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Vista do ÁGUAS-NEGÓCIOS X ÁGUA BEM COMUM: A LUTA DOS TRABALHADORES DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO RIO SÃO MARCOS

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Academic year: 2023

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Revista Pegada – vol. 24 257 Abril de 2023 ÁGUAS-NEGÓCIOS X ÁGUA BEM COMUM: A LUTA DOS

TRABALHADORES DA TERRA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO RIO SÃO MARCOS

WATERS - BUSINESS X WATERS – COMMON GOOD: THE STRUGGLE OF LAND WORKERS IN THE UPPER SÃO MARCOS RIVER BASIN ÁGUAS -NEGÓCIOS X ÁGUAS – BIEN COMÚN: LA LUCHA DE LOS

CAMPESINOS EN LA CUENCA ALTA DEL RÍO SÃO MARCOS

Aline Cristina Nascimento1 Janãine Daniela Pimentel Lino Carneiro2

Marcelo Rodrigues Mendonça3 Resumo

O artigo propõe uma análise da dinâmica de apropriação da água e dos conflitos surgidos diante de seu acesso e da sua utilização e revelam a contradição “águas-negócios” versus “água bem-comum”.

Embasando-se em pesquisa bibliográfica e trabalho de campo e tendo a Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos (BHSM) como recorte espacial, aponta-se que o uso capitalista da água pelo agronegócio e hidroelétricas produz a escassez hídrica a ponto de comprometer a reprodução da vida em suas diversas faces. Todavia, na apropriação capitalista, emergem lutas sociais capazes de anunciar a água como Bem Comum.

Palavras-chave: Água; conflito; Bem Comum.

Abstract

The article proposes an analysis of the dynamics of the appropriation of water and the conflicts that have arisen in view of its access and use and reveal the contradiction between “business water”

versus “common water”. Based on bibliographic research and fieldwork and having the Upper São Marcos River Basin (BHSM) as a spatial cutout, it is pointed out that the capitalist use of water by agribusiness and hydroelectric plants produces water scarcity to the point of compromising the reproduction of life in its various faces. However, in capitalist appropriation, social struggles emerge capable of announcing water as a Common Good.

Keywords: water; conflict; Very common.

Resumen

El artículo propone un análisis de la dinámica de la apropiación del agua y los conflictos que han surgido ante su acceso y uso y revelan la contradicción entre “agua comercial” versus “agua común”. Con base en la investigación bibliográfica y el trabajo de campo y teniendo como corte espacial la Cuenca Alta del Río São Marcos (BHSM), se señala que el uso capitalista del agua por la agroindustria y las centrales hidroeléctricas produce escasez de agua hasta el punto de comprometer

1 Professora da rede privada de ensino. Membro do Trappu/Laboter/IESA/UFG.

2 Professora no curso de Geografia da Universidade Estadual de Goiás/UEG/Campus Sul/Sede/Morrinhos.

3 Professor no Instituto de Estudos Socioambientais (IESA)/Universidade Federal de Goiás (UFG).

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Revista Pegada – vol. 24 258 Abril de 2023 la reproducción de la vida sus diversas caras. Sin embargo, en la apropiación capitalista surgen luchas sociales capaces de anunciar el agua como Bien Común.

Palabras-llave: agua; conflicto; Bien común.

INTRODUÇÃO

A água está no centro de disputas e conflitos. Na contemporaneidade, é pauta em espaços de luta social como, por exemplo, em movimentos contra construção de barragens, mineração a céu aberto e em territórios de vida. No campo, o tema ganha evidência a partir dos processos de apropriação e uso como recurso para produção, reserva de valor ou mesmo na dinâmica de precificação, movimentando a complexa relação de geração de valor da sociedade capitalista.

Na Bacia hidrográfica do Alto Rio São Marcos, território apropriado pelo agronegócio irrigante e pela hidrelétrica Batalha para geração de energia elétrica, ocorre uma disputa intracapital pela água, entendendo esta como bem econômico. Para além dessa disputa, há um conflito posto pela contradição, com a concepção de vida camponesa, que resiste e lapida a água no seu referencial de Bem Comum. Nesse sentido, propõe-se uma análise da dinâmica de apropriação da água e dos conflitos surgidos diante de seu acesso e da sua utilização, que revelam a contradição “águas-negócios” versus “água bem-comum”.

O tema água é investigado na sua forma relacional, envolvendo distintas formas de apropriação hídrica em suas possíveis relações. Compreende-se, desse modo, que usar a água é se apropriar da natureza. Independentemente dos usos que dela se façam, o que ocorre é a apropriação da natureza pelo processo de trabalho social para satisfazer a necessidade dos seres humanos. No capitalismo, as formas de apropriação da água são organizadas pela produção de mais valor em um dinâmica de luta de classes, pois é natureza incorporada neste intuito, devendo-se identificar os interesses de classes em disputa e em conflitos, bem como os reflexos espaciais desses processos sobre a apropriação da água e das formas de vida.

“Nenhuma parte da superfície terrestre, a atmosfera, os oceanos, o substrato geológico ou o substrato biológico estão imunes à transformação pelo capital” (SMITH, 1988, p. 80). A única natureza que permanece pristina é a inacessível. E se o autor tem

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Revista Pegada – vol. 24 259 Abril de 2023 razão, a produção da natureza só pode ser a concretização de suas contradições internas entre o valor e o valor de uso, e a luta de classes. Deve-se questionar as formas pelas quais a produção da natureza é feita, quem o faz e as desigualdades relacionais a esses processos (HARVEY, 2006). Desta compreensão, emergem as possibilidades de se construir novos espaços, novas formas de vida e os trabalhadores da terra que tecem a água como Bem Comum. Exemplo é a resistência “a água tem que ser viva e pra gente viver” na bacia hidrográfica do Alto Rio São Marcos.

A concepção da água como Bem Comum é entendida como a afirmação ético- prática (DUSSEL, 2002) de que os frutos da natureza pertencem à humanidade, ou seja, a todos os que deles necessitam para viver. Nessa perspectiva, a natureza não é mero recurso para a produção de mercadorias, é a vida em si (FLORES; MISACZKY, 2015).

As lutas de defesa da natureza e dos modos de vida encontram fundamentos nas reflexões de Marx e Engels (2009, p. 24). Para eles, “[...] a primeira premissa de toda a história humana é a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro fato a constatar é, portanto, a organização corpórea desses indivíduos e a relação por isso existente com o resto da natureza”. É preciso, portanto, considerar os seres humanos em sua ontologia de seres socialmente construídos em relação à natureza. Assim, o Bem Comum emerge em práticas e relações com a natureza nas quais o valor dessa é definido pelos usos que proporcionam para a reprodução da vida humana.

A degradação da água e da natureza em geral estão diretamente relacionadas à exploração e à luta de classes. Logo, é preciso trazer esse tema para o centro da reflexão.

Muitos movimentos, grupos, organizações e intelectuais têm defendido a água como Bem Comum, um princípio ético materialmente enraizado nas condições de vida. A defesa do Bem Comum, além de se contrapor à propriedade privada, é também um critério para a constituição de relações sociais (HINKELAMMERT; JIMÉNEZ, 2009).

No entanto, a concepção de Bem Comum, como mencionado por FLORES;

MISACZKY (2015), carrega em si uma série de contradições e confusões conceituais decorrentes do que Gramsci (1991) qualifica como uma incapacidade de produzir conhecimento vinculado à própria realidade material, de forma autônoma. Isso ocorre

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Revista Pegada – vol. 24 260 Abril de 2023 porque o conhecimento e a visão de mundo dos grupos subalternos são fortemente influenciados pelos conhecimentos produzidos pelas classes dominantes. Essas, por sua vez, incorporam discursos produzidos nas lutas sociais como parte da sua estratégia de hegemonia, como é o caso dos Comitês de Bacias hidrográficas que lançam uma luta ancorada na precificação da água.

Enquanto pesquisadores, a água aparece em nossa agenda de pesquisa desde os anos 2000, e as reflexões resultaram em uma constatação fundamental: não existe o tema da água em sua totalidade e, sim, temas distintos usualmente utilizados de forma desarticulada.

Essa desarticulação contribui para a disseminação de imprecisões e contradições teórico-conceituais, o que reflete na organização estratégica das lutas sociais de oposição à apropriação capitalista da água e nas concepções que nelas emergem, favorecendo, assim, as estratégias da hegemonia organizadas em torno de uma concepção de água como bem econômico e como mercadoria. Dentre essas, ressaltamos como exemplo o uso do conceito de escassez para, posteriormente, justificar a atribuição de dinheiro à água.

Para investigar esses argumentos, o texto se organiza metodologicamente em torno da revisão bibliográfica e do estudo empírico na Bacia do Alto Rio São Marcos, localizada entre os estados de Goiás e Minas Gerais. O período de análise da pesquisa se compreendeu entre os anos de 1984 a 2016. Esse recorte temporal se justifica por revelar o processo de territorialização e espoliação do agronegócio e seus efeitos no uso e apropriação da terra e da água, bem como pelo acúmulo de lutas em defesa da água que a universaliza como Bem Comum.

Na realização do primeiro trabalho de campo (exploratório) se constatou que, das práticas capitalistas de apropriação e uso da água, emergem lutas sociais que anunciam a água como Bem Comum. Em conversas com os camponeses, foram apresentados gráficos dos índices pluviométricos e vazão do Rio São Marcos. A observação dos referidos gráficos gerou a seguinte reação por parte de uma camponesa: “[...] a gente já sabe que a água está acabando aqui e também sabe que são esses fazendeiros grandões e essa barragem que está destruindo tudo”. A partir dessa fala, a pesquisadora argumentou: “e usam a água sem

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Revista Pegada – vol. 24 261 Abril de 2023 pagar nada”. Foi então que a camponesa respondeu: “[...] mas nós queremos vender água?

Água não é pra vender não”.

Neste momento, entendeu-se que esta reflexão teria que propor uma crítica à concepção da água como bem econômico. Teria que ser dissenso e afirmar, nos ambientes acadêmicos, a água como Bem Comum. Assim, se cumpriria o papel ético-crítico de fortalecer a luta que, para muitos, já está perdida, mas é o que mantém a esperança na continuidade da vida para tantos outros.

O trabalho de campo e a revisão bibliográfica foram o alicerce para a construção do artigo. O cruzamento das reflexões fruto dessas metodologias conduziu a um terceiro aspecto metodológico, englobando a pesquisa documental, que demonstrou como a geração e levantamento de dados sobre as condições ambientais das bacias hidrográficas são uma “arte” de disputa. A partir do contato com a arena de poder representada por diferentes metodologias de análises que fazem “os números confessarem” o que os sujeitos que as encomendam querem. Tanto a Agência Nacional de Águas (ANA) quanto dissertações e teses vinculadas ao agronegócio produzem números divergentes sobre a atual capacidade de vazão e ocupação do agronegócio na Bacia do Alto Rio São Marcos.

Esses dados produzem análises que sustentam o uso capitalista da água e

“amenizam” as disputas. Para entender o “águas-negócio”, utilizaram-se dados da Agência Nacional das Águas (ANA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas muitas das informações foram conseguidas junto a ex-servidores da ANA, pois não constam em bancos de dados públicos por gerarem contradições com as práticas espaciais hegemonizadas no território.

Por fim, o texto procurará desvelar as concepções que emergem nas práticas de vida e nas lutas sociais que esboçam novas formas de organizar o metabolismo social (Marx, 2006), nas quais o critério para a apropriação da água e da natureza é o Bem Comum, um princípio ético e universal, qual seja, a reprodução da vida humana.

ÁGUAS-NEGÓCIO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO RIO SÃO MARCOS

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Revista Pegada – vol. 24 262 Abril de 2023 Bacia hidrográfica pode ser entendida como um “[...] conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático” (TEODORO, 2007, p.37). A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, incorpora princípios e normas para a gestão de recursos hídricos, adotando a definição de bacias hidrográficas como unidade de estudo e gestão.

Dada a natureza desse estudo, busca-se um diálogo entre os conceitos físico e técnico, com a dimensão do poder presente na contradição de diferentes formas de apropriação e uso da água materializados na Bacia Hidrográfica. Esse espaço relacional no dizer de Harvey (2010) está imerso em fluxos, significados e definições que estruturam relações de poder e, desta forma, dimensionam o recorte espacial como um território - território como construção histórica, fruto “da construção da sociedade ou parte dela”

(OLIVEIRA, 2008).

Acionar esse conceito de território é importante quando se busca compreender a contradição entre o valor de uso e o valor de troca (expressão do valor) no uso e na apropriação da água. No Alto Rio São Marcos, a territorialização da lógica capitalista em que o valor é a magnitude que organiza a sociedade vai entrar em conflito com a lógica de reprodução da vida tecida pelos trabalhadores da terra. Contudo, ao identificar a aparência (conflito pelo uso e apropriação da água) e a essência (inserção da natureza prístina na geração de valor) é preciso identificar como se dá esse processo e quais os sujeitos envolvidos e, ainda, desvendar o ocultamento e a dimensão destrutiva nos termos de potenciais falhas metabólicas.

A Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos é a parte à montante da hidroelétrica Batalha que, após a sua construção, ficou dividida entre Alto Rio São Marcos e Baixo Rio São Marcos. A Bacia Hidrográfica do Rio São Marcos é uma sub-bacia hidrográfica do rio Paranaíba, pertencente à região hidrográfica do Paraná.

Na porção alta, o rio São Marcos - assim como na grande maioria do seu percurso divide os Estados de Minas Gerais (MG) e Goiás (GO) (ver Mapa 1). São quatro os

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Revista Pegada – vol. 24 263 Abril de 2023 municípios que possuem áreas na Bacia do Alto Rio São Marcos: Cristalina (GO), Unaí (MG), Paracatu (MG) e Brasília (DF)

Mapa 1 – Localização da Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos.

Fonte: ANA, 2017. Elaboração: PINHATI, F. S. C.

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Revista Pegada – vol. 24 264 Abril de 2023 Uma das características mais significativas da Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos é a abundância de água e a constante nos índices pluviométricos na área. Com duas estações bem definidas, sendo verão chuvoso e inverso seco, a Bacia apresentou uma média no índice pluviométrico de 1.400 mm/ano, nos últimos trinta e dois anos (32 anos) (1984-2016)4.

Neste mesmo período, a vazão caiu de 31,18m3/s em 1984 para 13,78m3/s em 2016 (Fonte: HIDRANET/ANA, 2018). Mesmo sem ter a pretensão de fazer uma análise técnica desses dados, é possível verificar a diminuição da vazão mínima e a disparidade entre esta e o índice de precipitação da Bacia do Alto Rio São Marcos.

Gráfico 1: Cruzamento entre precipitação e vazão na Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos.

Fonte: INMET, 2018. HIDRANET/ANA, 2018 – Elaboração: PINHATI, F. S. C

4 Ao se considerar as referências de disponibilidade pluviométrica da Organização das Nações Unidas, a Bacia Hidrográfica do Alto São Marcos passa longe dos índices de déficits hídricos. Para esta, uma área apresenta déficit hídrico quando apresenta valor menor a 800 mm/ano de chuva, e escassez com valores inferiores a 500mm/ano. Contudo, o fato de a área estudada ter mantido uma média (mm/ano) no período em análise não significa que não houve alteração no ciclo de precipitação na área.

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Revista Pegada – vol. 24 265 Abril de 2023 Apesar de ter diversas variantes, é possível afirmar que há, ao longo dos últimos 30 (trinta) anos, uma diminuição na vazão do Rio São Marcos, mesmo com os índices pluviométricos permanecendo estáveis. A constante incorporação da natureza – água – no processo de geração de valor cria efeito destrutivo para a reprodução da vida nas áreas em que se territorializam, e este processo também é apropriado pela dinâmica de produção do valor e ocultada pelo Estado ao realizar estudos (ou não realizar) que visam negociar a água na sua afirmação como recurso e/ou como bem econômico.

No caso em estudo, esse processo se efetiva em diferentes etapas e com diferentes sujeitos envolvidos que, ao se “encontrarem”, estabelecem a disputa intracapital pelo uso da água, além do conflito que será abordado mais adiante.

Em um primeiro momento a água é usada como recurso para a produção e, consequente, geração de valor. Após a territorialização do latifúndio, o agronegócio monopoliza parcela das terras e da água da Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos, transformando-a na área com maior concentração de pivôs centrais da América Latina. De posse da terra, da água e das condições climáticas dadas pela altitude, a região vai se transformar no celeiro agrícola, ancorado na tradicional argumentação de “produção de alimentos para colocar fim à fome do país e do mundo”.

Esse argumento se fundamenta no fato de que as áreas irrigadas na Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos não são exclusivas para a produção de commodities agrícolas para exportações como algodão, milho, sorgo e soja, mas também culturas importantes para o mercado interno como, por exemplo, no município de Cristalina, que ocupa 37% da área investigada, e são plantados com pivôs centrais culturas como batata inglesa, alho, feijão, tomate, cebola, café e trigo (BRUNCKHORST; BIAS, 2017).

Frizzone (2017, p.42) ensina que a irrigação tem por objetivo “[...] alcançar alta produtividade das culturas com o uso eficiente da água, da energia e de outros fatores de produção” e também “maximizar a produção vegetal por unidade de custo da mão-de- obra ou do capital investido”. É a forma antiga de manipular a água enquanto recurso para a produção de mercadoria de forma mais eficiente e, isso, fica evidente no depoimento do representante de um Sindicato Rural:

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Revista Pegada – vol. 24 266 Abril de 2023 Quando cheguei aqui em 1986 plantávamos obedecendo o ciclo da chuva. Era muito gasto e desenvolvia muitas doenças que levou muita gente ao endividamento. Depois descobrimos a irrigação por pivô central e isso mudou o rumo das nossas vidas e da região. Aqui já tem condições boas para plantar e a gente irriga, quase que cem por centro para aumentar a produtividade. Conseguimos aumentar produtividade de 30% a 60%. É uma maravilha! (J. F. Entrevista em agosto/2018).

A irrigação é tida como o principal elemento que alavancou o agronegócio na região a partir dos anos 1990.

Através de servidores da Agência Nacional de Águas, tivemos acesso ao mosaico de imagens Sentinel, de 2016, e a partir dele foi possível a identificação visual de 1.273 pivôs centrais na Bacia Hidrográfica do Rio São Marcos (BARSAM) em uma área de 104.173 ha, sendo 1.011 pivôs instalados no Alto Rio São Marcos (ASM) com 82.438 ha; e 262 pivôs no Baixo Rio São Marcos (BSM) com 21.735 ha. Deste modo, a ocupação da BARSAM por pivôs centrais foi mais intensa no ASM do que no BSM. Uma hipótese para essa diferença é o fator topográfico, uma vez que no BSM se possui relevo mais movimentado do que no ASM.

Os dados de pivôs instalados por município demonstraram que Cristalina é o município que detém a maior extensão de terras na Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos, seguido por Campo Alegre de Goiás e Catalão. No entanto, a área irrigada nesses dois últimos municípios é muito pequena se comparada a Cristalina ou mesmo a municípios de menores extensões de terra na BARSAM, como Unaí e Paracatu, no estado de Minas Gerais.

Ocorreu uma disparada no uso da água como recurso e gerou um desequilíbrio entre a oferta e a demanda, o que se denomina de déficit ou de escassez hídrica. Além dos dados da vazão (Gráfico 1) demonstrarem isso, o depoimento dos camponeses, ao longo da Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos, comprovam esse apontamento:

É nesse lugar que tinha um braço do córrego e sumiu. No começo ele sumia só na época da seca muito brava e depois voltava e dava até peixe, mas agora sumiu de vez. (Camponês morador do Alto São Marcos, Unaí/MG. 26/04/2019).

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Revista Pegada – vol. 24 267 Abril de 2023 Esse processo tem, na territorialização do agronegócio irrigado, um dos seus motivos. Além da alta demanda, a retirada do Cerrado e o desequilíbrio no processo de infiltração e evapotranspiração estão na origem do problema.

No Ano de 2005, a Agência Nacional de Águas (ANA) publicou a Resolução ANA nº 364/2005, orientando que, para a garantia do balanço hídrico na Alto Rio São Marcos, o consumo não deveria passar de 1,62 m3/s. Com a construção da hidrelétrica Batalha e início dos questionamentos do uso da água pelo agronegócio irrigante, a ANA publica Resolução n° 489, de 19 de agosto, de 2008, informando que o consumo consuntivo já poderia ser de 7,67 m3/s. Posteriormente, em 25 de outubro de 2010, por meio da Resolução nº 564, a ANA alterou a Resolução n° 489/08, estabelecendo novos valores para as vazões de usos consuntivos a serem subtraídas das vazões naturais médias mensais dos afluentes ao AHE Batalha para 13,61 m3/s até 2040, proporcionando um incremento de vazão de 5,94 m/s3 conforme Gráfico 2. O argumento dado foi que tal incremento foi

“cedido” pela necessidade de compatibilização entre os usos de irrigação e energia elétrica na bacia do São Marcos e, consequentemente, estabelecimento do Marco Regulatório do Uso da Água na Bacia do São Marcos entre SEMARH/GO, IGAM/MG e ANA.

Gráfico 2 - Vazões médias anuais reservadas para os usos consuntivos à montante da UHE Batalha até o ano de 2040, de acordo com as Resoluções ANA n° 489/08 e 564/10 e o

incremento de vazões provocado pela Resolução n° 564/10

Fonte: ANA, 2017.

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Revista Pegada – vol. 24 268 Abril de 2023 Toda essa discussão de ajuste passa a ser feita ancorada na necessidade de geração de valor do capital irrigante e do capital energético, e começa a criar a ideia de ‘déficit’ e até de ‘escassez’, escamoteando a discussão de que o que acontece é uma demanda crescente muito maior do que a disponibilidade de geração de água na bacia.

Neste cenário, no qual as condicionantes “naturais” vão se adequando à pressão política da viabilidade econômica, a geração de dados de um diagnóstico “técnico” (das condições físicas da bacia) é manipulada e quando publicada, a diferenciação abrupta entre os resultados é justificada pelo uso de distintas metodologias. Metodologias essas que são desenvolvidas para atender as necessidades de quem as pagam.

Em 2013, iniciou a operação da Hidroelétrica Batalha, com previsão de potência instalada de 52,5 MW. A barragem de 50 m de altura está situada na divisa dos municípios de Cristalina (GO) e Paracatu (MG), e formou um reservatório com 36 km de extensão, inundando uma área de 138 km2 expulsando 87 famílias, em sua grande maioria camponeses. Furnas – Centrais Elétricas S.A. é responsável pelo certame para exploração do AHE Batalha desde que venceu o 1º Leilão de Energia Nova realizado pela Aneel (comercializando 47MW médios ao preço de R$ 114,37/MWh - base: dez/2005). Para além da apropriação da renda diferencial por energia, o reservatório funciona como reserva de valor (FURNAS, 2018).

Contudo, para a viabilização da operação – leia-se mais água, 10% do consumo da água média deveriam ser garantidos para a hidroelétrica. Nesse momento, a disputa intracapital se inicia. O agronegócio interpela, via governo do estado de Goiás e Comitês da Bacia do Rio São Marcos e Veríssimo, e a ANA publica a Nota Técnica nº 104/2010/GEREG/SOF-ANA em que foi estimada uma redução de 5% na energia assegurada pela UHE Batalha, passando essa a ter uma geração de 34 MW/hora (FURNAS, 2018).

Mesmo após toda essa discussão, os irrigantes ainda continuaram a estabelecer a tese de que a reserva de 5% do uso da vazão para a hidroelétrica gera um entrave para o desenvolvimento da agricultura irrigada no Alto Rio São Marcos. Em decorrência disso, em 2017, a ANA publica outra Nota Técnica (Nota Técnica nº41/2017/SPR/ANA), na qual

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Revista Pegada – vol. 24 269 Abril de 2023 defende a “aptidão” da agricultura na área e orienta a instalação de mais 3779 pivôs centrais ao longo da Bacia Hidrográfica do Rio São Marcos com um incremento de mais 250.000 ha de área irrigada (parte desse ha inclui terra que hoje são áreas de camponeses das comunidades que resistem na área e de assentados pela Reforma Agrária). Apontam na conclusão, na Nota que:

O presente estudo avaliou a ampliação da irrigação com a instalação de pivôs centrais potenciais na bacia do São Marcos utilizando uma ferramenta computacional desenvolvida no âmbito da ANA que possibilita simular o balanço hídrico considerando todas as peculiaridades inerentes a tal balanço. Os resultados indicaram que do ponto de vista espacial seria possível ampliar a irrigação em mais de 2,6 vezes do que hoje existe na bacia. No entanto, há que se ter algumas observações frente a disponibilidade hídrica que podem ser mitigadas como novas tecnologia de irrigação que diminua a proporção de L/s/ha, uma vez que a disponibilidade é bastante significativa (ANA, 2017, p.08).

Contudo, essa orientação da ANA (2017) parece muito contraditória quando aponta que a “disponibilidade é bastante significativa”. Adotando como referências as informações do estudo de Sano et al. (2002) sobre consumo de pivôs centrais na bacia do Rio Samambaia, afluente da parte alta do rio São Marcos, o consumo de cada pivô central foi calculado multiplicando-se área em hectare irrigada pelo consumo instantâneo de 0,2 L.s-1/ha-1, como média ao longo do ano. Consequentemente, estima-se que o consumo instantâneo de todos os pivôs instalados na bacia do alto São Marcos, em 2016, era de 16,58 m³.s-1 (0,2 L. s-1/ha-1 x 82.906 ha). Ou seja, já em 2016, o consumo (retrato aqui apenas da irrigação) era maior do que a previsão de consumo consuntivo da vazão para 2040.

A água utilizada como recurso de produção e como reserva de valor sustenta a concepção de ‘escassez’, que abre para uma nova concepção: a água deve ser paga em dinheiro. E é este processo que o Comitê de Bacia defende. Dessa forma, está estabelecida a ideia do usuário pagador e ao uso da água o pagamento em dinheiro. Esse mecanismo fica evidente na fala do empresário do agronegócio irrigante:

Aqui a gente tem que ser bem prático: pelo lucro que a irrigação nos dá, compensa pagar para usar a água; [...] até o momento essa cobrança não está bem estruturada; eles não têm como fiscalizar e a gente acaba

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Revista Pegada – vol. 24 270 Abril de 2023 pagando o que a gente fala que usou. [...] mas o fato é que se tiver dinheiro pode usar. (T. S., 54 anos. Cristalina (GO). 27/05/19).

O depoimento representa a materialização do “usuário pagador” que, “ao ter dinheiro pode usar a água”, frente a exaltação do uso e a eminência da escassez, finaliza o processo com precificação da água. É a gestão institucionalizada nas relações capitalistas no período neoliberal que, atravessada pela lógica do dinheiro, carrega consigo, e pelos potenciais distúrbios provocados nas dinâmicas da natureza, a manipulação da água.

Além de ocultar dimensões da organização do metabolismo social pelas dinâmicas do valor criado nas relações capitalistas na apropriação da água, a concepção da água como bem econômico se fundamenta em conceitos legitimados na sociedade capitalista, como a escassez e o bem econômico. E isso tudo ocorre com o aval do Estado. Reproduzem-se, portanto, relações fetichizadas, nas quais o aspecto mais fundamental da produção da vida é ocultado: o fato de que todas as coisas provêm do trabalho e da natureza.

A emergência da água como Bem Comum na Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos

Ocorre na Bacia do Hidrográfica Alto Rio São Marcos um deslocamento do valor de uso para o valor (expresso como valor de troca), com a territorialização do agronegócio irrigante e a hidroelétrica Batalha. Mas, apesar de essa concepção ser hegemônica, ela não é homogênea, pois os trabalhadores da terra, em especial dos camponeses, também estão presentes e é preciso aclarar que essa presença está encharcada de uma concepção nova da água que nosso estudo identificou como Bem Comum.

Apesar do processo de modernização do território assolar a região do Alto Rio São Marcos desde meados dos anos 1980 e expulsar centenas de trabalhadores da terra, estes sujeitos existem e resistem. Em meio à expansão do agronegócio irrigante (e não irrigante), permanecem Comunidades Camponesas que têm na terra e na família as condições essenciais de reprodução social. Apesar do estudo não conseguir mapear todas as Comunidades com essas características, efetivou-se contato com cinco delas, concentrando-se o trabalho de campo em duas: a Comunidade Mimoso em Cristalina/GO e a Comunidade Buriti em Paracatu/MG. A Comunidade Mimoso tem sua origem em

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Revista Pegada – vol. 24 271 Abril de 2023 uma grande fazenda chamada Mimoso. Após partilha entre os membros da família que foram casando ou vendendo parte para outros camponeses, o que era uma grande fazenda se tornou uma comunidade composta por vinte e quatro famílias, com uma média de vinte hectares. Já a Comunidade Buriti foi uma área de posse. Os camponeses com mais idade contam que a área foi ocupada por camponeses que não conseguiam terras próximas à cidade de Paracatu/MG. “O povo queria terra para plantar e vinham para cá. Com o tempo foram regularizando a partir de contrato de compra e venda e teve caso até de conseguir usucapião. (J. E., 76 anos. Comunidade Buriti – Paracatu/MG. 26/06/2019). Essa Comunidade tem onze famílias com uma média de dez hectares cada.

Para além dos camponeses e arrendatários que tiveram origem nas primeiras fases do processo de ocupação do Alto Rio São Marcos, há também a presença significativa de camponeses assentados pela Reforma Agrária, o que Oliveira (2008) chama de recriação do campesinato. A Bacia do Alto Rio São Marcos conta com treze assentamentos: Jambeiro (192 parcelas 2) e Quinze de Novembro (74 parcelas), no município de Paracatu/MG;

Vista Alegre (234 parcelas), Buriti das Gamelas (110 parcelas), Poço Grande (56 parcelas), Casa Grande (52 parcelas), São Marcos (70 parcelas), Presidente Lula (109 parcelas), Barra Grande (70 parcelas), Manacá (186 parcelas), Vitória (48 parcelas) e Três Barras (182 parcelas), no município de Cristalina/GO; e o Assentamento Nova Califórnia (68 parcelas), em Unaí/MG.

Os assentamentos, juntos, têm sobre sua posse uma parte considerável da terra. No município de Cristalina (GO), os assentamentos representam cerca de 30% do território, contendo 123.569 ha segundo o Sindicato Rural de Cristalina. No Alto Rio São Marcos, são quase 1500 famílias camponesas que se recriaram a partir dos assentamentos. As famílias são, em grande maioria, oriundas do Nordeste do Brasil, em especial dos estados do Maranhão e da Bahia.

Como todo o processo de formação e consolidação das relações capitalistas, a apropriação da água no Alto Rio São Marcos também é engendrada de resistência e de conflitos. Cabe ao pesquisador, comprometido em desvelar as contradições, analisar o poder contra-hegemônico e, para isso, mergulhou-se no dia a dia dos trabalhadores da

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Revista Pegada – vol. 24 272 Abril de 2023 terra. Após realizar dois trabalhos de campos na região, sempre acompanhada de algum agente, seja representante do Sindicato Rural de Cristalina/GO ou representante da Cooperativa Rede Terra, percebeu-se a necessidade de permanecer por um período maior (40 dias – 26 de maio a 05 de julho de 2019) nos assentamentos e comunidades antes descritas, sem o acompanhamento de nenhuma entidade ou agente.

Essa vivência/observação foi essencial para desvendar a existência de um conflito pelo uso da água enquanto contradição e até mesmo antagonismo de concepção de mundo que se materializa no uso da água na Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos. Foi nesse processo que se pode recenhecer as diversas ações agrupadas no que os camponeses denominam de “Água tem que ser viva e pra gente viver 3”.

As resistências assumem um número infinito de formas. As mais óbvias são as lutas explícitas e, deliberadamente, organizadas por grupos, organizações e movimentos sociais a fim de reduzirem ou porem limite a um determinado caso de opressão considerado injusto.

Em geral, essas lutas são facilmente delimitáveis no tempo e no espaço. Os respectivos protagonistas são facilmente identificáveis, bem como aqueles contra quem lutam; e os termos do confronto são claros para as partes envolvidas. Este tipo geral de luta se desdobra em muitos subtipos, dependendo das escalas e dos horizontes espaço-temporais, dos níveis de confrontação, dos tipos de liderança, dos tipos de narrativas que os legitimam, da natureza pacífica ou violenta da luta, entre outros.

Há, porém, outras formas de luta que não se distinguem facilmente da vida cotidiana de grupos sociais. São lutas em que não existe confronto direto nem formas de resistências abertas e declaradas e que, por esse motivo, só são raramente reconhecidas como políticas. James Scott (1985) denomina-as de formas cotidianas de resistências, quando confrontam a dominação do status e a dominação ideológica. Não implicam organização e muito menos confronto; são anônimas, levadas a cabo por ninguém e, ao mesmo tempo, por todo mundo. São as lutas silenciosas, conforme aponta James Scott (1985) quando estuda o comportamento de camponeses submetidos à forte repressão. O fato de não existir confronto explícito não significa que exista cumplicidade, consentimento ou falta de consciência pela injustiça da situação. Pelo contrário, nessas lutas, a consciência

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Revista Pegada – vol. 24 273 Abril de 2023 da injustiça está muito presente, tal como estão presentes conflitos de valores e sentido, que se exprimem sob diferentes formas de resistência como a difamação e a sabotagem.

Nesses contextos, a luta visa ludibriar os que detêm o poder, por exemplo, através da sua neutralização com recurso a dispositivo que os fazem pensar que o seu poder não é contestado.

Todavia, esses dois tipos de luta pressupõem e geram diferentes tipos de conhecimentos, mas as lutas, em si, não devem ser entendidas como não sendo relacionadas. Na vida dos trabalhadores da terra que resistem à opressão, existe um tempo para a lutas ativas e de confrontos, e tempo para lutas passivas ou de sabotagem. Quando os camponeses veem em risco sua condição de sobrevivência, é fácil constatar que o confronto se efetiva de forma ativa e desvelada. Nos casos em que a disputa é só pelos usos da água como recurso ou meios de produção, as lutas tendem a ser passivas e sem confrontos diretos e abertos.

Na Bacia do Alto Rio São Marcos, apesar dos estudos acadêmicos e de os relatos dos trabalhadores da terra apontarem para uma diminuição da vazão da água, ainda há uma disponibilidade significativa, mas já motivam ações “silenciosas” e “às escondidas”, não menos radicais e violentas.

Nos primeiros dias do terceiro trabalho de campo, percorreu-se os Assentamentos e Comunidade Camponesas, passando alguns dias em cada um deles e, pelo menos, uma noite, pois eram nas noites de conversas que o processo de confiança se estreitava.

Começou-se pelo Assentamento Vitória em Cristalina e logo depois a Comunidade Mimoso, também em Cristalina/GO, por serem os locais onde conseguimos contato mais estreito com os camponeses oriundos dos trabalhos de campos anteriores. Ao sair destes, sempre que se chegava em outros, ouvia-se: “já sabemos que você está por aqui tem algum tempo e que come o que nós temos; então se achegue”. Isso aclarou que existe um diálogo entre os trabalhadores da terra, mesmo que separados em frações deste território.

Aclarou-se, ainda, que esse contato é de confiança, pois ‘o outro’ disse que você ‘come da nossa comida’ então ‘pode se achegar’.

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Revista Pegada – vol. 24 274 Abril de 2023 Várias foram as prosas e diversas as andanças até se ouvir em um dos Assentamentos, a seguinte frase: “Quando você vive num lugar que fica no meio de gente que tem muito dinheiro não se fala tudo que se faz; pelo menos se quiser ficar vivo”. Neste momento, viu-se que precisava ficar ali por mais tempo. Durante os próximos três dias, percorreu-se as parcelas e conversou-se muito, mas nada aparecia a não ser o trabalho cotidiano, as dificuldades em permanecer na terra, a alteração no ciclo da chuva e a disponibilidade de água no rio e nos córregos da região. Até que um dia, após o nosso comentário: “aqui por perto não vi captação de água para a irrigação”, os camponeses se olharam e disseram: “menina, a gente vai te contar umas coisas, mas se você continuar gravando tudo ou escrever aí nesses seus papéis isso pode prejudicar muito nós aqui e até colocar nós na cadeia”.

Neste momento viu-se a necessidade de mudar as técnicas de trabalho de campo e após assumir o compromisso de não identificar as pessoas e nem o lugar, passa-se a ter acesso às informações que até então estavam “escondidas”, mas que desvelavam ações ativas e clandestinas de resistência pela água como fonte de vida em sua concepção de Bem Comum. Assim, além de resguardar as identidades dos entrevistados, o maior dos compromissos foi assumido no sentido de desvelar academicamente as lutas em defesa da água e, por conseguinte, de seus territórios de vida e trabalho, a partir da construção de uma Geografia compromissada com a compreensão das lutas sociais na produção do espaço.

Apesar dos camponeses sempre relatarem, com convicção, o fato de que foi a disponibilidade de água que trouxe a hidroelétrica Batalha e o agronegócio irrigante para o Alto do Rio São Marcos, suas ações, por nós compreendidas como contra-hegemônicas, só aparecem em seus relatos a partir do ano de 2011 com a construção da hidroelétrica Batalha e a formação do reservatório.

Essa hidrelétrica aí foi a gota d’água. Quando eles começaram a movimentar saiu a conversa que o pessoal do [assentamento] ali do outro lado ia ter que sair porque isso ia virar lago. Nesse momento a gente já começou a ficar esperto. De noite ia lá e pegava os paus que eles marcavam aqui. Arrancávamos umas plaquinhas de metal que eles tinham e usava eles de lenha. As plaquinhas a gente enterrava. Eles

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Revista Pegada – vol. 24 275 Abril de 2023 mandavam gente deles aqui e a gente não falava nada. Até que um dia chegou a notícia de que a água da represa deles não ia vim até aqui não.

(Descrição da fala camponesa. 19/06/2019).

E continuam relatando:

Aí a represa começou a formar e a água foi ficando podre. Fedia e nós não podia aceitar aquilo. Já dava dó porque a represa da barragem afogou muitas nascentes que abastecia nós aqui. Um dia, juntamos aqui umas cinquenta pessoas, porque muita gente não foi porque ficou com medo e fomos lá na barragem (na época tinha gente aí). Quando a gente chegou lá os empregados deles ficaram assustados. Acharam que fomos lá para roubar. Mas a gente foi para saber porque estavam matando a água. Essa água aí não é deles e nem nossa; é de todo mundo, até de quem não mora aqui. Menina! Mas eles acharam ruim e as coisas engrossou. Foi pouco prazo e a polícia estava lá e queria levar nós pra delegacia, dizendo que estávamos tirando a ordem. As mulheres começaram a chorar e eles dizendo que o governo e o pessoal do Comitê de Bacia tinham aprovado aquilo e se nós não concordávamos era para ir embora daqui. (Descrição da fala camponesa. 19/06/2019)

Esse momento do relato do camponês foi a catarse que evidenciou as diferentes concepções dadas à água. Para os trabalhadores da terra, a água tem que ser cuidada porque garante a condição de vida nas suas mais diversas expressões e a consciência de que não pertence a nenhum grupo. Além disso, também mostrou que não era possível uma convivência, administrada até então pelo capital, entre os usos da água, pois as suas vidas estavam em risco.

No final a polícia não prendeu ninguém, mas colocou a gente pra correr de lá. Isso deu um medo danado no povo aqui e nem falava mais nisso.

Um dia eu e o meu filho fomos lá [assentamento] para conversar com o pessoal de lá (a gente tem muito amigo lá) e vimos que não tinha como

‘peitar’ esse povo aí de frente e então decidimos agir para cuidar da água ao menos aqui nesse nosso pedaço. (Descrição da fala camponesa.

19/06/2019).

Relataram que passaram a não mais receber os funcionários da hidroelétrica Batalha que visitavam o Assentamento para fazer o trabalho de educação ambiental como “ação mitigadora” dos efeitos socioambientais da hidroelétrica na região. “Sempre dizíamos para as moças que vinham aqui que eles matam a nossa água e depois vem aqui querer ensinar nós a cuidar dela?” (Camponesa do Alto Rio São Marcos. 22/06/2019).

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Revista Pegada – vol. 24 276 Abril de 2023 Esse fato também levou os camponeses a repensarem a ação do agronegócio irrigante na região:

Com esse negócio da barragem a gente viu que esses fazendeiros grandes que têm aqui na região também só queriam tirar a água para ganhar dinheiro. Colocavam umas bombas enorme para puxar água do rio.

Arrancaram todas as árvores e não plantam um pé de pau e ainda queriam tirar a água. [...] aí nós reunimos uns homens aqui e fomos lá de noite e quebramos toda a bomba e jogamos dentro do rio. Menina do céu! (risos) aí a coisa ficou feia mesmo. No outro dia isso daqui amanheceu preto de polícia e autoridade de todo lugar. Eles andaram aqui, perguntaram pra um, pra outro e ninguém disse nada. A comadre ali até aproveitou para falar para a polícia que tinham roubados umas galinhas dela (risos). Ficaram vigiando esse lugar muito tempo.

(Descrição da fala camponesa. 17/06/2019).

Os camponeses viram que a correlação de forças é muito diferente e que precisavam desenvolver formas silenciosas de proteger a água, ao menos em sua fração do território. Identificaram também que não são todas as famílias do Assentamento que partilham da concepção da água como fonte de vida e de Bem Comum:

“[...] aqui também tem muita gente que pensa com a cabeça dos grandes.

Pensam que tem que usar a água até acabar e por isso que são poucos os que participam dessas ações e a gente não fala para todo mundo. Se souberem são capazes de ficarem do lado dos ricos.” (Descrição da fala camponesa. 19/06/2019).

A ação relatada aconteceu no ano de 2014 e em 2015 voltou a ocorrer, só que agora realizada por camponeses de outro assentamento.

Depois que a água do São Marcos (risos) levou o motor que tirava água dele os companheiros ali do Jambeiro também deram um jeito lá. Tinha um motor que bombeava água para o pivô e irrigavam a soja deles e depois o milho. Eles não mexeram no motor não, mas sumiram com os canos que levava água para o pivô. Desmontaram tudo. O fazendeiro disse que ia processar o presidente da Associação de lá, mas o homem nem sabia de nada (risos). (Descrição da fala camponesa. 19/06/2019).

Na continuidade do relato, o camponês mostra que tem medo do que pode acontecer com a vida deles, mas reafirma que as ações são necessárias, apesar de terem consciência de que não resolveram o problema:

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Revista Pegada – vol. 24 277 Abril de 2023 Eu sei que, o que a gente fez não resolveu, mas deu um prazo para gente fortalecer. Se o povo daqui e de outras regiões não tomar consciência que a gente tem que proteger a água todo mundo vai ficar sem, não será só um ou outro. (Descrição da fala camponesa. 19/06/2019).

Acompanhando o relato, o filho de um outro camponês, intervém para dizer que

“nesta região tem gente que não concorda com o que estão fazendo com a gente e a gente vai lutar por nós e pelos outros que ainda não tem consciência”.

Para defender uma forma de viver, além das ações de questionar e destruir os equipamentos de captação da água pelo agronegócio irrigante, tem sido necessário construir novas formas de viver, de relacionar-se e de organizar-se. A seguir, observa-se o depoimento sobre a estratégia de outra forma de luta e resistência:

A gente também tem apostado no fortalecimento da agricultura que a gente faz aqui. Produzindo comida sem veneno e usando a água sem destruir ela. Estamos procurando fortalecer a agricultura orgânica e eu acho que isso é mais fácil dos outros assentamentos querer fazer também. Isso fortalecerá todo mundo. Temos que conseguir mostrar que a gente trabalha aqui pra viver. Queremos vender e ter dinheiro também, mas sem destruir esse nosso lugar. Destruir ele é destruí nós todos e tudo. (Descrição da fala camponesa. 19/06/2019).

Há, nos depoimentos, uma concepção que se recusa a exteriorizar a natureza e a água do cotidiano e das relações sociais. Foi só entre os trabalhadores da terra que se ouviu que a “[...] água é vida. Não apenas nos dá vida, mas determina nossa forma de viver. Nós vivemos da agricultura, e nossas relações familiares, de vizinhos e comunitárias se dão em função disso” (Descrição da fala camponesa. 19/06/2019). A articulação é diversa e desigual, mas quebra a hegemonia que quer parecer homogênea no Alto Rio São Marcos.

Germina, no conflito e na resistência, a concepção que nega a água como mecanismo de geração de valor e a crítica ontológica a este modelo pode ajudar as resistências a não serem capturadas pelo capital no sentido de condicionarem sua reprodução. Até porque “A água tem que ser viva e pra gente viver”.

Emerge a contradição: o conflito pela água na Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos.

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Revista Pegada – vol. 24 278 Abril de 2023 Mesmo atuando no local, os camponeses elevam a “luta invisível” à universalidade que lhe corresponde:

Porque essa não é uma luta só nossa aqui, é uma luta de todo mundo. O mundo está em perigo pela destruição da água; está em perigo o mundo que vivemos. Nós estamos contribuindo, aqui neste pequeno lugar, com a defesa da terra e da água. E o direito à vida vem primeiro que qualquer outro direito do dinheiro e qualquer outro interesse particular, de um ou outro. (Descrição da fala camponesa. 23/06/2019).

As palavras do camponês defendem o argumento de que a luta pela água, enquanto uma luta pela sobrevivência, precisa conceber outras formas de relações sociais e com a natureza, outras formas de vida; precisa fazer a crítica ontológica das relações capitalistas.

Essa concepção, no entanto, não cai do céu, não é puramente idealista. É uma afirmação ético- prática enraizada na materialidade da vida das pessoas e de seus antepassados, suas culturas, tradições e conhecimento.

As práticas mais antigas de produção de alimentos, de lidar com a terra e com a água retornam na tentativa de substituírem e ultrapassarem a relação destrutiva capitalista.

Nas experiências de privação da água, que acompanham as formas capitalistas de apropriação, emergem concepções novas, ainda como sementes. Por estarem enraizadas na vida, essas concepções alcançam a universalidade necessária. Precisam ter aspirações universais, porque precisam se agarrar à vida, e não há nada mais universal do que a própria vida, que é a humanidade em sua forma mais simples.

Gramsci (1991) se refere a essa concepção de mundo tradicional e popular como instintiva, um instinto primitivo e histórico. O mesmo instinto que Marx (2006, p. 38) se referia em suas reflexões sobre a coleta de lenha na Renânia do Norte. Havia, para ele, um sentido jurídico instintivo na classe pobre, entre aqueles que recolhiam lenha solta no chão.

Esse sentido jurídico instintivo não era apenas “[...] o impulso de satisfazer uma necessidade natural, mas também a necessidade de satisfazer um impulso de justiça”.

Diante da privação imposta pela condição de ser pobre, de não ter propriedade sobre a lenha, era preciso coletar lenha solta nos bosques.

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Revista Pegada – vol. 24 279 Abril de 2023 A lenha solta é um Bem Comum, que deve satisfazer a necessidade daqueles que a necessitam. A água é um presente da natureza que pertence à humanidade. No entanto, é usurpada por mecanismos diversos. O instinto da luta pela vida leva à luta pelo Bem Comum, única forma de superar as situações de espoliação. É por isso que, ao defender o rio, nas entranhas de um vale, os trabalhadores da terra defendem a humanidade. “Água tem que ser viva e pra gente viver” é uma das consignas latentes no Alto Rio São Marcos.

A universalidade do Bem Comum está na afirmação da propriedade comum, na afirmação ético- prática de que os frutos da natureza pertencem à humanidade. Pertencem, portanto, a todos os que deles necessitam para viver.

Essa é a concepção da água como Bem Comum, que emerge das lutas contra as distintas formas de privação da água e que funda o argumento desse estudo. Ela se manifesta nos espaços de luta, nas tradições e nas concepções populares de mundo. São sementes que ainda “não germinaram”, porque não se vive as condições históricas para isto; porque estão sufocadas pela hegemonia do capital que se manifesta em práticas como a manipulação de gigantescos volumes de água, na atribuição do dinheiro como medida de valor e na naturalização da escassez hídrica. Mesmo assim, elas existem.

Existem concepções novas brotando no próprio seio da velha sociedade, no calor das tensões geradas pela apropriação capitalista da água. Apresentam-se, nessas situações, problemas cujas condições materiais existem ou estão por existir. Esse processo, no entanto, não é automático e nem natural. Precisa da práxis, da ética e da crítica.

Considerações Finais

A água é um presente dado pela natureza à humanidade. Suas disputas e conflitos carregam concepções de água-negócios e água-bem comum. Nas contradições inerentes à apropriação capitalista emergem lutas sociais que materializam a concepção universal da água como Bem Comum.

Dialogando com o locus do estudo, percebe-se que, no Alto Rio São Marcos, a frase “Água tem que ser viva e pra gente viver” é latente e revela a universalidade do Bem Comum no entendimento de que se trata de uma propriedade comum; afirmação essa de

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Revista Pegada – vol. 24 280 Abril de 2023 caráter ético- prática de que os frutos da natureza são da humanidade, pertencendo, desse modo, a todos àqueles que deles necessitarem para sobreviver.

Este argumento está manifestado nas concepções populares de mundo estabelecidas pelas pessoas, nas tradições e nos espaços de luta como um todo. Tratam-se, por assim dizer, de sementes que não germinaram ainda porque não experimentaram condições históricas para que isso ocorra e vivenciam, ao contrário, um sufocamento causado pela hegemonia do capital, expresso em práticas espúrias, como, por exemplo, na manipulação de grandes volumes de água, atribuindo-se o dinheiro como medida de valor, e na produção da escassez hídrica. Ainda assim, elas existem.

Ao analisar esse contexto, recorremos às reflexões expostas por Marx (2006) acerca da revolução social, posto que elas auxiliam a compreensão sobre a ligação existente entre concepções de mundo (e da água), formas de apropriação da natureza e relações sociais, vislumbrando todos esses elementos em um movimento dialético, travando constante tensão entre o atual e o antigo, o novo e o velho.

Sob tal perspectiva, nota-se a existência de novas perspectivas que brotam no seio da velha sociedade, em meio às tensões que são geradas pela apropriação capitalista da água. Tratam-se, pois, nessas situações, de problemas cujas condições materiais já existem ou estão ainda por existir. No entanto, é preciso reconhecer que esse processo não é natural, tampouco automático. Antes, necessita da crítica, da ética e da práxis, sendo certo que, para alcançar este teor crítico, é preciso, conforme Dussel (2002, p. 355), que se estabeleça um processo de conscientização no qual “[...] a vítima desvela o sistema normal que existe como ‘natural’, ‘bom’, como o ‘capital fetichizado’ de Marx [...] que, como consequência, perde sua validade, sua hegemonia”.

A Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Marcos, desde os anos 1980, é palco de disputas e conflitos variados. O conflito causado pelos usos da água está subordinado ao estranhamento do trabalho e às relações de poder dadas na territorialização do agronegócio e da hidroelétrica Batalha, considerando a destinação e o uso indiscriminado, em forma de apropriação privada de um Bem Comum, por determinados grupos sociais. Esses são os

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Revista Pegada – vol. 24 281 Abril de 2023 elementos que conduzem aos conflitos e remontam também uma vertente agrária, por ser resultado da (re)configuração do uso da terra.

A demanda exercida pelos agentes do capital (agronegócio e hidroelétrica) é maior do que a capacidade do rio São Marcos de produzir água e, isso, cria a escassez hídrica.

Todos os levantamentos realizados neste estudo com base na precipitação e na vazão da Bacia Hidrográfica, bem como nas vazões disponibilizadas para usos consuntivos permitem afirmar que, se a apropriação indiscriminada continuar, levará o território do Alto Rio São Marcos a uma real escassez hídrica, senão a uma seca produzida.

Todavia, é preciso fortalecer ações e sujeitos que contrapõem essa concepção de apropriação capitalista. Em diálogo com os trabalhadores da terra, o grande desafio é desvelar as lógicas que emergem nas práticas de vida e nas lutas sociais que esboçam novas formas de organizar o metabolismo social, seja a partir do enfrentamento direto, da territorialização da água-negócio, seja na construção de projetos como a agroecologia que ressignificam o uso da água-bem comum.

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