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A tecnologia da informação e o crescimento da produtividade

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Academic year: 2017

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(1)

T ---j

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E O CRESCIMENTO DA

PRODUTIVIDADE

'

EDUARDO TAMBOR JUNIOR

SÃO PAULO

(2)

Banca examinadora

Prof. Orientador

Prof. Doutor Marcos F. Gonçalves da Silva

~

Prof. Doutor Fernando Luiz Abrucio

(3)

EDUARDO TAMBOR JUNIOR

A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E O CRESCIMENTO

DA

PRODUTIVIDADE

Dissertação

apresentada

ao

Curso

de

Mestrado

Profissional

-

MBA

da FGV/

EAESP

Área

de

Concentração:

Economia

como

requisito para obtenção de título de mestre

em Administração.

1200102696

Orientador:

Prof.

Dr.

Marcos

Fernandes

Gonçalves da Silva

(4)

Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado Profissional - MBA da FGV/EAESP, Área de Concentração: Economia).

Resumo: Trata da questão do impacto da Tecnologia da Informação no crescimento da produtividade. Este estudo analisa a recente literatura, que tem como tema a Nova Economia e o crescimento econômico. Analisa as questões de produtividade, com base nas teorias do crescimento econômico, discutindo recentes controvérsias associadas ao termo Nova Economia.

(5)

À

minha esposa, pelo incentivo e compreensão.

Aos meus pais, pela minha formação. Ao Mauro de Salles Aguiar,

pelo apoio e incentivo. Aos Professores Fernando Luiz Abrucio e George Avelino Filho, pelo interesse em participar como membros da banca examinadora.

(6)

1. INTRODUÇÃO

5

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

9

2.1 Teorias do Crescimento Econômico 9

2.1.1 Modelo Neoclássico 1

O

Um Tratamento Diferente 12

A Propriedade de Convergência 14

2.1.2 Modelos Endógenos 14

O Modelo AK 16

As Instituições e o Crescimento Econômico 19 2.2 O Debate entre os Modelos Neoclássico e Endógenos 20

2.3 A Contabilidade de Crescimento e a Produtividade 23

O Capital Humano 24

A Infra-estrutura Social 26

3. PRODUTIVIDADE: O IMPACTO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO .... 28

3.1 O Paradigma da Nova Economia

28

A Relação entre Tecnologia da Informação e Globalização 31 3.2 A Revolução Industrial e a Difusão de Novas Tecnologias .32

O Impacto da Revolução Industrial .32

A Difusão de Novas Tecnologias .33

A "Revolução" da Tecnologia da Informação 35

3.3 Controvérsias Recentes em Tomo da Produtividade .37

A Obsolescência do Paradoxo da Produtividade .39

A Resolução do Paradoxo Explicada pelo Modelo Neoclássico 40 3.4 O Papel da Tecnologia da Informação no Crescimento da Produtividade 43 Análise das Fontes do Crescimento da Produtividade .44

A Sustentação do Crescimento de Longo Prazo .45

A Contribuição das Indústrias que Usam Tecnologia da Informação 47

3.5 O Impacto Microeconômico e nas Organizações .49

O Papel da Tecnologia da Internet 52

A Importância da Infra-estrutura de Tecnologia da Informação 54 Externalidades de Rede e a Estrutura dos Mercados 56

3.6 Afinal, existe uma Nova Economia? 59

4. CONCLUSÕES

64

(7)

1.INTRODUÇÃO

Uma questão largamente discutida recentemente nos meios acadêmicos e de comunicação

está relacionada aos impactos da chamada Nova Economia e da Tecnologia da Informação

no crescimento econômico de longo prazo.

o

termômetro que mede a Nova Economia tem variado com muita freqüência: Importantes

revistas, corno

Business Week

e

The Economist,

apenas para citar algumas, têm dedicado

especial atenção a esse terna, principalmente nos últimos anos. As matérias dedicadas ao

assunto oscilam entre a euforia e o abismo. No meio acadêmico, o debate entre os

advogados da Nova Economia e os mais céticos em relação ao seu real impacto na

economia tem sido muito acirrado.

Se pensarmos em termos das organizações, é inegável o papel estratégico desempenhado

pela Tecnologia da Informação. Os gestores, cada vez mais, pensam na Tecnologia da

Informação corno um fator crítico de sucesso, para o suporte e a manutenção do

core

business

nas mais diversas organizações, que atuam em diferentes mercados. Assim, a

definição adequada da plataforma de tecnologia adotada pelas corporações passa a ser

muito importante, especialmente nas organizações que usam a Tecnologia da Informação

corno um recurso subjacente aos seus processos.

No entanto, do ponto de vista macroeconômico, muita controvérsia surgiu em tomo do

crescimento da produtividade, o que motivou o aparecimento do chamado

Paradoxo da

Produtividade,

pois observou-se uma contribuição muito pequena da Tecnologia da

Informação no crescimento da produtividade até meados da década passada, frente ao

volume de investimento realizado pelas empresas em capital de Tecnologia da Informação

durante esse mesmo período, especialmente na economia americana, o que causava um

certo desconforto e muitas dúvidas sobre a "produtividade" desse tipo de investimento.

Esse é talvez o mais importante teste da Tecnologia da Informação, ou seja, o seu impacto

na produtividade, não em uns poucos setores, mas em toda a economia. Uma alta

aceleração no crescimento da produtividade

é

um ponto-chave para se elevar o padrão de

vida. A Revolução Industrial provocou uma fenomenal mudança nas condições de vida,

(8)

eletricidade e o motor de combustão interna, que permitiram o desenvolvimento de várias

indústrias e uma rápida aceleração do crescimento da produtividade.

Nos últimos anos, tem ocorrido uma considerável discussão se de fato, o desenvolvimento e

as aplicações da Tecnologia da Informação estão mudando, de forma fundamental, toda a

economia e que mesmo as leis econômicas tradicionais não servem mais para explicar essa

revolução.

Alguns argumentam que essa nova revolução seria comparável ou mesmo supenor

à

Revolução Industrial, sendo muitas vezes chamada de Revolução da Informação. De fato,

para a economia americana, após recente revisão das estatísticas, estima-se que a taxa de

crescimento da produtividade de longo prazo seja algo em tomo de 2% ao ano. É

importante ressaltar, no entanto, que essa revisão mostrou uma redução considerável,

saindo de um patamar de 3% e chegando aos 2% atuais'. De qualquer forma, 2% pode

parecer pouco, mas uma taxa de crescimento

per capita

dessa magnitude, mantida ano após

ano, dobraria o padrão de vida médio em 35 anos.

Com isso, pode-se imaginar o impacto da Revolução Industrial no padrão de vida médio

que experimentamos hoje e o que a Revolução da Informação poderia representar se as

taxas de crescimento continuassem nesse patamar ao longo do tempo. Os ganhos sociais

promovidos pela Revolução Industrial não foram imediatos, visto que a difusão e a adoção

dessas invenções por todos os agentes econômicos levaram várias décadas. Apesar de a

Tecnologia da Informação estar experimentando uma velocidade de difusão bem superior

quando comparada com as invenções da Revolução Industrial, ainda é cedo para se

verificarem profundas mudanças sociais causadas pelo avanço da Tecnologia da

Informação.

A produtividade da economia americana declinou a uma taxa anual de 0,1%, no primeiro

trimestre de 2001

2

No entanto, resultados relativos ao segundo trimestre sinalizam um

crescimento a uma taxa de 2,5%, também anualízada'. Apesar de taxas trimestrais tenderem

IA spanner in the productivity miracle. (2001, 11 de agosto). The Economist, p. 55-56

2What's left? (2001, 12 de maio). The Economist, p. 79-81

(9)

a oscilar muito, essas variações acendem a questão sobre qual parcela desse crescimento da produtividade reflete uma tendência e qual

é

cíclica.

Esses recentes debates formam o núcleo central deste trabalho, onde realizo urna pesquisa da literatura que enfoca os temas da Nova Economia e, com maior ênfase, o papel da Tecnologia da Informação no crescimento econômico. Especial atenção

é

dada à análise do crescimento da produtividade em termos macroeconômicos.

Apesar de os trabalhos acadêmicos analisados, alguns teóricos e outros empíricos, serem fundamentados a partir de dados econômicos obtidos em estatísticas oficiais da economia americana, muito da análise apresentada nesses estudos é importante, mantendo-se as devidas ressalvas, para economias de outros países ou regiões devido ao inegável impacto da economia americana na economia mundial.

Este trabalho não pretende ser inédito, visto que se trata de urna pesquisa que tem como base alguns dos artigos mais relevantes que abordam o assunto proposto. Mesmo assim, pode servir para que profissionais não economistas possam ter uma visão, com certo nível de detalhes e relativo rigor, de alguns dos principais conceitos que formam a base das teorias do crescimento econômico e de como podem ser usados, mesmo com as limitações intrínsecas aos modelos de análise, na tentativa de explicar alguns dos complexos fatores que afetam o desempenho de uma dada economia.

o

trabalho é dividido em quatro partes, incluindo esta introdução. A parte 2 apresenta os

fundamentos teóricos que dão sustentação a toda análise macroeconômica do crescimento da produtividade, em que especial atenção é dada às teorias do crescimento econômico. Ainda nessa parte, apresento uma discussão sobre os modelos neoclássico e endógenos do crescimento, procurando destacar seus pontos fortes e fracos, através de urna análise comparativa. A partir dessa comparação, apresento urna breve discussão, envolvendo o papel das instituições no crescimento econômico.

(10)

contribuiu para o impressionante ressurgimento do crescimento da produtividade no nível

macroeconômico; o significado do termo Nova Economia e as eventuais confusões

causadas pelo uso desse termo, quando não se tem uma definição precisa do seu

significado, que tem como alicerces a Globalização e a Tecnologia da Informação. Ainda,

discuto o impacto da Tecnologia da Informação nas organizações e no ambiente

microeconômico. A parte 4 apresenta um conjunto de conclusões que podem ser extraídas a

respeito da relação entre a Tecnologia da Informação e o crescimento da produtividade,

(11)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesta parte apresento os fundamentos das teorias do crescimento econômico, em particular as teorias neoclássica e do crescimento endógeno.

Esses fundamentos formam a base para que se possa estudar a questão da produtividade em termos macroeconômicos. No entanto, alguns conceitos da teoria microeconômica também serão necessários, mas não serão apresentados nesta parte. Optei por introduzi-los ao longo do texto, à medida que haja necessidade.

2.1 Teorias do Crescimento Econômico

Os últimos 50 anos acompanharam o desenvolvimento de três ondas de interesse na teoria do crescimento econômico.

A primeira foi estimulada pelos trabalhos de Harrod e Domar, a partir da segunda metade dos anos 40. O modelo de Harrod-Domar explicava o crescimento econômico como conseqüência da interação de três variáveis: a taxa de poupança, a taxa de crescimento da força de trabalho e a relação capital-produto, em que todas essas variáveis eram consideradas como dadas, sendo a primeira uma questão de preferência, a segunda uma questão demográfica e a última, uma questão da tecnologia [Cotes (1999)].

A segunda onda surge a partir do trabalho de Solow (1956), seguido posteriormente por outros economistas, numa tentativa de melhorar o modelo de Harrod-Domar. O resultado desse trabalho é conhecido como ''teoria neoclássica" ou ''velha teoria do crescimento".

Após um hiato de mais de duas décadas, ressurge um renovado interesse pela teoria do crescimento. Observamos, assim, a terceira onda, originada a partir dos trabalhos de Romer (1986) e Lucas (1988), atualmente conhecida como ''teoria endógena" ou "nova teoria do crescimento" .

(12)

2.1.1 Modelo Neoclássico

Não satisfeito com a proposição do modelo de Harrod-Domar, em particular com a implicação de que o crescimento poderia ocorrer a partir de um aumento isolado da taxa de poupança, o modelo neoclássico proposto por Solow considera três fatores: trabalho, capital e um resíduo (que ficou conhecido como Resíduo de Solow), representando o progresso tecnológico. Nesse modelo, a taxa de crescimento de equilíbrio de uma economia é uma função não da relação poupança-investimento, mas da taxa de variação do progresso tecnológico. Assim, a tecnologia representa um ponto crítico para o crescimento econômico, apesar de não ser explicada dentro do próprio modelo, pois

é

dada de forma exógena. Além disso, a convergência entre as economias deve ser esperada, uma vez que retornos decrescentes encorajam um arranjo mais eficiente do capital.

Do ponto de vista matemático, o modelo neoclássico pode ser descrito a partir de duas equações constitutivas: uma função de produção - que associa o produto agregado aos fatores de produção capital (K) e trabalho (L) e ao avanço tecnológico (A) - e uma equação que estabelece a acumulação (ou estoque) de capital.

A função de produção deve satisfazer às seguintes premissas neoclássicas: (i) apresentar retornos constantes

à

escala, isto é, se os insumos forem multiplicados por um fator Â, o produto também será multiplicado pelo mesmo fator Â; (ii) apresentar retornos positivos e decrescentes em relação a cada fator de produção; (li) apresentar produtos marginais de cada fator tendendo a zero quando cada um dos fatores tende ao infinito.

Uma possível forma de modelar as equações constitutivas é apresentada pelas equações (1)

e

(2):

(1) Y

=

A f(K,L),

nesse modelo a tecnologia, A, aparece como uma especificação Hicks-neutra, que conduz a aumentos iguais na produtividade dos fatores K e L. Nesse sentido, é dita neutra por não favorecer nem o capital nem o trabalho.

(13)

em que

K

representa a variação (derivada) do capital ao longo do tempo, lo investimento e 8 a depreciação associada ao capital. Nesse caso, as parcelas relativas ao investimento e à depreciação podem ser obtidas através da maximização dos lucros das firmas ou assumidas como uma proporção fixa do produto [Stiroh (2001)].

Derivando a equação (1) em relação ao tempo, temos:

(3)

Y=Ãf+Ai=Ãf+A(of

K+

Of

L),

f=f(K,L),

oK

oL

em que é usada a notação

t

=

dZ ,para indicar a derivada de uma variável Z em relação ao

dt

tempo t.

Essa equação diferencial serve como ponto de partida para se chegar à expressão do chamado modelo de contabilidade de crescimento, introduzido por Edward Denison, em seu trabalho Why Growth Rates Differ de 1967, que teve como base o artigo Technological Change and Aggregate Production Function, publicado por Solow em 1957.

Essa metodologia permite isolar e medir os fatores que influenciam o desempenho econômico, de tal forma que possam ser usados para explicar as diferenças no crescimento. Assim, por meio dessa decomposição, toma-se possível medir a contribuição de cada um dos determinantes do crescimento. Aqui, utilizo basicamente a mesma seqüência e notação utilizada por Garcia et aI. (2001), porém considero a tecnologia como especificação Hicks-neutra, a partir de uma função de produção dada pela equação (1).

Dividindo a equação (3) por Y e lembrando que Y

=

A f(K,L),

obtemos:

Y

Ãi

Ã

Iof·

of·

-=-+-=-+-(-K

+-L)

Y A

f

A

f

et.:"

Y

A

em que representa a taxa de crescimento do produto agregado e a taxa de

y

A

(14)

K

ai

L

ôf

Finalmente, com fi

= ---

e v = -- vem:

I

I

oi.'

(4) -=-+fi-+

Y

Ã

V-

K

L

Y A K L

Essa equação indica que a taxa de crescimento do produto agregado de uma economia é dada pela superposição de três outras taxas de variação: do avanço tecnológico (ou da produtividade), do capital e do trabalho [Garcia et al.(2001)]. A equação diferencial anterior pode ser modificada como segue:

(5)

Desse modo, considerando válidas as premissas neoclássicas, a taxa de variação de A, A,

A

será igual ao chamado Resíduo de Solow, ou crescimento da Total Factor Productivity

(TFP), que pode, então, ser definido como a diferença entre a taxa de crescimento do produto agregado e as taxas de variação dos fatores capital e trabalho, ponderadas pela contribuição dos respectivos fatores, com fi

+

v

=1 para satisfazer a condição de retornos

constantes à escala.

Um Tratamento Diferente

Alguns autores, entre eles Stiroh (2001) e Oliner e Sichel (2000), preferem utilizar um tratamento matemático um pouco diferente do que foi feito até aqui. Ao invés de usarem derivadas para medir as taxas de variação, usam diferenças de logaritmos, o que se justifica por ser mais prático para a análise numérica dos dados econômicos. Assim, usando a notação apresentada por Stiroh (2001), oResíduo de Solow pode ser escrito como:

(15)

em que 11representa uma diferença e ainda,

v

K

+

VL =

1.

Os coeficientes

v

representam a

elasticidade do produto com relação aos fatores capital e trabalho.

Uma última transformação, partindo-se da equação (6), pode ser realizada para obter o

crescimento da Average Labor Productivity (ALP). Fazendo

y

=~,

que define o produto

H

K L .

a

por hora trabalhada, k = -, I = - e lembrando que In - =In

a

-In b ,temos:

H H b

Ainda, podemos escrever:

I1Iny =11InY-I1In H =v

K(I1In K - ô.InH)

+

vL(ô.InL - ô.InH)

+

ô.InA.

Finalmente, vem:

(7)

A equação acima mostra que o crescimento da ALP, ô.In

y

,depende de três fatores: (i) do

capital deepening , 11Ink , que mede o aumento do capital por hora, fazendo com que os trabalhadores sejam mais produtivos ao se fornecer mais capital por hora de trabalho e que contribui para o crescimento da ALP com o mesmo peso do fator capital, ou seja, VK; (ii)

do crescimento da qualidade do trabalho, 11In

I ,

que mede a substituição por trabalhadores com maiores produtos marginais, assim a melhoria da qualidade do trabalho aumenta o crescimento da ALP com o mesmo peso do fator trabalho, VL; (iii) do crescimento da TFP, 11InA, que mede o impacto do avanço tecnológico ou da produtividade, na relação de um para um, visto que o coeficiente de 11InA na equação (7) é igual à unidade (Jorgenson e Stiroh (2000)].

(16)

Uma implicação fundamental da abordagem neoclássica é que, no longo prazo, o produto

per capita e o crescimento da produtividade são direcionados inteiramente pelo crescimento (exógeno) do progresso tecnológico, sendo, dessa forma, independentes de outros parâmetros econômicos estruturais, como a taxa de poupança [Stiroh (2001)].

A Propriedade de Convergência

Outra característica da teoria neoclássica é a propriedade de convergência. A idéia por trás dessa propriedade é que, quanto menor o nível do produto de uma economia, maior tenderá a ser a sua taxa de crescimento projetada pelo modelo. Entretanto, explorações empíricas dessa propriedade têm mostrado que essa convergência é condicional e não absoluta.

Se todas as economias fossem iguais, com exceção das suas condições iniciais de capital, as economias mais pobres tenderiam a experimentar uma taxa de crescimento do produto per capita (também chamado produto efetivo) maior que a de economias mais desenvolvidas. Esse crescimento mais rápido levaria a uma convergência das trajetórias de crescimento de longo prazo das diversas economias.

No entanto, como as economias diferem em vários aspectos, como no acesso à tecnologia e nas políticas governamentais, a taxa de crescimento tende a ser maior nas economias mais pobres se o produto per capita inicial for relativamente baixo quando comparado com a sua posição de longo prazo, chamado de "produto no estado estacionário" ou "produto potencial". Assim, somente se a distância entre o produto potencial per capita y* e o produto inicial per capita yo for relativamente grande é que essa convergência será verificada, indicando que a convergência é condicional.

Isso significa que, se, por uma dada razão econômica, uma economia apresenta um baixo valor potencial y* , partindo-se de um valor de yo próximo de y* , essa economia não tenderia a apresentar uma maior velocidade de crescimento [Barro (1997)].

2.1.2 Modelos Endógenos

(17)

longo prazo, sem contudo apresentar nenhuma explicação sobre essa sua variável crítica.

Além disso, "a premissa de retornos decrescentes não era sustentada por evidências

disponíveis"

(trad. pelo autor)

[Coates (1999)]. Esses pontos fracos estimularam o

surgimento de outras teorias para explicar o crescimento econômico, atualmente conhecida

como "nova teoria do crescimento" ou mais precisamente ''teoria

pós-neoclássica

do

crescimento endógeno".

A partir do trabalho de Romer (1986), a maioria dos modelos de crescimento econômico

começam a abandonar a idéia de que a relação capital-trabalho deva ser a principal variável

endógena. Visto que o avanço tecnológico representa uma parcela significativa do

crescimento econômico, vários pesquisadores argumentam que a mudança tecnológica não

deve ser tratada como exógena nos modelos de crescimento.

Romer (1986) apresenta uma primeira alternativa ao modelo neoclássico, enfatizando a

forma pela qual a acumulação de capital impacta no conhecimento, dado que o

conhecimento necessariamente se espalha (através do chamado efeito de

spillover),

além

das fronteiras da firma que realizou o investimento inicial para desenvolver tal

conhecimento, por toda a economia. Pode-se entender esse efeito como uma externalidade

positiva, pois afeta o estoque de conhecimento disponível para todas as firmas, isto é, as

possibilidades de produção de uma firma são afetadas (nesse caso, positivamente) pelas

escolhas de outras firmas.

Assim, partindo de uma função de produção para uma firma i, dada por:

(8)

Romer considera a variável A como função do estoque agregado de conhecimento, R, (no

caso estoque de Pesquisa e Desenvolvimento -

P&D),

apresentando uma explicação

econômica da razão pela qual o fator capital não está necessariamente associado a retornos

decrescentes. Por outro lado, Lucas (1988) ressalta a importância do investimento em

capital humano como uma fonte impulsionadora do crescimento.

A literatura que trata dos modelos endógenos é bastante variada, não apresentando um

(18)

fatores, como estruturas de produção, inovação, retornos crescentes, dinâmicas da competição e efeitos despillover na produção [Stiroh (2001)].

o

ModeloAK

Um modelo simples, que vale a pena ser analisado, é o chamado modelo AK. Esse modelo parte de uma função de produção linear, que, na forma de produto por hora trabalhada, pode ser representada pela equação:

(9) y s=Ak ,

A

,

..

Id

Y k K

em que e uma constante positrva e representa o pape a tecno OgIa,

y

= - e

= - ,

H H

sendo H o número total de horas trabalhadas.

o

capital é acumulado de acordo com a equação (2), em que nesse caso, estou considerando o investimento Icomo uma parcela do produto agregado. Assim, temos:

(2')

K

=

I - 8K

=

ÀY - 8K,

sendo À,a taxa de investimento eõ a taxa de depreciação, ambos constantes.

Considerando, por simplicidade, um dado nível de horas trabalhadas fixo, temos

k

=

k

e,

H

assim, a equação (2 ') transforma-se em:

(lO)

Dividindo a equação acima por k,a taxa de crescimento do capital por hora trabalhada será:

(11)

-=A--t>=ÀA-t>

k

Y

k k '

em que se verifica que o segundo membro é uma constante.

Derivando a função de produção em relação ao tempo, temos:

y

=Ak , dado que A é

(19)

(12)

y

=

k

y

k'

indicando que as taxas de crescimento do produto e do capital são iguais.

Desse modo, supondo que a taxa de crescimento do capital seja positiva e dada pela equação (11), o que é verdade se o investimento total for maior que a depreciação, então haverá retornos constantes e positivos à acumulação de capital. Observe que o produto

marginal do capital,

i1

y

,

que mede a variação do produto para cada unidade incremental

M

de capital, é constante e igual a A [Jones (2000)].

Nesse modelo, o crescimento da produtividade pode continuar de modo perpétuo e qualquer mudança no nível da tecnologia ou na taxa de investimento (ou da poupança) leva a uma mudança no crescimento de longo prazo.

A idéia por trás dos modelos de crescimento endógenos é a de que "os retornos sociais gerados pelo investimento são maiores que os retornos privados e que o crescimento pode evoluir indefinidamente porque os retornos dos investimentos não necessariamente diminuem enquanto a economia se desenvolve" (trad. pelo autor) [Coates (1999)]. Nesse sentido, competitividade e crescimento não são tratados como dados pelo progresso tecnológico de forma exógena, mas como algo estimulado internamente pelos investimentos em conhecimento e nas pessoas.

Isso indica que a idéia de competição imperfeita deva ser introduzida, visto que o modelo neoclássico assume uma condição de competição perfeita, em que duas das premissas básicas são: (i) os produtores são tomadores de preço, dado que cada firma vende uma proporção pequena do produto total da indústria, de tal modo que sua decisão não tem nenhum impacto no preço de mercado; (ii) existe informação perfeita, de tal sorte que os consumidores tenham informação perfeita sobre suas preferências, seus níveis de renda, os preços e a qualidade dos bens a serem comprados e, por outro lado, as firmas possuam informação perfeita sobre seus custos, preços e tecnologia.

(20)

ultrapassou o crescimento populacional desde a Revolução Industrial; (ii) as trajetórias de crescimento de diferentes países não estão convergindo a um nível comum, como seria esperado pelo modelo neoclássico; (iii) o progresso tecnológico é o principal driver do crescimento econômico; (iv) o conjunto de idéias inovadoras, que é a base subjacente do progresso tecnológico, está relacionado às ações das firmas na direção da criação de renda.

Assim, segundo Hunt (1997), os modelos de crescimento, que apresentam o progresso tecnológico como variável endógena, conduzem a uma teoria do crescimento econômico constituída em quatro estágios: (i) certos aspectos do processo de competição monopolistica, incluindo a expectativa racional de renda, levam a idéias inovadoras no nível das firmas; (ii) essas inovações induzidas pela competição, ao longo do tempo, resultam em mudanças tecnológicas tanto no nível das firmas como no das indústrias; (iii) cumulativamente, essas mudanças tecnológicas levam ao aumento da TFP da economia, ou seja, do progresso tecnológico; (iv) então, o progresso tecnológico, induzido pela competição ao longo do tempo, resulta em crescimento econômico.

Desse modo, faz-se necessária uma teoria da competição que possa dar sustentação aos modelos de crescimento endógenos e que possua pelo menos quatro requisitos básicos: primeiro, a tecnologia não pode ser assumida como livremente disponível para todas as firmas, ou seja, a tecnologia deve ser entendida como um recurso não-rival, parcialmente

excluível; segundo, a inovação não deve ser exógena, mas deve ser um resultado do processo competitivo; terceiro, as firmas não deveriam ser tomadoras de preço, mas deveriam ter a expectativa racional de que poderão obter renda, a partir das inovações que contribuam para sua eficiência ou eficácia. Finalmente, instituições, tais como as que garantam os direitos de propriedades e de patentes, deveriam ser vistas como tendo capacidade para facilitar ou inibir o crescimento econômico [Hunt (1997)].

Com base nisso, Hunt (1997) defende a tese de que a ''teoria da vantagem de recurso"

(21)

A competição, nesse contexto, deve ser vista de forma evolucionária, um processo que provoca o desequilíbrio e que consiste na constante luta entre firmas por vantagens comparativas em seus recursos, que irão colocá-las em uma posição de vantagem competitiva no mercado. Ao atingir uma posição superior, os concorrentes tentarão neutralizar a vantagem dessa firma através de processos de aquisição, imitação, substituição e mesmo outra inovação. Essa teoria é, portanto, dinâmica, por isso evolutiva.

De forma sucinta, a base da nova teoria do crescimento carrega algumas mensagens subjacentes: a primeira é que, como o progresso tecnológico pode ser criado internamente (entrando nos modelos como uma variável endógena), não há a garantia de retornos decrescentes automáticos e, também, nenhuma necessidade de convergência entre diferentes trajetórias de crescimento. O ponto básico é que podem existir retornos constantes (ou crescentes) para os fatores acumulados no nível agregado e, portanto, a geração de crescimento endógeno de longo prazo; a segunda é uma implicação geral de que as instituições econômicas e políticas podem ter efeitos mais significativos no crescimento que os previstos pelo modelo neoclássico.

As Instituições e o Crescimento Econômico

Essa implicação do impacto das instituições no crescimento vem ao encontro de Silva (l996a, 1996b, 1996c) e Jordan (2001), que se apoiam nos trabalhos de Douglass North, que afirma: "Eu desejo defender um papel mais fundamental para as instituições nas sociedades; elas são o determinante subjacente do desempenho de longo prazo das economias"

(trad pelo autor)

[Aron (2000)].

(22)

As instituições e os valores, cujo conjunto constitui a infra-estrutura econômica, podem explicar a acumulação de capital, o investimento no talento dos indivíduos para a produção e o avanço tecnológico. Se as fontes objetivas ajudam a responder à pergunta:

Por que

alguns países são ricos e outros são pobres?,

as fontes subjetivas são responsáveis pela resposta à seguinte questão:

Por que algumas economias têm um nível mais alto de capital

e tecnologia?

a escolha da infra-estrutura econômica que determina a riqueza e o desenvolvimento. A escolha dessas instituições, em particular das instituições públicas, é que facilita ou restringe a produção"

(trad. pelo autor)

[Jordan (2001)], levando as economias ao círculo virtuoso do crescimento sustentado.

Contudo, é importante ressaltar que Aron (2000), através de uma análise da literatura que relaciona instituições e crescimento, argumenta que a interpretação do impacto das instituições no crescimento não é uma tarefa direta. As correlações entre as variáveis institucionais e o crescimento levam a uma relação, mas não definem a direção da causalidade, visto que esta pode ocorrer nas duas direções: boas instituições conduzindo ao crescimento ou um maior crescimento levando a melhores instituições.

De qualquer forma, nos modelos endógenos, o crescimento no longo prazo depende de ações governamentais, que garantam direitos de propriedade, políticas fiscais, a manutenção da lei, a regulamentação dos mercados financeiros e outros aspectos da economia [Barro (1997)].

2.2 O Debate entre os Modelos Neoclássico e Endógenos

(23)

Esses modelos apresentam diferentes implicações sobre como o crescimento econômico

é

afetado por mudanças em determinadas variáveis tais como: a taxa de poupança, a taxa de crescimento populacional e diversas variáveis institucionais.

Para a teoria neoclássica, essas mudanças afetam permanentemente o nível do produto no estado estacionário, ou seja, fazem com que o produto mude de patamar. No entanto, afetarão o crescimento apenas temporariamente, não apresentando efeito permanente sobre a taxa de crescimento do produto no estado estacionário.

Isso quer dizer que ocorrerá, no longo prazo, apenas um efeito de nível e não uma mudança na taxa de crescimento (em termos matemáticos, o produto

é

alterado, mas a sua derivada não). Um exemplo disso, como foi colocado anteriormente,

é

a implicação de que, no longo prazo, o produto

per capita

e a produtividade são direcionados inteiramente pelo crescimento (exógeno ) do progresso tecnológico, sendo independentes de outros parâmetros estruturais, como a taxa de poupança. Nesse sentido, a teoria neoclássica não consegue isolar as fontes do crescimento de longo prazo e, por essa razão, poucas conclusões de política econômica derivam dessa teoria.

Por outro lado, nos modelos endógenos essas mudanças irão alterar permanentemente a taxa de crescimento do produto

per capita.

Com o progresso tecnológico medido de forma endógena, a função de produção poderá exibir retornos crescentes à escala (o que contraria a premissa neoclássica de retornos constantes à escala), levados em conta os efeitos de aumento nos fatores capital e trabalho sobre a tecnologia. Com retornos crescentes, mudanças na taxa de poupança e, portanto, na taxa de acumulação do capital podem gerar efeitos permanentes no crescimento de longo prazo. Assim, com progresso tecnológico endógeno e, portanto, com retornos crescentes à escala, políticas econômicas passam a ser importantes para o crescimento de longo prazo.

(24)

efeitos dessas mudanças na taxa de crescimento do produto

per capita

forem permanentes e

a hipótese neocIássica será suportada se o efeito for transitório.

Karras (1999) utiliza esse modelo e escolhe a taxa de impostos como variável a ser testada,

por satisfazer as características mencionadas acima. Usa a taxa de impostos para investigar

seus efeitos na taxa de crescimento, com dados econômicos, no período entre 1960 e 1992,

de 11 países da

Organization of Economic Cooperation and Deve/opment

(OECD).

Analisando os resultados, Karras (1999) conclui que um aumento na taxa de impostos irá

reduzir permanentemente o nível do produto

per capita,

mas irá retardar a sua taxa de

crescimento apenas temporariamente, indicando que esses resultados são compatíveis com

os esperados pelo modelo neoclássico. O resultado encontrado por Karras (1999) é

importante para as implicações de variáveis políticas sobre o crescimento, pois sugere que

mudanças nessas variáveis deverão trazer impactos permanentes no produto da economia,

mas apenas efeitos temporários no crescimento. No entanto, Kocherlakota e Yi (1997)

apresentam evidências de que os efeitos no crescimento das economias dos EUA e do

Reino Unido são permanentes, como descrito pelos modelos endógenos, ao incluir as

variáveis imposto e capital público na análise.

Um outro fator importante que ajuda no entendimento do crescimento econômico, está

relacionado ao investimento. O investimento deve ser entendido de forma mais ampla,

devendo contemplar, além de ativos tangíveis (investimentos em bens de capital), os

investimentos em capital humano, em

P&D

e na infra-estrutura pública.

Do ponto de vista neoclássico, melhorar a forma de mensuração dos fatores permite uma

melhor avaliação do avanço tecnológico. Do ponto de vista da teoria endógena, a idéia de

retornos constantes pode ser mais realística a partir de definições mais amplas de capital.

No entanto, "uma definição mais ampla de capital para incluir

P&D

e capital humano não é

suficiente para a geração de crescimento endógeno se essa definição traz embutidos

retornos decrescentes"

(trad. pelo autor)

[Stiroh (2001)].

Assim, essa diferença de perspectiva entre a teoria neoclássica e a nova teoria do

crescimento leva a visões contrastantes sobre a relação investimento-produtividade e,

(25)

Mesmo com diferenças conceituais e resultados empíricos controversos, como os

apresentados acima, esses modelos não podem ser considerados mutuamente exclusivos.

Na verdade, a nova teoria do crescimento não surgiu simplesmente para atacar a teoria

neoclássica, mas é, antes de tudo, uma extensão do modelo neoclássico que se aprofunda

mais nas questões relacionadas ao investimento,

à

produtividade e ao crescimento. O

modelo neoclássico, através de suas ferramentas, tem sido útil para explicar

como

a

produtividade e o crescimento se estão comportando. Já os modelos endógenos podem ser

usados para entender o

porquê

desse comportamento.

Os modelos endógenos são importantes por fornecerem possíveis explicações para o

crescimento no longo prazo. Entretanto, os recentes trabalhos empíricos utilizam com

maior freqüência as ferramentas do modelo neoclássico, com expansões para acomodar

variáveis políticas e institucionais, um conceito mais amplo de capital que inclua o capital

humano ou o papel do investimento em

P&D.

Como foi destacado anteriormente, os modelos endógenos formam a base para se entender

por que uma economia pode crescer, em termos

per capita,

indefinidamente. "Mas essas

teorias apresentam pouca relação com a determinação das taxas relativas de crescimento

entre economias, um elemento-chave estudado nas análises estatísticas entre países"

(trad.

pelo autor)

[Barro (1997)], fazendo com que o modelo neoclássico seja largamente

utilizado nesse tipo de análise econômica, em particular, com base na metodologia da

contabilidade de crescimento.

2.3 A Contabilidade de Crescimento e a Produtividade

O modelo neoclássico baseia-se no lado da oferta, visto que parte de uma função de

produção que relaciona o produto aos fatores capital e trabalho e

à

produtividade desses

fatores. Assim, do total do crescimento, é interessante determinar qual parcela é devida a

um aumento nos fatores (a acumulação dos fatores) e quanto é devido

à

produtividade

desses fatores. Essa é a proposta por trás do modelo da contabilidade de crescimento, que

(26)

Partindo-se da equação (4), pode-se usar uma abordagem de análise de regressão para se

estimar o crescimento da produtividade, A. Esse procedimento de análise está embutido na

A

equação (13), em que o intercepto

â

= ~,

que representa o termo independente das

variáveis usadas no modelo de regressão, permite estimar o aumento da produtividade e em que Brepresenta o erro aleatório que não é explicado pelo modelo.

(13)

o

modelo da contabilidade de crescimento é bastante prático, sendo largamente utilizado

em análises eco no métricas. Entretanto, ele carrega uma fraqueza que é intrínseca ao modelo neoclássico: uma grande parcela do crescimento é explicado como aumento da Total Factor Productivity (TFP), isto é, pelo resíduo, que pode ser detectado pela contabilidade de crescimento, mas que, no entanto, não consegue explicá-lo (lembre-se de que a teoria neoclássica trata o progresso tecnológico como uma variável exógena). Como foi destacado anteriormente, a nova teoria do crescimento pode ser vista, pelo menos em parte, como uma resposta a esse problema, ao oferecer explicações endógenas ao progresso tecnológico.

Desse modo, muito do crescimento observado e que é capturado pelo "fator residual" permanece não explicado. Estudos recentes mostram que uma parcela significativa do fator residual pode ser atribuída à substituição de fatores de qualidade inferior por outros, de qualidade superior.

o

Capital Humano

(27)

al.(l999)]. No entanto, existem muitos problemas em se mensurarem e compararem competências e habilidades. Outra questão relevante é a direção da causalidade: Mais educação leva a mais crescimento ou os países mais desenvolvidos podem gastar mais com educação? Essa questão ainda não foi respondida.

Mais recentemente, a literatura do crescimento considera explicitamente os efeitos de

spillover das atividades de educação e treinamento, surgindo daí duas correntes de pensamento para o tratamento dessa questão [Blundell et al.(l999)].

Uma delas trata o capital humano como um fator de produção (da mesma forma que o capital fisico e o trabalho). Nessa abordagem, o nível do produto da economia depende do nível do capital humano daquela economia. Isso implica que a taxa de crescimento do produto depende da taxa na qual a economia acumula capital humano ao longo do tempo.

Na outra, o capital humano é visto como uma fonte de inovação, aumentando a capacidade dos indivíduos e das firmas de gerar mudanças tecnológicas, ao mesmo tempo em que se adaptam a essas mudanças. Assim, o nível de educação (estoque de capital humano) é relacionado ao crescimento da produtividade e os retornos relativos à acumulação de capital são justificados pelo papel desempenhado pelo capital humano na introdução e na efetiva adoção das mudanças tecnológicas.

No entanto, as evidências macroeconômicas disponíveis não permitem a distinção entre esses dois tipos de pensamento [Blundell et al.(l999)].

(28)

A Infra-estrutura Social

Por outro lado, pesquisadores como Mancur Olson e Douglass North, entre outros,

propõem a utilização de variáveis institucionais no sentido de ampliar o modelo

neoclássico,

para permitir uma análise institucional. Olson e North acreditam que as

trajetórias de crescimento não são apenas definidas pela distribuição e qualidade dos fatores

discretos de produção, mas que "o crescimento é reforçado pelo impacto nesses fatores por

instituições dominantes, idéias e ideologias e a necessária inter-relação entre política e

economia"

(trad pelo autor)

[Coates (1999)].

Hall e Jones (1998) também levantam a bandeira de que o determinante fundamental do

desempenho de longo prazo da economia de um país é a sua infra-estrutura social, definida

como as instituições e políticas governamentais que fornecem os incentivos para os

indivíduos e firmas em uma economia, o que é equivalente ao conceito de infra-estrutura

econômica [Jordan (2001)].

De forma geral, tais incentivos podem conduzir os esforços a duas direções antagônicas: (i)

propiciar a geração de atividades produtivas para a coletividade, como o desenvolvimento

de novos produtos; (ii) ou estimular comportamentos como corrupção e

rent-seeking

-caracterizado pela alocação de recursos econômicos escassos em atividades que não

contribuem para aumentar o produto (ou renda) de uma dada economia -, que representam

desvios nos propósitos e que podem criar impactos negativos no produto.

De acordo com

Hall

e

Jones (1998),

a eliminação desses desvios é um elemento central de

uma infra-estrutura social favorável e, nesse sentido, o governo exerce uma função crítica

devido ao seu poder de estabelecer regras efetivas que possam inibir tais desvios, reduzindo

oportunidades de

rent-seeking,

ao mesmo tempo em que pode gerar efeitos diretos na

produção. Além disso, uma boa infra-estrutura social pode ter importantes efeitos indiretos

ao encorajar a adoção de novas idéias ou tecnologias.

Baumol (1990) ilustra bem essa situação na sua busca por evidências históricas que possam

sustentar a hipótese central do seu trabalho: a de que o empreendedor pode agir de forma

improdutiva ou mesmo destrutiva, e tomar o caminho da improdutividade, ou uma outra

(29)

(Payoffs)

da economia, isto é, das regras do jogo econômico. O Império Romano é um caso no qual as regras não favoreciam os empreendimentos produtivos, em que destaca uma inovação tecnológica

(steam engine)

"que era usada simplesmente para abrir e fechar as portas de um templo"

(trad pelo autor)

[Baumol (1990)].

Apesar do forte debate sobre a mensuração dos fatores de produção e mesmo sobre como melhor definir o progresso tecnológico, existe um consenso de que muito do crescimento econômico e da produtividade envolve

trade-offs.

Acumulação de capital significa investimento, poupança e, portanto, redução de consumo, ao mesmo tempo em que um aumento da acumulação do fator trabalho requer gastos em educação e redução do tempo disponível para o lazer. Assim, qualquer parcela do crescimento que não é explicada acaba sendo considerada como parte da contribuição da

Total Factor Productivity

(TFP), que dessa forma reflete, além do progresso tecnológico, efeitos de

spillover,

aumento de eficiência e economias de escala, dentre outros [Stiroh (1999)].

Mesmo com suas deficiências, o modelo da contabilidade de crescimento é amplamente utilizado nos trabalhos que envolvam análises empíricas, mostrando que a teoria neoclássica está sendo constantemente revisitada pelos pesquisadores que estudam o

crescimento econômico.

(30)

3. PRODUTIVIDADE: O IMPACTO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Esta parte trata do tema específico deste trabalho, ou seja, como a Tecnologia da

Informação e a Nova Economia têm contribuído para o crescimento da produtividade em

termos macroeconômicos.

A discussão apresentada aqui contempla a análise e a visão desenvolvida por vários

pesquisadores que estudam a questão do crescimento da produtividade. A maioria desses

trabalhos explora os resultados experimentados pela economia americana na última metade

da década passada.

3.1 O Paradigma da Nova Economia

Nos últimos anos, tem-se presenciado muita discussão a respeito da ''Nova Economia", mas

ao mesmo tempo não se conseguiu uma definição única e aceita para o significado desse

termo. Wadhwani (2001) recorda que, no início da década de 80, Nova Economia

implicava uma economia que colocava todos os holofotes nos serviços e não na indústria de

manufatura.

No entanto, a partir de 1995, o uso do termo mudou radicalmente de foco para incluir

outros atores. Gordon (2000) define a Nova Economia como "sinônimo de uma aceleração

na taxa do avanço tecnológico da Tecnologia da Informação"

(trad. pelo autor),

ou seja,

como um sinônimo da aceleração na difusão da Tecnologia da Informação, que de forma

mais ampla engloba computadores,

software,

telecomunicações e a

Internet.

Outros advogam que a década passada marcou o início de uma era única de prosperidade

econômica, em particular para a economia americana. Esses proponentes da Nova

Economia enxergam a Globalização e a Tecnologia da Informação como as forças que

estão remodelando a economia moderna, tomando-a fundamentalmente diferente dos

períodos industriais do passado. A Globalização e Tecnologia da Informação representam

importantes tendências, mas podem não ser suficientes para mudar completamente a

economia [Stiroh (1999)].

Ainda, essa Nova Economia pode ser associada ao termo Economia da Informação. A

(31)

envolver altos custos fixos (para produzir a primeira unidade do bem), mas apresenta baixo custo marginal (para produzir as demais unidades). Por exemplo, o desenvolvimento de um novo aplicativo de software pode significar um alto custo fixo, mas o custo marginal da sua distribuição pela Internet é extremamente baixo.

Para que a informação possa ser acessada e ter seu valor percebido pelo consumidor, faz-se necessária uma infra-estrutura tecnológica. Os aplicativos de software têm valor porque tanto o computador como a tecnologia de redes são hoje mais eficientes e, além disso, apresentam custos relativamente baixos. Note que, em termos econômicos, esses bens podem ser considerados como complementares. Assim, "a economia da informação está relacionada à informação e à tecnologia associada" (trad. pelo autor) [Shapiro e Varian (1999)].

Apesar de essas idéias relacionadas

à

Nova Economia receberem considerável atenção, nos meios acadêmicos, nos negócios e no governo, não existe um consenso sobre como a Nova Economia deveria ser definida e avaliada.

O paradigma da Nova Economia não é uma idéia simples, articulada por um único autor. Assim, a Nova Economia contempla um grande conjunto de idéias sob um mesmo guarda-chuva. Stiroh (1999) resume esses grupos de idéias, concentrando sua análise em três modelos, tendo como pano de fundo os recentes resultados da economia americana.

Um é o modelo do crescimento de longo prazo, o qual argumenta que a economia (americana) estará desfrutando de um período de rápido crescimento, sem contudo levar a um aumento na taxa de inflação.

Uma outra versão é a do ciclo de negócios. A chamada curva de Phillips, do ponto de vista macroeconômico, descreve a relação entre a taxa de desemprego (u) e a taxa de inflação (n) no curto prazo. Altas taxas de crescimento da demanda agregada estimulam a produção, reduzindo a taxa de desemprego. Por outro lado, essas altas taxas de crescimento da demanda causam um aumento na taxa de crescimento dos preços (isto é, elevam a taxa de inflação).

(32)

que, quando a taxa de desemprego está abaixo da ''taxa natural" (também conhecida como NAIRU - non-accelerating injlation rate of unemployment), a inflação subirá mais rápido que o esperado.

No entanto, estatísticas recentes mostram que a inflação nos EUA tem diminuído mesmo quando a taxa de desemprego cai, o que tem levado a se questionar se a expansão observada da economia é de alguma forma diferente da de períodos anteriores, especialmente com relação ao trade-off de curto prazo entre inflação e desemprego.

A terceira é a visão que se baseia nas fontes de crescimento,

à

qual dedicarei mais atenção, por ser a mais interessante dentro do escopo deste trabalho.

A teoria neoclássica do crescimento tem como um de seus pilares fundamentais a idéia de retornos constantes

à

escala e, ainda, qualquer crescimento não explicado deve ser encarado como parte da contribuição da Total Factor Productivity (TFP). Os advogados da Nova Economia levam a idéia da TFP muito a sério, argumentando "que vários setores da economia se beneficiam de retornos crescentes, externalidades, padrões e economias de rede" (trad. pelo autor) [Stiroh (1999)]. Em uma economia de rede, o valor de um novo produto, como um aplicativo de software ou uma conexão Internet, aumenta quando outros investem e obtêm equipamento compatível. Dessa forma, o investimento de uma firma A aumenta a produtividade e o valor do investimento de uma firma B.

Essas idéias não são novas para a economia convencional; no entanto, a Nova Economia dá-lhes uma importância exagerada, entendendo-as como as forças motrizes do crescimento da economia.

(33)

Stiroh (1999) concorda que isso tudo é plausível, mas existem várias questões conceituais e empíricas que ainda precisam ser consideradas. Existe ainda o questionamento se tudo isso é realmente novo. A experiência da Tecnologia da Informação pode não ser única, visto que muitos bens apresentaram declínio de preços e aumento da qualidade após a sua difusão. Exemplos vão desde o mercado de automóveis, no início do século 20, até o rápido declínio nos preços da energia elétrica Ainda mais, redes, produção concentrada de bens e padrões sempre foram importantes e não podem ser considerados exclusivos das invenções ligadas

à

Nova Economia

A Relação entre Tecnologia da Informação e Globalização

Entretanto, é importante ressaltar que, apesar de diferirem em previsões e implicações, essas três versões apresentam um núcleo comum que as torna parte da estrutura da Nova Economia. Todos esses modelos assumem que a Nova Economia tem sua base na ampliação da Globalização e no avanço da Tecnologia da Informação. Ao reduzir os custos da informação e da comunicação, a Tecnologia da Informação ajuda na globalização da produção e dos mercados de capitais. Por outro lado, a Globalização permite que os possíveis ganhos econômicos gerados pela Tecnologia da Informação sejam amplificados'.

Isso sugere uma relação muito íntima entre a Globalização e a Tecnologia da Informação, de tal modo que são entendidas como as forças que estão mudando a economia e não como reflexos de outros fatores. Isso parece ser verdade, dado que praticamente não existe nenhum debate sobre o fato de que a economia mundial se está tornando mais consolidada em termos de produtos e mercados de capitais ou que a Tecnologia da Informação esteja desempenhando um importante papel estratégico nas organizações. Entretanto, "as questões reais são se essas mudanças são novas de forma significativa e se são suficientemente poderosas para realmente mudar o funcionamento da economia"

(trad. pelo autor) [

Stiroh (1999)].

Antes de tentar responder se existe uma Nova Economia, discuto o impacto da Tecnologia da Informação no crescimento da produtividade.

(34)

3.2 A Revolução Industrial e a Difusão de Novas Tecnologias

Com freqüência a economia é atingida por ondas e choques, obrigando as firmas não somente a repensarem em suas estratégias de negócio, mas em como os fatores de produção são utilizados no processo produtivo. Os choques também afetam a vida das pessoas, com maior ou menor intensidade, dependendo da magnitude.

Muitos desses choques são provocados a partir de mudanças e inovações tecnológicas. "Ao longo da história, observa-se que o progresso tecnológico necessita de obsolescência. Essa observação é tão válida hoje quanto foi em 1900 , 1800 ou mesmo muito antes" (trad. pelo autor) [Jordan (2001)], sugerindo que a obsolescência funciona como um incentivo para que novas invenções sejam criadas, introduzidas e adotadas na economia.

Alguns choques são muito significativos. A invenção de Gutenberg, por volta de 1430, permitiu a produção em massa de informação. A l.a Revolução Industrial, entre 1760 e 1830, na Inglaterra, provocou um grande choque. Com o aumento da capacidade de energia gerada pela máquina a vapor, não somente alguns produtos puderam ser manufaturados mais rapidamente, como também esse aumento permitiu que novos produtos viessem a ser produzidos com expressiva redução de custos. Mais profundos ainda foram os impactos causados pelas grandes invenções que ocorreram durante a 2.a Revolução Industrial, que ocorreu simultaneamente na Europa e nos EUA, aproximadamente entre 1860 e 1930.

o

Impacto da Revolução Industrial

Uma revolução industrial é traduzida, em termos econômicos, por alguma grande aceleração, no crescimento do produto e da produtividade, que seja percebida de forma ampla em toda a economia e não restrita a determinados setores. Sob essa ótica, analiso um pouco as grandes invenções da 2.a Revolução Industrial, "que criou a era dourada do, crescimento da produtividade" (trad. pelo autor) [Gordon (2000)].

(35)

complexa interação de idéias e invenções, que são sintetizadas por Gordon (2000) em cinco grupos.

A eletricidade, incluindo a luz elétrica e o motor elétrico, constitui a primeira grande invenção. A invenção do motor elétrico revolucionou a manufatura. O segundo grupo está relacionado ao motor de combustão interna, que tomou possível o desenvolvimento da indústria de transporte e que motivou o surgimento de outras invenções, como as rodovias. Num terceiro grupo estão o petróleo, o gás natural e vários processos que permitiram o

surgimento da indústria química moderna, um uso mais intenso dos motores, a expansão da indústria de transporte aéreo, o aprimoramento e desenvolvimento de novos produtos e materiais, dentre outros. O quarto grupo engloba o conjunto de entretenimento, comunicação e informação, desenvolvidos antes da 2.a Guerra Mundial. Esse conjunto de invenções inclui o telégrafo, o telefone, a fotografia, o rádio, os filmes e a televisão. Destes, somente a televisão teve a sua difusão após a 2.a Guerra; os demais ajudaram a criar o salto quântico observado no padrão de vida que hoje experimentamos. Finalmente, mas não menos importante, o quinto grupo é formado pela infra-estrutura de água e esgoto. Excluindo a eletricidade, essas talvez sejam as melhorias mais tangíveis no padrão de vida cotidiano.

A análise dos resultados em Gordon (2000) mostra que a aceleração no crescimento da TFP no período 1972-1995 foi consideravelmente menor que no período 1870-1913 e, ainda, muito menor que no período 1913-1972. Esses grupos de invenções criaram um aumento na renda per capita e na riqueza durante os anos dourados do crescimento da produtividade (1913-1972), provocando uma sensível melhoria no padrão de vida das pessoas.

A Difusão de Novas Tecnologias

No entanto, o impacto dessas invenções não foi imediato, visto que as "novas" tecnologias tiverem que suplantar as ''velhas'' tecnologias, já largamente difundidas na época. Isso significa que, quando novas tecnologias se tomam disponíveis, nem todos na economia irão adotá-las simultaneamente. Desse modo, por algum tempo o velho e o novo irão coexistir, enquanto as firmas tiverem incentivos para promover melhorias na velha tecnologia.

(36)

Um dos motivos que levam a essa situação é o fato de que existem custos para se adotar essa nova tecnologia, tal como o custo de aprendizagem. "Potencialmente uma nova tecnologia pode ser muito mais produtiva que a velha tecnologia, mas inicialmente os usuários da nova tecnologia terão que partir de um nível de experiência inferior" [Homstein (1999)].

Vejamos o caso da eletricidade. A era da eletricidade começou por volta de 1900, no meio da Revolução Industrial. Era útil como fonte de iluminação, mas teve que suplantar a água e o vapor como fonte alternativa de energia no setor de manufatura, o que foi complicado devido ao estoque de equipamentos e estruturas disponíveis, que eram adequadas às velhas tecnologias. No entanto, os beneficios da eletricidade aparecem e o motor elétrico começou a ser usado por novas indústrias ou por aquelas que estavam em processo de expansão, motivando a construção de novas plantas a partir de estruturas e conceitos que pudessem acomodar essa nova tecnologia.

Essa constatação vai ao encontro da hipótese de David (1990) de que a difusão de novas tecnologias é, com freqüência, lenta. Isso significa que a colocação de novas tecnologias em operação, em pleno potencial, demanda tempo, fazendo com que sua produtividade seja baixa no início. Essa idéia ajuda a explicar por que "os frutos da Revolução Industrial levaram tempo para serem colhidos"

(trad pelo autor)

[Greenwood (1999)].

Para David (1990), são várias as fontes de atraso na difusão de novas tecnologias. No caso da eletrificação da indústria de manufatura, sua implementação em larga escala exigiu o desenvolvimento de outras tecnologias, por exemplo, novas técnicas de construção, que por sua vez envolveram a formação de arquitetos e engenheiros elétricos capazes de entender esse novo paradigma da manufatura, ocorrido durante a Revolução Industrial.

(37)

Isso significa que, quanto maior o custo para os agentes econômicos aprenderem uma nova tecnologia, mais lenta será a sua difusão. Mas, quanto mais rápido uma tecnologia se difunde através da economia, mais fácil se toma o seu aprendizado.

medida que uma tecnologia se toma mais conhecida, o estoque de experiência da sociedade aumenta, fazendo com que a sua produtividade aumente" (trad. pelo autor) [Greenwood (1999)].

Novas tecnologias são caras no início, mas o preço cai à medida que os produtores ganham experiência. Isso encoraja a adoção, estimulando novas reduções nos preços quando os efeitos da aprendizagem e de escala reduzem os custos de produção. Num primeiro momento, por deterem essas tecnologias, algumas firmas gozam de um certo poder de monopólio, devido ao alto poder de barganha do produtor. Com a entrada, no mercado, de novos concorrentes, muitas vezes através da imitação, o poder de monopólio é reduzido e os preços tomam-se ainda mais competitivos. As firmas também buscam desenvolver produtos complementares e um bom exemplo disso são as invenções do filme e do cinema, a televisão e o VCR. Introduzir um produto complementar no mercado pode levar muito tempo e consumir muitos recursos. De qualquer modo, a disponibilidade desses produtos encoraja novas adoções.

A "Revolução" da Tecnologia da Informação

Hoje, podemos estar no meio de um grande choque: o da "Revolução" da Tecnologia da Informação.

No caso da Tecnologia da Informação e do computador, em particular, mesmo que sua difusão tenha sido mais rápida, se comparada com a da eletricidade e a do motor elétrico, não podemos considerá-la imediata. Quando os computadores começaram a surgir nos anos 50, eram utilizados em pesquisas acadêmicas e industriais, basicamente para a realização de cálculos. Mais recentemente, o mundo dos computadores evoluiu, com a introdução dos computadores pessoais e a ampliação das redes de comunicação. Surgiram vários produtos complementares como os aplicativos de software e a tecnologia daInternet.

(38)

de valor, o que tem possibilitado mudanças na estratégia competitiva das firmas e uma organização mais eficiente da atividade empresarial, da mesma forma que as grandes invenções, como a eletricidade, que tomou possível as linhas de montagem, ajudaram a modificar o ambiente competitivo ao longo da Revolução Industrial.

David (1990) utiliza uma analogia entre o motor elétrico (dínamo) que teve participação fundamental na Revolução Industrial e o computador dos dias de hoje. Apesar de reconhecer que a analogia entre a Tecnologia da Informação e a tecnologia elétrica apresenta muitas limitações, o motor elétrico e o computador ''formam os elementos nodais das redes distribuídas fisicamente, ocupando posição-chave na malha de relações técnicas complementares que propiciam efeitos de extemalidades de rede" (trad. pelo autor) [David (1990)]. Uma extemalidade de rede é um tipo especial de externalidade, em que a utilidade de um bem, para um indivíduo, depende do número de outras pessoas que consomem o mesmo bem. Por exemplo, os modems e os telefones apresentam essa propriedade, pois são úteis somente se existe um outro para que possam estabelecer algum processo de comunicação.

Tanto no caso do computador como no do motor elétrico, percebe-se, ao longo da história, uma trajetória de melhorias técnicas incrementais e o surgimento de vários bens complementares, que orbitam em tomo dessas invenções de propósito geral [David (1990)].

As invenções que surgiram a partir do motor elétrico, de fato, promoveram uma revolução industrial, de acordo com a definição colocada anteriormente, ao provocarem um alto crescimento na produtividade, com impactos em todos os setores da economia e ao estimularem profundas mudanças no padrão de vida das pessoas.

Mas o que podemos dizer sobre a "revolução" da Tecnologia da Informação? Ela pode ser comparada às grandes invenções do passado? A "revolução" da informação criou mudanças nas condições de vida, comparáveis às provocadas pela Revolução Industrial?

(39)

do crescimento da produtividade. No entanto, Gordon (2000) levanta dúvidas sobre a validade dessa comparação.

Gordon (2000) enfatiza que o ressurgimento do crescimento da produtividade sugere indicar que os beneficios dos computadores estavam sendo retardados, de forma análoga ao que ocorreu com os beneficios dos motores elétricos na virada no século 20, de acordo com a hipótese de David (1990). Nesse contexto, os proponentes da Nova Economia estavam tratando-a como uma nova revolução industrial, de proporções pelo menos tão grandes quanto o conjunto de invenções, particularmente eletricidade e o motor de combustão interna, que transformaram o mundo na virada do século passado.

Ainda segundo Gordon (2000) , o ressurgimento do crescimento parece estar centrado no setor que engloba as empresas que produzem computadores, incluindo periféricos e equipamentos de telecomunicações, e no resto da indústria de bens duráveis. Entretanto, fora desse setor, os efeitos da Tecnologia da Informação no crescimento da produtividade não se verificou.

Ao analisar os resultados criados a partir das grandes invenções surgidas durante a Revolução Industrial, Gordon conclui que os computadores e a Internet não se comparam às grandes invenções da Revolução Industrial, desse modo não merecem o rótulo de revolução industrial, visto que a Tecnologia da Informação, pelo menos aparentemente, não conseguiu provocar uma aceleração "revolucionária" no crescimento da Average Labor Productivity e da Total Factor Productivity, fora do setor de bens duráveis.

Isso tudo tem provocado um profundo debate, tanto no meio acadêmico quanto nos meios de comunicação, especialmente em tomo do impacto da Tecnologia da Informação no crescimento da produtividade, que pôde ser observado particularmente na economia americana no período 1995-2000.

3.3 Controvérsias Recentes em Torno da Produtividade

(40)

percebeu um crescimento da produtividade agregada nas mesmas proporções até 1995

[Stiroh (2001)].

Essa constatação motivou o surgimento do famoso

Paradoxo da Produtividade,

resumido

por Robert Solow como: "Você pode ver a era do computador em todo lugar, menos nas

estatísticas de produtividade"

(trad pelo autor).

O expressivo investimento em Tecnologia

da Informação não estaria gerando os resultados esperados, pelo menos no que se refere a

uma aceleração no crescimento da produtividade. Essa aparente contradição acabou por

intensificar os trabalhos de pesquisa envolvendo essas questões.

Gordon (2001) apresenta uma interpretação para o período de arrefecimento no crescimento

da economia americana no período 1972-1995, com base no impacto das grandes

invenções desenvolvidas durante a Revolução Industrial.

Apesar de a Revolução Industrial ter se iniciado por volta de 1860, a estrutura da economia

e a sociedade começaram a sentir esse impacto cerca de 40 anos depois, na virada do século

20. Isso deu origem à "era dourada do crescimento econômico", com a revolução na

indústria de manufatura provocada pelo motor elétrico, com o motor de combustão interna

na indústria automobilística e outras invenções com impactos na indústria química, de

petróleo, entretenimento, comunicação e saúde pública, que transformaram o padrão de

vida nos EUA entre 1900 e 1950 [Gordon (2000)].

Além das vantagens originais dos EUA, por exemplo, em termos de economia de escala, as

duas Grandes Guerras ajudaram a atrasar a difusão dessas invenções na Europa e no Japão

até após 1945. A partir daí, começa a ocorrer uma maior aceleração no crescimento da

produtividade, tanto na Europa como no Japão entre 1950 e 1972, que a observada na

economia americana durante esse mesmo período. Assim, "essa interpretação explica o

arrefecimento da produtividade pós-1972 como resultado da inevitável redução dos frutos

gerados pelas grandes invenções"

(trad pelo autor)

[Gordon (2001)].

Uma interpretação neoclássica para essa situação pode ser dada com base no conceito de

convergência Como vimos, se a diferença entre o produto potencial

per capita y*

e o

Imagem

Gráfico 1- Evolução do Crescimento das Receitas

Referências

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