'.
00
INSTITUTO DE SELEÇAO E ORIENTAÇAO PROFISSIONAL DA
FUNDAÇAO GETULIO VARGAS
ATRATIVIDADE E DECISAO: "ESTUDO EXPLORATORIO SOBRE A INFLUrNCIA
DA
ATRATIVIDADE NO PROCESSO DECISORIO EM GRUPO"
.
WILSON MOURAFGV/lSOP/CPGPA
DO
INSTITUTO DE SELEÇAO E ORIENTAÇAO PROFISSIONAL DA
FUNDAÇAO GETOLIO VARGAS
ATRATIVIDADE E DECISAO:
"ESTUDO EXPLORATORIO SOBRE A INFLUrNCIA DA
ATRATIVIDADE NO PROCESSO DECISORIO EM GRUPO"
POR
WILSON MOURA
I
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇAO DO GRAU DE
MESTRE EM PSICOLOGIA
A ausência
e
minhaAo mestre e amigo Professor FRANCO LO PRESTI SEMINtRIO que pelo seu saber invejãvel, por seu incentivo e apoio fraterno, proporcionou-me uma orientação sempre oportuna;
Aos amigos Professora YONNE r~ONIZ REIS, Professora MARIA ISABEL A-BREU DE ALMEIDA e Professor MURILLO SALIM FELIX que pela compreen-são e sensibilidade permitiram-me concentrar, quase que exclusivame~
te nêste trabalho, no perl0do de sua realização, aliviando-me de to-dos os outros compromissos profissionais.
Ao meu amigo FERNANDO MULLr cuja dedicação, extrema e desinteressada, tornou posslvel a realização dêste trabalho.
A
minha amiga LIA PESSOA DE OLIVEIRA pelo apoio dedicado na elabora-ção dos grãficos.o
MEU ETERNO RECONHECIMENTOAos meus amigos SALEMA, FRANCISCO e GERSON pelo eficiente! poio demonstra ao, respectivamente, desenhando, orientando a pesquisa bi-bliográfi ca e datilogrando os originais, os meus sinceros agradecimentos.
Uma palavra de carinho aos anônimos sujeitos do experimento. Triste ~ a ali enação do anonimato, pior ~ a ingratidão. Resta, todavia, a esperança de que o "encontro" na experiência tenha sido vivenciado na-quela intensidade capaz de permanecer presente na mem5ria.
pAGINAS
DEDICATORIA ... . ... i
AGRADECIMENTOS . . . .. . . i i !NDICE ... iii
SUMARIO SUMMARY • • • • • • to • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
...
iv v 1. INTRODUÇJl:O 1 .1 - O MODI SMO EM GRUPOS . . . 11.2 - A RESISTtNCIA HUMANA
A
SITUAÇAO DE GRUPOS .... ... ... 12. FUNDAMENTAÇAO TEORICA NO ESTUDO DOS GRUPOS 2.1 - CONCEITO ... 9
2.1.1 - OS DIFERENTES TIPOS DE GRUPO 9 2.2 - ALGUMAS ABORDAGENS TEORICAS SOBRE O GRUPO ... ... 11
2.2.1 - DURKHEIM E A INFLUtNCIA POSITIVISTA ... .... 11
2.2.2 - FREUD E A ORIGEM DA PSICOLOGIA GRUPAL ... 13
2.2.3 - A SOCIOMETRIA DE MORENO ... 15
2.2.3.1 - OS ELEMENTOS DA SOCIOMETRIA ... 16
2.2.3.2 - O MODELO TEORICO ... 17
2.2.3.3 - O DIAGNOSTICO SOCIOMrTRICO ... 18
2.2.3.4 - O CRITrRIO E SUA VULNERABILIDADE ... 18
2.2.3.5 - A CONSERVA CULTURAL ... 20
2.2.4 - A PERSPECTIVA DIALrTICA DE SARTRE ... 22
2.2.4.1 - A ORIGEM DOS GRUPOS ... 23
2.2.4.2 - A DIALtTICA DOS GRUPOS ... 25
2.2.5 - A PERSPECTIVA DE CAMPO DE LEWIN ... 26
2.2.5.1 - O CAMPO SOCIAL ... . . ... 27
2.2.5.2 - A MUDANÇA SOCIAL ... ... 28
2.2.5.3 - ESTRATtGIA DE INTERVENÇJl:O ... 28
2.3 - O OBJETO DE ESTUDO
... ... ...
302.3.1 - A RESISTtNCIA EPISTEMOLOGICA AO ESTUDO DOS GRU-POS .. . . 30
2 .3.1.1 - ESTUDAR O GRUPO x VIVER O GRUPO... 31
2.3.1.2 - O COMPORTAMENTO DAS ORGANIZAÇOES SO-CIAIS FRENTE AOS PEQUENOS GRUPOS .. .... 32
2.3.1.3 - AS FANTASIAS SOBRE O GRUPO ... 34
2.3.2 - OS GRUPOS PEQUENOS COMO OBJETO DE ESTUDO ... 34
2.3.3 - ASPECTOS ESSENCIAIS NO ESTUDO DA PRODUçAO DOS GRUPOS
... .. .. ... ...
2.4 - A FORMAÇAO E ESTRUTURAÇAO DOS GRU POS ... . ... -. 3. O PROCESSO DECISORIO EM GRUPO 3.1 - A SUPREMACIA DA DECISAO INDIV IDUAL OU DA DECISAo EM GRU-37 40 POS? . . . 443.1.1 - A ABORDAGEM DE DAVIS ... . ... 45
3.1.2 - A NATUREZA DA TAREFA . . .. . .... . ... 48
3.1.3 - EFEITOS FACILITADORES DA PRESENÇA DO OUTRO ... 48
3.1.4 - EFEITOS INIBIDORES DA PRESENÇA DO OUTRO ... .... 50
3.1.5 - SUPREMACIA DA DECISAO INDIVIDUAL... . ... 51
3.1.6 - SUPREMACIA DA DECISAO GRUPAL ... 52
3.2 - A CRIATIVIDADE DOS GRUPOS EM FUNÇAO DA SUA DIN~MICA ... 53
3.2.1 - A COEsAO GRUPAL ... . ... 54
3.2.2 - O GRAU DE ATRATIVIDADE ENTRE OS MEMBROS ... 55
3.2.3 - OS OBSTACULOS NA INTE RAÇAO ... 55
3.3 - A PERSPECTIVA TEORICA DE JAY HALL
...
573.3.1 - O COMPROMISSO ... 58
3.3.2 - O CONFLITO E SUA SIGN I FIC~NCIA EMOCIONAL E OPE-RACIONAL .. . ... . .... .. . . .. .... ... . ... .. 61
3.3.3 - A CRIATIVIDADE ESTIMULADA PELO CONFLITO ... 62
3.3.4 - O CONSENSO COMO REGRA DECISORIA PARA GERIR O CONFLITO . . . 63
4. VERIFICAÇAO E EXPERIMENTAL
4.2 - HIPOTESES ... 68
4.3 - PROCEDIMENTO . . . 69
4.3.1 - INSTRUMENTOS . . . 69
4.3.2 - COLETA DE DADOS ... 70
4.3.2.1 - A FORMAÇAO DOS GRUPOS . . . 70
4.3.2.2 - O EXPERIMENTO ... 70
4.3.3 - O TRATAMENTO DE DADOS ... 71
4.3.3.1 - QUANTIFICAÇAO DAS VARI}1;VEIS ... 71
4.3.3.2 - CORREÇAO E AVALIAÇAO DOS QUESTION}1;RRIOS 72 4.3.3.3 - TRANSFORMAÇAO DE DADOS NA MESMI UNIDA-DE UNIDA-DE MEDIDA 73 4.3.3.4 - C}1;LCULO DE CORRELAÇOES ... 74
4.4 - METODOLOGIA . . . 74
4.4.1 - SUJEITOS DO EXPERIMENTO ... 74
4.4.2 - ~10DELO E VARI}1;VEIS ... 75
4.4.2.1 - AS VARI}1;VEIS EXPERIMENTAIS ... 75
4.4.2.2 - O MODELO EXPERIMENTAL ... .. ... 76
4.5 - RESULTADOS . . . 78
4.5.1 - NAO CONFIRMAÇAO DAS HIPOTESES EXPERIMENTAIS ., 78 4.5.2 - AN}1;LISE DAS CAUSAS DO INSUCESSO ... 79
4.5.3 - A NECESSIDADE DE REFORMULAÇAO ... 80
4.5.4 - UMA DESCOBERTA CASUAL ... 81
4.6 - DISCUSSAO ... 83
5. REFERrNCIAS BIBLIOGR}1;FICAS ... 88 6. ANEXOS
ANEXO 01 - EXERCICIO SOBRE O USO EFICAZ DOS RECURSOS DO GRUPO ANEXO 02 - QUESTION}1;RIO FORMUL}1;RIO DE REAÇAO PESSOAL
ANEXO 03 - QUESTION}1;RIO CLIMA DE GRUPO
ANEXO 07 - TABELA DE ESCORES OBTIDOS NO TESTE DE INTELIGtNCIA E CALCU-LO 00 INTERVACALCU-LO PADRAo - TURMA BETA.
ANEXO 08 - MATRIZ SOCIOMtTRICA DA TURMA ALFA ANEXO 09 - ~~TRIZ SOCIOMtTRICA DA TURMA BETA ANEXO 10 - SOCIOGRAMA DA TURMA ALFA - GRUPO A ANEXO 11 - SOCIOGRAMA DA TURMA ALFA - GRUPO B ANEXO 12 - SOCIOGRAMA DA TURMA ALFA - GRUPO C ANEXO 13 - SOCIOGRAMA DA TURMA ALFA - GRUPO O ANEXO 14 - SOCIOGRAMA DA TURMA ALFA - GRUPO E ANEXO 15 - SOCIOGRAMA DA TURMA ALFA - GRUPO F ANEXO 16 - SOCIOGRAMA DA TURMA ALFA - GRUPO G ANEXO 17 - SOCIOGRAMA DA TURMA ALFA - GRUPO H ANEXO 18 - SOCIOGRAMA DA TURMA BETA - GRUPO A ANEXO 19 - SOCIOGRAMA DA TUR~~ BETA - GRUPO B ANEXO 20 - SOCIOGRAMA DA TURMA BETA - GRUPO C ANEXO 21 - SOCIOGRAMA DA TURMA BETA - GRUPO O ANEXO 22 - SOCIOGRAMA DA TURMA BETA - GRUPO E ANEXO 23 - SOCIOGRAMA DA TURMA BETA - GRUPO F ANEXO 24 - SOCIOGRAMA DA TURMA BETA - GRUPO G ANEXO 25 - SOCIOGRAMA DA TURMA BETA - GRUPO H ANEXO 26 - TABELA GERAL DE DADOS COLETADOS
ANEXO 27 - TABELA DE CONVERSA0 DE DADOS EM UMA UNIDADE PADRAo DE MEDI-DA - TURMA ALFA
ANEXO 28 - TABELA DE CONVERSA0 OE DADOS EM UMA UNIDADE PADRAO DE MEDI-DA - TURMA BETA
ANEXO 29 TABELA DE DISTRIBUIÇAO DAS VARIAvEIS ATRATIVIDADE, INTELI -GtNCIA E INFORMAÇOES PELOS GRUPOS - TURMA ALFA
ANEXO 30 TABELA DE DISTRIBUIÇAO DAS VARIAvEIS ATRATIVIDADE, INTELI -GtNCIA E INFORMAÇOES PELOS GRUPOS - TURMA BETA
ANEXO 31 - TABELA DE CORRELAÇOES ENTRE AS DIFERENTES VARIAvEIS - TURMA ALFA
ANEXO 32 - lABELA DE CORRELAÇOES ENTRE AS DIFERENTES VARIAvEIS - TURMA BETA
BETA
ANEXO 35 - TABELA DE ORDENAÇAO DOS RESULTADOS
ANEXO 36 GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAvEIS EM FUNÇAO DE CRIATIVIDADE -TURMA ALFA
ANEXO 37 GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAVEIS EM FUNÇAO DE CRIATIVIDADE -TURMA BETA
ANEXO 38 GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAvEIS EM FUNÇAO DA INTELIGtNCIA -TURMA ALFA
ANEXO 39 - GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAVEIS EM FUNÇAO DO GRAU DE ATR~
TIVIDADE - TURMA ALFA
ANEXO 40 - GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARI~VEIS EM FUNÇAO DO RECURSO Mt -010 - TURMA ALFA
ANEXO 41 - GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAVEIS EM FUNÇAO DO DESEMPENHO DO GRUPO - TURMA ALFA
ANEXO 42 - GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAvEIS EM FUNÇAO ~ O NIvEL DE IN-TELIGtNCIA - TURMA BETA
ANEXO 43 - GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAvEIS EM FUNÇAO DO GRAU DE AT~
TIVIDADE - TURMA BETA
ANEXO 44 GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAvEIS EM FUNÇAO DO RECURSO Mt -010 - TURMA BETA
ANEXO 45 - GRAFICO DE VARIAÇAO DAS VARIAvEIS EM FUNÇAO DE DESEMPENHO DO GRUPO - TURMA BETA
ANEXO 46 - GRAFICO DE VARIAÇAO DA CRIATIVIDADE EM FUNÇAO DA ATRATIVID~
DE, GRAU DE INTELIGtNCIA E DESEMPENHO DO GRUPO - TURMA ALFA ANEXO 47 - GRAF ICO DE VARIAÇAO DA CRIATIVIDADE EM FUNÇAO DA ATRATIVID~
Esta dissertação girou em torno de um estudo sobre a natureza do desempenho dos grupos em função de algumas variãveis consideradas rele vantes.
Partindo de pressuposições teõricas que fundamentam o sobre a natureza, origem e funcionamento dos grupos, notadamente Freud, Moreno, Sartre e Lewin e da anãlise do fenômeno IIprocesso rio em grupoll realizada por Collins e Guetzkow, Oavis e Jay Hall,
estudo as de
decisõ-
plane-jou-se a presente pesquisa que visou analisar o comportamento da variãvel independente grau de atratividade previa entre os membros de um grupo quando em busca de um consenso.
Surpreendentemente os resul t ados foram completamente
discre-pantes com as expectativas formuladas.
No entanto, pela anãlise qualitativa e subsequente verifica-çao quantitativa dos dados coletados, tornou-se possivel em termos de uma autêntica IIserendipity" obter-se um novo e inesperado resultado: ao in-ves da atratividade ser responsãvel por uma relativa rigidez ideológica do grupo, constatou-se o alto poder de liberação da criatividade que a a-tratividade entre os membros exerce.
Fator extremamente favorãvel ao trabalho foi a uniformidade (não esperada) e, inicialmente, não desejada do potencial medio de infor-mações disponiveis, bem como do nivel medio de inteligência e da própria performance do grupo.
Desta forma, por terem tais fontes de variação se mantidas constante, pudp.ram se converter, na reformulação da pesquisa, em
variã-veis interveni entes, tornando explicita a dependência do lIefeito
•
This dissertation is concerned with the nature of the perfor-mance of human groups in relation to other variables considered relevant .
Taking as a starting point theories that try to explain the nature, origin and functioning of human groups, mainly the ones of Freud, Moreno, Sartre, Lewin and the decision-making theory of Collins and Guet-zkow, Davis and Jay Hall, this research was planned to analyse the beha-viour of the independent variable level of previons attraction existing among the members of a group during a decision-making processo
Surprisingly, the results were completely different from the expected. However, through the qUrt litative analysis and subsequent quan-titative empirical verification of the collected data, is was possible, in terms of a true "serehdipity" to obtain a new and inexpected resu1t: the level of attraction was not responsible for the relative "ideology rigid,i ty" of the group, instead, it was found that it was responsible for the liberation of criativity among the members of the group.
A factor that was extremely favourable to the research was the uniformity that we have not expected and, initially, we dit not want -of the average potential -of information available, as well as the average of intelligence and the group performance.
1.1 -
O MODISMO DOS GRUPOSUm dos comportamentos mais frequentes exigidos pelo homem co~
temporâneo é o de reunir-se em grupo com a finalidade da tomada de decisões.
Por outro lado, poucas não são as criticas sobre a inoperosi-dade de tais reuniões, fazendo com que uma onda de descrédito e de rejeição, resultante, muitas das vezes, do total desvirtuamento dos seus objetivos iniciais, as coloquem na situação de modismo passagei ro. Por que tal atitude generalizada?
Serã que essas pessoas estão possui das do desejo de "estar na moda ou serã que lhes move uma certa crença de que estar no grupo re presenta sempre um bom motivo para um relacionamento pessoal mais in tenso ? ,
Muitas sao as respostas possiveis. Maisonneuve (50) diz que "é próprio do homem ser, simultâneamente, sociãvel e socializado, o que implica no desejo de comunicação com os outros.
Jã
McGregor (47) acentua que o grupo funciona como os seusintegrantes o fazem funcionar.
Serã, realmente, que existe uma predisposição humana de
que-rer estar com o outro ?
A que se deve, então, o sucesso atual dos "laboratórios de
sensibilidade", do "treinamento de relações humanas" e dos "grupos de
en-contro" ?
Diz uma velha mãxima que "da discussão nasce a luz", o que
por si so, jã implica numa experiência compartilhada . Ora, então
e
de seesperar que o choque de opiniões , as confrontações, o apoio afetivo, a
consciência dos comportamentos interdependentes, tudo isso, numa atmosfe- .
ra envolvente e enriquecedora - é no que deve resultar a experiência
gru-pal.
Mas, aparentemente, nem sempre isto acontece. Na realidade,
observam- se algumas pessoas que r eje itam as situações de grupo. Em defe
sa dessas pessoas encontram-se algumas posições que sustentam o processo
de individualização contra a alienação e a tendência conformista do
gru-po ...
Lewin (39) (40) demonstra como o ser humano muda as suas
ati-tudes em decorrência de um mecanismo de equilibrio de um campo de forças.
De fato , os Individuos trazem consigo alguns traços marcantes
do seu processo de socialização. Contudo, ninguém duvida das diferen ças
individuais. O que dizer, então, dos "inovadores" (50), a~ ueles que
mu-dam as atitudes dos grupos?
Seria, talvez, mais conveniente, numa primeira .instância, ana
lisarem-se algumas "causas" que influenciam as atitudes em relação aos
1.2 - A RESISTtNCIA HUMANA ~ SITUAÇAO DE GRUPO
O viver em grupo
e
sem duvida uma contingência do ser humano,pois desde o seu nascimento ate sua morte: participa,
desenvolve-se e sofre em grupo. Logo, trata-desenvolve-se de algo tão natural e importa~
te que nao se justifica querer negã-lo ou desconhecê-lo.
Anzieu (2) destaca, a propósito, uma pesquisa levada a efeito
pela Associação Francesa de Aumento de Produtividade, sobre as
i-deias que as pessoas tem
ã
respeito de grupo, destacando osseguin-tes comentãrios :
- "0 grupo e efêmero, dominado pelo acaso - somente o que
e-xistem são as relações pessoais ... "
110 grupo
e
uma alienação individual :e
perigoso para a di~nidade, a liberdade e a autonomia das pessoas 11
Por outro lado Cartwrigh e Zander (12) abrem o seu notãvel
com o seguinte trecho :
IIS e um ser de outro planeta pudesse ver os habitantes da
ter-ra, talvez ficasse impressionado com o tempo dispendido pelos
ho-mens em fazer coisas reunidas em grupo 11
Interessante são as contradições humanas
A impressão generalizada de muitos estudiosos
e
a de que existe um certo desconhecimento acerca do tema e uma prova seriam os
multiplos problemas da sociedade, os quais naturalmente decorrem de
Ja foi o tempo em que se discutia, conforme aponta Katz-Kahn
(34) as teses de Allport - grupo-abstra ção x tese de Durkheim - mental ida
de coletiva - pois o que parece importante ~ a busca de um conhecimento
mais profundo e coerente do comportamento humano - respostas mais seguras
sobre a "desintegração" das relações interpessoais.
Segundo os adeptos da filosofia marxista (2) o problema
ê
educacional , pois uma orientação para o "privado", enfim o "individual ll
re
-sultaria, inexorãvelmente na competição e desarmonia humana.
Os estudos de Mead (51) sobre a tribo dos Arapesh
demonstran-do a incorporação marcante da solidari edade e cooperação presentes em
to-do o processo que caracteriza a vida de relação de seus membros, sem düv!
da, mobiliza a todos os estudiosos e, pr incipalmente, os defensores dd te
se. ma r x i s ta .
Por outro lado Lewin (39) (40) (41) critica a todos aqueles
que tentam reduzir o fenômeno grupo a niveis de contexto favorãve1
ã
apre~dizagem de atitudes individuais.
Dentro de sua perspectiva gestal t ista o fenômeno sã pode ser
entendido em função de um campo de forças, do qual resulta, num dado
ins-tant~ as atitudes que representam o equillbrio do grupo.
Por isso mesmo a sua tese estrutura-se a partir das percepçoes .
Se o ambiente social contribui para a formação e transformação das
atitu-des coletivas, a estrutura do meio , tal qual
ê
percebida pelo individuo. ,depende de suas necessidades, de suas expectativas, de sua perspectiva te~
poral (48).
çao, enfim, da resulta·nte de um campo de forças dinâmico, defendido arde.!!
temente 'por Lewin, ao que parece ê a o que simboliza com mais clareza a
complexidade do fenômeno grupo.
Sem s :! deixar envolver na celebre polêmica - "supremacia do
indivldual x supremacia do meio social 11 - estabelece como objeto de
estu-do a relação, enfatizanestu-do tanto os asp~ctos individuais, a nlvel das
per-cepções e predisposições, como os aspectos do campo social, o terreno que
A ten t ativa de se buscar um conceito universal para grupo nem
sempre representou tarefa simples e clara para os estudiosos. A sua
aparente si mplicidade como fen6meno observivel nao s~gere, talvez,
as multiplas implicações de variiveis existentes. Para se ter um
exemplo basta questionar-se o numero de componentes capazes de cons
titui rem um grupo. Se pouca duvi da exi ste no 1 imite inferi or - "con
junto de duas ou mais pessoas ... 1I
- o mesmo não acontece com o limi
te superior, como demonstra Homans (3~ em seu clissico conceito ao
estabelecer "um numero de pessoas, cuja comunicação reciproca real.:!.
ze-se de forma que cada uma das pessoas se comunique com t6das as
outras, não atraves de outras pessoas, mas diretamente".
Ji Stogdill (68) enfatiza a capacidade humana de perceber os
ou-tros, agindo com identidade de propósitos - "numero plural de
orga-nismos que tem a percepção coletiva de estar atuando de maneira uni
tiria sobre o meioll
• Parece não restar duvida quanto a dificuldade
de se encontrar, ã principio, qualquer fixação de limites que cara~
terizem com alguma precisão o fen6meno, pois ideias como IIpercepção
de pessoas em unidade de açãoll causam uma impressão vaga.
Outro aspecto importante a considerar e a caracterização do
que venha a ser o comportamento humano em situação de grupo, capaz
de se distinguir do comportamento individual. D. Anzieu (2) ao con
ceituar grupo como um IIconjunto de pessoas reunidasll
, procura
dife-renciar "fatos psiquicos individuais" de IIfatos do grupo", por
pluralida-de pluralida-de pessoas. Ressalta-se neste particular, a sua preocupaçao em discri
minar "fatos do grupo" de "fatos sociais", atribuindo ao primeiro a condi
çao de pluralidade de pessoas presentes no tempo. Todavia, devese lou
-var o seu esforço de generalização ao tentar simplificar e, simultaneamen
te, enfatizar a supremacia do nivel qualitativo sobre o quantitativo, na
anãlise do fenômeno que alguns teôr;cos tentam estabelecer. Não obstante,
a sua ideia de "reunião de pessoas" parece aumentar o grau de incerteza
sobre o assunto, dada a possibilidade de se confundir com outros fenôme
-nos, quer de natureza individual, grupal ou ate mesmo cultural. t o que
parece entender Pages (57) ao considerar "o unico grupo qUl merece plena
-mente esse nome e a humanidade", dado que, para ele prescinde do fato de
ter de se explicar - "e um grupo de fato que se constata 11. Sua
fundamen-tação lógica orienta-se segundo uma linha de pensamento que percebe o gr~
po como um epifenômeno, na medida em que entende que aquilo que normalme~
te e caracterizado como "grupo", não passaria de um simples IIsub-grupo"
,
oriundo de unidades mais abrangentes, tendo em vista problemas decorren
-tes de dificuldades de comunicação - como uma especie de libelo contra a
visão de ruptura do grupo maior.
Outr~tentativas de conceituações vamos encontrar com os teó-ricos filiados a uma tradição gestaltista. Ressalte-se neste particular
que a natureza do fenômeno jã sugere algumas semelhanças com os conceitos
de "todo harmônicoll
e lIestruturall
defendidos pelos adeptos dessa escola.
Por isso mesmo vamos encontrar a ênfase no conceito de
inter-dependência, ao que parece jã tradicional, preconizado por vãrios autores,
como por exemplo, Krech e outros (37): IIconjunto de duas ou
comparti-lhem uma ideologia que e, ate certo ponto, peculiar aos membros do grupo".
De resto, como tambem encontramos nos autores dessa linha, lia
irredutibi-lidade do fenômeno a seus elemen to ~ mais simples" deve ser um principio a
nortear qualquer estudo dentro dessa perspectiva.
Sofrendo, ao que parece, a influência de Bertallanffy (6), D~
vis O~, pretende algumas modificações ao propor uma conceituação sistêmi
ca para explicar a sua noção de interdependência, pois para ele um grupo
"e um conjunto de sistemas mutuamente interdependentes de sistemas compo!.
tamentais que não apenas exercem influência mutua, mas tambem respondem
ã
i nfl uênci as externas 11 •
Contudo, permanece a imprecisão do fenômeno Ol talvez, a
im-possibilidade de se encontrar um conceito universal. Neste particular
Lewin parece merecer a honra de ser um marco de referência no estudo de
grupos, pois propõe a diferenciação entre conduta social e comportamento
grupal (31), caracterizando o primeiro como fruto do processo de socializ~
ção do ser humano e, em decorrência, exclusiva da condição do homem vive~
em sociedade. Quanto ao segundo prega a sua subordinação
ã
uma estruturaautônoma, pois a presença do grupo não seria condição para o aparecimento
de comportamentos sociais, dado que a existência do grupo estaria condi
cionada ao vinculo emocional : um conjunto de individuos que experimen
-tam as mesmas emoções, suficientemente intensas para integra-los num grau
de coesão, que va i num crescendo ate ser capaz de provocar o mesmo tipo
Finalmente, ao perceber a influência de outras variáveis sig-nificativas nos aspectos emocionais levantados para caracterizar o fenômeno, buscou diferenciar os Ifsõcio-grupoll, formado por pessoas basicamente interessadas na execução de tarefas, dos "psico-grupos", estes, sim, orientados basicamente para as possibilidades de parti -cipação ou seja, estar com os outros membros vivendo uma dada situa ção (3S,
2.1 . 1 - OS DIFERENTES TIPOS DE GRUPO
Outra maneira de se considerar o fenômeno grupo, visto jã na sua complexibilidade, e o de se estabelecer criterios mais objeti -vos para diminuir a sua abrangencia, como fenômeno. Assim Jennings (32) ao caracterizar as diferenças entre "sõcio-grupo" e "psico-gr~
pOli o faz de maneira diferente de Lewin, jã anteriormente descrita, pois a sua referência estabelece um vinculo com o critério de esco-lha sociometrico. A dominar uma associação baseada no coletivo, i~
to é, em papeis - "0 sociocriterio" - está caracterizado um "sõcio-grupo", Se, por outro lado, a escolha for orientada por assuntos particulares - "ps icotele" - estaremos diante de um psicogrupo.
Outra di sti nção tradi ci ona 1 di z respeito a "grupos primãri os ", que de acordo com Cooley (36) seriam aqueles "caracterizados por co operação e associação intimas e diretaslf
• Sua preocupação foi a de
tes em todos os estãgios de desenvolvimento dos seres humanos.
Im porta nte atentar-se, todavia, para diferenças apontadas por
A 11 port (1) entre grupos primãri os e "endo-grupos", jã que nestes a condl
ção essencial
e
o emprego, por par te de todos os integrantes, do pronome"nós" com o mesmo significado ou gr au de atração, como aliãs propõe lewin
para o conceito de coesão grupal (42).
Interessante, ainda comentar um outro conceito bastante di
-vulgado e aceito em Psicologia Social - o de grupo de referência.
Allport (1) cita, no caso Sherif, para quem seriam aqueles
grupos para com os quais o IndivIduo se sente parte integrante, pois
pro-cura vincular-se psicologicamente, seja, pela presença, no momento, ou
ate por aspirar um dia poder vir a integrã- lo.
Finalmente, resta a clãssica distinção entre grupos ou organl
zaçoes, sustentada pela maioria dos estudiosos, pelo nlvel de afetividade
que caracteriza as relações, conforme propõe D. Anzieu (2) que diz ser,
entre outras dife r enças, a de maior destaque o "nivel das relações funci~
nais" que dirigem a interação entre os seus membros - a grande caracteris
tica de uma organização.
Cur;o >a, todavia,
e
a posição defendida por Stogdill (68)en-focando a sua anãlise do problema na exis tência ou não de chefia.
Para ele, grupo seria qualquer estrutura que prescinda de um
llder, uma vez que nao existe diferenciações de responsabilidades, ao pa~
so que uma organização "exige a permanente presença de lideres, dada as
Ap6s uma exposição exaustiva de conceituações abrangendo
con-ceitos genericos e especificos de grupos, evidencia-se o ponto de
vista, apresentado no inicio deste capitulo - a dificuldade das con
ceituações sobre grupo. Enquanto que as opiniões genericas
ressen-tem-se de maior delimitação, pois confundem-se com outros fenômenos
sociais ou psicológicos, as particulares destituem o fenômeno de va
riaveis significativas.
Contudo, a opçao de limitar o campo parece ser a escolha da
maioria dos psicólogos sociais da atualidade, fato êsse bastante n;
tido na ênfase cada vez maior na escolha de pequenos grupos para
fonte de estudos.
2.2 - ALGUMAS ABORDAGENS TEORICAS SOBRE GRUPO
2.2.1 - DURKHEIM E A INFLUrNCIA POSITIVISTA
Discipulo de Com te do qual declarou ser o "mestre
por excelência" ( 8), Durkheim desde cedo, objetivou tornar
a Sociologia uma ciência com as caracter;sticas cientif icas
difundidas pelo positivismo.
Para ele todos os aspectos sociais deviam ser ana
lisados
ã
luz da descoberta de formas coletivas de comport!mento humano, pois "tudo que e social consiste em
represen-t açôes e e, por conseguinrepresen-te, produrepresen-to de represenrepresen-taçôes ... "
( 4 ) .
e-xistência de uma consciência coletiva a reger a vida social dos seres
humanos. Os seres humanos vivem e agem em grupos e sao capazes de desper
-tar forças e fenômenos que não podem ser descritos em termos dos indivi
duos que o compoem : . .. "a mentalidade individual ao formar grupos faz
nascer um ser que se constitui numa individualidade psiquica de um novo
tipo" ... (18). Essa tese encontrou, tambem, adeptos em outras ãreas como
o antropôlogo L. Wh ite, citado por Klineb erg (36) que sustentou a impotê~
cia da Psicologia Individual para explicar os "fatos sociais", os quais
poderiam ser tranquilamente estudados sem a referência ao Individuo e as
suas propriedades psiquicas ou orgânicas.
De resto a essênc ia da tese coletivista sobre grupo estã no
posicionamento de que as forças sociais agem irresistivelmente sobre os
impotentes individuos, atraves de uma "coerção" pois, segundo suas pro
prias palavras: "0 individuo encontra-se na presença de uma força que
e superior a ele e diante da qual se submete" (18).
Cartwright e Zander (12) comentam
ã
respeito que a real idade sobre "grupoll existente ate 1930 caracterizava-se pelo fato de que
es-tudiosos da epoca ainda postularem a crença na IImentalidade coletiva", is
to e, sobre a possibilidade da existência de grupos mesmo que todos os
seus membros fossem substituidos, dado que as suas estruturas de sustenta
çao nao se encontravam nos individuos.
Hoje em dia, ao que t udo indica, para a maioria dos teõri
-cos contemporâneos, o termo tem uma certa conotação fantasiosa ou mãgica.
A rejeição, ao que parece , devese a percepção de que "men -.
medida em que lhe falta clareza na definição, ao lado da ausência
de correspondentes empiricos, pois carece de dados psicológicos
ou fisiológicos que a tornem uma entidade palpãvel (24).
2.2.2 -
FREUD E A ORIGEM DA PSICOLOGIA GRUPAL
A existência de um grupo supõe a fantasia de
re-gressao, com a respectiva perda da "distintividade individual"
obscurecendo, para cada participante, que a agregação é composta
de Individuos, é o que propõe Freud (21).
Em outras palavras, quando ao obs ervador é dado
constatar a existência do fenômeno grupo é porque houve "uma agr~
gação de i ndi vi duos, todos no mesmo estado de regressão" (7).
A teoria psicanalitica tenta abordar o tema grupo
por intermédio da explicação projetada para a transição do estã
-gio familia para a condição de grupo. A comunhão totêmica e o
conceito fundamental. Os filhos expulsos pelo pai tirano acabam
por rebelar-se e todos devem ser cumplices no assassinato do pai
e no fes ~ im no qual devoram ao morto (22).
O mito da "comunhão totêmica" implica, pois, na
identificação de todos para com os antepassados , simbolizando o
porvir de uma nova sociedade regida por uma moral de
solidarieda-de renunciar a matar e a comer o animal totêmico (o substituto
do pai morto idealizado), renunciar a ter relações sexuais com as
mulheres filhas do pai e parentes próximos (origem do incesto e
Os mecanismos de identificação (com a figura paterna) e a am-bivalência (mistura de admiração e suspeitas), e, segundo Freud, a origem da vida grupal.
r
o que demonstra a observação dos grupos sociais "0 chefe. toma o lugar do ego i dea 1, em .: ada um dos seus membros 11, o que exp 1 i-ca a solidariedade entre os integrantes, envolvidos que estão na fantasia de regressão (21).Dai entender-se o porque que um grupo social representa a seu chefe como um homem superior, que a todos ama sem distinção. A coesãogr~
pal, por outro lado, fundamenta-se no pacto de solidariedade o que leva Freud a ; nferi r: IITodos os i ndi vi duos querem ser i gua i s, porem domi na -dos por um chefe. Muitos iguais, capazes de se identificar mutuamente,p~
rem um somente superior" ... (21).
Todavia, a adoração paterna implica numa outra faceta - a ho~
til idade - i sto e, a ambi va 1 ênci a dos sentimentos humanos "queimamos o que adoramosll
(20). Assim a figura do chefe ideal tambem provoca ressen-timento pois, tal qual a imagem paterna, simboliza a nossa dependência na medida em que nos conhece e se antecipa nas decisões sobre a nossa so-brevivência (22).
Mas, para que o grupo alcance a sua soberania faz-se necessa-rio exorcizar o flntasma do grande ditador.
Assim Freud explica o progresso social : a passagem do grupo social estruturado na lIautoridade do paill
e lIidentificação com o chefe" pa ra a sociedade de irmãos, fundamentada nos principios de educação mútua a solidariedade e o compromisso comum de não agressão (20).
pre persistem as imagens arcaicas no inconsciente individual - o re torno ao rejeitado - o desejo oculto de adorar aos individuas su-periores os chefes fortes. Por outro lado uma organização gr~
pa1, fundamentada na autoridade, provoca ressentimento, sendo uma eterna fonte de instabilidade - a existência daqueles filhos que desejam uma organização fraterna e a vingança contra a severidade e a crueldade (20).
Finalmente, as tentativas de aplic,(ção prãtica dos fundamentos da Teoria Psicana1itica na educação para a vida grupal centraliza-se: no manejo da transferência.
Alguns principias são enumerados por Anzieu (2 ),
em pesqui sas realizadas, com algum sucesso, com êsse propôsito,fl cando alguns ensinamentos :
não repetir as atitudes dos pais que provocaram reação negativa;
- não adotar nunca as atitudes que a criança esp~
ra de você;
aliviar a culpa da criança;
- falar-lhe do que interessa e nao do que cometeu, etc.
2.2.3 - A SOCIOMETRIA DE MORENO
Etimologicamente a define - lia medida do socius"
ou do "companheiro", sendo t alvez mais interessante falar-se em
medida da sociabilidade, como en t endem alguns sociometras (50).
Sua preten ção teórica seria a de preencher uma la
cuna que segundo sua percepção, existe entre as abordagens de
Freud e Marx para explicar a vi da de relação, jã que o primei r o e
xageraa influência dos aspectos humanos ou tenta "psicologizar ,, '
os fenômenos psicosociais", enquanto o segundo nega totalmente a
intersubjetividade das relações exagerando o papel das macroestru
turas econômicas (49).
2.2.3.1 - OS ELEMENTOS DA SOCIOMETR IA
O ponto de par t ida de sua obra encontra-se na
no-çao de "ãtomo social", nucleo das rela ções que cercam cada indivi
duo numa qualquer dada estrutu r a 'social e que, portanto,
desempe-nha importante papel na forma ção da soci edade. Ao observarem-se
os grupos humanos os "ãtomos soci ais" (individuos) destacain-se
simplesmente, pelos vincu l os af etivos que os sustentam - são os
polos de irradiação e concentração simultânea da afetividade. Os
vetores centrifugos (forças afetivas de atração e repulsão que par
tem para outros ãtomos) e vetores centr; petos (a recepção das fo.!:,
ças afet i vas de atração e rep ul são provenientes de outros ãtomos)
caracterizam o inter-rela cionamento existente no grupo. Este
fenômeno fazse presente por in te rmedio do "tele",correntes afeti
sociome-tri cas (53).
Segundo Moreno, o "tele" entre dois individuos PE. de ser virtual ou ativo, dependendo da presença fisica das pes-soas ou, ainda, da comunicação de sentimentos e idéias através de uma rede sociométrica (53).
2.2.3.2 - O MODELO TEORICO
O modelo teórico intencionado sustenta-se na famo sa "tricotomia" a realidade externa dos grupos, a matriz socio metrica e a realidade social.
Dado que os grupos existem na sua aparência social ou observãvel, por intermedio da matriz sociométrica seria possivel penetrar na sua realidade existencial e vivencial a essen -cia das interações. A partir das informações coletadas poder-se-ia chegar a se inferir a realidade socpoder-se-ial. Quando se conhece, si multaneamente, a estrutura aparente - a "oficial ll
- e a matriz so
ciométrica de um dado grupo, a reconstrução dos elementos essen -ciais que compõem essa realidade tornam-se bastante nitidos (53).
2.2.3.3 - O DIAGNOSTICO SOCIOMtTRICO
O di agnóstico da sociabilidade de cada Individuo, com um objetivo psico ou sócio- terapêutico, a partir das infor-maçoes coletadas, segundo Maisomeuve (50) tem origem com o "es-tatuto sociometrico do grupoll: os "favoritos" (maior numero de escolhas) "desprezados " (manores escolhas), "isolados" (ne -nhuma escolha), "solitãrios" (não emitem escolhas), "rejeitados" (maior numero de rejeições do que de escolhas) e "excluidos"(só recebem rejeições).
Quanto ao diagnóstico da rede soc iometrica concen tra-se em destacar as relações entre os "pares" (seleções reci-procas), "triângulos" (três escolhas com reciprocidade), "ca-deias" (sequência de escolhas com reciprocidade). Um detalhe i!!!. portante a se observar sao os i ndi ci os de "c 1 i vagem 11 (a ci são do grupo em sub-grupos ou particulas).
2.2.3.4 - O CRITtRIO E SUA VULNERABILIDADE
Moreno ins i ste em chamar atenção para a necessid~
de da observância de alguns parâmetros na interpretação do tes-te soci ometrico. A vinculação das informações obtidas ao crit~
Por isso mesmo a escolha da situação que mot iva
as pessoas a desencadearem o seu potencial - o tele - e, como
tal, dar a conhecer as caracteristicas de sua sociabilidade no
grupo, responde pelo sucesso ou fracasso de sondagem sociometri
ca.
Moreno (53), inclusive, traça algumas
considera-çoes sobre o que deve regular a escolha dos criterios
o criterio deve ser capaz de atrair os indivi
-duos;
- o criterio deve levar o individuo a responder com
autenticidade;
o criterio deve despertar os individuos ares
-ponderem sinceramente; e
o criter l o deve sugerir respostas que sejam
mais duradouras e não superficiais.
Todavia, e exatamente neste ponto que se revela a
vulnerabilidade do teste sociometrico. O grau de incerteza que
a sociometria vivenc i a e dado pela dificuldade em se afirmar ca
tegoricamente que as situações criadas pelo teste foram capazes
de despertar o interesse de todos os participantes. Alem do
mais uma das limitações serias dizem respeito a irreal idade da
situõção proposta, pois o simples fato das peSS0 ~ S idealizarem
uma situação que possivelmente nunca venha a se efetivar na pr~
tica, pode contribuir para um certo desengajamento que se
Maisonneuve (49) comenta um outro aspecto do
problema, tambem bastante importante: o receio de alguns sujei
-tos ~m revelarem claramente as suas atitudes em relação as
de-mais pessoas, o que sem d~vida seria fundamental na
interpreta-ção das informações. Aliãs est~ e um problema que não s6
ator-menta o teste sociometrico mas e, segundo muito~ estudiosos do
comportamento humano, o problema da avaliação humana. ~ o que
acontece, e que a prãtica aponta, com os Inventãrios de Atitu
-des - a tendência a dar respostas socialmente aceitãveis - dai,
a preocupação de muitos autores, como por exemplo Comrey (15)
em criar estrategias para detectar o grau de autenticidade das
respostas.
A experiência tem demonstrado e e o que parece
possive l de acontecer com o teste sociometrico, uma certa ten
-dência das pessoas a "camuflarem" suas respostas, dando uma ce!:.
ta impressão irreal e fantasiosa
ã
respeito de suas atitudes. Amenos que se consiga verdadeiramente conscientizar os sujeitos
para a situação proposta no ato de obtenção das informações do
teste - tarefa, aliãs, não muito fãcil - a d~vida deve acompa
-nhar a interpretação das informações, fato apontado por Maison
neuve (49) ao comentar situações de reteste.
2.2.3.5 - A CONSERVA CULTURAL
Finalmente, resta discorrer sobre a proposição de
do sistema sociométrico: os conceitos de espontaneidade
(fa-tor S), criatividade (fa(fa-tor C) e conserva cultural (CC).
Afirma ele que espontaneidade e criatividade re
-presentam categorias diferentes de fenômenos, dado que uma
pes-soa pode possuir um alto grau de espo ntaneidade (fator S) e bai
xo grau de criatividade (fator C) e vice-versa. A espontaneid~
de deve ser vista como uma espécie de energia que levaria o
ho-mem a se sentir motivado a enfrentar desafios ou situações
no-vas - pertence a uma espécie de categoria de facilitadores
so-ciais.
Ja
a criatividade só pode ser analisada sob o ângulo deum marco de referência cultural - isto é, o valor social das in
formações geradas. Na medida em que o ser humano cria ou inova,
as informações são estruturadas numa especie de memória cultu
-ral - lias conservas culturais" (53).
Por intermedio destes conceitos Moreno tenta ex
-plicar o posicionamento do sociometra dentro dos grupos humanos:
cria r condições que despertem toda a energia da espontaneidade
(fator S) de cada indivlduo, capaz de vencer a barreira da
con-serva cultural (quadros de referência) que congela o potencial
criativo (fator C) do ser humano (53).
Parece que Moreno, com muita prop r iedade, quer
chamar a atenção para o fato de que o sociometra deve procurar
penetrar nos grupos (53), fato ja diversas vezes explicitado
quando de suas colocações de ligar a teoria a praxis. Outro
interesse e para uma especie de "embotamento social 11 a que o
co-nhecimento previo pode reduzir os grupos - a dificuldade que
cer-tos grupos encontram em libera r o seu potencial de criatividade,
pois não existe um clima capaz de fazerem as pessoas vencerem as
barreiras das informações disponive,is.
2.2.4 -
A PERSPECTIVA DIALtTICA DE SARTRE
Ao propor as bases do que entende por dialetica ,
Sartre (62) tenta demonstrar a partir da "praxis marxista", que
ela seria uma especie de itinerário percorrido pelo pensamento
humano na sua confrontação com a natureza, visando transformá-la.
Diferencia-se do metodo analitico tradicional PO!
quanto pretende penetrar na si tuação afim de apreendê-la, vivenc;
ando a mudança dos seres humanos e das situações.
Dialeticamente propõe, então, as condições huma
-nas da convivência em grupo . Para ele a origem da interação está
na escassez, na falta de meios para satisfazer as necessidades
hu-manas: "toda aventura human a, pelo menos ate agora, e uma luta
desesperada contra a escasse z 11 (62).
O intercâmbio que surge (mercadorias, mulheres
etc.) cria as bases da intera ção humana, dado o compromisso pri
mordial com a sobrevivência. Do intercâmbio chega-se, então, a
violência "escassez interiorizada" que leva os individuos a perc~
berem nc outro um possivel sobrevivente que deve ser suprimido
2.2.4.1 - A ORIGEM DOS GRUPOS
Se as bases da interação humana nascem da
lIescas-sez", esta determina os principios de convivência social.
Toda-via, es t a não forma aquilo que entende como grupo, visto por
Sartre como um epifenômeno de vida coletiva e que tem a sua ori
gem no sentimento de solidão.
Atraves de seu clãssico exemplo de fila de espera
de ônibus, Sartre (63) tenta demonstrar o que deve ser
entendi-do como coletivo. A idéia de "serialidadell
, isto é, a
impossi-bilidade dos indivlduos, quando em estado de aglomerado, de se
unirem em verdadeira ressonância com os outros organismos e que
traçam os rumos de uma vida social. t o profundo anonimato que
se caracteriza pela solidão ordenada em serie - as bases das re
lações sociais.
Interessante, neste particular, as explicações di
ferentes de que lançam mão Pages e Sartre e que comungam do mes
mo ponto de partida para explicar a origem dos grupos e senti
mentos de solidão. Se para Pages e a solidão o unico traço
co-mum existente nos seres humanos capaz de aglutinar as pessoas
em grupo e que, portanto, somente quando as pessoas tem
consci-ência plena da separação entre os indivlduos
e
que surge over-dade; ro esforço de ·cooperação - o grupo - o mesmo não ocorre com
Sartre (62) que vê no grupo uma tentativa de fuga
ã
solidão, aoanonimato em que se vive, a unica forma encontrada pelos seres
A alienaç ão, então, explica-se dentro da
perspec-tiva sartreana pela perm0nencia no anonima t o. Na indiferença p~
lo outro os seres humanos se red uz em a uma "serie de numeros",
pois , ainda que possuindo um interesse comum, este se encontra
fora, dai as pessoas encerrarem-se por detrás do profundo anoni
mato que caracteriza o aglomerado. Somente quando se dá a
in-teriorização do interesse, sufici entemente forte para se conver
ter o "interesse comum" em "interesse em comum", no qual se vis
lumbra a interdependência en t re os seres humanos para atingir
um objetivo comum, e que os i ndividuos ultrapassam a sua aliena
ção, fogem do aglomerado e at ingem a condição te grupo. Este
e
o estado em que cada individuo começa a ter importância para c~
da um dos outros componentes -
e
a fase da tomada deconsciên-cia de sua individualidade, provocada pelo espelho soconsciên-cial que a
situação de grupo proporcion a.
Anzieu (2) comenta a transformação dos processos
de comunicação como fundamen t al para compreensao do fenômeno,
porquanto o individuo sai da fase da comu nicação indireta para
a da comunicação direta, da uni lateral idade do processo de comu
nicação para a fase da bilateralidade, com feed-back, sendo, en
tão, possivel a passagem de correntes de antipatia e simpatia,
como propoe Moreno (53).
Na fusão em gr upo a "serialidade" da velha aglom!:.
raçao desaparece diante do "calor da experiência comum" (62) e
os individuos passam a viven cia r uma nova realidade coletiva,es
IIpertencimentoll
2.2.4.2 - A DIALtTICA DOS GRUPOS
Todavia, o grupo não pode se desligar totalmente do aglomerado que lhe deu origem e, como tal, deve adotar medi-das para evitar o retorno a "serialidadell
- dá-se, então, o
fe-nômeno de organização ou estruturação dos grupos. As normas que regem a convivência visam precaver o grupo. Aqueles indivI duos que divergem, poss;veis lIagen tes de serial ização" devem ser
combatidos e se instituem as obrigações de fraternidade e as re gras de jurisdição que regulam o trabalho interno de decisão
( 2 ) .
Sartre mostra, então, toda a sua visão dialÉtica do fenômeno ao destacar as contradições que se instalam e amea-çam a existência do grupo. Se a tarefa do grupo
e
continuamen-te reorganizar-se, decontinuamen-ter a entropia, torna-se mais estável, os papeis devem ser distribuidos e as relações entre os seus mem -bros re guladas. Ora, di ante deste fato, a organização que fun-cione bem pode tornar-se uma finalidade em si mesma. Neste ins-tante, em que as formalidades triunfam sobre as relações, o gr~po se encontra ameaçado -
e
a degradação, a ameaça ao retorno do anonimato das relações.-neamente, impedir que a organização sufoque as relações,
determi-nando todas as formas de interação, sob pena de um retorno ao
es-tado de "serial idade", mesmo em aparente condição de grupo. Com
isto ressalta não sã a importância do "grupo", como tambem mostra
a instabilidade que permanentemente paira sobre o fenômeno.
2.2.5 - A PERSPECTIVA DE CAMPO DE LEWIN
A partir de seu pressuposto de que os fenômenos
de grupo são irredutiveis e não podem ser explicados
ã
luz da Pslcologia Individual, dado que toda a dinâmica de grupo seria resul
tante de um conjunto de interações: conflitos, repulsas, atra
-çoes, trocas, comunicações, coerções, tudo dentro de um espaço
psico-social, Lewin propõe' o estudo dos comportamentos em grupo
para o seu modelo de campo de forças. Buscar uma interpretação
para o processo soêial pelo posicionamento ocupado por cada
inte-grante no espaço que constitui o grupo (48).
O diagnostico da situação social sã pode ser obtl
do (41 ) dentro de um continuum, cuja resultante seriam os
compor-tamentos do grupo, considerados a nivel de percepção (os esqu~
mas perceptuais comuns ao grupo) e a nivel de comportamento (a
inclinação para certos tipos de comportamento). r1mo consequên
-cia o comportamento observavel so tem significado dentro de um
campo de esp~ctat;vas presentes e somente dentro dessa moldura p~
der-se-ã entender as atrações e repulsas existentes.
por ele sempre defendida, da necessidade do
observador-partici-pante como unica forma adequada para se penetrar na realidade
do campo de forças presente no "aqui-agora" da dinâmica de um
grupo, para, somente depois, inferir-se a reconstituiçâo de
to-das as variáveis significativas do fenômeno.
2.2.5.1 - O CAMPO SOCIAL
Atraves do conceito de "eu social 11 (48) a camada
mais periferica que envolve o "eu intimo" e engloba os valores
compartilhados pelo grupo, Lewin (41) explica a interação do i~
dividuo e grupo na estruturação do campo social p r intermedi o
das posições que neles ocupam os diferentes elementos que com
-poem o grupo .
O grupo e uma tota 1 idade, uma "ges ta 1t ", i rreduti
vel da qual o individuo faz parte integrante, pois propicia o
terreno onde se mantem. A sua participação deve, pois, estar
bastante clara e definida, dado que diante de uma situação dif~
sa o espaço de movimento livre do individuo, naquele instante
condicionado ao campo do grupo, atrofia-se com a perda de liber
dade de movimento (48).
Ora, se o individuo utiliza-se do grupo para
sa-tisfazer as suas necessidades individuais, incorporando-o ao seu
"espaço vital", logo todos os integrantes são importantes na si
tuaçâo - ate aqueles que se sentem ignorados ou rejeitados - e
Por-tanto, preconiza Lewin (41), a verdadeira adaptação social
con-sistiri a em se atingir os objetivos individuais sem que nunca
se rompam os laços com o campo social no qual o individuo está
inserido.
2.2.5.2 - A MUDANÇA SOCIAL
O ajustamento social, continuamente mutável, de
-pende basicamente das continuas mudanças no campo social - o
e-quilibrio dinâmico ou semi-estacionãrio. O conjunto de forças
restritivas presentes no campo determinam a liberdade de movi
-mento e o clima social reinante. Ora, ao considerar-se que as
tendências do "eu" e do "super ego" caracterizam a dinâmica dos
valores, entende-se a dificuldade ou a resistência
ã
mudança.Para que esta seja atingida necessário faz-se trabalhar o clima
social reinante, aumentando a liberdade de movimento, capazes
de combater as forças restritivas caracterizadas,
principalmen-te, pela cristalização dos valores pré-existentes.
As atitudes conformistas condicionam o campo as
percepçoes sociais cristalizadas, e, como tal, rejeitam as
mu-danças por achá-las catastróficas. As atitudes de confrontação
do grupo indicam uma abertura ao questionamento e antecipam
to-da muto-dança como desejãvel (48).
2.2.5.3 - ESTRATtGIA DE INTERVENÇAO
gundo Lewin, e tornãlos conscientes da dinãmica da sua situa
-ção social : os subgrupos , os canais de comunica-ção,· as
bar-reiras, etc. Portanto o levantamento ou anãlise das percepções
do grupo deve orientar a intervenção. A partir do modelo teõri
co que regula o equilibrio de forças existentes no campo,
po-der-se-ã então prever ou conjecturar sobre a sua evolução, des
cobrindo os comportamentos mais adequados e em harmonia com as
novas percepções (41 ).
Como gestaltista Lewin conclui (48) que a mudança
social so
-
poderã ser obtida na medida em que se conseguirmodi-ficar: as estruturas da situação social (os elementos do
cam-po), as estruturas das percepções individuais dos integrantes
(os valores) e os acontecimentos que surgem da interação
so-cial (comportamentos) - a totalidade dinâmica.
Ora, como o elemento fundamental e catalizador
e
a atmosfera que segundo suas pesquisas (39) depende fundamental
mente da autoridade, justifica-se a sua preocupaçao em
introdu-zir um novo estilo de condução de grupos ma is liberalizante- le
var o grupo a vivenciar uma nova concepçao de poder, no seu
in-terior, afim de se obter o clima desejãvel as m danças.
2.2.5.4 - O TREINAMENTO DE RELAÇOES HUMANAS
Fiel a sua concepção de pesquisa-ação e adeptofe~
voroso do treinamento de atitudes em grupo, propõe que as bases
atraves de um aprendizado, que se oriente nos seguintes tópicos
(48) :
- a integração duradoura entre os elementos de um
grupo so serã possivel atraves de comunicações
abertas;
a capacidade de comunicar de um modo adequado e
conseguir restabelecer contatos estremecidos não
e um dom inato dos seres humanos - e uma
atitu-de adquirida;
somente atraves do questionamento da maneira ha
bitual de se comunicar com os outros e que as
pessoas conseguem descobrir os principios funda
mentais da comunicação humana.
Atraves do respeito a êstes principios, acreditou
Lewin que os seres humanos chegariam a verdadeira autenticidade,
con-dição necessãria para gerar o cl ima facilitador tão necessãrio ao
de-senvolvimen to das mudanças sociais.
2.3 - O OBJETO DE ESTUDO
2.3 . 1 - A RESI STtNCIA EPISTEMOLOGICA AO ESTUDO DOS GRUPOS
O ques tionamento dos conhecimentos obtidos atraves de
pesqui-sas realizadas com grupos preocupa, hã muito, alguns
estudio-sos no que tange a sua validade. Algumas intE ~ rogações clãs
-sicas permanecem (1) pode-se estudar o grupo sem
vivenciã-lo?; (2) o comportamento dos sub-grupos não estaria
nado pela influência da organ ização social abrangente?; e (3) ! tê que ponto os seres humanos não estariam contaminados por fan tas i as que comprometeriam a compreensão do fenômeno?
2.3.1.1 - ESTUDAR O GRUPO
xVIVER O GRUPO
Uma das mais an t igas polêmicas a respeito das po~
sibilidades de estudo dos grupos reside no processo de obtenção de informações. Ao observado r distanciado, enfatizam alguns t! óricos (48), só ê dado conhecer as aparências. A outra alterna tiva - penetrar no grupo - comentam alguns criticos (2), por si só se constitui numa introdução de uma variável num campo s~
cial cujo equilibrio de fo r ças
e
semi-estacionário, o que vem a modific ar sensivelmente o fen ômeno.D. Anzieu (2), a propósito, comenta algumas pos~
çoes tradicionais que se fixa m no ponto de vista de que: 11 um grupo existe para ser vivido absolutamente, não para estudá-lo".
Quanto a este aspecto deve-se ressaltar a impro priedade de posições tão radicais na ciência. A raciocinar-se dessa maneira, forçosamente cairia-se em generalizações precip~
tadas e infrutiferas, pois seria, t alvez, o caso de se estender o mesmo raciocinio para os fenômenos psicológicos estudados atr! ves de pesquisas experimentais. Ninguem desconhece que a pro-pria situação de laborató r io modifica, sensivelmente, o campo de forças do sujeito ...
-nao passar desapercebido os cuidados a serem tomados a fim de
se evitar a introdução de novas variâveis. O m~todo do observa
dor-participante, tão enfatizado por Lewin (48) pretende miniml
zar os efeitos da introdução de variâveis estranhas, bem como
retirar o mãximo de informações sobre a interaç~) grupal
pene-trando-se no interior da "atmosfera do grupo".
Entretanto, alguns teóricos parecem não
comparti-lhar das "premissas lewinianas" e preocupados em influenciarem
o comportamento do grupo, limitam-se a observações formais,
ob-tidas atraves de t~cnicas sociom~tricas ou inventãrios de atitu
des.
Sejam quais forem as vantagens e desvantagens que
possam s er discutidas, parece ainda em aberto a desconfiançasde
toda a natureza o dilema : observar atraves de tecnicas
for-mais distanciadas, participar e viver o ·grupo para depois, rela
tar os seus fenômenos, analis ando-os e inferindo ou, ainda,
ob-serva r-participando.
2.3.1.2 - O COMPORTAMENTO DAS ORGANIZAÇOES SOCIAIS FRENTE AOS PEQUENOS
GRUPOS
Dentro de uma visão sistêmica das organizações so
ciais (34) esta e vista como constituida de diversos núcleos que
interagem na condição de interdependência que regidos pelo
"P ri ncipio da Equifinalidade " estão orientados para as metas e
cientizada através dos tempo s nao e objeto de controversia e,
sim, como comenta D. Anzieu (2) a validade do estudo isolado
de uma IIfraçãoll
que pertence a uma entidade que a dirige.
Neste particular a observação do processo de
so-cialização do ser humano destaca o papel do pequeno grupo - o
grupo primârio - como berço do aprendizado social (2), pois e a
traves da famllia que a criança aprende o simbolismo das rela
-ções sociais: os valores, as crenças existentes numa
socieda-de. Alem disso outros estudos realizados, conforme aponta Sprott
(65), com outras organizações sociais como as Forças Armadas,d~
mostram que e a pequena fração, a unidade militar, o sub-grupo,
o responsâvel pelo desenvolv imento do "esplrito de corporaçãoll
•
O processo de modelagem e incorporação só pode ser desenvolvido
dentro dos pequenos grupos, uma especie de ponte utilizada para
se buscar a identificação com o grupo maior.
Baseados nessas considerações, alguns
pesquisado-res preconizam a necessidade do estudo grupo pequeno ate como
forma de se conhecer uma realidade social mais abrangente.
Contra essa tese opoem-se outros teóricos, princi
palmente os que defendem a teoria marxista que acreditam
esta-rem os grupos menores reduzidos a forças superiores, de
nature-za sócio-econômica ou ideológica, que determinariam a sua
inte-ração. Como consequencia, a compree nsão do fenômeno só seria
2.3.1.3 - AS FANTASIAS SOBRE O GRUPO
Ao se estudar os grupos não se pode negar dificul dades geradas por re slduos culturais mlsticos que envolvem o tena. Anzieu (2), cita Bache1ard que neste aspecto, alerta p~ ra a necessidade de se liberar as IIrepresentações imaginarias" que cercam o tema, para se chegar a uma anãlise racional da realidade sobre o fenômeno grupo.
Não sao poucos os relatos, ao longo da história sobre situações heróicas ou tragicas vivenciadas por grupos humanos, o que leva a envolver o assunto numa certa aureola de fantasia.
A tese da "mentalidade coletiva" ou de uma estru-tura independente dos indivlduos que emerge, ou ainda, o po-der dos agrupamentos humanos - a horda enfurecida - tão decan tada por LE BON, parecem trabalhar numa tematica perigosa, não que seja invalida, mas como menciona Anzieu (2) "uma ciência nao se fundamenta sobre sentidos imp1lcitos nem sobre compar~
ções populares" ...
2.3.2 - OS GRUPOS PEQUENOS COMO OBJETO DE ESTUDO
como por exemplo "OS grupos primãrios" o nucleo do processo de s.Q.
cialização, como, tambem pela impressão que vai se enraizando,co~
forme DAVIS (16) afirma, de que a vida social se desenvolve,
efe-tivamente, nos nucleos sociais pequenos.
A um observador mesmo que desatento nao deve
pas-sar desapercebido o fato de que numa reunião onde se encontrem pr~
sentes um numero superior a cinquenta (50) pessoas, dificilmente
todos os presentes conseguirão, simultaneamente, manter relações
significativas entre si. Ate porque seria uma questão de
limita-ção de tempo, pois se cada pessoa dispusesse de um certo tempo p~
ra falar, ate todos se manifestarem,o desinteresse teria tomado
conta da atmosfera reinante.
Dal entender-se o fenômeno da divisão em "sub-gr~
pOli ou "panelas" na medida em que o numero de pessoas cresce numa
reunião de pessoas e a tendência ao fracionamentos do
gran-de grupo.
A experiência sobre o assunto levou, inclusive, a
se buscarem tecnicas (73) mais eficazes para o trabalho com
gru-pos comgru-postos por um numero elevado de integrantes, sugerindo-se
a escolha de comissões menores para discutirem o tema como se
fa-zem nas assembléias e congressos (58).
D. Anzieu (2 ) defendendo ardente~ ~ nte o estudo
dos pequenos grupos como sendo altamente aconselhâvel, destaca al
guns pontos, que considera relevantes para justificar o trabalho
- numero restrito de membros, de forma a que as
pessoas possam ter uma percepção individualiza
-da de ca-da integrante e, como tal,
produzirem-se comunicações interindividuais;
- consciência plena compartilhada de objetivos
co-muns que sejam efetivamente valorizados pelo mem
bros;
relações efetivas que possam IIchegar a serem
in-tensas;
- possibilidades de formara interdepend~ncia e
so-lidariedade entre os participantes;
- diferenciações significativas de pape is; e
- nTtida caracterização das normas, crenças e
va-lores próprios do grupo.
Por esses e outros motivos os pequenos grupos vem
se constituindo numa fonte inesgotãvel de experimentos, ainda que
alguns teóricos, jã anteriormente mencionados, critiquem a sua
u-tilização, bem como as informações obtidas. E, como se jã não bas
tassem os argumentos apresentados em favor da utilização 'dos
gru-pos pequenos, convem deixar, ainda, registradas as
siderações de Davis (16), sobre a necessidade de se
traves de grupos pequenos
oportunas
con-pesquisar
a-- e mais fãci1 conseguir o acesso e a constituia--
constitui-ção de pequenos grupos;
- e mais fãcil obter-se o controle de todas as
va-riãveis em grupos pequenos; e