C
OLETIVIDADE EI
NICIATIVASE
MPREENDEDORASL
OCAIS NOD
ESENVOLVIMENTO DE UMM
ERCADOT
RADICIONALM
UNICIPAL1Gu st a v o M e lo Silv a * Jor ge Ale x a n dr e Ba r bosa N e v e s* *
Resumo
N
est e ar t igo, analisam os o m er cado da t ecelagem t radicional do m unicípio de ResendeCost a ( MG) , r esult ado da ar t iculação ent r e ações colet ivas e em pr eendedoras locais. Por m eio da sociologia econôm ica e da econom ia espacial, podem os ident ifi car int er-- r elações ent r e ações pr ivadas e colet ivas. Para análise desse m er cado, foram aplicados 664 quest ionár ios dom iciliar es e 69 com er ciais em um a am ost ra int encional de ent r evist ados que se aut odenom inaram dir et am ent e envolvidos com o m er cado da t ecelagem t radicional. A par t ir dest es, inicialm ent e, obser vou- se, nas últ im as duas décadas, que t al m er cado passou por um a sér ie de t ransfor m ações or ganizadas bur ocrat icam ent e e cont r oladas socialm ent e pelos pr opr iet ár ios dos est abelecim ent os com er ciais. Est e ar t igo pr et ende cont r ibuir com um a análise da sociologia da or ganização econôm ica ent r e laços for t es e iniciat iva em pr eendedora em um t errit ório. O result ado dest a análise indica que o m ercado foi infl uenciado, inicialm ent e, por ações est r ut urant es do Est ado, por um a pr odução disper sa nos dom icílios, pela divisão do t rabalho e pela organização burocrát ica com ercial que cont rola seus serviços produt ivos para at ender, por um lado, as pr essões de consum o e, por out r o lado, a solidar iedade ent r e indivíduos de um t er r it ór io.
Pa la v r a s- ch a v e : Desenvolvim ent o local. Redes sociais. Em pr eendedor es locais. I m er são social
da ação econôm ica. Sociologia das or ganizações.
Collectivity and Local Entrepreneurialism in the Development
of a Traditional Municipal Market
Abstract
T
his paper analyzes t he t radit ional w eaving m ar ket in t he m unicipalit y of Resende Cost a( MG) as a r esult of t he r elat ionship bet w een collect ive act ion and local ent r epr eneur s. Thr ough econom ic sociology and econom y of space, w e can ident ify int er r elat ionships bet w een pr ivat e and collect ive act ions. For t he analysis of t his m ar ket 664 quest ionnair es w er e applied in hom es and 69 in com m er ce t o gain a sam ple of t hose dir ect ly involved w it h t he t radit ional w eaving m ar ket . Fr om t hese w e could see t hat in t he last t w o decades t his m ar ket has under gone a ser ies of or ganized t ransfor m at ions bur eaucrat ically and socially cont r olled by t he ow ner s of com m er cial est ablishm ent s. This ar t icle pr ovides an analysis of t he sociology of econom ic or ganizat ion bet w een st r ong t ies and ent r epr eneur ial init iat ive in a t er r it or y. The r esult of t his analysis indicat es t hat t he m ar ket was infl uenced init ially by st r uct ur ing act ions of t he St at e, by a disper sed pr oduct ion in hom es, by t he division of labor and by a com m er cial bur eaucrat ic or ganizat ion t hat cont r ols it s com m er cial pr oduct ion ser vices t o m eet on t he one hand, t he pr essur es of consum pt ion and on t he ot her hand, solidar it y am ong people in an ar ea.
Ke y w or ds: Local developm ent . Social net w or king. Local ent r epr eneur s. Social Em beddedness
of econom ic act ion. Sociology of or ganizat ions.
1 Os pesquisador es cont ar am com apoio fi nanceir o do Conselho Nacional de Desenvolvim ent o Cient ífi co
e Tecnológico ( CNPq) , por m eio do edit al MCT/ CNPQ 03/ .
*Dout or em Sociologia pela Univer sidade Feder al de Minas Ger ais. Pr ofessor do Depar t am ent o de
Ciências Adm inist r at ivas e Cont ábeis da Univer sidade Feder al de São João del- Rei, São João del- Rei/ MG/ Br asil. Ender eço: Univer sidade Feder al de São João del- Rei, CTan, Pr édio Dir eit o. São João del- Rei/ MG. CEP: 36300- 000. E- m ail: gust avom elosilva@yahoo.com .br
* *Dout or em Sociologia pela Univer sit y of Wisconsin ( Madison/ EUA) . Pr ofessor do Depar t am ent o de
Introdução
N
est e ar t igo, analisou- se o m er cado de pr odução e com er cialização de ut ensíliosdom ést icos e peças decorat ivas t êxt eis do m unicípio de Resende Cost a ( MG) . Desde a década de 1980, a at ividade t ur íst ica r egional incr em ent ou a dem anda para pr odut os her dados da t radição da colonização desse t er r it ór io de Minas Gerais, com o em Tiradent es, com a r et om ada de at ividades pr odut ivas ar t esanais em prat a; e, em Resende Cost a, com a pr odução da t ecelagem t radicional em t ear es m anuais de m adeira ( OLI VEI RA; JANUÁRI O, 2007; VI EI RA FI LHO et al., 2006) .
Essa m esor r egião de Minas Gerais é denom inada de Cam po das Ver t ent es e t em , hoj e, um a sér ie de at ividades econôm icas t ur íst icas que foram possíveis graças ao cont ext o hist órico, às polít icas públicas e do int eresse ao iniciat iva privada, as quais est ão pr esent es, confor m e Oliveira e Január io ( 2007) , no ent or no das cidades de São João del Rei e Tiradent es. Essas duas cidades foram obj et o de invest im ent os públicos a par t ir de pr ogram as de gover no com o, por exem plo, o “ Pr ogram a de I ncent ivo ao Desenvolvim ent o do Pot encial Tur íst ico da Est rada Real” e a for m ação do “ Cir cuit o Tur íst ico Tr ilha dos I nconfi dent es”.
O cenár io socioeconôm ico r egional, a par t ir da década de 1980 do século XX, foi caract er izado pelo pot encial t ur íst ico, pr incipalm ent e o vinculado ao pat r im ônio hist ór ico e cult ural, que est á r elacionado com a exploração do our o no século XVI I I , e t em , at ualm ent e, com o desafi o a sust ent abilidade da at ividade econôm ica na r egião. Ent r et ant o, as ações do Est ado, que possibilit aram e est im ularam em pr eendedor es dessa r egião de Minas Gerais a explorar em , at ualm ent e, as at ividades t ur íst icas, fo-ram im pulsionadas, inicialm ent e, por iniciat ivas est r ut urant es, t ant o r egionais com o locais, que ocor r eram no fi nal da década de 1970 e pr incípio de 1980. Podem os cit ar com o exem plos dessas ações a const r ução da Fer r ovia do Aço, que cor t a a r egião e viabilizou a m igração de população r ural local para a sede dos m unicípios, o asfalt a-m ent o da a-m alha rodoviária que possibilit ou o acesso a duas rodovias nacionais ( BR040 e BR381) , a capt ação, t rat am ent o e dist r ibuição de água pot ável, e a expansão da r ede educacional e dos ser viços dos cor r eios. Essas ações est r ut urant es do Est ado viabilizaram , por um lado, concent ração de t rabalhador es na sede dos m unicípios que ofer eciam infraest r ut ura de ser viços básicos. Ent r et ant o, no fi nal da década de 1980, após o t ér m ino da execução das obras, esses t rabalhador es buscaram out ras opções de ocupação de sua for ça de t rabalho. Por out r o lado, essas ações possibilit aram a m elhor ia do acesso para t ur ist as e para a dist r ibuição da pr odução local ( SANTOS; SI LVA, 1997) .
O t ur ism o r egional cont ou com ações est r ut urant es do Est ado na m esor r egião, sej a para pr om oção dessas at ividades econôm icas ou de m elhor ia da qualidade de vida dos m orador es locais. Por exem plo, no caso do m unicípio de Resende Cost a, a pr odução t êxt il t radicional foi um a at ividade econôm ica que se benefi ciou com o au-m ent o da at ividade t ur íst ica r egional. Ent r et ant o, a pr odução t êxt il doau-m ést ica não foi um a r ealidade econôm ica exclusiva desse t er r it ór io, j á que est a faz par t e da hist ór ia econôm ica m ineira dos séculos XVI I I e XI X. Confor m e Macedo ( 2006) , o fenôm eno da indúst r ia t êxt il do século XI X, na Capit ania de Minas Gerais, fi ca evident e a par t ir de dados das List as Nom inat ivas de 1831- 1832, em que a população ocupada dist ribuía- se em 28,34% no ram o de at ividade de pr odução de fi os e t ecidos, e 9,44% na pr odução de peças do vest uár io. Resende ( 2001) , ut ilizando a List a Nom inat iva de 1831, apon-t a que o Disapon-t r iapon-t o da Lage, aapon-t ual m unicípio de Resende Cosapon-t a ( MG) , r egisapon-t rava 1.243 habit ant es – 665 hom ens e 578 m ulher es – em que 30,33% dos habit ant es e dest es 66,22% das m ulher es ocupavam post os de t rabalho na pr odução dom ést ica t êxt il.
do m unicípio de Resende Cost a, a exist ência de 811 t rabalhador es infor m ais e 495 t ear es de m adeira, que pr oduziam 20 t ipos de pr odut os com er cializados por 37 est a-belecim ent os com er ciais. Confor m e dados da Pr efeit ura Municipal de Resende Cost a, no ano de 1985, exist ia um est abelecim ent o com er cial de ar t esanat o, e, em 1995, a r elação de cont r ibuint es que exer ciam a at ividade de ar t esão chegou a 25 est abele-cim ent os ( SANTOS; SI LVA, 1997) .
Esses est udos apr esent am evidências de que o m er cado da t ecelagem t radi-cional de Resende Cost a ( MG) , nos séculos XVI I I e XI X, era, basicam ent e, de pr o-dução dom ést ica, sendo que, no fi nal do século XX, com o aum ent o na escala de t al pr odução, est a passa a ser com er cializada em est abelecim ent os específi cos de ar t igos da t ecelagem t radicional. Nest e ar t igo, esse fenôm eno socioeconôm ico m u-nicipal foi est udado a par t ir da análise da congr uência de int er esses individuais e do capit al social. Nesse t er r it ór io m unicipal, em pr eendedor es locais vislum braram um a opor t unidade gerada pela int egração da singular idade t radicional de seus m orador es, com ações de infraest r ut ura do Est ado e m acr oeconôm icas. A quest ão pr oblem a que nor t eou est e t rabalho foi: com o ações colet ivas e iniciat ivas em pr eendedor as, nesse
t er r it ór io m unicipal, auxiliar am na est r ut ur ação e or ganização econôm ica do m er cado da t ecelagem t r adicional?
Est e ar t igo buscou cont r ibuir com um a análise da sociologia da or ganização econôm ica, ent r e laços for t es e iniciat iva em pr eendedora, no m er cado da t ecelagem t radicional de Resende Cost a ( MG) . O est udo de caso indicou que a associação dos int er esses pr ivados de em pr eendedor es com o capit al social das fam ílias foi fat or socioeconôm ico det er m inant e na const r ução desse m er cado. O t rabalho apr esent a, inicialm ent e, o r efer encial t eór ico sobr e econom ia espacial e sociologia econôm ica e das or ganizações, post er ior m ent e foram descr it os os pr ocedim ent os m et odológicos. Em seguida, o m er cado da t ecelagem t radicional foi descr it o e analisado a par t ir de dados colet ados em 2009. Na últ im a seção, são apr esent adas as considerações fi nais e pont uadas possibilidades de est udos fut ur os que podem apont ar possíveis cont inui-dades para análise de m er cados locais.
Mercado de Produção Territorializado:
expansão da divisão do trabalho, redes
sociais e organização econômica
A divisão do t rabalho social, com o est rut ura de sust ent ação e font e de soli-dariedade de m ercados, nest a seção, foi explorada com o um a cat egoria analít ica da organização indust rial, sej a por set ores econôm icos ou em cadeias de produção, que est ej a localizada em um a cidade, região ou nação, ou sej a, em m ercados produt ivos t errit orializados. Conform e Cont i ( 2005) , a com preensão do desenvolvim ent o e da m odernização econôm ica pode ser realizada a part ir de análises das caract eríst icas dos sist em as de produção t errit orializados, por um lado, no m unicípio, com o esfera aut ônom a da organização polít ico- adm inist rat iva do país. Por out ro lado, podem ser com preendi-dos com o consciência associat iva de part icipação da vida polít ica da com unidade local, port ant o, o capit al social, ou sej a, o est oque de valores e com port am ent os colet ivos, expressos por dada com unidade, é considerado com o ingredient e fundam ent al para seu desenvolvim ent o e m odernização. A im ersão t errit orial dos at ores pode fom ent ar a com pet it ividade no sist em a local, com a im plant ação de hábit os, convenções e nor-m as de conor-m port anor-m ent o, que são est inor-m ulados por nor-m eio da proxinor-m idade geográfi ca, que t ranscendem as t radicionais relações client e- fornecedor e proporcionam a form ação de redes form ais e inform ais de colaboração e int eração. Essas redes se form am por m eio de m ercados locais de t rabalho, convenções e regras form uladas para o desenvolvim ent o de relações e conhecim ent o em presarial ( CONTI , 2005) .
cont ínua de inovação, que leva países e localidades, ou sej a, t er r it ór ios, à cr iação de or ganizações locais para sua pr om oção, com o os par ques e incubadoras t ecnológicos. Para Lem os ( 2006) , a r elação ent r e econom ia e geografi a só adquir iu r elevância na t eor ia econôm ica num per íodo r elat ivam ent e r ecent e. Essa r ealidade é obser vada por m eio de sist em as de pr odução t er r it or ializados que t êm nas econom ias ext er nas locais, confor m e Suzigan et al. ( 2005) , o cer ne da discussão de clust er s, por que são elas que det er m inam a pr ópr ia exist ência da aglom eração ao pr opor cionar em cust os r eduzidos para fi r m as aglom eradas.
Para a econom ia, o t er r it ór io é encarado, essencialm ent e, com o agr egado de at or es que, em dadas cir cunst âncias, podem com por t ar- se com o at or colet ivo. Nesse sent ido, o t er r it ór io nunca cr ia r edes dir et am ent e, m as favor ece a const it uição de r elações ent r e at or es socialm ent e pr óxim os. Ao m esm o t em po, as r edes de r elações locais int eragem com out r os níveis t er r it or iais, por m eio da int eração de at or es que pert encem , sim ult aneam ent e, a um a rede local e um a supralocal. Os t errit órios ligam -- se à econom ia global por pr om over em a pr ópr ia especialização, por t ant o, per m it em a difusão de est rat égias e escolhas dest inadas a pr om over e for t alecer os sist em as ou agr upam ent os pr esent es com a geração de valor econôm ico. No ent ant o, nos t er-r it óer-r ios, o desafi o é de nat uer-r eza oer-r ganizacional, que envolve a cooer-r denação de at oer-r es e de seus pr incípios de ação e com unicação ( CONTI , 2005) .
Segundo Mar kusen ( 2005) , o est udo de r egiões econôm icas t ent a const r uir t eor ias que t êm com o t em a cent ral a causalidade do desem penho da econom ia r e-gional. Ent r et ant o, por um lado, nessas t eor ias, o com por t am ent o m icr oeconôm ico da em pr esa e da or ganização indust r ial não é explorado com o um t em a cent ral. Por out r o lado, t rabalhos com o os de Ger effi ( 1994) , Ger effi et al. ( 1994) , Pior e e Sabel ( 1984) e Raynolds ( 1994) dão cont inuidade à análise sociológica do fenôm eno eco-nôm ico da divisão do t rabalho e sua consequent e or ganização em r edes pr odut ivas t er r it or ializadas. Esse pr ocesso, t am bém , é decor r ent e de um a r ealidade de pr odução em m assa e de fl exibilização pr odut iva de pequenas or ganizações int egradas em r e-des que dependem de cooperação, bem com o de com pet ição ( PI ORE; SABEL, 1984; RAYNOLDS, 1994) . Confor m e Ger effi et al. ( 1994) , a r ede de pr odução or ganizacional per m it e, m ais adequadam ent e, a for m ulação de ligam ent os, cor r elações de pr ocessos ent r e m icr o e m acr oest r ut uras sociais dent r o de unidades de análises de cont ext os globais, nacionais e locais.
Est a organização int erprodut iva, enquant o um a rede social, const it ui um t em a de r elevância sociológica por buscar com pr eender o fat o social não a par t ir da liber dade individual, m as da ação colet iva que se coloca às vont ades individuais ( MARTI NS, 2004) ; ação colet iva im er sa na ação dos indivíduos e que garant e, t am bém , a sua exist ência. Para t ant o, devem exist ir cuidados m et odológicos na abor dagem das r edes sociais de unidades pr odut ivas, para que est as não sej am ut ilizadas em escalas geogr áfi cas únicas, com o as cadeias globais, e sej am abandonadas r ealidades de int er esse de análise, a exem plo de r edes r egionais, nacionais e locais. Est as podem r epr esent ar a im er são de var iáveis im por t ant es que não t êm ênfase em um a r ede social que leve em consideração, na sua const it uição, som ent e a at ividade econôm ica global, m as, sim , a singular idade hist ór ica da população dos t er r it ór ios ( DI CKEN et al., 2001) .
especiais, a população oper ár ia se inst ala e a const r ução de m áquinas se concent ra, enquant o as com unicações e a or ganização do cr édit o se acom odam às cir cunst âncias par t icular es. Por t ant o, a aglom eração é um a possibilidade concr et a para o desenvol-vim ent o em pr esar ial a par t ir de est r ut uras or ganizacionais baseadas na associação, com plem ent ar iedade, com par t ilham ent o, t r oca e aj uda m út ua. As aglom erações t êm com o r efer ência as r edes, que t am bém com põem a est r ut ura social de m er cados e r e-forçam a discussão durkheim iniana de que a com pet ição t am bém gera a solidariedade. As r edes r efor çam , confor m e Olave e Am at o Net o ( 2001) , o conceit o de colaboração m út ua, a fi m de que as em pr esas individualm ent e possam sobr eviver e se m ant er com pet it ivas no m er cado int er nacional.
As análises at uais de r edes pr ior izam um a análise t écnico- econôm ica em de-t r im ende-t o de um a análise das r elações sociais em ade-t ividades econôm icas que, ande-t es de ser em da esfera da econom ia, per t encem à vida social. Para Dur kheim ( 1999) , o m er cado am plia- se com a exist ência de m ais necessidades a sat isfazer e que um novo aum ent o da população e da densidade indust r ial cr ia as bases para um a nova dinâm i-ca da concor r ência, sendo necessár io exist ir, em algum lugar, ou um a elim inação ou um a nova difer enciação. O aum ent o das necessidades do m er cado a ser em sat isfeit as pr opicia e fom ent a a divisão do t rabalho social que, consequent em ent e, t em com o r esult ado a m ult iplicação das or ganizações indust r iais e com er ciais em t er r it ór ios pr odut ivos. Para que as unidades sociais possam difer enciar- se, é necessár io ant es de qualquer coisa que sej am at raídas ou agr upadas em vir t udes das sem elhanças que apr esent am . A vida colet iva não nasceu da vida individual, m as, ao cont r ár io, foi a segunda que nasceu da pr im eira. É apenas sobr e essa condição que se deve explicar com o a individualidade pessoal das unidades sociais pôde for m ar- se e cr escer sem desagr egar a sociedade. Para que a divisão do t rabalho possa nascer e cr escer, não bast a que exist am nos indivíduos ger m es de apt idões especiais, nem que eles sej am est im ulados a var iar no sent ido dessas apt idões, m as é necessár io, além disso, que as var iações individuais sej am possíveis ( DURKHEI M, 1999) . Por t ant o, a análise do fenôm eno econôm ico das r edes int er or ganizacionais de pr odução podem ser com pr e-endidos a par t ir da im er são t er r it or ial dos at or es sociais.
Nest e sen t ido, o foco de an álise da r ede par a est e ar t igo é baseado em Sm elser e Swedberg ( 1994) , port ant o, considera o processo econôm ico, suas conexões e int erações ent re econom ia e sociedade. O m ercado é analisado com o est rut ura social e não sim plesm ent e com o pr ocesso racional inst r um ent al de defi nição de pr eços ou com o lugar físico de r elações de t r oca, em que a com pet ição e as infor m ações são per feit as e defi nidas em t er m os de dem anda e supr im ent o. O m er cado para a socio-logia econôm ica, por t ant o, consist e em r elações sociais ent r e indivíduos que podem aum ent ar e r eduzir, dependendo das cir cunst âncias ( SWEDBERG, 1994) .
Para a nova sociologia econôm ica, os int er esses econôm icos de m er cado est ão im er sos em r edes pessoais e gr upos sociais. O m er cado não se const it ui de fi r m as isoladas, com o nos m odelos de concor r ência per feit a da ciência econôm ica, m as de aglom erados de fi rm as que form am um a est rut ura social ( SWEDBERG, 1994) . Confor-m e Granovet t er ( 1994) , uConfor-m pont o iConfor-m por t ant e que dist ingue os gr upos econôConfor-m icos de sim ples aglom erados fi nanceir os, com o os conglom erados, é a exist ência de solidar ie-dade social e de um a est r ut ura social ent r e as fi r m as que o com põem . Solidar ieie-dade essa que est á im er sa em laços ou vínculos sociais, com o os fam iliar es, de am izade ou ét nicos. As r edes sociais se j ust ifi cam econom icam ent e por facilit ar a cir culação de infor m ações e assegurar confi ança ao lim it ar os com por t am ent os opor t unist as ( GRANOVETTER, 2002) . At é est e pont o, o r efer encial nos per m it e at ent ar para a sociologia das est r ut uras socioeconôm icas. E nesse sent ido, por t ant o, a r ede social é um conceit o que com plem ent a a discussão de Dur kheim ( 1999) , especifi cam ent e da est r ut ura das sociedades indust r iais, defi nindo um a t ipologia para as r elações so-ciais. Um dos aspect os im por t ant es que a per spect iva de r ede r et om a na discussão da sociologia econôm ica de Dur kheim ( 1999) é o papel da confi ança ent r e os at or es, pr incipalm ent e com o for m a social obj et iva de r egulação das par t es.
laços for t es e fracos, com foco na for m ação e desenvolvim ent o de r edes sociais, obser vando- se nest as as infl uências t ant o individuais quant o colet ivas para a cons-t r ução social dos m er cados.
Ent ret ant o, para com preenderm os o cot idiano dos m ercados, t em os que ent ender sua or ganização econôm ica. Para t ant o, podem os r ecor r er à sociologia das or ganiza-ções, que nos apr esent a, de for m a sint ét ica, cat egor ias analít icas com plem ent ar es para com pr eensão das or ganizações em m er cados com o const r uções sociais. As r edes t er r it or iais pr odut ivas com post as por laços sociais for t es e fracos podem ser conside-radas com o or ganizações bur ocr át icas com ut ilidade econôm ica.
Confor m e Paixão ( 1997) , as or ganizações for m ais são inst r um ent os de im -plem ent ações de papéis e cum pr em m issões. A or ganização social enquant o for m a bur ocr át ica t em seu funcionam ent o ideal caract er izado, confor m e Weber ( 2002) , por ações racionais de for m alização, pr ofi ssionalização, est abelecim ent os de r ot inas, im pessoalidade e de divisão ent r e t rabalho dir igent e e dir igido. Para a per spect iva w eber iana, a bur ocracia é igual à or ganização, ou sej a, é um sist em a em que a di-visão do t rabalho se dá racionalm ent e, visando det er m inados fi ns; por t ant o, nessa per spect iva, a ação bur ocr át ica é a coer ência de m eios e fi ns visados.
Confor m e Mer t on ( 1967) , um a est r ut ura social for m al e racionalm ent e or ga-nizada t em com o seu t ipo ideal a bur ocracia. Est a ut iliza- se da adm inist ração para o cont r ole das r elações dos indivíduos com os inst r um ent os de pr odução; por t ant o, acar r et a o apr ofundam ent o da separação ent r e indivíduos e seus inst r um ent os de pr odução ( MERTON, 1967) . A ação bur ocr át ica pode causar, confor m e Mer t on ( 1967) , disfunções bur ocr át icas, j á que as ações passadas que obt iveram bons r esult ados na esfera da efi ciência econôm ica podem r edundar em r eações inapr opr iadas para novas r ealidades or ganizacionais. Esse fat o pode, confor m e esse aut or, advir da obediência às r egras que or iginalm ent e foram concebidas com o m eio e t ransfor m am - se em fi m . Port ant o, os m esm os elem ent os que favoreceram a efi ciência em det erm inado m om ent o pr oduzem inefi ciência em casos específi cos, por exem plo, por m eio de confl it os ent r e as par t es, pelo não at endim ent o de necessidades físicas e sociais do gr upo ou, at é m esm o, pela ar r ogância e insolência do bur ocrat a que despr eza as r elações hum anas. A causa dessa r ealidade, m uit as vezes, est á no fat o da bur ocracia ser um a est r ut ura secundár ia da or ganização social, que t em com o obj et ivo o int er esse de alguns indi-víduos e não de t odo o gr upo no am bient e social em que essa r ealidade est á im er sa. Confor m e Thom pson ( 1976) , a racionalidade t écnica da or ganização, especifi -cam ent e com fi ns em pr esar iais, pode ser avaliada por dois cr it ér ios: inst r um ent al e econôm ico. O prim eiro analisa se as ações produzem os result ados desej ados; port an-t o, a an-t ecnologia insan-t r um enan-t al per feian-t a é aquela que viabiliza os r esulan-t ados. O cr ian-t ér io econôm ico analisa a efi ciência dos r esult ados, ou sej a, se est es foram obt idos com a m ínim a despesa de r ecur sos necessár ios. A racionalidade em pr esar ial é um conj unt o de at ividades que pode ser subdividido em at ividades de ent rada, t ecnológicas e de saída. As at ividades de ent rada est ão r elacionadas aos insum os necessár ios ao pr o-cesso de pr odução. As at ividades t ecnológicas podem ser com pr eendidas com o os pr ocessos pr odut ivos, e as at ividades de saída, com os bens e ser viços ofer ecidos ao m ercado. Em qualquer subconj unt o de at ividades da organização em presarial ocorrem adapt ações e m odifi cações que com põem sua dinâm ica or ganizacional t écnica, ou sej a, est r it am ent e para se t er r esult ados posit ivos inst r um ent ais e econôm icos. Essas adapt ações e m odifi cações t êm com o obj et ivo pr incipal viabilizar ganhos com pet it i-vos que, para ser em execut ados, dem andam , confor m e Thom pson ( 1976) , coalizões dom inant es ent r e seus par t icipant es.
or ganização possibilidades de pr edição e que r esult am em cont r ole e poder, os quais podem ser caract er izados com o poder hier ár quico funcional ou de per it o. O poder hierárquico funcional est á na posição hierárquica superior da est rut ura organizacional, que é pr opor cionada pela pr opr iedade dos m eios de pr odução e pelas infor m ações est rat égicas do m er cado. O poder de per it o, por sua vez, decor r e do pr ocesso de di-visão do t rabalho, em que o coor denador passa a ser o conhecedor de t oda a t écnica de pr odução ( CROZI ER, 1981) .
As ações em pr ol da im pessoalidade e das disfunções bur ocr át icas est ão r e-lacionadas ao cont ext o social, j á que a ação or ganizacional est á r elacionada com o am bient e social. A com pr eensão da r ealidade das t ransfor m ações or ganizacionais pode ser feit a a par t ir da ident ifi cação das r elações ent r e a sociedade e os fenôm enos econôm icos que se m at er ializaram no dia a dia, nos pr ocedim ent os das or ganizações, por m eio das ações de seus t om ador es de decisão que expr essam com por t am ent os que são infl uenciados por indivíduos e colet ividades. A análise da est r ut ura social de or ganizações e m er cados pode nos auxiliar a com pr eender, obj et ivam ent e, a vida social e pode apr esent ar r ealidades de r elações ent r e at or es de diver sas esferas da vida cot idiana.
Percurso Metodológico
Est e est u do t ev e com o car act er íst ica m et odológica fu n dam en t al pesqu isa descr it ivo- analít ica ( SELLTI Z et al., 1975) , por descr ever e analisar o caso do m er ca-do da t ecelagem t radicional com o const r ução social, a par t ir de suas caract er íst icas específi cas, im er sas no m unicípio de Resende Cost a ( MG) . Esse t ipo de pesquisa t em com o obj et ivo pr im or dial a descr ição de caract er íst icas de det er m inada população ou fenôm eno ou, ent ão, o est abelecim ent o de r elações ent r e var iáveis. Um a de suas caract er íst icas m ais signifi cat ivas est á na ut ilização de t écnicas padr onizadas de da-dos, com o o quest ionár io e a obser vação sist em át ica ( GI L, 2006; VERGARA, 2007) . A est rat égia ut ilizada para colet a de dados foi associar pesquisa bibliogr áfi ca e docum ent al com pesquisa quant it at iva. A pesquisa pode ser caract er izada, confor m e Gil ( 2006) , com o bibliogr áfi ca, j á que para ser desenvolvida foi ut ilizada análise de m at er ial j á elaborado, const it uído, pr incipalm ent e, por dados de pesquisas sobr e a t ecelagem local, o m unicípio e a m icr or r egião do est ado de Minas Gerais. A pesquisa docum ent al assem elha- se, segundo Gil ( 2006) , à bibliogr áfi ca, ent r et ant o, enquant o nest a a font e pr incipal de análise são livr os e m at er iais im pr essos, na pesquisa cum ent al, as font es são m uit o m ais diver sifi cadas e disper sas, podendo ser de do-cum ent os que, de algum a for m a, j á foram analisados, com o r elat ór ios de pesquisa, r elat ór ios de em pr esas, t abelas est at íst icas, at as de associações et c.
Os dados pr im ár ios da pesquisa foram quant it at ivos e colet ados a par t ir de um
sur vey, que é inst r um ent o adequado, confor m e Babbie ( 1999) , para a obser vação
sist em át ica de possíveis r egular idades sociais. Com o a pesquisa se dest inou som ent e à população r elacionada com o m er cado da t ecelagem , est a pode ser caract er izada com o população- obj et o da pesquisa, conform e recom enda Cost a Net o ( 1999) . A am os-t ragem dessa população- obj eos-t o foi não pr obabilísos-t ica e inos-t encional ( BABBI E, 1999; COSTA NETO, 1999) , por ent r evist ar indivíduos em dom icílios e em est abelecim ent os com er cias r elacionados dir et am ent e com algum a at ividade do pr ocesso pr odut ivo ou com er cial da t ecelagem t radicional do m unicípio.
ent r evist as r ealizadas, pela coor denação da pesquisa no ano de 2009. A t abulação consist iu na t ranscr ição das var iáveis cont idas no quest ionár io para colunas de um a planilha do soft w ar e Micr osoft Excel ver são Offi ce- 2003. Algum as var iáveis da plani-lha do soft w ar e foram r eor ganizadas em out ras planiplani-lhas do m esm o soft w ar e para a r ealização de est im at ivas que m ost ram a grandeza m onet ár ia, volum e da pr odução de peças e com er cialização dos pr odut os locais da t ecelagem t radicional.
Mercado da Tecelagem Tradicional de Resende
Costa: contribuições da coletividade familiar e
da iniciativa empreendedora comercial
O t errit ório econôm ico, nest e caso, delim it ado pela sede do m unicípio de Resende Cost a, foi defi nido, por um lado, com o um a esfera aut ônom a da or ganização polít ico-- adm inist rat iva do país e, por out r o lado, com o consciência associat iva de par t icipaico-- icipa-ção, por t ant o, de acor do com Cont i ( 2005) , do capit al social da com unidade local. No m er cado da t ecelagem t radicional desse m unicípio, nos int er essou as consequências do capit al social na ação colet iva, a par t ir de hábit os, convenções e nor m as de com -port am ent o que, com o verem os, propiciou a form ação de redes form ais e inform ais de colaboração e int eração. Os pont os com uns exist ent es ent r e int er esses pr ópr ios, que t êm com o consequência um a at uação coor denada para alcançá- los, foram ident ifi ca-dos em dom icílios pr odut or es e est abelecim ent os com er ciais da t ecelagem t radicional local. O univer so de pesquisa t rat ado nest e t rabalho, confor m e dados da Pr efeit ura Municipal de Resende Cost a ( 2009a; 2009b) , por m eio do Set or de Cadast r os, se r efer e ao per ím et r o ur bano do m unicípio que, em j ulho de 2009, cont abilizava 3.178 im óveis edifi cados e 95 loj as de ar t igos de ar t esanat o.
O m er cado da t ecelagem t radicional de Resende Cost a foi caract er izado por m eio de dados que r epr esent am um a am ost ra int encional de 664 dom icílios e 69 es-t abelecim enes-t os com er ciais. Essa é um a am oses-t ra de um univer so de 2.655 dom icílios visit ados no perím et ro urbano da sede do m unicípio, dos quais 796 foram aut odefi nidos pelos ent r evist ados com o um dom icílio em que exist ia algum a at ividade pr odut iva da t ecelagem t radicional. Dest es, 109 m orador es não r esponderam ao quest ionár io, e out ros 23 quest ionários foram excluídos da am ost ra. Tam bém , foram visit ados 76 est a-belecim ent os com er ciais for m ais de insum os e de pr odut os da t ecelagem do m unicípio e que t inham funcionam ent o diár io para at endim ent o a consum idor es, dos quais 69 propriet ários responderam ao quest ionário. Nest a realidade, t em os dados que indicam um t er r it ór io especializado em um a t ecelagem t radicional, cuj o enraizam ent o em sua ocupação ocor r eu em m eados do século XVI I I . As discussões e r efl exões de Dur kheim ( 1999) sobre a divisão do t rabalho social, em que diferent es cidades t endem , cada vez m ais, a cer t as especialidades, ser viram para afi r m ar m os que, no fi nal do século XX e pr incípio do século XXI , for m ou- se um a cidade especializada na t ecelagem t radicional local, obj et o dest e est udo Ent r et ant o, com o ver em os, a or ganização for m al, fazendo uso de Paixão ( 1997) , dest a t ecelagem t radicional, inicialm ent e, t inha com o papel cum pr ir a m issão de pr oduzir o vest uár io dos m orador es de det er m inados dom icílios coloniais no século XVI I I . Já at ualm ent e, no início do século XXI , est á or ganizada so-cialm ent e enquant o um a for m a bur ocr át ica, nos m oldes pr opost os por Weber ( 2002) .
Caracterização do processo produtivo e da organização do mercado
e t ransfor m avam - os em vár ios pr odut os da t ecelagem t radicional, com equipam ent os específi cos do pr ocesso pr odut ivo. Os equipam ent os m ais fr equent es nos dom icílios eram t esouras e t ear es ( 69,4% ) , t esouras ( 24,7% ) e t ear es ( 4,8% ) . Foi infor m ado por 483 ent r evist ados a exist ência de 848 t ear es, com a incidência por dom icílio de, no m ínim o, um e, no m áxim o, 17 t ear es; 610 ent r evist ados r elat aram a exist ência de 1.396 t esouras, com a incidência por dom icílio de, no m ínim o, um e, no m áxim o, 15 t esouras. A pr opr iedade dos t ear es infor m ada pelos 483 ent r evist ados que r espon-deram a essa quest ão foi de 80,84% dos m orador es, por t ant o 19,15% dos t ear es não eram de pr opr iedade dos m orador es. Os 102 ent r evist ados que r esponderam sobr e os t ear es de t er ceir os infor m aram que 72,55% eram de pr opr iedade do com prador da pr odução e que 27,45% eram de pr opr iedade de fam iliar es.
O acesso dos dom icílios produt ores aos insum os ( 58,56% ) e aos t eares ( 19,15% ) por m eio do pr opr iet ár io dos est abelecim ent os com er ciais pode indicar um a ação racional em pr esar ial na or ganização do m er cado local. Por um lado, t al r ealidade de or ganização bur ocr át ica do pr ocesso pr odut ivo indica um a racionalidade t écnica, de acor do com Thom pson ( 1976) , que pode est ar pr esent e nessa ação que t em com o r esult ado desej ado o at endim ent o do volum e da dem anda, por par t e dos com er cian-t es, que coor denam a divisão de acian-t ividades de encian-t rada, cian-t ecnológicas e de saída do processo produt ivo. Os com erciant es podem ut ilizar dessa burocracia para exercer seu poder no pr ocesso pr odut ivo, a par t ir da m anipulação ou r egulam ent ação de acesso a infor m ações est rat égicas do pr ocesso, o que garant e a est es o poder hier ár quico funcional e de per it o, confor m e indicado por Cr ozier ( 1981)
Nesse m ercado, a produção dom iciliar m ais frequent e era a prest ação de serviços pr odut ivos, sej a de t ecer ou pr eparar m at er ial para os est abelecim ent os com er ciais da t ecelagem t radicional do m unicípio. Em 58,56% dos dom icílios, os ent r evist ados afi r m aram que os est abelecim ent os com er ciais t am bém for neciam insum os e alguns com er ciant es locais eram pr opr iet ár ios dos equipam ent os, ou sej a, dos t ear es. Esses est abelecim ent os com er ciais são o elo ent r e a pr odução dom iciliar e o consum o fi nal da t ecelagem t radicional; um a or ganização econôm ica que é, de acor do com Paixão ( 1997) , um inst r um ent o t ecnicam ent e or denado de consecução de fi ns inst r um ent ais, coor denados pelos pr opr iet ár ios dos est abelecim ent os com er ciais.
Cost a ( MG) . Por t ant o, as iniciat ivas em pr eendedoras dos pr opr iet ár ios dos est abele-cim ent os com er ciais, no início do século XXI , consolidaram a or ganização bur ocr át ica da pr odução local e incluíram pr odut os im por t ados de out ras localidades pr odut oras para com posição dos por t fólios de seus est abelecim ent os.
As peças da t ecelagem t radicional do m unicípio que com punham o port fólio de produt os dos est abelecim ent os com erciais eram produzidas, conform e os propriet ários, nos seguint es locais: 40,6% nos dom icílios dos fornecedores, 16% nos dom icílios dos fornecedores e em galpão do propriet ário do est abelecim ent o, 7,2% no dom icílio do propriet ário do est abelecim ent o, 5,8% nos dom icílios dos fornecedores e no do proprie-t ário do esproprie-t abelecim enproprie-t o, 2,9% em galpão do proprieproprie-t ário do esproprie-t abelecim enproprie-t o, 2,9% no próprio est abelecim ent o com ercial e 24,6% dos propriet ários não responderam sobre o local de produção. O galpão não era o único t ipo de at ivo fi xo que os propriet ários t inham invest ido nesse m ercado, post o que, dos 69 propriet ários ent revist ados, 42 afi rm aram possuir t eares e, dest es, 38 relat aram que possuíam um t ot al de 230 t eares, t endo cada propriet ário, no m ínim o, um , no m áxim o, 23 e, em m édia, seis t eares. Os propriet ários dos est abelecim ent os com erciais que afi rm aram possuir t eares ( 42 ent revist ados) infor-m arainfor-m , t ainfor-m béinfor-m , que 33% desses equipainfor-m ent os est avainfor-m nos doinfor-m icílios dos fornece-dores, 26,1% nos seus próprios dom icílios, 19,5% nos dom icílios dos fornecedores e em galpão de sua propriedade, 14,3% em galpão de sua propriedade e 7,1% nos dom icílios dos fornecedores e no est abelecim ent o com ercial. Port ant o, esses dados confi rm am , t am bém , a indicação da exist ência da racionalidade t écnica, conform e Thom pson ( 1976) e das confi gurações de poder, segundo Crozier ( 1981) .
Elos organizacionais: domicílio produtor e estabelecimento
comercial
Os elos or ganizacionais do m er cado da t ecelagem t radicional são o dom icílio pr odut or e o est abelecim ent o com er cial. Com o descr it o em seção ant er ior, os dom icí-lios, obj et o de análise dest a pesquisa, exer cem a função pr odut iva ofer t ando pr odut os e ser viços para o m er cado local de est abelecim ent os com er ciais especializados em pr odut os da t ecelagem t radicional local.
O dom icílio pr odut or foi ident ifi cado a par t ir da aut odefi nição do ent r evist ado com o execut or de algum a at ividade pr odut iva da t ecelagem t radicional. Est e elo era um a at ividade econôm ica dividida e especializada em pr odut or es de peças ( 64,6% ) , for necedor es de novelos ( 20,6% ) , for necedor de novelos e pr odut or de peças ( 6% ) , com er ciant e e pr odut or de peças ( 4,3% ) , for necedor de novelos de fi o ( 1,4% ) , aca-bam ent o de peças ( 0,3% ) e out r os ( 2,8% ) . A m aior ia dos ent r evist ados ( 36,7% ) est ava no m er cado de pr odução há m enos de cinco anos. Os dados indicam , por m eio do aum ent o gradat ivo ent r e cinco e 20 anos, que o m er cado da t ecelagem t radicional expandiu suas at ividades nos últ im os 10 anos. Os 664 ent r evist ados nos dom icílios pr odut or es t inham 83 fam ílias de or igem pat er na, sendo que as 10 m ais fr equent es cor r espondiam a 65,2% dos ent r evist ados e as duas m ais fr equent es cor r espondiam a 34.8% dos ent r evist ados. A fam ília foi, para 16,9% , a pr incipal m ot ivação para in-gresso na at ividade e, para 61,9 dos ent revist ados, o m eio de socialização no t rabalho.
A at ividade produt iva e econôm ica dom iciliar da t ecelagem t radicional est á im ersa em r elações sociais, por m eio da ação colet iva que em er ge de laços for t es ent r e os at or es, confor m e pr opost o por Granovet t er ( 2002) , os quais se concent ram em 10 fam ílias m ais fr equent es, possibilit ando a cir culação de infor m ação e de capacit ação dos t rabalhador es nas t écnicas da t ecelagem t radicional. Vale r essalt ar que 34,8% dos dom icílios t iveram com o or igem , de acor do com Pint o ( 1992) , duas fam ílias que ocupam est e t er r it ór io desde seu povoam ent o, t em po em que a pr odução não era or ganizada econom icam ent e para pr opor cionar ganhos m onet ár ios, decor r ent es da coor denação de at ividades ou, at é m esm o, da r em uneração pela execução de ser viços pr odut ivos descr it o na seção ant er ior.
2009, pr est ador es de ser viços. Os que com er cializavam o ser viço de t ecer r epr esen-t avam 42,1% dos enesen-t r evisesen-t ados; o ser viço de picar r eesen-t alho r epr esenesen-t ava 6,9% ; e o de enr olar o novelo de r et alho, 4,6% . Para os ent r evist ados, as funções dos dom icílios pr odut or es m ais r epr esent at ivas foram , para 28,9% , pr oduzir e vender peças da t e-celagem ; para 5,8% , com er cializar novelos de r et alho e; para 4,4% , vender r et alho picado. As peças m ais pr oduzidas eram o t apet inho, t apet e, j ogo am er icano e guar-danapos. Cham a at enção, confor m e os dados, a pr odução unit ár ia m ensal, em 2009, de 131.088 t apet inhos, o que, com parada com a que foi r egist rada por Sant os et al. ( 1998) , em 1996, indica que a pr odução dest a peça aum ent ou apr oxim adam ent e 240% no per íodo analisado.
O elo or ganizacional com er cial do m er cado da t ecelagem t radicional passou, nos últ im os 20 anos, por um a expansão consider ável. Ent r e os anos de 1988 e 1998, foram aber t as e ainda est avam em funcionam ent o ( at é j ulho de 2009) 29 loj as de ar t igos de ar t esanat o. Ent r e os anos de 1999 e 2009, foram aber t as, e ainda est ão em funcionam ent o, 63 loj as de ar t igos de ar t esanat o. A pr im eira década da or ganização com ercial da produção local represent ava 31,5% das organizações com erciais de 2009, e a segunda década, 68,5% das or ganizações do início do século XXI . Ent r et ant o, a m aior expansão do com ér cio local ocor r eu ent r e 2004 e 2009, sendo que 54,35% das loj as de ar t igos de ar t esanat o t iveram sua aber t ura nest e int er valo t em poral.
A função dos 69 est abelecim ent os com erciais que t iveram os propriet ários ent re-vist ados não se r est r ingia ao escoam ent o da pr odução. Para 69,6% dos pr opr iet ár ios, sua função era pr oduzir e com er cializar as peças; para 15,9% , apenas com er cializar as peças; e para 11,6% , for necer insum os, pr oduzir e com er cializar as peças. A ino-vação em pr eendedora de or ganizar com er cialm ent e a pr odução local, t am bém , fez uso do capit al social das fam ílias no pr ocesso de inst it ucionalização do m er cado local. Os 69 ent r evist ados nos est abelecim ent os com er ciais t inham 28 fam ílias de or igem pat er na, sendo que as 10 m ais fr equent es cor r espondiam a 72,4% dos ent r evist ados, e a m ais fr equent e cor r espondia a 31.9% dos ent r evist ados. A fam ília foi o m eio de socialização na r ot ina com er cial para 58% dos ent r evist ados. A or ganização com er-ciant e t em com o papel cum pr ir a m issão de int egrar a pr odução diluída nos dom icílios pr odut or es com os consum idor es, ent r et ant o, não deixa de est ar im er sa em r elações t radicionais fam iliar es.
Nos est abelecim ent os com er ciais, foram encont rados 191 t rabalhador es que eram , em sua m aioria, da própria fam ília do propriet ário. As ocupações m ais frequent es est avam r elacionadas com a at ividade pr incipal do est abelecim ent o, ou sej a, r ealizar a com er cialização e a or ganização bur ocr át ica da pr odução. Dest es, 39,1% eram vendedor es e 37,6% , pr opr iet ár ios. A or igem dos t rabalhador es dos est abelecim ent os com er ciais est ava na fam ília, que, no m er cado local, exer ce um papel fundam ent al nas suas at iv idades econôm icas. Em 37,8% dos est abelecim ent os com er ciais, os t rabalhador es eram em pr egados e fam iliar es, em 24,6% fam iliar es, em 18,8% eram em pr egados e 18,8% dos ent r evist ados não r esponderam est e quest ionam ent o.
Especialização do trabalho, redes e família
Nesse ar ranj o pr odut ivo local, o m er cado da t ecelagem t radicional de Resende Cost a, o sucesso econôm ico de cada or ganização, dom iciliar pr odut iva ou com er cial, dependeu de sua capacidade de especialização naquilo que esses gr upos sociais con-seguiram est abelecer com o vant agens com parat ivas efet ivas e dinâm icas ( DI NI Z et
al., 2006) . Ficou evident e, nos dom icílios produt ores visit ados, a especialização, com o,
t ecer e enr olar novelos de r et alho; 4,6% picar e enr olar novelos de r et alho; 3% t ecer e picar r et alho; 2,3% acabar peças; 2,3% t ecer e acabar peças; e 14.1% exer cem out ras com binações dent r e essas ocupações.
Out ra inovação na organização do m ercado local pode ser com preendida a part ir da análise da racionalidade burocrát ica, conform e Thom pson ( 1976) , do em preendedor com er ciant e que cont r olava a saída dos pr odut os e ser viços dos dom icílios pr odut o-r es, poo-r m eio do cont o-r ole da o-r em uneo-ração vao-r iável. Essa oo-r ganização possibilit ava um a j or nada de t rabalho fl exível com colet as de pr odução em dias pr edet er m inados. Os t rabalhador es dos dom icílios t inham um a r em uneração var iável e um a j or nada de t rabalho diár ia fl exível. A m aior ia dos t rabalhador es, ou sej a, 22,5% , t inha um a j or nada de oit o horas, m as t am bém havia 17% que t rabalhavam durant e seis horas, 15% quat r o horas, 3,6% cinco horas, 10,1% m enos de t r ês horas e 2,6% acim a de onze horas.
A inovação em preendedora de organizar burocrat icam ent e o m ercado t radicional local t am bém ger ou disfunções bur ocr át icas ( MERTON, 1967) , quando apr ofundou a separação dos indivíduos dos seus inst r um ent os e m odifi cou o pr ocesso de pr odução com a alt eração do r it m o de t rabalho. Os ent r evist ados r esponsáveis pelos dom icílios pr odut or es consideravam com o a pr incipal r eclam ação dos t rabalhador es as dor es ( 31,3% ) , seguidas de baixa r enda ( 29,2% ) , insum os ( 7,2% ) , doenças ( 4,5% ) et c. Esses dados indicam , por um lado, que a especialização do t rabalho m odifi cou o pr o-cesso, caract er izando- o com o um a ação r ot ineira e r epet it iva de t ar efas; e, por out r o lado, que a int ensifi cação do r it m o de t rabalho est im ulado pela r em uneração var iável pode ser causa das r eclam ações decor r ent es do adoecim ent o dos t rabalhador es.
O est abelecim ent o de vant agens com parat ivas efet ivas e dinâm icas com a espe-cialização não se r est r ingiu, nesse m er cado, à pr odução dom iciliar. O elo com er cial da t ecelagem t radicional se especializou nas funções de pr oduzir e com er cializar peças, com er cializar peças e for necer insum os. As 191 pessoas ocupadas nos est abeleci-m ent os coabeleci-m er ciais, t aabeleci-m béabeleci-m , se especializaraabeleci-m coabeleci-m o vendedor es e coabeleci-m o gest or es. A am pliação da divisão e especialização do t rabalho t radicional m unicipal indica, com o defendido por Dur kheim ( 1999) , que esse m er cado vem am pliando suas at ividades com a cr iação de novas difer enciações pr odut ivas, sej a no elo dom iciliar ou com er cial. Conform e a perspect iva durkheim iniana, essa realidade é esperada e norm al. A diferen-ciação do m unicípio prom oveu em suas organizações econôm icas um a ext ensa divisão do t rabalho social que indica t ant o um acir ram ent o da com pet ição com o, t am bém , a em er gência de r elações econôm icas com o font e de solidar iedade. Essa expansão fi ca evident e com as infor m ações pr opor cionadas pelos dados dos ent r evist ados sobr e o t em po de at uação na t ecelagem t radicional e, t am bém , a par t ir dos dados ofi ciais da Pr efeit ura Municipal sobr e a aber t ura das loj as de ar t igos de ar t esanat o.
As ações inovadoras de especialização e or ganização do t rabalho, pr om ovidas nesse t er r it ór io pelo em pr eendedor com er ciant e, foram associadas às r elações sociais que pr opiciaram a const r ução social do m er cado de t ecelagem t radicional. Nest e, a r elação ent r e econom ia e geografi a foi um a r ealidade que pôde ser obser vada por m eio de sist em as de pr odução t er r it or ializados ( LEMOS, 2006) , os quais t iveram nas econom ias ext er nas locais, fat or es det er m inant es para pr ópr ia exist ência da aglo-m eração ( SUZI GAN et al., 2005) . As ações dest es pr opor cionaraaglo-m cust os r eduzidos para seus em pr eendim ent os aglom erados, com o, por exem plo, os pr opor cionados pelo capit al social das fam ílias de or igem , ident ifi cadas nos dom icílios pr odut or es e nos est abelecim ent os com er ciais, as quais exer cem , t am bém , o papel de or ganizar socialm ent e a pr odução local. Ent r et ant o, com o salient a Cont i ( 2005) , o t er r it ór io nunca cr ia r edes dir et am ent e, m as favor ece a const it uição de r elações ent r e at or es socialm ent e pr óxim os. No m er cado da t ecelagem t radicional do m unicípio em ques-t ão, as r edes foram for m adas a par ques-t ir dos laços fam iliar es. Com o j á descr iques-t o, foram ident ifi cadas 83 fam ílias de or igem pat er na nos dom icílios pr odut or es e 28 fam ílias de or igem pat er na nos est abelecim ent os com er ciais.
um a inst it uição im port ant e desse grupo social, m oderando suas relações econôm icas e m ot ivando os indivíduos para o ingr esso na at ividade, sej a ela pr odut iva ou com er cial, bem com o foi o pr incipal m eio de socialização no t rabalho dos ent r evist ados. Confor-m e Granovet t er ( 1994) , uConfor-m pont o iConfor-m por t ant e que nos auxilia a dist inguir os gr upos econôm icos fam iliar es de sim ples aglom erados fi nanceir os, com o os conglom erados, é a exist ência de solidar iedade social e de um a est r ut ura social ent r e as fi r m as que o com põem , nest e caso, a par t ir dos laços fam iliar es que unem os indivíduos em seus dom icílios pr odut or es e est abelecim ent os com er ciais.
Para Dur kheim ( 1999) , o m er cado am plia- se com a exist ência de m ais neces-sidades a sat isfazer, e um aum ent o da população e densidade indust r ial cr ia as bases para um a nova dinâm ica da concor r ência, sendo necessár io haver um a elim inação ou um a nova difer enciação do t rabalho social. Por t ant o, o aum ent o das necessidades do m er cado local, nest e caso, pr opiciou e fom ent ou a divisão do t rabalho social, o que, consequent em ent e, result ou na m ult iplicação das organizações dom iciliares produt oras e dos est abelecim ent os com er ciais. Essas unidades sociais – dom icílios pr odut or es e est abelecim ent os com er ciais – se difer enciaram , inicialm ent e, devido à opor t unidade de ser em at raídas por gr upos fam iliar es que apr esent avam sem elhanças, com o a m esm a herança de um a t écnica no set or t êxt il com valor para o m er cado t ur íst ico local que, com o descr it o na int r odução, vem sendo fom ent ado nos últ im os 20 anos por ações est r ut urant es do Est ado.
Expansão econômica e racionalidade empresarial imersa em
laços familiares
O m er cado t ur íst ico r egional est im ulou a t ecelagem t radicional com o um a at i-vidade econôm ica que t em a im por t ância m onet ár ia sim ilar à dos r epasses públicos, os quais r epr esent am as m aior es font es or çam ent ár ias e de r ecur sos fi nanceir os que m ovim ent am a econom ia local, com o o Fundo de Par t icipação Municipal ( FPM) . Por um lado, em 643 dom icílios pr odut or es, exist ia em 2009 um a r eceit a m ensal de R$ 393.686,64, com fat uram ent o dom iciliar m ínim o de R$ 6,90 e m áxim o de R$ 13.500,00, o que para a econom ia m unicipal r epr esent a um m ont ant e de r ecur sos anuais est im ados em R$ 4.724.239,68. A receit a m édia anual por dom icílio, a part ir da est im at iva apr esent ada, é de R$ 7.347,18. O dest ino da venda da pr odução dom iciliar foi inform ado por 532 ent revist ados que com ercializavam as peças e serviços para 158 com prador es locais, que eram os r esponsáveis não só pela com pra, m as pelo for neci-m ent o de insuneci-m os e defi nição de r ot inas de r eneci-m uneração e pr ograneci-m ação da pr odução dom iciliar. Por out r o lado, as ent r evist as com 51 pr opr iet ár ios dos est abelecim ent os com er ciais per m it iram a r ealização de algum as est im at ivas sobr e o fat uram ent o br ut o m ensal est im ado em R$ 605.440,50, sendo o fat uram ent o m ínim o de R$ 230,00 e o m áxim o de R$ 110.600,00, com o fat uram ent o m édio de R$11.871,38.
A t ecelagem t radicional do m unicípio expost a nos est abelecim ent os com er ciais, nos últ im os anos, t eve sua r epr esent at ividade no por t fólio com er cial m odifi cada. Essa m udança deve- se ao fat o de par t e ( 20,2% ) do dest ino da com er cialização, em 2009, est ar volt ada para t ur ist as que fr equent avam os est abelecim ent os. No est udo de Sant os et al. ( 1998) , a com er cialização, em 98% dos est abelecim ent os, se dest inava a loj ist as de out r os m unicípios e est ados. Tal fat o não descaract er iza os est abeleci-m ent os coabeleci-m er ciais de ar t esanat o, que podeabeleci-m ser t ipifi cados coabeleci-m o at acadist as, j á que a com er cialização em 64% dos est abelecim ent os t inha com o dest ino os loj ist as de out r os est ados; em 4,3% , a loj ist as de out r os m unicípios de Minas Gerais; em 2,9% , a loj ist as de Resende Cost a; e em 2,9% , a loj ist as de out r os m unicípios de Minas e out r os est ados.
Thom pson ( 1976) , nest e caso, foram iniciat ivas em pr eendedoras locais dos pr opr ie-t ár ios dos esie-t abelecim enie-t os com er ciais que deie-t inham as fonie-t es de for necim enie-t o e consum o e cont r olavam socialm ent e a pr odução dom iciliar, por m eio da r em uneração var iável e a par t ir da pr odut ividade dos dom icílios pr odut or es. Essa r ealidade, de fat o, foi um a m udança socioeconôm ica da pr odução dom ést ica t êxt il, em m eados do século XI X, para um a pr odução em m assa que se fundam ent a na t r oca m er cant il, no início do século XXI .
A com pet ição acir rada era um a r ealidade não só no m er cado consum idor, m as t am bém no m er cado de pr odução, no qual os pr opr iet ár ios dos est abelecim ent os co-m er ciais exer ciaco-m o papel de or ganizar e racionalizar o sist eco-m a pr odut ivo. Ficou clar o que a difer enciação e com pet ição vêm gerando solidar iedade, com o evidenciado por Dur hkeim ( 1999) , Pior e e Sabel ( 1984) e Raynolds ( 1994) , ent r e os com er ciant es, for m ando r edes de pequenas em pr esas int egradas por laços sociais, pr incipalm ent e fam iliar es, e que dependem da cooperação, m as t am bém de com pet ição. A confi an-ça necessár ia para o desenvolvim ent o da t ecelagem t radicional desse t er r it ór io foi pr opor cionada, com o pr eveem Am at o Net o ( 2000) e Suzigan et al. ( 2007) , por um a aglom eração de unidades int er ligadas num m ix de com pet ição e cooperação, que foi possível graças à expansão econôm ica da t ecelagem t radicional, pr opor cionada pelo set or t ur íst ico, bem com o devido às r elações fam iliar es que exer ciam o papel do cont rat o social.
Em bora a r ealidade de t al m er cado sej a consequência da singular idade t radicio-nal desse t er r it ór io povoado no século XVI I I , cuj os m orador es se vest iam e sobr evi-viam com a pr odução dom ést ica t êxt il no fi nal do século XX, alguns em pr eendedor es souberam apr oveit ar as opor t unidades do m er cado t ur íst ico r egional associando o conhecim ent o t radicional para o at endim ent o da dem anda por pr odut os t ur íst icos e pela facilidade de acesso a insum os, os refugos de m alharias. Conform e Sant os e Silva ( 1997) , a ofer t a de r efugos de m alhar ias de São João del- Rei, Divinópolis e Juiz de Fora, em Minas Gerais, e Pet r ópolis e Ter esópolis, no Rio de Janeir o, possibilit aram a t ransfor m ação de um a pr odução dom ést ica para um a pr odução dom iciliar em m assa, alt am ent e especializada, m ediada por r elações fam iliar es e pela t r oca econôm ica. Est a r ealidade socioeconôm ica foi possível a par t ir da necessidade de sat isfazer ne-cessidades de consum o, por um lado, dos pr odut or es e com er ciant es r em unerados por suas at ividades no sist em a pr odut ivo t radicional e, por out r o lado, dos t ur ist as e loj ist as de out r os m unicípios que, em Resende Cost a, buscavam os pr odut os de sua t ecelagem t radicional e de out r os ar t igos defi nidos gener icam ent e com o ar t esanais.
A difer enciação das r elações de for necim ent o e venda das unidades pr odut ivas do m er cado indica, baseando- nos em Silva e Neves ( 2012) , que os laços fam iliar es est r ut uraram socialm ent e o m er cado aqui analisado e infl uenciaram os pr ocessos sociais por m eio da posição dos at or es em um a r ede socioeconôm ica que em er ge no m om ent o da aquisição de insum os dos dom icílios pr odut or es e de com pra de pr odut os pelos est abelecim ent os com er ciais. De acor do com Granovet t er ( 1994 e 2002) , esses at or es econôm icos não levam em cont a som ent e seus int er esses pr ópr ios, m as t am -bém , em par t icular, no m er cado aqui analisado, o cont ext o inst it ucional t radicional, ou sej a, a inst it uição fam ília, que pode pr opiciar condições de coesão social, exer cendo o papel de r egulação do cont rat o e de garant ia dos dir eit os individuais daqueles que est ão envolvidos dir et am ent e com o pr ocesso pr odut ivo no m om ent o da t r oca m er-cant il, sej a no for necim ent o de insum o ou na venda da pr odução dom iciliar para o est abelecim ent o com er cial local.
Tradicionalismo e confiança, empreendedorismo e
desenvolvimento local
ação colet iva de det er m inados gr upos fam iliar es, em pr eendedor es dom iciliar es e co-m er ciant es. Confor co-m e Granovet t er ( 2002) , a solidar iedade est á ico-m er sa eco-m vínculos sociais, nest e caso, fam iliar es, que facilit am a cir culação de infor m ações e assegu-raram confi ança ao lim it ar os com por t am ent os opor t unist as na est r ut ura social do m er cado. Ent r et ant o, m esm o exist indo um a m ediação ou, at é m esm o, um cont rat o social, no sent ido dur kheim iniano, endossado por fam ílias fr equent es nos dom icílios e nos est abelecim ent os com er ciais, t ais r edes sociais não nos possibilit am com pr eender int egralm ent e com o esse sist em a pr odut ivo, com plexo e alt am ent e especializado foi cr ist alizado no t er r it ór io em quest ão, pr om ovendo o desenvolvim ent o local.
O que fi cou evident e nas relações de t rabalho e produt ivas do m ercado analisado foi que exist ia um a conciliação, m esm o que assim ét r ica, do int er esse individual do
hom o econom icus e da população local. Os com er ciant es, pr om ot or es de iniciat ivas
em pr eendedoras locais, buscavam m axim izar seus lucr os a par t ir de um a base co-m uco-m de conhecico-m ent o t radicional que viabilizou a r eco-m uneração da for ça de t rabalho local, que era det ent ora desse saber e que est ava im er sa em r elações ent r e fam ílias e com er ciant es. Tant o os pr odut or es dom iciliar es da t ecelagem t radicional, quant o os propriet ários dos est abelecim ent os com erciais foram afet ados em suas ações e at it udes por r elações sociais, com o na socialização do t rabalho e na confi ança no r elaciona-m ent o de t r oca, nos elaciona-m oelaciona-m ent os de sat isfação das necessidades de for necielaciona-m ent o ou de venda da pr odução dom iciliar. Ent r et ant o, a est r ut ura social dest e m er cado pode ser caract er izada com o r edes fam ília- for necedor e fam ília- com prador ( SI LVA; NEVES, 2012) , em que fam ílias, com er ciant es e for necedor es t em posicionam ent os na r ede com papeis de int er m ediação de r elações que podem se confi gurar, de acor do com o pr essupost o de Cr ozier ( 1981) , com o um pr oblem a de r elação de poder que t em no fenôm eno bur ocr át ico um a est rat égia de cont r ole da for ça de t rabalho.
A cadeia pr odut iva desse m er cado era cont r olada pelos com er ciant es, pr incipal-m ent e os que associavaincipal-m eincipal-m seus negócios o for neciincipal-m ent o de insuincipal-m os e a coincipal-m pra da pr odução dom iciliar. Os est abelecim ent os com er ciais eram or ganizações for m ais que const it uíam , de acor do com Paixão ( 1997) , inst r um ent os de im plem ent ação de papéis e cum pr im ent o de m issões. Por t ant o, por m eio de um a racionalidade t écnica em at ividades de ent rada e saída ( THOMPSON, 1976) , com a im plem ent ação de um a or ganização bur ocr át ica, nos m oldes de Weber ( 2002) , com ações racionais, est abe-lecim ent o de r ot inas im pessoais e divisão do t rabalho, foi for t alecida um a r ot ina de ent r ega de insum os e colet a de pr odução, r em unerada pela pr odut ividade individual. Ent r et ant o, a inovação em pr eendedora no pr ocesso pr odut ivo, de or ganizar bur o-crat icam ent e a pr odução e com er cialização, pode t er gerado o que Mer t on ( 1967) denom ina de disfunções bur ocr át icas, evident es nas r eclam ações dos t rabalhador es. A dor no cor po foi a pr incipal r eclam ação dos t rabalhador es e pode t er com o causa a busca const ant e por m elhor es r em unerações devido ao aum ent o do r it m o do t rabalho r epet it ivo ocasionado pela divisão e especialização de seu t rabalho, o que est á em consonância com a pesquisa de Oliveira ( 2006) .
Ent r et ant o, vale r essalt ar, confor m e Dur kheim ( 1999) , que a vida colet iva não nasce da vida individual, m as, ao cont rário, a segunda que nasce da prim eira. É apenas sob essa condição que se deve explicar com o a individualidade pessoal das unidades sociais pôde for m ar- se e cr escer sem desagr egar a sociedade. Para que a divisão do t rabalho possa nascer e cr escer, não bast a que exist am nos indivíduos ger m es de ap-t idões especiais, nem que eles sej am esap-t im ulados a var iar no senap-t ido dessas apap-t idões, m as é necessário, além disso, que as variações individuais sej am possíveis ( DURKHEI M, 1999) . Com o pôde ser ident ifi cado na realidade socioeconôm ica do local aqui est udado, as m udanças que ocor r eram no cot idiano de seus m orador es e, especifi cam ent e, na pr odução dom ést ica t êxt il foram consequências de pr essões de m er cado que est abe-leceram a difer enciação do t rabalho social nos dom icílios, bem com o a or ganização e racionalização da t ecelagem t radicional, por m eio da iniciat iva em pr eendedora local do com er ciant e. O m er cado do m unicípio de Resende Cost a consom e a pr odução dos dom icílios e rem unera o t rabalho pela produt ividade, consequent em ent e, est im ulando o aum ent o da especialização das at ividades pr odut ivas. Por out r o lado, t al r ealidade foi consequência de pressões sociais por t rabalho e renda, viabilizando a sobrevivência de par t e dos indivíduos que ocupam esse t er r it ór io.
Considerações Finais
A com preensão das pressões sociais que dem andaram alt ernat ivas de soluções e de suas consequent es decisões pode ser feit a a part ir da análise do processo de t rans-form ação não só da produção t radicional com o um a organização que busca a efi ciência econôm ica, m as da com unidade local desde sua ocupação em m eados do século XVI I I que, por m eio da em ergência das t radições fam iliares e de iniciat ivas em preendedoras, proporcionaram para a colet ividade o desenvolvim ent o de um m ercado local.
A or ganização do m er cado da t ecelagem t radicional foi possível, por m eio dos em pr eendedor es locais, com a ut ilização de pr át icas com o a divisão das t ar efas, a especialização do t rabalho, cont r ole r ígido da pr odução e r em uneração baseada em pr odut ividade. O desenvolvim ent o socioeconôm ico desse m er cado pode ser com pr e-endido a par t ir das novas com binações desenvolvidas pelos em pr eendedor es locais, propriet ários dos est abelecim ent os com erciais, que at uaram com racionalidade em pre-endedora e bur ocr át ica. Os pr opr iet ár ios dos est abelecim ent os com er ciais exer ceram poder a par t ir do conhecim ent o sobr e os canais de for necim ent o e consum o, o que represent ou um elo ent re a dem anda e a ofert a do m ercado com a produção dom iciliar.
A racionalização bur ocr át ica da est r ut ura social e pr odut iva do m er cado da t ecelagem t radicional local, m esm o que infor m al, ocor r eu em um a m anufat ura de pr odução em m assa, consequência da busca dessa sociedade pela efi ciência econô-m ica de sua pr odução. Tal efi ciência ocor r eu coeconô-m a operacionalização da pr odução de baixo cust o unit ár io, um difer encial com pet it ivo que viabilizou o sucesso e a so-br evivência da pr odução t êxt il local, e que só foi possível graças à densidade m oral da est r ut ura social desse m er cado, for m ada por vínculos fam iliar es. Ent r et ant o, essa racionalização culm inou com a disfunção bur ocr át ica de um pr ocesso de per da do conhecim ent o pr odut ivo bicent enár io, her dado da singular idade t radicional de um m er cado im er so em r elações fam iliar es. O sist em a pr odut ivo que se confi gur ou de for m a sem iaut ônom a era cont r olado pela or ganização bur ocr át ica com um a t écnica racional e int encional de r em uneração var iável a par t ir da pr odut ividade, que levou, t am bém , à ocor r ência da disfunção bur ocr át ica da or ganização, o que vem gerando o adoecim ent o dos t rabalhador es.
Especifi cam ent e, os dados apr esent ados indicam a necessidade de polít icas com foco na pr eser vação do pat r im ônio im at er ial e m at er ial e no est ím ulo à or ga-nização social, com o, por exem plo, nas dem andas por pr eser vação da t écnica t êxt il t radicional e do acer vo de equipam ent os t radicionais. Há necessidade de est ím ulo à for m ação de or ganizações hibr idas, ent r e a esfera pública e pr ivada, para pr oposição de alt er nat ivas que m inim izem os pr oblem as socioeconôm icos exist ent es, com o, por exem plo, o desenvolvim ent o de novos pr odut os para a t ecelagem local e a m elhor ia da qualidade de vida no t rabalho.
Novos est udos podem ser desenvolvidos para dar r espost a à necessidade de cont inuidade da pr ofi ssionalização da gest ão de m er cados t er r it or iais, que t am bém viabilizem a m ediação das r elações de t rabalho. Out r os est udos com parat ivos podem indicar alt er nat ivas de or ganizações hibr idas ent r e at or es públicos e pr ivados, que possam r esponder sobr e as necessidades de com par t ilham ent o de invest im ent os e cust os de operacionalização do m er cado local.
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