EMBRAFILME, empresa fundada em 1969, e também do Instituto Nacional de Cinema, fundado em 1966. Ambas as empresas estatais promoveram a produção nacional desde a sua criação até o final da década de 1980. O país viveu o que ficou conhecido pelo público e pela historiografia como a retomada do cinema brasileiro. Luiz Zanin Oricchio (2003) coloca Carlota Joaquina como ponto de partida para o revival, pois o filme quebra a barreira do milhão de audiência, pois o método de produção foi quase caseiro (ORICCHIO, 2003).

Após o sucesso do filme de Camurati, o público voltou a falar sobre o cinema brasileiro, e o cineasta Walter Salles Jr. lançou o longa-metragem Terra Estrangeira em colaboração com Daniela Thomas, consolidando o retorno do cinema brasileiro. A Retomada do Cinema Brasileiro pode ser dividida em vários capítulos, como nos mostra a pesquisadora Luiza Zanin Oricchio em seu livro Cinema de Novo: um balanço crítico de Retomada (2003). Podemos perceber que o cinema lançou diversas temáticas na década de 1990, que incluíam conteúdos históricos, adaptações literárias e também filmes com temas de forte apelo social como a violência urbana, o racismo, o sistema penal e a exclusão social.

Contudo, os filmes sobre esse tema não são amplamente produzidos na cinematografia brasileira, mas ganharam considerável impulso na década de 1990. Luiz Zanin Oricchio (2003) argumenta que “pensar o Brasil como um todo era a ambição do cinema na década de 1960” (ORICCHIO Em outras palavras, era algo que ficou particularmente evidente no cinema mais recente, talvez na tentativa de ver a especificidade do país Chama a atenção que, com a ascensão da indústria cultural no cinema, esse tipo de preocupação tenha desaparecido na década de oitenta.

O crime costuma atrair um grande público e funciona como uma espécie de exceção à regra do mundo normal e, como vimos anteriormente, alguns produtos cinematográficos utilizam a negação do outro para construir sua identificação. Por fim, tratarei aqui de um cenário mítico caro à história do cinema nacional, o sertão e a favela. Esse estilo de cinema será retomado com força total a partir da década de 1990 com Retomada.

Esse estilo de filmar e ver a essência brasileira através das áreas de exclusão - o sertão e as favelas - servirá como uma espécie de escola para jovens cineastas e uma nova oportunidade para os remanescentes do Cinema Novo continuarem seu trabalho após a redemocratização que havia sido severamente interrompido pela ditadura. Aposta também na introdução do cinema nacional no mercado internacional, pois alguns filmes têm personagens estrangeiras ou a maioria deles filmados numa língua diferente do português. A segunda fase, para ele, tem um traço muito característico, herdado do Cinema Novo, que é o sequestro de um Brasil real, tentando suscitar um sentimento de busca por uma identidade nacional.

Na obra de Lúcia Nagib (2002), a historiadora nos traz noventa entrevistas com noventa cineastas diferentes que atuaram nessa fase do cinema nacional. Este passado, com o qual o cinema dos anos noventa ainda conversa, é o Cinema Novo, uma fase querida pelo cinema nacional, embora ora, segundo o autor, “áspera” e ora “amorosa” (ORICCHIO.

Figura 1 - Cena de Carlota Joaquina – A Princesa do Brasil, de Carla Camuratti  Personagens estereotipados misturados à pesada direção de arte
Figura 1 - Cena de Carlota Joaquina – A Princesa do Brasil, de Carla Camuratti Personagens estereotipados misturados à pesada direção de arte

2 – POSSÍVEIS INTERPRETAÇÕES DOS FILMES CENTRAL DO BRASIL E TERRA ESTRANGEIRA

Em 1995, com uma equipe menor e mais íntima do projeto, Salles dirigiu junto com Daniela Thomas Terra Estrangeira. Parte então, como contrabandista de pedras preciosas, para Portugal em busca de conforto numa terra estrangeira. Seu terceiro filme, Central do Brasil, fez enorme sucesso de público e crítica e projetou o cinema brasileiro no exterior.

Em seu primeiro grande longa, Terra Estrangeira, Walter Salles e sua companheira Daniela Thomas retornam a 1990, quando Fernando Collor de Melo é eleito presidente da República do Brasil. Essa característica, uma mistura de cenas reais e ficcionais, pode ser encontrada no próximo longa de Salles, Central do Brasil, que será discutido a seguir. Como argumenta Miriam de Souza Rossini (2005), há uma forte busca pela identidade brasileira na Terra Estrangeira e na Central do Brasil.

26 é possível entender o país estrangeiro mencionado no título do filme como sendo: a) a pátria, o Brasil, pois é no brasão do país que esse título aparece e nenhum dos personagens da narrativa se identifica plenamente com a terra , país; b) Portugal, para onde Paco viaja e onde já residem outros estrangeiros (brasileiros, africanos); ou c) o mundo como um todo, o mundo globalizado sem fronteiras, onde as marcas dos produtos globalizados proporcionam uma certa atmosfera de familiaridade, mas que no fundo são vividas como se estivessem esvaziadas de significados culturais locais.”(ROSSINI. No contexto da ​​a filmografia de Walter Salles, deve ser considerada o momento de luto, muito doloroso, mas necessário para a reconciliação que acompanhará a Central do Brasil (ORICHHIO, 2003: 71).27 Quanto à sua fotografia, Walter Salles, Daniela Thomas e o fotógrafo Walter Carvalho optou por fazer Terra Estrangeira em preto e branco.

A dualidade esperança/desesperança mencionada acima se reflete na escolha de Collor, ou seja, na esperança de um país que acaba de sair da ditadura e na desesperança de ver um governo irregular, e no amadurecimento forçado dos personagens – outro tema que existe presente na filmografia de Salles, inclusive na Central do Brasil. Na Central do Brasil, por exemplo, você pode ver no início do filme que há pessoas que dão depoimentos de experiências reais para Dora, personagem de Fernanda Montenegro, que escreve cartas para analfabetos. Diferentemente de Terra Estrangeira, os personagens de Central do Brasil entram no país e dele não fogem.

A trama acompanha a jornada de Dora, uma professora aposentada que escreve cartas na Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Miriam de Souza Rossini (2005) acredita que Central do Brasil é a aproximação com o país estrangeiro, é o retorno para casa, a redescoberta de um Brasil que foi retratado na década de 1960 com o Cinema Novo. Rossini (2005) destaca que apesar do tempo que separa Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964, Glauber Rocha) da Central do Brasil, os rostos que vemos nos dois filmes são os mesmos: os de nordestinos que nunca perdem a esperança, apesar de serem cansado, sofrendo e envelhecendo.

Quanto à Central do Brasil, Pedro Butcher nas críticas ao Jornal do Brasil diz que sim. Seria muito restritivo descrever o filme apenas como um road movie brasileiro, simplesmente porque a maioria dos road movies fica muito aquém do que a Central do Brasil consegue fazer.

Figura 4 – Terra Estrangeira: discurso de Zélia Cardoso misturado à ficção.
Figura 4 – Terra Estrangeira: discurso de Zélia Cardoso misturado à ficção.

3 – MÍDIA IMPRESSA: VISÕES DE TERRA ESTRANGEIRA E CENTRAL DO BRASIL

Os dois longas-metragens estão entre os grandes momentos do ressurgimento do cinema brasileiro e, no caso da Central do Brasil, a distribuição que o filme tem tido no país e no exterior justifica o lugar de destaque que ocupa no cinema nacional. Esses festivais deram grande visibilidade ao cinema brasileiro e também a Walter Salles, já que seu próximo filme, Central do Brasil, receberia incentivos não só nacionais, mas também franceses para sua realização (LEÃO, 1996). 34 A excelente recepção do filme no exterior é um sinal de que o cinema brasileiro é muito apreciado no exterior e precisa de um novo começo.

O Jornal do Brasil está muito animado com a estreia do filme e isso fica evidente em suas críticas. O crítico Carlos Alberto de Matos afirma que “Walter Salles e Daniela Thomas fizeram o melhor filme brasileiro sobre o sentimento do exílio” (MATOS, 1995), enquanto a jornalista Danuza Leão torce timidamente pelo renascimento do cinema brasileiro. O cinema brasileiro sobrevive aos trancos e barrancos como o cinema de tantos outros países: dependendo de um público específico (BUTCHER, 1995).

Após essas críticas, a revista não deu muita atenção ao filme, ao contrário do Jornal do Brasil, que o colocou em posição fundamental na recuperação do cinema brasileiro. Com um reconhecimento muito maior – fato que provavelmente surgiu através de mecanismos de ampla distribuição e indicações a diversos prêmios no exterior – a Central do Brasil recebeu uma atenção midiática que o Terra não havia conseguido. Com uma história intrigante, bem costurada, interpretações precisas e tecnicamente perfeitas, Central do Brasil é um banho de realismo numa cultura cinematográfica profundamente marcada por delírios e metáforas desajeitadas.

Chegando de Berlim, onde a Central do Brasil de Walter Salles foi aplaudida, e ainda com a indicação de O que é isto, companheiro. Em outra resenha, desta vez da diretora Sandra Werneck, podemos perceber o quão importante foi a recepção da Central do Brasil para os cineastas em geral. A conquista do principal prêmio de Berlim, o Urso de Ouro, homenageia não só Walter Salles, mas o cinema brasileiro em geral.

Central do Brasil conseguiu algo que poucos filmes latino-americanos recentes conseguiram: falar para um público de outras partes do mundo.” (WENERCK, 1998). O sociólogo e jornalista, que escreve uma resenha para o jornal, acredita que a Central do Brasil não é um cinema “descolonizador”. E acrescenta: “Consequentemente, “Central do Brasil” poderia ter sido entendido como um filme esquizofrênico: sentimental da esquerda e racional da direita.”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por um cinema humanista: a identidade cinematográfica de Walter Salles, de A grande arte a Abril Despedaçado.

Imagem

Figura 1 - Cena de Carlota Joaquina – A Princesa do Brasil, de Carla Camuratti  Personagens estereotipados misturados à pesada direção de arte
Figura 2  – Cena de Banana Is My Business, de Helena Solberg  O estereótipo da brasilidade
Figura 3 - Cena de Abril despedaçado,  de Walter Salles  A estetização do sertão
Figura 4 – Terra Estrangeira: discurso de Zélia Cardoso misturado à ficção.
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Referências

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Fundada no ano de 1960, a massa documental da Universidade Federal de Santa Catarina foi tornando-se cada vez mais volumosa e, com isso, como foi verificado