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Teoria e história na sociologia brasileira: a crítica de Maria Sylvia de Carvalho Franco.

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CRÍTICA DE MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO*

André Botelho

Para Nísia

* Este estudo é parte de pesquisas mais amplas ainda em curso, financiadas pelo CNPq e pela Faperj, que também vem envolvendo orientações acadêmicas. Agra-deço a Maurício Hoelz Veiga Jr., Paloma Malaguti e Pedro Cazes. O estudo foi apresentado no GT Pensamento social brasileiro, durante o 36º Encontro Anual da

Anpocs (2012), a cujos membros também sou grato.

Em Homens livres na ordem escravocrata, Maria Sylvia de

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Visão persistente e que, aos olhos da autora, se renovava com a autoridade das ciências sociais, especialmente a partir da adoção de paradigmas do funcionalismo norte-america-no, em diferentes perspectivas, sobre a modernização que a autora acaba reunindo sob a designação de “sociologias do desenvolvimento”. Maria Sylvia de Carvalho Franco tem em vista, portanto, a então influente teoria da modernização de Talcott Parsons, mas também a tradução da sociologia webe-riana a partir desta tradição e sua transplantação direta para o estudo da realidade latino-americana, em geral, e brasilei-ra, em particular. Perspectivas que, a seu ver, transformavam relações históricas em modelos abstratos, isolando variáveis e construindo séries temporais desconectadas dos processos históricos concretos e variáveis. Essa posição se desdobra em diferentes níveis no conjunto da sua obra sociológica, apare-cendo também como tema recorrente nas várias entrevistas que a autora tem concedido ao longo de muitos anos.

A hipótese geral da pesquisa em que o presente estudo se insere é que a crítica de Maria Sylvia de Carvalho Franco às interpretações da sociedade brasileira identificadas com as teorias da modernização da sua época, recoloca em debate as relações mais amplas entre teoria e história na sociologia brasileira, com efeitos teóricos heurísticos para pensarmos a contemporaneidade. Espécie de denominador comum a essas interpretações, constituindo-as e deformando-as, seria o modo disjuntivo como as relações históricas foram toma-das como polaridades conceituais antitéticas, como “tradi-ção” e “modernidade”, a que a autora se contrapõe. Assim, em sua obra, Maria Sylvia de Carvalho Franco recoloca em questão o problema da historicidade da vida social para a sociologia, em uma análise fina que busca esclarecer as cone-xões de sentido que o processo histórico-social engendra entre categorias e relações sociais.

As conclusões da sua tese de doutorado Homens livres

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des, defendida em 1964 perante a comissão examinadora composta por Antonio Candido, Sérgio Buarque de Holan-da, Octavio Ianni e Francisco Iglesias, além do orientador, e publicada como livro cinco anos depois, com o títu-lo Homens livres na ordem escravocrata, parecem ter levado

a autora a questionamentos teóricos mais amplos e pro-fundos sobre o problema da historicidade da vida social. É desse tema que se ocupa especialmente em sua tese de livre-docência, defendida em 1970 junto ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, intitula-da O moderno e suas diferenças. Por isso, é preciso reconectar

a interpretação substantiva do Brasil feita em Homens livres

na ordem escravocrata a essas formulações teóricas

contem-porâneas e posteriores. Quanto a estas, concentrar-me-ei na sua interpretação de Max Weber, e seu esforço em res-significar o sentido histórico das construções típico-ideais, a seu ver, indevidamente transformadas em modelos abs-tratos e recursos de generalização a-históricos. Um breve contraponto com a interpretação de Fernando Henrique Cardoso a respeito do caráter patrimonial e estamental da sociedade brasileira nos ajudará a situar de modo menos abstrato as ponderações teóricas da autora.

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balho guardam algumas diferenças de redação, sendo as mais importantes encontradas na introdução, que foi, em sua maior parte, suprimida da versão em livro. Nela, Maria Sylvia de Carvalho Franco realiza uma discussão detalhada e articulada dos temas da herança portuguesa, expansão ultramarina e escravidão. É verdade que, num tipo de inter-textualidade muito própria à obra sociológica da autora, em que inclusive algumas partes dos seus escritos mais antigos reaparecem parcial ou quase integralmente em publicações posteriores, a discussão sobre a escravidão colonial moder-na e o surgimento do capitalismo, suprimida da introdu-ção do livro de 1969, seria retomada, entre outros escritos, como tema do artigo “Organização social do trabalho no

período colonial”, publicado na revista Discurso, em 1978, e

apresentado em um seminário na Unicamp nos anos 1980. Para Maria Sylvia de Carvalho Franco, a demora na publica-ção da tese sugere bem “sobre o teor da pesquisa realizada e sobre as resistências que enfrentou. Do lado conservador, foi recusado por ser marxista; pela esquerda, foi recusado por não ser ‘ortodoxo’” (Franco, 1988, p.16) – como ava-liou em seu Memorial Acadêmico apresentado para o Con-curso de Professor Titular do Departamento de Filosofia da USP, em 1988, para onde se transferira em 1970, durante a intervenção da ditadura militar naquela universidade. Nas décadas de 1970-80, Maria Sylvia de Carvalho Franco seguiu lecionando, pesquisando e orientando trabalhos no Departamento de Filosofia da USP, transferindo-se para a Unicamp no final dos anos 1980, e, mesmo aposentada, tem produzido em diversos campos da filosofia e publicado arti-gos na imprensa de grande circulação até o presente.

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bastante heterodoxa do ponto de vista doutrinário e polí-tico envolve ensaios de Oliveira Vianna e pesquisas acadê-micas realizadas, entre outros, por Victor Nunes Leal, Luís de Aguiar da Costa Pinto, Maria Isaura Pereira de Queiroz, além da própria Maria Sylvia de Carvalho Franco. Investi-gando diferentes fenômenos políticos, como clãs rurais, clientelismo, lutas de famílias, voto de cabresto e domina-ção pessoal, os trabalhos analisados convergem, no plano teórico-metodológico, para uma abordagem que se quer diferencialmente sociológica da política. Por abordagem “sociológica” entende-se aqui a ênfase nas bases sociais do Estado e da vida política, em suas relações com a estrutura social e as condições de protagonismo dos atores sociais, no lugar de uma lógica institucional autônoma que viria a caracterizar, em grande medida, o desenvolvimento da ciência política no Brasil (Lamounier, 1982). Ao articu-larem aquisição, distribuição, organização e exercício de poder político à estrutura social, aqueles trabalhos recu-sam a ideia de que as instituições seriam por si mesmas capazes de transformar a dinâmica social e, portanto, pudessem constituir variáveis autônomas na explicação do Estado e da vida política.

Ao aproximar Homens livres na ordem escravocrata dessa

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parece poder ajudar a entender, no máximo, a definição de uma agenda intelectual e as disputas que se desenro-lam em torno dela, mas, ainda assim, de modo limitado, uma vez que outros fatores contextuais de ordens mui-to diversas também atuam na modelagem das trajetórias – como as clivagens sociais de origem socioeconômica (Pulici, 2008) e de gênero (Spirandelli, 2009), já aborda-das em relação à Maria Sylvia de Carvalho Franco. A pers-pectiva institucional ajuda menos ainda, por outro lado, a esclarecer os sentidos teóricos heurísticos de uma obra. Sendo esse o caso, como neste estudo, o corpo a corpo com a obra e com os arquivos de documentos continua sendo recurso incontornável na pesquisa do pensamento social ou de teoria social comparada.

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Homens livres na ordem escravocrata

: uma unidade

contraditória

A primeira, e talvez, mais decisiva característica da pesqui-sa de doutoramento de Maria Sylvia de Carvalho Franco,

Homens livres na velha civilização do café, que permite

pro-blematizar a naturalização de suas relações com a orien-tação intelectual de Florestan Fernandes e da cadeira de Sociologia I da USP, é a recusa da autora em tratar a escravidão como um “modo de produção” que teria estru-turado a sociedade brasileira, determinando todo o seu

desenvolvimento posterior1. Naquele âmbito, no início

da década de 1960, apareceram os principais resultados de um programa consistente de investigação liderado por Florestan Fernandes sobre escravidão e racismo. Dentre

as pesquisas estavam Capitalismo e escravidão no Brasil

meri-dional (1962), de Fernando Henrique Cardoso, As meta-morfoses do escravo (1962), de Octavio Ianni, e A integração

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do negro na sociedade de classes, tese de cátedra

apresenta-da pelo próprio Florestan em 1964 e publicaapresenta-da no ano seguinte. Juntas, estas e outras pesquisas constroem a tese segundo a qual a escravidão constituiria uma instituição essencial que articularia a totalidade da sociedade brasi-leira e cujos elementos componentes permanecem em tensão na vida social mesmo no período pós-abolição. Assim, o eixo das análises extrapola a questão racial: o negro, ao ocupar um posto desprivilegiado na sociedade, resultado das desvantagens históricas definidas pela escra-vidão, torna-se objeto privilegiado para a compreensão das condições históricas e sociais de formação do povo, entendido como conjunto de aspirantes a novos sujeitos sociais (Bastos, 1987; Arruda, 1995; Brasil Jr., 2011).

Para Maria Sylvia de Carvalho Franco, por sua vez, embora seu trabalho seja justamente sobre uma socieda-de forjada no regime escravocrata, a escravidão seria antes parte de um sistema socioeconômico mais amplo, “parte em que se pode encontrar, nem mais nem menos que em outra do sistema considerado, relações sociais em cujo cur-so se procede à unificação dos diferentes e contraditórios elementos nele presentes” (Franco, 1997, p.13,). A ênfase analítica da pesquisa recai, igualmente, sobre as formas sociais assumidas pela grande propriedade fundiária no Brasil, especialmente no seu caráter quase autárquico, e na existência, no interior dos latifúndios, de áreas ociosas do ponto de vista da produção agrícola economicamente rentável direcionada para a exportação (1997, p.14). Essa estrutura socioeconômica desenvolvida desde a Colônia teria originado a formação de um grupo social específico entre senhores e escravos, estes últimos os responsáveis diretos pela produção agrário-exportadora.

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a pesquisa de Maria Sylvia de Carvalho Franco do ensaio de Oliveira Vianna e da tradição bastante heterodoxa que sua perspectiva favorece (Botelho, 2007), afasta-a das pesqui-sas típicas dos seus colegas da chamada “escola sociológica paulista”, e do seu próprio orientador, as quais tomam as relações entre senhores e escravos como eixo explicativo da formação social brasileira (Bastos, 2002). Se Franco recusa tomar a escravidão como modo de produção, porém, sua abordagem só ganha inteligibilidade a partir da sugestão da presença simultânea, no interior do latifúndio, da produção para a subsistência e para o mercado como práticas “consti-tutivas” uma da outra. Questão que se desdobra

teoricamen-te em sua teoricamen-tese de livre-docência, O moderno e suas diferenças

(1970), até a afirmação de que na sociedade brasileira, “os critérios extraeconômicos de categorização dos indivíduos em sociedade aparecem, reiteradamente, perturbados pelos critérios de diferenciação social fundados em situação econô-mica” (Franco, 1970, p.177). Em todo caso, em passagem da tese de doutorado, Maria Sylvia de Carvalho Franco não dei-xa dúvidas quanto ao interesse de ordem prática pelo mundo rural como crucial no encaminhamento do seu trabalho:

O que me levou nos rumos deste trabalho foram os complicados problemas da estrutura agrária que tão agudamente se fizeram sentir em vários momentos da história brasileira e que tão vivamente são experimentados nos dias presentes. Em especial, parecem-me importantes os estudos que tragam contribuição para o conhecimento do trabalhador rural, elucidando as condições sociais que presidiram à sua constituição como tipo humano e expondo as pressões que dificultam a sua integração na sociedade como um ser autônomo (Franco, 1964, p.46).

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[...] destituídos da propriedade dos meios de produção, mas não da sua posse, e que não foram plenamente submetidos às pressões econômicas decorrentes dessa condição, dado que o peso da produção, significativa para o sistema como um todo, não recai sobre seus ombros (Franco, 1997, p.14).

Pela dupla expropriação a que esse grupo social estaria submetido, a autora fala de “homens a rigor dispensáveis, desvinculados dos processos essenciais à sociedade”, uma vez que a “agricultura mercantil baseada na escravidão simulta-neamente abria espaço para sua existência e os deixava sem razão de ser” (1997, p.14). A autora não deixa de afirmar, ainda, as dificuldades decorrentes da dinâmica social forma-da a partir forma-da existência desse contingente de homens livres pobres para a constituição de uma sociedade de classes no Brasil (Franco, 1997, p.237).

Maria Sylvia de Carvalho Franco, porém, recusa peremptoriamente qualquer ideia de “ambiguidade” ou “dualidade” para explicar a estrutura social produzida pelo latifúndio e a situação paradoxal dos homens livres pobres associada diretamente a ela. Na verdade, é justamente com o intuito de se contrapor a essa ideia que a autora põe em movimento sua pesquisa empírica e suas reflexões históri-cas e teórihistóri-cas. Para ela, no Brasil, ao contrário do que teria ocorrido noutros contextos históricos, a simultaneidade das duas “modalidades de produção” – para a subsistência e para o mercado – não apenas indicava que se tratava de práticas “interdependentes”, uma vez que encontrariam “sua razão de ser na atividade mercantil”, mas propriamen-te “constitutivas” uma da outra (Franco, 1997, p.11).

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pela intenção de capturar os “nexos de recorrência entre estabilidade e mudança social”, uma vez que nela as “trans-formações vindas com o café se fizeram sentir de maneira mais branda, conservando-se as características anteriores” (1997, p.17). O objeto original da pesquisa de doutora-mento, porém, não seria Guaratinguetá, e, sim, a cidade de Roseira, também no Vale do Paraíba, conforme indica uma carta de Florestan Fernandes a Roger Bastide, datada de 21 de junho de 1957, na qual dá notícias das novidades na cátedra: “Maria Sylvia passou a interessar-se por um estu-do de comunidade [sic], que toma por objeto a cidade de Roseira. Para este projeto, consegui reunir auxílio de três fontes diferentes, que darão a Maria Sylvia a possibilidade de conduzir o trabalho até o fim”. Vale observar ainda que Lucila Hermann, sob cuja direção Maria Sylvia de Carvalho Franco trabalhou ao lado de Fernando Henrique Cardoso no Instituto de Administração da USP, na década de 1950,

realizou importante análise histórica intitulada Evolução da

estrutura social de Guaratinguetá num período de trezentos anos,

publicada em 1948, a que Maria Sylvia de Carvalho Franco recorre em sua argumentação. O material primário de sua pesquisa é composto basicamente por atas, correspondên-cias e processos criminais da Câmara de Guaratinguetá do período de 1830 a 1899. Dele, mobiliza com destaque os processos-crime, e é especialmente a partir da análise dos depoimentos dados à polícia contidos nesses relatos que a autora procura recuperar as “situações vividas” (Franco, 1997, p.18) pelos homens livres e pobres – indício bastante significativo da influência de Antonio Candido, então liga-do à cadeira de Sociologia II, a que a própria Maria Sylvia de Carvalho Franco faz menção recorrentemente (voltare-mos a esse aspecto nas considerações finais do estudo).

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violentas, que formam uma rede de contraprestações de toda sorte de serviços prestados e favores recebidos. A esse

respeito, Homens livres na ordem escravocrata apresenta

con-tribuições notáveis. Em primeiro lugar, mostra como a vio-lência característica das relações de dominação pessoal é constitutiva, também, das relações de solidariedade social internas aos grupos considerados, como mostra de modo paradigmático a análise dos mutirões como forma coope-rativa de trabalho entre os “caipiras” (Franco, 1997, p.21 e ss.).

Em segundo lugar, sua análise dá atenção especial ao sentido sociológico das componentes sociais intersubjetivas presentes nas relações de dominação política pessoalizadas. A “dominação pessoal” sustentada nas relações de contra-prestação é “pessoal”, argumenta a autora, justamente por-que fundada numa identificação entre apor-queles por-que delas participam como “pessoas”, categoria que cria uma aparên-cia de indistinção soaparên-cial corroborada ainda pelo “estilo de vida” simples da região, desde o início do século XIX, quan-do a situação de penúria material era praticamente genera-lizada (1997, p.115-9). Por isso, as relações de dependência aparecem antes como uma

[...] inclinação de vontades no mesmo sentido, como harmonia, e não como imposição da vontade do mais forte sobre a do mais fraco, como luta. Em consequência, as tensões inerentes a essas relações estão profundamente ocultas, havendo escassas possibilidades de emergirem à consciência dos dominados (Franco, 1997, p.95).

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conferida pela categoria “pessoa” aos homens livres pobres, por oposição aos escravos vistos como “propriedade” ou “coi-sa”, é fundamental porque suas relações com os senhores não são vividas diretamente como uma relação de domina-ção. Não apenas entre sitiantes e fazendeiros, mas também entre estes e seus agregados ou até mesmo com outras cate-gorias sociais virtualmente menos dependentes deles, como tropeiros e vendeiros, todas elas submetidas à mesma trama de relações de fidelidades pessoais (idem, p.65-114).

Ainda que não veja na dominação política exatamente uma contrapartida para a fragilidade dos laços socioeconô-micos que ligam os senhores rurais ao vasto contingente de homens livres pobres, a pesquisadora também considera a política uma área privilegiada para observar as relações de “dependência” dos grandes proprietários em relação aos seus “vizinhos menores” (1997, p.90). Mais do que isso, divisa na importância central assumida na vida política por essa relativa sujeição do senhor, traduzida numa série de obrigações de sua parte, o principal motivo que desautori-zaria uma caracterização da dominação pessoal em termos de uma relação “patrimonial típica”, tal como definida por Max Weber (Franco, 1997, p.91) – questão a qual voltare-mos adiante com mais vagar. A autora não deixa de enfati-zar ainda a desigualdade de poder envolvida nas relações de dominação pessoal, sustentando, ademais, que esse tipo de situação constituiria uma base social pouquíssimo “propícia para a orientação racional da ação” (idem, p.29).

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nas associações com os fazendeiros (capítulo 2). Dominação pessoal que se desdobra no Estado, pois é incorporada de modo constitutivo às instituições fundidas entre público e privado (capítulo 3), e nos nexos entre a estrutura inter-na das fazendas cafeeiras e o exterior, atravessados pelos circuitos do capital produtivo, comercial e financeiro, cujo movimento, ao mesmo tempo, franqueou-lhes a prospe-ridade e levou-as à falência (capítulo 4). Desse roteiro, depreende-se seu intuito, exitoso em seus termos, a meu ver, em demonstrar a “unidade contraditória” que, “deter-minada na gênese do sistema colonial, sustentou, com suas ambiguidades e tensões, a maior parte da história brasilei-ra” (Franco, 1997, p.11). Como recordaria ainda em outra oportunidade, o exame do cotidiano dos homens livres pobres “permitiu elucidar que a brutalidade não se restrin-giu à imediatez da escravidão: sua própria figura resultou da inclemência inerente ao capitalismo, regenerador dessa instituição e base da crueza espraiada por toda a organi-zação socioeconômica” (Franco, 1997, p.17). Ao dirigir o foco para o homem livre, portanto, visava esquivar-se das “interpretações tendenciosas, tal como atribuir a violên-cia às mazelas do ‘atraso’ brasileiro, ao ‘sistema escravista’, absolvendo o capitalismo então considerado etapa necessá-ria ao ‘progresso’ histórico” (idem, p.18).

O moderno e suas diferenças

: tradição e modernidade

“Unidade contraditória”, portanto, constitui, talvez, a cate-goria mais próxima de uma síntese analítica da interpreta-ção substantiva de Maria Sylvia de Carvalho Franco sobre a formação da sociedade brasileira, afinal é disso que trata

Homens livres na ordem escravocrata. Não cabendo aqui fazer

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lectual mais amplo do período e o debate interno à própria cadeira de Sociologia I da USP, em que a tese/livro tomava parte e marcava uma posição própria da autora. É ela ainda que, em segundo lugar, permite a Maria Sylvia de Carva-lho Franco fazer a crítica teórica mais detalhada e consis-tente das visões disjuntivas entre tradição e modernidade, correntes, a seu ver, nas teorias da modernização em sua época. Essa crítica, ponto de chegada da análise realizada em Homens livres na ordem escravocrata ganha o primeiro

pla-no da narrativa e status de tema próprio na tese de

livre--docência, O moderno e suas diferenças (1970), bem como em

outros textos, a exemplo do artigo “Sobre o conceito de tra-dição”, publicado pelo Centro de Estudos Rurais e Urbanos (CERU/USP), em 1972, instituição criada por Maria Isaura Pereira de Queiroz, da cadeira de Sociologia II, em 1964.

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O mesmo tipo de preocupação teórica, associada à discussão de outras questões afins, já formava as linhas principais de sua tese de livre-docência, não por acaso,

como se pode perceber, intitulada O moderno e suas

dife-renças. Entre os temas nela abordados, destacam-se o par

“comunidade” e “sociedade” na sociologia alemã (espe-cialmente em Weber e Tönnies), sua reelaboração e a de outros “conceitos clássicos” no Brasil; bem como a tese da “mudança social” como uma passagem necessária da “sociedade tradicional” à “moderna” e, sobretudo, a “impropriedade” teórica dessa distinção e do conjunto de proposições feitas em torno dela para o “caso brasileiro”. O sentido desse empenho parece claro: formular uma crítica à incorporação das premissas básicas da “socio-logia do desenvolvimento”, uma vez que, a seu ver, esta aplicava teorias “como se fossem verdades que pudessem ser desligadas do contexto de conhecimento em que ori-ginalmente se inscreviam” (Franco, 1970, p.X).

A preocupação com a historicidade da vida social impli-ca, seletivamente, uma releitura de Max Weber e do modo de construção dos conceitos típico-ideais na sociologia. Para Maria Sylvia de Carvalho Franco, a construção de tipos-ide-ais estaria relacionada à ordem dos fenômenos empíricos e históricos observáveis, buscando reter o “essencial” para a compreensão do sentido e também para a explicação causal. Conceitos como o de “estamento”, por exemplo, ao qual vol-taremos adiante, seriam construções típico-ideais nas quais a matéria histórica informaria a própria construção do concei-to, segundo uma seleção do “essencial”. Para a autora:

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silencia sobre os nexos necessários que as encadeiam ao longo de uma linha de desenvolvimento (Franco, 1970, pp.50-1).

Porque os tipos-ideais devem apreender o feixe de signi-ficações que dão sentido ao processo social, Franco aponta para o caráter de “totalidade” que eles encerram. Nesse sen-tido, eles não poderiam ser entendidos como “modelos”, já que os elementos que os compõem não são independentes entre si, mas relacionados a uma articulação historicamente determinada, que lhes confere todo seu caráter significativo. A interpretação dos tipos-ideais no funcionalismo norte-ame-ricano de Talcott Parsons, tendo vista sua visão linear mais ampla do processo histórico, como se as sociedades moder-nas devessem convergir para um único padrão societário, incorreria neste erro crucial: tomando os tipos numa série linear desconectada dos processos históricos, eles pareciam

poder funcionar como variáveis sistêmicas interligadas,

inter-cambiáveis e generalizáveis, o que discrepava inteiramente, segundo a autora, da historicidade implicada na construção weberiana. Nesse mesmo erro básico incorreria a “sociolo-gia do desenvolvimento” latino-americana ao incorporar acriticamente o funcionalismo parsoniano. Maria Sylvia de Carvalho argumenta, com base na leitura do livro de Par-sons publicado em 1936, The structure of social action, que:

[...] o mérito de Weber foi ter introduzido conceitos gerais no conhecimento do social; sua falha foi não ter chegado à generalização completa. Este ponto de vista epistemológico (a generalização em si mesma como meta das Ciências Sociais), completamente alheio a Weber e expressamente rejeitado por ele, fornece as bases para desfigurar seu pensamento (Franco, 1970, p.51).

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“limites” da metodologia weberiana, de que, ademais, em parte ela própria se utiliza em sua pesquisa histórico-socio-lógica. Limites, para a autora, particularmente sensíveis quando se tratasse de apreender o processo de mudan-ça social, como no caso da sociologia da modernização e, noutra chave, do seu próprio trabalho (Franco, 1970, p.51). Formulação que, à primeira vista, parece recolocar a crítica de Florestan Fernandes sobre os limites do tipo ideal ao tratar a questão da indução e da generalização na

sociologia no livro clássico Fundamentos empíricos da

explica-ção sociológica (de 1959). Confrontada a leitura da autora

do tipo ideal, porém, a de Fernandes parece mais próxima

ainda da de Parsons2.

Não se trata aqui de recuperar a longa análise de Maria Sylvia de Carvalho Franco sobre a apropriação de Weber por Parsons e deste pelo que enfeixa sob a desig-nação de “sociologia do desenvolvimento”. E embora tam-bém não possamos comparar mais detidamente aqui os projetos, vale apontar, ainda assim, a importância do seu esforço teórico que, guardadas as proporções, têm afini-dades muito significativas com o do sociólogo judeu-ale-mão refugiado e radicado nos Estados Unidos, Reinhard Bendix, na sociologia norte-americana. Resumidamente, a sociologia histórica forjada por Bendix, expressa em seu

incontornável Construção nacional e cidadania, de 1964,

procura formular alternativas consistentes: (1) à crença na universalidade dos estágios evolutivos, sugerindo a

impor-tância da compreensão de que o momentum dos eventos

passados e a diversidade das estruturas sociais conduzem a diferentes caminhos de desenvolvimento, mesmo quando as mudanças de tecnologia são idênticas; (2) à opinião de que tradição e modernidade são mutuamente

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tes, sugerindo que a inter-relação causal entre essas dimen-sões é um problema de pesquisa empírica que não pode ser substituída por deduções lógicas, na medida em que os indícios contestam a hipótese de um processo de moderni-zação uniforme; e, por fim, (3) à concepção de mudança social como intrínseca às sociedades, chamando a atenção para a combinação de mudanças intrínsecas com respostas a estímulos extrínsecos (Bendix, 1997).

Tendo isso em vista, e para dizer o mínimo, tanto Bendix como Maria Sylvia de Carvalho Franco partem da valorização da perspectiva histórica que identificam e recu-peram na sociologia de Max Weber para criticar os usos a-históricos que a sociologia da modernização e a sociologia do desenvolvimento estariam fazendo dos seus conceitos. Em especial, na vertente funcionalista liderada por Talcott Parsons, o equívoco maior dessas abordagens seria, para ambos os autores, tomar “tipos ideais” como generaliza-ções teóricas. E a valorização da perspectiva histórica tem o intuito, igualmente num e noutro autor, de permitir a crítica às perspectivas teóricas disjuntivas sobre “tradição” e “modernidade” e oferecer visões alternativas à sociologia, histórica em ambos os casos, mas “comparada”, no caso de Bendix (ainda que Franco estenda a sua crítica também à sociologia do desenvolvimento de Gino Germani). Bastan-do lembrar, para corroborar a convergência sugerida, que esta problemática que estrutura as pesquisas da socióloga

brasileira, ocupa toda a terceira parte de Construção nacional

e cidadania, intitulada justamente “Reavaliação dos

concei-tos de tradição e modernidade” (Bendix, 1997, p.329 e ss.). Não pode ser desconsiderado ainda o fato de Franco ter dedicado grande parte da sua pesquisa e reflexão teórica à obra de Max Weber e sua recepção no Brasil – empenho presente tanto em suas teses como em seus artigos

acadê-micos, como reconhece em seu Memorial acadêmico (Franco,

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cação da sua interpretação como weberiana (1988, p.19)

– enquanto Bendix (1986) nos legou o fundamental Max

Weber: um perfil intelectual, publicado em 19603.

Para dar uma visão ao mesmo tempo mais objetiva e matizada das consequências dessa discussão sobre as rela-ções entre teoria e história em Maria Sylvia de Carvalho Franco, vale voltar à sua análise da formação social brasileira e sua recusa em equacionar essa experiência em termos de patrimonialismo. Para tanto, pode-se comparar, ainda que brevemente, suas análises com a tese de doutorado de seu colega de cátedra, Fernando Henrique Cardoso, defendida

em 1961, sob o título de Formação e desintegração na sociedade

de castas: o negro na ordem escravocrata do Rio Grande do Sul, e

publicada no ano seguinte com o título Capitalismo e

escra-vidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul4. Investigando a configuração social da

sociedade escravista numa região onde o trabalho escra-vo não havia assumido a proporção que tomou nas áreas da plantation do país, Cardoso buscava conciliar, na tese, a

perspectiva teórica de seu orientador Florestan Fernandes, então mais próxima ao funcionalismo, com a perspectiva

marxista, cultivada no grupo de estudos d’O Capital de

Marx, da USP, entre meados dos anos 1950 e início dos 1960, a que esteve ligado (Lahuerta, 1999). Mas, também, cumpre lembrar, mostrava-se preocupado em discutir a forma patrimonialista de dominação política engendrada naquela experiência social, aproximando-se de modo pró-prio a Max Weber.

3 Discutindo a recepção de Weber na tradição intelectual brasileira, Werneck Vianna identifica a interpretação de Maria Sylvia de Carvalho Franco – inscrita no que nomeia “paradigma paulista” – a uma perspectiva que confere centralidade explicativa às raízes agrárias de nossa formação social e ao patrimonialismo de base “societal” (Vianna, 1999, p.179). Para a recepção da sociologia alemã em geral no Brasil, consultar Villas Bôas (2006).

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A tese de Cardoso busca esclarecer o papel da domi-nação patrimonialista na formação do Rio Grande do Sul e seus desdobramentos e impasses na constituição de uma sociedade de classes no Brasil. A relação entre escravidão e dominação patrimonialista aponta, em seu trabalho, para a formação de uma sociedade estamental e de castas, pouco flexível e de reduzida plasticidade para enfrentar os dina-mismos da expansão do capitalismo, enrijecida pelas formas autocráticas de poder que constituíam estruturas tradicio-nais distintas daquelas necessárias a uma ordem competitiva. Para Cardoso, a sociedade rio-grandense não apenas se orga-nizou nos moldes de uma estrutura patrimonialista, como às “posições assimétricas na estrutura social correspondiam formas de comportamento reguladas por rígidas expectati-vas de dominação e subordinação” (Cardoso, 1977, p.84). E, como esclarece o próprio autor em longa nota explicativa, ele procurou utilizar em sua análise o conceito de patrimo-nialismo em sua formulação clássica weberiana (Cardoso, 1977, pp.100-1). O conceito de patrimonialismo assume, assim, teor explicativo na particularização do capitalismo mercantil-escravista no Brasil (Cardoso, 1977, pp.16-7).

Maria Sylvia de Carvalho Franco diverge da caracteri-zação da ordem pessoalizada dada por Fernando Henrique Cardoso, pois recusa qualificar a sociedade brasileira como tipicamente patrimonial e nega que sua camada senhorial seja estamental (o que certamente possui ressonâncias quan-to ao seu entendimenquan-to também da obra de Florestan Fer-nandes). Sempre evocando sua compreensão de Max Weber,

no primeiro caso, Franco objeta, em Homens livres na ordem

escravocrata, que não se poderia falar da configuração de uma

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(Franco, 1997, p.91). No Brasil, prossegue a autora, somente no plano político verifica-se a conformação de uma solidarie-dade deste tipo, na qual os serviços do “cliente” são vitais para os grupos dominantes e se conjugam aos deveres que estes devem assumir e cumprir. Quando, pois, “estavam em jogo

objetivos básicos como apoio político versus auxílio

econômi-co, consolidava-se a interdependência” (idem, ibidem), do contrário, os compromissos revestiam-se de grande fragilida-de – argumento que, aliás, se aproxima bastante do exposto por Oliveira Vianna (citado em Botelho, 2007). Como ain-da fez questão de reforçar na entrevista “As ideias estão no

lugar”, publicada em Cadernos de Debates, em 1976, na medida

em que nenhuma tradição, apenas costumes frouxos e com-promissos superficiais selaram o sistema de contraprestações da dominação pessoal, não se poderia falar adequadamente em relação patrimonial, “onde o amplo e exclusivo aprovei-tamento dos dominados como trabalhadores limita tradicio-nalmente sua exploração, de modo a não comprometer sua disposição de bem servir” (Botelho, 2007, p.62). No Brasil, ao contrário, nada restringiu a arbitrariedade do mais forte: “o interesse material submetia à sua razão os laços de estima e da afeição, atando-os ou destruindo-os” (id., ibid.).

Quanto à caracterização estamental da sociedade bra-sileira, Maria Sylvia de Carvalho Franco postula que nem do ponto de vista teórico, nem na pesquisa empírica e his-tórica ela se sustentaria. Anota a autora a caracterização “suficientemente precisa” que a pesquisa histórica fizera de “estamento”:

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defendendo-se juridicamente. Eram formações sociais que surgiam sobre a ruína medieval, anunciando o processo de fundação da sociedade civil, afastando-se do juramento e das sanções transcendentes para aproximarem-se do contrato (Franco, 1997, p.10).

Todavia, este “rótulo” teria cumprido, para a autora, importante tarefa na sociologia brasileira, tarefa que quali-fica de “ideológica”, de separar o

[...]economicamente “irracional e improdutivo”, o “socialmente violento e preconceituoso”, o “politicamente reacionário”, do moderno, do progressista, do último termo do milenarismo, ora escondido, ora confessado: o capitalismo como instância civilizadora. Sociedade escravista e estamental, desrazão essencialmente diversa da sociedade de classes, do trabalho livre e da racionalidade capitalista (Franco, 1997, pp.10-1).

A esse respeito, Maria Sylvia de Carvalho Franco

obser-va em seu Memorial acadêmico, que, investigando os vínculos

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perturbados pelos critérios de diferenciação social funda-dos em situação econômica” (Franco, 1970, p.177). Assim,

voltando a Homens livres na ordem escravocrata,com esse

argu-mento em mente, percebemos como a ideia de “unidade contraditória”, a que a autora chegou, remete a uma com-preensão sociológica afinada à historicidade do processo social, e que se a pessoalização das relações sociais e das práticas de poder não produz as mesmas sociedades que se formavam nas experiências históricas europeias, elas res-pondiam de modos próprios a determinações mais gerais da expansão do capitalismo e da construção da sociedade moderna. O reconhecimento e a qualificação da historici-dade da vida social, preocupação que costura o conjunto da obra sociológica de Maria Sylvia de Carvalho Franco, desau-torizaria, em suma, a reificação das noções de tradicional e moderno que, a seu ver, seriam noções normativas, reincor-poradas acriticamente nas interpretações dos países, àquela altura, chamados “subdesenvolvidos”. Como boa praticante de uma sociologia histórica, também Franco parece estar dizendo a todo momento que, afinal de contas, a interação entre tradição e modernidade constitui, por si só, um pro-blema histórico de pesquisa, e, assim, não poderia ser subs-tituído por qualquer dedução lógica ou ideológica. Como

diz ironicamente em seu Memorial acadêmico:

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Teoria e história: um equilíbrio delicado

A relação entre teoria e história na sociologia forma a pro-blemática que confere unidade à obra sociológica de Maria Sylvia de Carvalho Franco. Seja na sua interpretação

subs-tantiva do Brasil realizada em Homens livres na ordem

escra-vocrata, seja em seus textos mais teóricos, a autora

dedicou--se, como vimos, a realizar: (1) uma análise do processo de modernização alternativa às perspectivas concorrentes e, em verdade, hegemônicas da mudança social da sua épo-ca, reunidas pela designação mais genérica de “sociologia do desenvolvimento”; e (2) uma análise crítica dos pressu-postos teóricos dessas perspectivas, especialmente do modo a-histórico como as categorias weberianas – substantivas, como a de patrimonialismo, e metodológicas, como a do tipo ideal – eram tomadas, sobretudo, via funcionalismo parsoniano, no Brasil e na América Latina.

Sugeri neste estudo como a categoria de “unidade contraditória”, fundamental na economia argumentativa de Homens livres na ordem escravocrata, constitui o

elemen-to cognitivo interno que permite, noutros texelemen-tos da auelemen-tora, a explicitação da recusa conceitual da dicotomia tradição

vs. modernidade, e que a autora vê tratada como tipos de

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socie-356

dade feudal, reeditou as formas modernas de escravidão e gerou essa unidade contraditória entre relações de interes-se, ligadas à competição e ao conflito num mercado con-correncial, e associações morais, fundadas em um jogo de privilégios e favores.

Justamente porque a autora recusa a ideia de “dualida-de integrada” (Franco, 1997, p.11), talvez, valesse a pena comparar a noção da “unidade contraditória” à de “desen-volvimento desigual, mas combinado”, tão associada à pro-dução intelectual da cadeira de Sociologia I (Lahuerta, 1999; 2008). Essa comparação permitiria formular uma visão mais completa das relações entre história e teoria na sociologia de Maria Sylvia de Carvalho Franco, e implica-ria, necessariamente, uma comparação detida entre as suas noções de “capitalismo” e “escravidão”, bem como das rela-ções históricas, empíricas e conceituais estabelecidas entre esses termos e aquelas do grupo de Florestan Fernandes. Igualmente importante, nesse sentido, seria qualificar as críticas do grupo mais identificado à cadeira de Sociologia I

comparando-as à sociologia histórica de Franco5.

5 Nesse sentido, uma crítica importante a Maria Sylvia de Carvalho Franco é feita por Juarez Brandão Lopes sobre o texto “Organização social do trabalho no perí-odo colonial”, apresentado pela autora em seminário da Unicamp, em 1980, cujo debate está publicado no livro Trabalho escravo, economia e sociedade. Lopes sugere que

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Como argumentei ao longo deste estudo, dadas as discrepâncias significativas das análises de Maria Sylvia de Carvalho Franco em relação aos trabalhos produzidos por Florestan Fernandes e seus demais orientandos e assisten-tes, bem como o sentido da sua crítica teórico-metodoló-gica, a perspectiva analítica histórico-sociológica alternativa que Maria Sylvia de Carvalho Franco formula ganha inte-ligibilidade em relação à orientação intelectual da cadeira de Sociologia I, a que pertencia institucionalmente. Sua obra sociológica, antes problematiza que corrobora alguns dos pressupostos empíricos, históricos e teóricos dos traba-lhos do seu orientador Florestan Fernandes e de seu grupo como um todo. Se constrangimentos institucionais, entre outros, não permitiram (até o momento) que a autora pole-mizasse abertamente com seu grupo de origem, a análise de sua obra indica uma visão crítica e uma proposição alterna-tiva, sobretudo pela forte ênfase que dá ao relacionamen-to entre teoria e história na explicação sociológica. Maria Sylvia de Carvalho Franco não se refere de fato a Florestan Fernandes em suas críticas, prefere reservar explicitamente a Gino Germani críticas que parecem implicitamente dire-cionadas igualmente a seu orientador. Ou que ao menos poderiam ser assim interpretadas, dada a identificação entre as obras dos dois principais sociólogos da América Latina de sua geração, e a recepção igualmente importan-te neles, embora com distinções em nada desprezíveis, do funcionalismo norte-americano que cada um ao seu modo contesta e recria (Brasil Jr., 2011) – o que a autora, por sua vez, tampouco reconhece.

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interpretação de Fernando Henrique Cardoso, que compa-ramos à sua, embora neste último caso o debate seja, discre-tamente, nomeado. Tampouco nos textos reflexivos sobre

sua trajetória intelectual, como seu Memorial acadêmico e as

muitas entrevistas que tem concedido, Franco se demora na

orientação de Florestan. No Memorial acadêmico, o contraste

entre o silêncio sobre Florestan Fernandes e sua avaliação da importância de Antonio Candido para a sua formação,

especialmente d’Os parceiros do Rio Bonito, chega a ser algo

constrangedor. Sobre Florestan, a quem dedicou, porém,

Homens livres na ordem escravocrata (e, como se sabe, Maria

Sylvia de Carvalho Franco aparece junto aos demais

assis-tentes de Florestan na dedicatória de A revolução burguesa

no Brasil, de 1975), ela limitou-se, salvo engano, a observar,

numa entrevista publicada em 1981, que, ao lado de Anto-nio Candido, ele teria sido “outra influência decisiva nos rumos da minha produção intelectual”, para logo qualifi-car: “Primeiro o mestre admirado, depois o opositor respei-tado. Nossas divergências mantiveram-se na maior confian-ça e lealdade, padrão que hoje parece estar desaparecendo da cena universitária” (Franco, 1988, p.9).

São muitas as menções a Os parceiros do Rio Bonito, tese

de doutoramento em ciências sociais apresentada em 1954 à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universi-dade de São Paulo, onde, até aquele momento, Antonio Candido desempenhava, havia dezesseis anos, a função de assistente da cadeira de Sociologia II, e publicada em livro

somente dez anos depois, em 1964. Em seu Memorial

aca-dêmico, por exemplo, a autora escreve que Os parceiros foi

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cuidado no Memorial – é verdade que a análise é

interrom-pida por um longuíssimo excurso sobre as raízes aristo-télicas das modernas ciências sociais de cerca de oitenta páginas. Vale citar uma passagem decisiva a respeito do livro clássico de Antonio Candido:

À diferença das “introduções metodológicas” – muito em voga na época – que repetiam assertivas dogmáticas no jargão competente, a abertura de seu livro [de Antonio Candido] nos permite seguir, de verdade, uma atitude estudiosa, um olhar que busca alternativas teóricas, que tateia, vacila, recusa e escolhe, face aos vários caminhos oferecidos pelas ciências sociais [...] O caminho escolhido recusa a generalidade abstrata do sociólogo, declinando, no mesmo passo, o recorte descritivo dos “estudos de comunidade” [...] Procedimento crucial, onde o pensamento rompe com o abstrato (empírico ou lógico), o que permitirá ao pesquisador valer-se das representações do caipira não enquanto dobrada sobre si mesma (fechada no bairro, como na precisa análise da consciência grupal que abre o primeiro capítulo), mas como reflexão que se amplia sobre a sociedade brasileira (como os capítulos sobre as transformações) (Franco, 1988, pp.107-8).

Não tenho como comentar todas as cerca de oito páginas dedicadas por Maria Sylvia de Carvalho Franco à análise bas-tante fina do livro de Antonio Candido, nas quais, e por meio

das quais, ela fala muito dela também, já que Os parceiros são

evocados pela sua influência em sua própria trajetória

inte-lectual reconstruída no Memorial. E o leitor terá acertado se

tiver percebido a identificação, na citação feita acima, entre o plano apresentado do livro de Antonio Candido e o dela

própria, Homens livres na ordem escravocrata. Mas note mais o

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solu-360

ções teóricas fáceis – a “generalidade abstrata do sociólogo”, como diz Maria Sylvia de Carvalho Franco. Então, voltamos mais uma vez ao tema principal deste estudo.

Será mesmo possível sociologia sem generalização? A questão certamente não tem uma resposta unívoca, se é que é apropriado falar, nesse caso, até mesmo em respostas. De todo modo, do ponto de vista da análise que propomos da obra sociológica de Maria Sylvia de Carvalho Franco, o pro-blema talvez esteja menos na generalidade do que no tipo de generalidade apontada pela autora: a generalidade “abs-trata” que, ingenuamente ou não, simplifica e deforma a realidade. Assim, parece razoável, depreender que a autora não desconhece ou rechaça a relação tensa entre história e teoria nas ciências sociais, mas defende o uso da história para qualificar, ampliar ou restringir o alcance da teoria. Sejam quais tenham sido as raízes da sociologia histórica formulada por essa autora, não se pode deixar de reconhe-cer quanto sua proposta é convergente em termos cogniti-vos com a reação ao funcionalismo na sociologia histórica em geral. Reação que, como já foi mostrado, firmemente enraizada em rico material histórico, acabou por revalorizar o papel dos atores humanos – individuais e coletivos – como os criadores últimos do mundo social em transformação (Stompka, 1998).

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demonstrar os limites da mudança institucional decorrentes da generalização da dominação pessoal como princípio de coordenação social, mas não deixa de considerar, porém, as forças sociais que compõem dinamicamente a relação Esta-do/sociedade e, sobretudo, os atores sociais que as susten-tam – como no caso do servidor público por ela analisado. Guardando importantes afinidades com a sociologia política de Max Weber (1992), as bases sociais da dominação polí-tica são importantes na pesquisa da autora, tendo em vista não apenas o problema da “legitimidade”, como também as razões de as próprias instituições ou outras formações sociais serem compreendidas como resultados das ações e do entre-laçamento de ações de homens comuns que, ao atribuírem sentidos a suas ações, não deixam de levar em conta as pró-prias restrições da sua situação6.

Porque as velhas dicotomias entre tradição e moderni-dade, continuidade e mudança, sincronia e diacronia, ação e estrutura simplesmente não desapareceram, a despeito do avanço coletivo da sociologia histórica, a tensão entre teoria e história continua a interpelar as ciências sociais (Skocpol, 1984; Reis, 1998), em especial a sociologia polí-tica (Botelho, 2011; Alonso e Botelho, 2012). E a esta ten-são se deve, em grande medida, o sentido teórico heurístico da obra de Maria Sylvia de Carvalho Franco. Seu interesse está para além da conformação particular de diretrizes teó-ricas gerais que encerra, das inevitáveis adaptações mais ou menos criativas a que contextos cognitivos tradicionalmen-te consumidores da tradicionalmen-teoria sociológica parecem destinados sempre que confrontados a uma realidade empírica distinta dos “centros” da sociologia mundial. Mas na medida mesmo

em que, como no caso de Homens livres na ordem

escravocra-ta, a pesquisa empírica historicamente orientada provoca

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questionamentos consequentes à própria teoria social, e às possibilidades de combinação entre componentes empíri-cos, históricos e analíticos em geral, cumpre reconhecer sua capacidade de interpelação à compreensão daquilo que, para recorrer a uma definição sintética do objeto da socio-logia dada por Marcel Mauss (2003, p.187), simplesmente, constitui a “vida propriamente social das sociedades”.

Esse reconhecimento não deve nos levar, porém, a ignorar duas questões relacionadas, uma de ordem geral sobre a obra sociológica de Maria Sylvia de Carvalho Fran-co perante a sociologia brasileira, outra relativamente aos desenvolvimentos, por assim dizer, internos de sua obra, com as quais queremos concluir o presente estudo, mas que não podemos senão indicar para futuras investigações. Comecemos pela última questão.

As assertivas de Maria Sylvia de Carvalho Franco em estudos posteriores sobre a perenidade do seu diagnósti-co sobre a sociedade brasileira em diagnósti-conjunturas históricas tão diferentes daquela do seu estudo empírico original res-tringem, talvez, a validade da sua visão de história e teoria aqui discutida justamente em seus trabalhos das décadas de 1960-70. Penso em alguns dos seus estudos acadêmicos posteriores, como aquele sobre as tensões imprimidas pela sociedade brasileira à industrialização que nela se proces-sava, em torno na década de 1950, em artigo publicado na

Revue Tunisienne de Sciences Sociales (Franco, 1974), ou

mes-mo nos muitos artigos de conjuntura política sobre o Brasil contemporâneo, que vem publicando na grande imprensa, no quais, no limite, a realidade social parece deixar de ser um processo dinâmico e se torna um estado constante.

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simplesmente passiva nas obras de Florestan Fernandes e seu grupo ou de Gino Germani, dois dos principais vezos da reno-vação da sociologia na América Latina. Ao contrário, impli-cou traduções intelectuais ativas nas quais, inclusive, alguns dos pressupostos básicos do funcionalismo, como a concep-ção de que as sociedades modernas convergiriam para um único padrão societário, foram tensionados pela força que a história assumiu, ainda que progressivamente, nas suas expli-cações. Ao que tudo indica, porém, não estamos exatamen-te dianexatamen-te de uma questão de gradienexatamen-te, de mais ou menos história na explicação, mas de sentidos qualitativos distintos, assumidos pela história na economia interna dos argumentos e, assim, na sociologia produzida por esses diferentes autores. E, assim, voltamos ao tema principal deste estudo.

André Botelho

é professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA-UFRJ) e pesquisa-dor do CNPq e da Faperj.

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TEORIA E HISTÓRIA NA SOCIOLOGIA BRASILEIRA: A CRÍTICA DE MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO

ANDRÉ BOTELHO

Resumo: Inserido em pesquisa mais ampla sobre as sequências da sociologia política no Brasil, o trabalho destaca a obra sociológica de Maria Sylvia de Carvalho Franco. Assimila-da à produção Assimila-da cadeira de Sociologia I Assimila-da USP, pelo seu pertencimento institucional, a obra desta autora, porém, antes problematiza que corrobora alguns dos pressupostos da teoria do desenvolvimento associados aos trabalhos de Florestan Fernandes e seu grupo. A análise de suas teses de doutorado (1964) e de livre-docência (1970), entre outros textos, indica uma visão crítica, e uma proposição alterna-tiva, sobre a contraposição entre “tradição” e “modernida-de” na análise da sociedade brasileira em virtude da gênese essencialmente moderna dessa experiência social.

Palavras-chave: Sociologia Brasileira; Teoria Social Compara-da; Teoria e História; Tradição e Modernidade.

THEORY AND HISTORY IN BRAZILIAN SOCIOLOGY: THE CRITIQUE OF MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO

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Keywords: Brazilian Sociology; Comparative Social Theory; Theory and History; Tradition and Modernity.

Referências

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