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Escolas de samba: trajetória, contradições e contribuições para os estudos organizacionais.

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Academic year: 2017

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E

SCOLAS DE

S

AMBA

:

TRAJETÓRIA

,

CONTRADIÇÕES E

CONTRIBUIÇÕES PARA OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Cé sa r Tu r e t a*

Br u n o Fé lix V on Bor e ll de Ar a ú j o* *

Resumo

O

obj et ivo dest e t rabalho é apr esent ar um a discussão a r espeit o da supost a per da de au-t enau-t icidade e au-t radição das escolas de sam ba e for necer um a conau-t r ibuição para a análise or ganizacional, t endo em vist a as caract er íst icas peculiar es desse t ipo de or ganização, o que nos perm it iu dest acar a ideia de or ganizações sem fr ont eiras. Apesar de ser em signifi -cat ivam ent e pesquisadas na ant r opologia e na sociologia, t ais or ganizações não ganharam ainda a devida at enção da adm inist ração. Essas agr em iações são t rat adas por alguns aut or es com o ent idades que sofr eram grandes t ransfor m ações e, por isso, t er iam per dido sua aut ent icidade e t radição, a par t ir daquilo que fi cou conhecido com o m er cant ilização/ m oder nização do car naval, além da cham ada invasão da classe m édia. Ar gum ent am os que a “ m er cant ilzação/ m oder niza-ção” do car naval e “ invasão” da classe m édia não pr oduziram a supost a per da de aut ent icidade e t radição, um a vez que a com er cialização do car naval j á se fazia pr esent e no cenár io brasileir o desde o início do século XX e a r elação ent r e cult ura popular e elit e não é algo novo. Assum im os a posição de que “ t radição” e “ m oder nidade” não são dicot ôm icas e excludent es. Com o desdo-bram ent o da discussão pr opost a, pr ocuram os apont ar que os est udos das pr át icas or ganizat ivas seriam um cam inho int eressant e para superar as dicot om ias com um ent e em pregadas nos est udos de escolas de sam ba, as quais, na ver dade, se confi guram com o or ganizações sem fr ont eiras.

Pa la v a r a s- ch a v e : Escolas de sam ba. Car naval. Cult ura popular. Pr át icas or ganizat ivas. Desfi les car navalescos.

Samba Schools: history, contradictions and contributions to

organizational studies

Abstract

T

he aim of t his paper is t o pr esent a discussion about t he supposed loss of aut hent icit y and

t radit ion in sam ba schools and pr ovide a cont r ibut ion t o or ganizat ional analysis consider ing t he peculiar charact er ist ics of t his t ype of or ganizat ion w hich highlight s t he idea of bor-der less or ganizat ions. Despit e being w idely st udied in ant hr opology and sociology, t hese or ganizat ions have failed t o gain t he at t ent ion of t he fi eld of business adm inist rat ion. These or ganizat ions ar e t r eat ed by som e aut hor s as ent it ies t hat have under gone m aj or changes, and t her efor e have lost t heir aut hent icit y and t radit ion as a r esult of w hat has becam e know n as com m odifi cat ion / m oder nizat ion of car nival, invasion beyond t he call of t he m iddle class. We ar gue t hat t he “ m er cant ilizat ion / m oder nizat ion” of Car nival and t he “ invasion” of t he m iddle class has not led t o t he alleged loss of aut hent icit y and t radit ion because t he m arket ing of carnival has been pr esent in Brazil since t he ear ly t w ent iet h cent ur y and t he r elat ionship bet w een elit e and popular cult ur e is not som et hing new. We t ake t he posit ion t hat “ t radit ion” and “ m oder nit y” ar e neit her dichot om ous nor exclusionar y. We point out t hat a st udy of or ganizat ional pract ices w ould be an int er est ing way t o over com e t he dichot om ies com m only used in st udies of sam ba schools, w hich act ually t ake shape as or ganizat ions w it hout bor der s.

Ke y w or ds: Sam ba school. Car nival. Popular cult ur e. Or ganizing pract ices. Car nival parades.

* Dout or em Adm inist r ação de Em pr esas pela Escola de Adm inist r ação de Em pr esa de São

Pau-lo da Fundação Get ulio Var gas – EAESP- FGV. Pr ofessor Associado da FUCAPE Business School, Vit ór ia/ ES/ Br asil. Ender eço: Av . Fer nando Fer r ar i, 1358, Boa Vist a. Vit ór ia/ ES. CEP: 29075- 505. E- m ail: cesar @fucape.br

* * Dout or em Adm inist ração pela Universidade Presbit eriana Mackenzie. Professor Associado da FUCAPE

(2)

Introdução

M

anifest ações fest ivas de car át er car navalesco1 j á se faziam pr esent es em

civi-lizações r em ot as, nas quais as pessoas se r euniam para a r ealização de algum t ipo de r it ual que poder ia envolver bebedeiras, uso de m áscaras, fant asias, cant or ias e encenações ( VALENÇA, 1996) , com conot ações hum or íst ica, gr o-t esca e sao-t ír ica ( BAKTHI N, 1984) . Essas ao-t ividades acom panham a civilização desde ent ão, adquir indo novas for m as e expr essões, além de ser em aj ust adas aos cost um es locais. No Brasil, o folguedo car navalesco foi t razido pelos colonizador es por t ugue-ses na época do descobr im ent o. I nicialm ent e, os fest ej os se r ealizavam por m eio do ent r udo, um a for m a de com em oração com um em Por t ugal, na qual se fest ej avam os dias ant ecedent es à chegada da Quar esm a ( FERREI RA, 2004; QUEI ROZ, 1999) . Em t er ras brasileiras, esse t ipo de m anifest ação per dur ou por m uit o t em po, at é que novas m aneiras de br incar o car naval foram sur gindo e se consolidando.

Nas prim eiras décadas do século XX, porém , com eçava a aparecer um a form a de organização peculiar do nosso país que, post eriorm ent e, seria responsável por t ransfor-m ar o carnaval brasileiro no ransfor-m aior espet áculo carnavalesco do ransfor-m undo. Essa organização é o que conhecem os hoj e com o Escolas de Sam ba. As escolas de sam ba da cidade do Rio de Janeiro e, m ais recent em ent e, de São Paulo são as principais referências para as dem ais escolas no Brasil, em bora as agrem iações cariocas fi gurem em um a posição de m aior dest aque em relação às paulist anas, um a vez que foi na ant iga capit al do país que elas surgiram , se consolidaram e fi caram conhecidas no m undo int eiro ( ALBI N, 2009) . Com o qualquer agr upam ent o de pessoas que se r eúnem para alcançar algum obj et ivo a par t ir de um a est r ut ura for m al, com divisão do t rabalho e coor denação das at ividades ( MI NTZBERG, 1980) , as escolas de sam ba t am bém possuem suas pr ópr ias pr át icas or ganizat ivas. Se, por um lado, ao longo do t em po, sua for m a de or ganização foi incor porando elem ent os do m odelo em pr esar ial m oder no, com o planej am ent o, t er ceir ização e cont rat ação de pr ofi ssionais especializados, por out r o lado, caract e-r íst icas inicialm ent e pe-r esent es nas age-r em iações foe-ram pe-r esee-r vadas, com o im pe-r oviso, t rabalho volunt ár io e r elações afet ivas m uit o for t es ( BLASS 2007) . Essas agr em iações e o seu pr ocesso de pr odução dos desfi les são obj et o de int er esse da sociologia e da ant r opologia desde fi nal da década de 1960 e início da década de 1970.

Cont udo, apesar de ser em or ganizações cr iadas no Brasil, de signifi cat ivo im -pact o econôm ico e social para o país, pouca at enção lhe foi confer ida pela adm inist ra-ção e, m ais especifi cam ent e, pelos Est udos Or ganizacionais ( EO) , com excera-ção, por exem plo, de Ver gara, Moraes & Palm eira ( 1997) . Além de ser em pouco conhecidas pela lent e da adm inist ração, o que por si só ser ia um at rat ivo, as escolas de sam ba vivenciam há alguns anos a int ensifi cação de um pr ocesso que fi cou conhecido com o “ Mer cant ilização” e “ Era Em pr esar ial” dos desfi les car navalesco, t or nando ainda m ais int er essant e um a análise det alhada dest e for m at o or ganizacional. Car valho e Madeir o ( 2005) analisam com o a inser ção da lógica de m er cado no car naval de Maceió ger ou m udanças signifi cat ivas ao pont o das agr em iações car navalescas t radicionais da cida-de ( e.x. blocos e escolas cida-de sam ba) se t or nar em m ar ginais no per íodo car navalesco.

A presença de t écnicas de gest ão nas agrem iações carnavalescas, consequência de um a supost a espet acularização dos desfi les, é int erpret ada por alguns ( RAPHAEL, 1990; VALENÇA, 1996; QUEI ROZ, 1999; AFOLABI , 2001) com o o principal causador da perda de t radição e aut ent icidade das escolas de sam ba, afet ando diret am ent e a sua pureza enquant o cult ura popular. A decadência da t radição, segundo esses aut ores, est aria relacionada com a “ invasão” da classe m édia no seio de um a m anifest ação t ípica do povo. No ent ant o, essa posição é problem át ica, na m edida em que a int eração ent re classe m édia e o m undo do sam ba sem pre exist iu ( ver VI ANNA, 2004) , e a defi nição de cult ura popular com o algo “ puro” não se sust ent a, um a vez que ant igas fest as po-pulares na Europa j á cont avam com a part icipação da elit e local ( CAVALCANTI , 2008) .

Em adição, aspect os referent es àquilo que defi nim os hoj e com o caract eríst icos das em presas privadas, com o, por exem plo, divisão do t rabalho, especialização,

pro-1 Par a um a análise int er essant e sobr e o em pr ego do conceit o de car naval nos Est udos Or ganizacionais,

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m oções baseadas na com pet ência t écnica e gest ão da produção, t êm acom panhado as organizações em geral há bast ant e t em po, com regist ros de sua exist ência em períodos ant es de Crist o ( STARBUCK, 2003) , em bora um a série de t ransform ações t enha ocorrido desde ent ão. I sso m ost ra que as front eiras da organização escola de sam ba não podem ser est abelecidas com o algo claram ent e defi nido, que excluiria aquilo que est aria “ de fora”. Nesse sent ido, nosso obj et ivo nest e art igo é apresent ar um a discussão a respeit o da supost a perda de aut ent icidade e t radição das escolas de sam ba e fornecer um a cont ribuição para a análise organizacional, t endo em vist a as caract eríst icas peculiares desse t ipo de organização. Tal discussão nos perm it iu dest acar a ideia de organizações sem front eiras, ao evit arm os a separação ent re a organização e seu am bient e ( COOPER, 1986) . Seguindo essa linha, assum im os que a organização precisa ser analisada com o um processo ( CZARNI AWSKA, 2004) com post o por um conj unt o de prát icas ( SCHATZKI , 2006) que se encont ra em const ant e est ado de ( re) const it uição.

Além dest a int rodução, organizam os o t rabalho em m ais quat ro t ópicos. No pró-xim o, abordam os brevem ent e a t raj et ória do carnaval no Brasil desde a chegada dos port ugueses at é a form ação das escolas de sam ba, cuj os desfi les t ornaram nosso car-naval conhecido no m undo t odo. Em seguida, apresent am os as origens e a const it uição das escolas de sam ba, sua form a at ual de organização para a produção dos desfi les carnavalescos e a ideia de m ercant ilização e “ invasão” da classe m édia nas agrem ia-ções. Post eriorm ent e, fazem os nossa discussão sobre a supost a perda da aut ent icidade e t radição de t ais organizações, argum ent ando que precisam os ent ender a relação ent re m odernidade e t radição com o um fl uxo de t ransform ações, no qual um não exclui o out ro. Na sequencia, apresent am os a noção de prát icas organizat ivas com o um a abordagem int eressant e para ent ender as escolas de sam ba. Ao fi nal, t ecem os nossas conclusões.

Festejos Carnavalescos e o Carnaval no Brasil

A or igem do car naval, ou pelo m enos suas pr incipais font es de inspiração, pode ser at r ibuída a um a sér ie de event os e lugar es, com o as pr im it ivas fest as de colheit a dos cam poneses, os cult os egípcios à deusa Í sis, as fest as dedicadas a divindades pagãs na Rom a Ant iga ou o cult o ao deus Dioniso na Gr écia Ant iga2 ( VALENÇA, 1996) . Não

há um consenso a r espeit o dessa quest ão, gerando vár ias cont r ovér sias com defen-sor es para cada um a das supost as m at r izes. No ent ant o, r efer ências hist ór icas m ais evident es sobr e o car naval se dar iam som ent e no século XI , com a decisão da I gr ej a de inst it uir o per íodo da Quar esm a ( FERREI RA, 2004) . Difer ent em ent e da liber dade que exist ia no car naval da I dade Média, est udado por Bakt hin ( 1984) , per íodo no qual as pessoas se liber t avam da or dem e dos dogm as ofi cialm ent e inst it uídos, sendo que nor m as, pr ivilégios e hierar quia eram colocados em suspenso ( RHODES, 2001) , nos dias at uais a fest a é m uit o m ais cont r olada, em bora pr át icas car navalescas cont inuem sendo usadas de difer ent es for m as no pr ópr io car naval por m eio de par ódias sobr e polít ica e r eligião ( I SLAM; ZYPHUR; BOJE, 2008) .

No Brasil, com o desem bar que dos por t ugueses, além da vont ade pela r iqueza fácil, eles t r ouxeram t am bém na bagagem suas t radições e cult ura, o que incluía o car naval. Com isso, as caract er íst icas do nosso car naval foram m oldadas pela heran-ça da for m a de fest ej ar dos colonos ( FERREI RA, 2004; QUEI ROZ, 1999) , bem com o pelas signifi cat ivas infl uências afr icanas e de out ras fest as eur opeias, que j unt am ent e se m odifi caram e se t ransfor m aram , ao longo do t em po, de m odo peculiar em t er ras brasileiras ( VALENÇA, 1996) . O em pr eendim ent o eur opeu, especialm ent e de Por t u-gal, em im plem ent ar sua cult ura, for m as de convívio e inst it uições no Brasil, pode ser considerado o fat or dom inant e de um a sér ie de consequências que confi guraram a nossa sociedade; “ de lá veio a for m a at ual de nossa cult ura; o r est o foi m at ér ia que se suj eit ou m al ou bem a essa for m a” ( HOLANDA, 1995, p. 40) . Nas palavras de Ribeir o ( 2006, p. 17- 18) , “ a sociedade e a cult ura brasileiras são confor m adas com o var iant es da ver são lusit ana da t radição civilizat ór ia eur opeia ocident al, difer enciadas por color idos her dados dos índios am er icanos e dos negr os afr icanos”.

2 Par a um a difer enciação m ais det alhada ent r e “ Car naval” e fest as de car át er car navalesco ver Fer r eir a

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Especifi cam ent e no car naval, essa herança se m anifest ou no ent r udo, um a com em oração car navalesca t ípica dos por t ugueses que, por m uit o t em po, se fez pr e-sent e nas r uas de vár ias cidades brasileiras. Em Por t ugal, era m uit o com um br incar o carnaval pelas ruas nos dias ant es da chegada da Quaresm a, alvej ando os t ranseunt es com ovos na cabeça, far inha, sacos de ar eia e out r os obj et os. O car át er anár quico, gr osseir o e, m uit as vezes, violent o dessa pr át ica se m ant eve na colônia, em bora a int ensidade e agr essividade m udavam m uit o do ent r udo fam iliar para o ent r udo popu-lar. O ent r udo fam iliar fazia par t e dos r it uais da elit e no car naval e ocor r ia dent r o do per ím et r o da pr ópr ia casa de um a dada fam ília, que r ecebia os am igos para fest ej ar. Desenvolvia- se de m aneira m ais cont ida e possuía um fort e carát er socializant e, o qual ser via para apr oxim ar os fi lhos e fi lhas da elit e, com int uit o de que daí nascesse um a r elação am or osa, per pet uando o poder daqueles que j á o det inham na época. O r est o da população, basicam ent e negr os escravos e os pobr es em geral, se diver t ia nas r uas das cidades com o ent r udo popular. Est e r epr esent ava m ais um m om ent o de diver são, algazar ra e “ liber dade” para os m ar ginalizados e para os negr os que apr oveit avam a sit uação de r elaxam ent o social com o int uit o de r ealizar em fest as à sua m aneira, com cor t ej os pr ocessuais, danças e m úsicas ( FERREI RA, 2004) . De acor do com Da Mat t a ( 1997) , no car naval, a for m a hierar quizant e e r epr essiva de funcionam ent o da nossa sociedade fi ca em suspenso, e liber dade e individualidade passam a ocupar a cena social, r epr esent ando um a fest a sem dono em que cada um br inca com o pode.

Paralelam ent e ao ent rudo, várias out ras form as de com em oração foram surgindo e ganhando dest aque no carnaval brasileiro, com o os bailes de m áscaras, as Grandes Sociedades, os ranchos, os blocos, os cordões e. por últ im o, de m aneira m ais m arcant e, as escolas de sam ba ( ver DA MATTA, 1997; GOLDWASSER, 1975; QUEI ROZ, 1999; VON SI MSON, 2007) . O carnaval no Brasil sem pre cont ou com a part icipação t ant o da elit e quant o do povo, cada um fest ej ando ao seu m odo part icular, em bora ocorresse algum t ipo de int ercâm bio ent re as diferent es cam adas da sociedade. Von Sim son ( 2008) des-t aca que, em São Paulo, por exem plo, o carnaval burguês do século XI X era um a cópia do m odelo europeu, m as cont ava com a part icipação dos negros com o coadj uvant es. O carnaval negro, por sua vez, ocorria por m eio da m anifest ação do Caiapó, um a dança dram át ica que acom panhava as grandes procissões. Os negros saíam vest idos de índio e, ao som de inst rum ent os de percussão, encenavam , com m ovim ent os corporais e expressões faciais, a m ort e do curum im – fi lho do cacique e seu fut uro sucessor, cuj a função seria dar cont inuidade à t radição da t ribo ( VON SI MSON, 2008) .

Ent r et ant o, era na cidade do Rio de Janeir o, em m eados do século XI X e início do XX, que o car naval ganhava cont or nos de pr incipal fest a nacional, se t or nando r efer ência para as out ras capit ais. A assim ilação do car naval car ioca por par t e das dem ais cidades se deu por um pr ocesso dinâm ico, no qual cada cidade r edefi niu a fest a car navalesca ao seu m odo, t or nando- a m ais ou m enos sem elhant e ao pr im eir o ( FERREI RA, 2004) . No caso de São Paulo, as pr im eiras associações car navalescas sofr eram infl uências dos ranchos car iocas, m as t am bém absor veram elem ent os do sam ba r ural do int er ior do pr ópr io est ado ( VON SI MSON, 2008) . No ent ant o, com o t em po, o car naval espet áculo das grandes escolas de sam ba do Rio de Janeir o m ar cou decisivam ent e o car naval paulist ano at ual que, durant e m uit o t em po, t eve os cor dões car navalescos com o pr incipal r epr esent ação das com em orações nos dias fest ivos, e que acabaram se t ransfor m ando em escolas de sam ba ou desapar ecendo no início da década de 1970 ( BLASS, 2007) . A difusão do m odelo car ioca fez com que as escolas de sam ba se t ransfor m assem , at ualm ent e, em um t ipo ideal de or ganização car na-valesca para apr esent ação em grandes desfi les ( FERREI RA, 2004) .

Escolas de Samba

Como tudo começou

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ent re o t erm o Bloco3 e Escola de Sam ba propriam ent e ( GOLDWASSER, 1975) . No início

dos anos 30, j á defi niam um a expr essão ar t íst ica par t icular com desfi les nos quais as agr em iações com pet iam um as com as out ras ( CAVALCANTI , 2002) . Tais agr em iações não surgiram de um m odelo pront o de organização, m as foram se const it uindo a part ir da adoção de elem ent os dos ranchos, dos blocos e das grandes sociedades ( ALBI N, 2009) , num pr ocesso de int eração ent r e difer ent es cam adas sociais que, ainda, se faz pr esent e nas m ais diver sas for m as de r elacionam ent o da escola de sam ba com a sociedade ( CAVALCANTI , 2008) . Muit as cont r ovér sias giram em t or no de qual t er ia sido a pr im eira escola de sam ba a ser cr iada ( FERNANDES, 2001) .

A expr essão “ Escola de Sam ba” t em sua or igem no Est ácio ( bair r o do Rio de Janeir o) no fi nal da década de 1920, onde, na Rua Joaquim Palhar es, exist ia um a ant iga Escola Nor m al da Cor t e, que ser via com o pont o de r efer ência para o encont r o de sam bist as nas suas pr oxim idades. Devido a essa pr oxim idade com a escola e o fat o dos sam bist as se defi nir em com o os “ Mest r es do Sam ba” ( GOLDWASSER, 1975) , o t er m o Escola de Sam ba ser ia ent ão apr opr iado para defi nir um gr upo de pr ofesso-r es do sam ba ( ALBI N, 2009) – com post os poofesso-r m oofesso-radoofesso-r es da peofesso-r ifeofesso-r ia e não- let ofesso-rados per seguidos pela polícia – que possuir iam o dom para ensinar aos dem ais o prazer de viver com a dança, a m úsica e o sam ba ( DA MATTA, 1997) . Os sam bist as do Est ácio que const it uíam o bloco “ Deixa Falar ” se aut o- denom inaram Escola de Sam ba. Con-t udo, a despeiCon-t o da denom inação, esCon-t e agr upam enCon-t o não se difer enciava das ouCon-t ras agr em iações que eram conhecidas na época com o blocos ( VALENÇA, 1996) , além de j am ais t er se apr esent ado nos desfi les com aquele nom e ( GOLDWASSER, 1975) . Ao cont r ár io, o bloco dos Ar engueir os, depois conhecido com o Est ação Pr im eira de Man-gueira, t eria sido a prim eira agrem iação que, de fat o, adot ou o sam ba com o diferencial aos dem ais blocos, se apr esent ando desde sua fundação com a denom inação Escola de Sam ba ( VALENÇA, 1996) .

No início, as escolas de sam ba possuíam um a est r ut ura de funcionam ent o bast ant e infor m al e com grandes lim it ações fi nanceiras, buscando na cr iat ividade e na invent ividade um a m aneira de supr ir essa lacuna. A m aior par t e das pessoas en-volvidas no pr ocesso de or ganização do desfi le era com post a por m em br os da pr ópr ia com unidade, que desem penhavam as funções de cost ureiras, bordadeiras, aderecist as et c. ( VALENÇA, 1996) . Segundo Queir oz ( 1999) , um a das pr incipais causas da ascen-são das escolas de sam ba do Rio de Janeir o foi a r elação pr óxim a m ant ida ent r e elas e os bicheir os da cidade. Assim , quando as agr em iações r ecolhiam as cont r ibuições da com unidade para a pr odução do desfi le, os bicheir os se faziam pr esent es com o pr incipais doador es ( CAVALCANTI , 2008) .

Por t erem surgidas no subúrbio das cidades ou em bairros const it uídos por m aioria de negros, sua origem é m arcadam ent e popular, sendo com post a por pessoas m arginalizadas e sem profi ssão defi nida, algo que foi acarret ado pela m igração rural após a abolição da escravidão, que levou um cont ingent e m uit o grande de pessoas a se am ont oarem no cent ro e nos m orros da periferia da cidade do Rio de Janeiro ( VALENÇA, 1996) . Em São Paulo, não foi m uit o diferent e. As escolas de sam ba represent avam um espaço de socialização e diversão dos negros m arginalizados que habit avam os bairros periféricos ou guet os da cidade ( VON SI MSON, 2007) . De acordo com Soares ( 1999) , na cidade de São Paulo, t ais agrem iações ainda fi guram com o locais em que os negros se reúnem para a m anifest ação de sua cult ura por m eio da m úsica e da dança, e com o form a de se proj et arem na sociedade, adquirindo respeit o e reconhecim ent o.

Apesar da or igem popular das escolas de sam ba, o r it m o m usical “ sam ba”, que t or nou dist int a est a for m a de or ganização car navalesca, saiu da condição de gêner o m usical m ar ginal, com o dest aca Vianna ( 2004) , para ocupar um lugar cent ral na m u-sica popular brasileira. I sso ocor r eu devido a um a t radição j á consagrada no país de cont at os e r elações ent r e int elect uais e m úsicos da cam ada popular, que obj et ivavam a cr iação da ident idade da cult ura popular brasileira, a par t ir de um a ação de car át er polít ico infl uenciado pelo sent im ent o de nacionalism o da década de 1930 ( VI ANNA, 2004) . I sso evidencia que, desde o início, as escolas de sam ba sur gem não com o um a

3 Um bloco pode ser car act er izado com o um agr upam ent o de pessoas sem um a or denação int er na bem

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ent idade fechada em si m esm a, m as com o um a or ganização aber t a, cuj as fr ont eiras não podem ser claram ent e defi nidas e est abelecidas a par t ir de dicot om ias com o popular / elit e, t radição/ m oder nidade, negr o/ branco.

Reunindo o r it m o m usical do sam ba e m ais um a grande disposição e vont ade de se apr esent ar em no car naval, as agr em iações car navalescas se const it uíram com o um a for m a de or ganização com caract er íst icas par t icular es. Seus int egrant es se de-dicam , prat icam ent e, o ano int eir o para se apr esent ar em em , m ais ou m enos, um a hora na avenida: um ano de t rabalho para um a hora de apr esent ação. Vár ias são as at ividades, pessoas e lugar es envolvidos nesse pr ocesso de pr odução, que se inicia com a defi nição de um t em a e fi naliza com o desfi le na avenida.

Forma de organização para a produção do desfile

As escolas de sam ba podem ser defi nidas com o um a for m a de associação r ecr eat iva e m u sical, com o obj et iv o pr in cipal de se apr esen t ar em n o car n aval ( GOLDWASSER, 1975) . I nst it ucionalm ent e, elas se or ganizam em difer ent es Ligas ou Associações, r esponsáveis pela or ganização dos desfi les car navalescos dos di-ver sos gr upos de agr em iações. De acor do com Bar bier i ( 2010) , t ais or ganizações est abelecem um a est r ut ura hier ár quico- com pet it iva ent r e elas. Com pet it iva ent r e as int egrant es de um m esm o gr upo ( Gr upo Especial, por exem plo) , e hier ár quica ent r e os pr ópr ios gr upos com o, por exem plo, Gr upo 3, 2, 1, de Acesso e, por últ im o, o m ais im por t ant e, o Gr upo Especial, o qual é com post o pelas pr incipais escolas. Em cada gr upo, um det er m inado núm er o de agr em iações é pr om ov ido e r ebaix ado para o gr upo super ior e infer ior, r espect ivam ent e, nos desfi les que acont ecem durant e o car naval ( BARBI ERI , 2010) .

Para que a apr esent ação ocor ra, um ár duo t rabalho pr ecisa ser desem penhado t ant o na quadra da agr em iação, com a disput a dos sam bas- enr edos e a r ealização dos ensaios, quant o no bar racão ( MAGALHÃES, 1997) , que pode ser vist o com o a “ fábr ica dos sonhos” ( URBANO, 2005) , onde os car r os alegór icos são pr oduzidos e as fant asias confeccionadas, em bora a elaboração das fant asias, em m uit os casos, possa ser t er-ceir izada. A pr odução do desfi le de um a escola de sam ba com eça logo após o t ér m ino do car naval, para se dar início aos pr eparat ivos do ano seguint e. Um a das pr im eiras t ar efas da pr odução ar t íst ica é a desm ont agem das alegor ias e fant asias ut ilizadas no ano ant er ior, assim com o r eadapt ação ou r eut ilização dos car r os alegór icos. Todo o m at er ial passa por um a t r iagem e aquilo que pode ser r eciclado ou r eapr oveit ado far á par t e da nova pr odução ( BLASS, 2007) . Dessa for m a, o car naval em um a escola de sam ba signifi ca não som ent e a fest a em si no m ês de fever eir o, m as t oda a sua pr eparação ao longo do ano ant er ior ( CAVALCANTI , 2008) .

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A escolha de um t em a e post er ior cr iação do enr edo, nor m alm ent e, fi ca a car go do car navalesco4, que é cont rat ado pela escola nos pr im eir os m eses do ano

e, geralm ent e, r esponsável pela despesa m ais elevada de um a escola em função do alt o valor pago pelo seu t rabalho ( QUEI ROZ, 1999) . De acor do com Blass ( 2007) , o car navalesco é quem viabiliza o cenár io plást ico- visual para um a escola nar rar seu enr edo. Suas funções podem cont em plar a concepção plást ico- visual das fant asias de alas e alegor ias, confecção dos pr ot ót ipos das fant asias de alas e dest aques das alegor ias, além da super visão da pr odução das alegor ias no bar racão, acom panha-m ent o dos pr ocessos de t rabalho nas ofi cinas e par t icipação de encont r os sepanha-m anais na quadra. A fi gura do car navalesco ganhou m aior visibilidade no fi nal da década de 1960, quando ar t esãos r esponsáveis pela cr iação plást ica das escolas são subst it uí-dos por pr ofi ssionais cont rat auí-dos, com o, por exem plo, ar t ist as plást icos, cenógrafos e escult or es ( ALBI N, 1999; BLASS, 2007) . Seu t alent o pode ser obser vado na sua capacidade de t raduzir os pr ocessos sociais cor r ent es em um a har m onia t eat ral a ser apr esent ada no desfi le. Essa fi gura se apr esent a na escola com o um dir et or geral ou m aest r o de or quest ra r esponsável por coor denar diver sos elem ent os que com põem a escola. As funções de concepção e coor denação de execução dos t rabalhos confer em ao car navalesco um a posição de dest aque na escola ( CAVALCANTI , 2008) .

Cultura popular em transformação

O t er m o “ cult ura popular ” não possui um a defi nição m uit o pr ecisa, j á que as palav ras “ cult ura” e “ popular ” são pr oblem át icas ( BURKE, 1985) . De acor do com Char t ier ( 1995) , é possível agr upar as diver sas defi nições de cult ura popular em dois m odelos de int er pr et ação. O pr im eir o ent ende a cult ura popular com o um sist em a sim bólico coer ent e e aut ônom o, t ot alm ent e descolado da cult ura da elit e, por t ant o, exist indo independent e dest a. O segundo procura evidenciar as relações de dom inação exist ent es no m undo social, e que afet am a cult ura popular de m aneira que ela se apr esent a com o dependent e da cult ura dom inant e, por não gozar da m esm a legit im i-dade dela ( CHARTI ER, 1995) . No caso das escolas de sam ba, o debat e at ual cam inha m uit o m ais em dir eção a essa segunda concepção, j á que grande par t e dos t rabalhos, de m aneira dir et a ou indir et a, dest aca as r elações de poder ent r e a cult ura da elit e e a cult ura popular das agr em iações. Relações est as nas quais a pr im eira t er ia se apr o-pr iado da segunda, que, por sua vez, só passou a ser aceit a, na visão dos aut or es, quando se abr iu para a elit e ou foi invadida por ela ( ver MORAES, 1978, RAPHAEL, 1990; VALENÇA, 1996; VON SI MSON, 2007) . O car navalesco ser ia, por t ant o, um dos pr incipais at or es r esponsáveis pelo pr ocesso de m udança que afet ou as agr em iações.

O ingr esso do car navalesco no m undo das escolas de sam ba foi um dos m ar cos na m udança de or ient ação acer ca da execução de t al função nas escolas ( QUEI ROZ, 1999) , bem com o dos padr ões est ét icos que se t ransfor m aram , signifi cat ivam ent e, com a presença de art ist as de form ação acadêm ica ( RAPHAEL, 1990; VALENÇA, 1996) . Com o consequência de seu t rabalho, o car navalesco acabou exer cendo um papel de m ediação ent r e as agr em iações e as concepções est ét icas pr esent es em out r os m eios cult urais ( CAVALCANTI , 2008) . Valença ( 1996) r essalt a que, concom it ant e a isso, houve um cr escim ent o das escolas de sam ba na década de 1960 e um a m aior aceit ação por par t e da classe m édia que, at é ent ão, r elacionava o envolvim ent o com essas agr em iações car navalescas a at ividades de m ar ginais. Além do m ais, segundo ela, o j úr i t am bém t eve par t icipação det er m inant e nesse pr ocesso de t ransfor m ação, j á que com eçou a se const it uir de pessoas de classe m édia, que se ident ifi cavam com os novos padr ões est ét icos. Com efeit o, t odas as escolas pr ecisaram se adapt ar aos novos padr ões e, t am bém , buscar pr ofi ssionais do set or ar t íst ico. Valença ( 1996) defende que a apr oxim ação da classe m édia com as escolas de sam ba – conhecida por “ invasão da classe m édia” – “ agravou ainda m ais a per da de ident idade cult ural decor r ent e do abandono do car át er com unit ár io e ar t esanal da or igem ” ( VALENÇA, 1996, p. 62) . I sso t er ia feit o com que houvesse um a per da dos valor es fundam

en-4 Em algum as escolas de sam ba, ao invés da cont r at ação de um car navalesco, que pode r epr esent ar

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t ais que r egem a cult ura popular, gerando signifi cat ivas consequências nas décadas seguint es, com o, por exem plo, o uso dos desfi les com o um m eio de at rair t ur ist as e t ransfor m ar- se em font e de r enda ( VALENÇA, 1996; AFOLABI , 2001) .

Da m esm a for m a, Raphael ( 1990) sust ent a que o ingr esso da classe m édia, j urados da elit e, ar t ist as e a int ensifi cação da com pet ição ent r e as agr em iações m i-naram o espír it o cooperat ivo que pr evalecia ent r e as ent idades car navalescas nos pr im eir os anos de seu sur gim ent o. O aut or ar gum ent a, ainda, que a m udança nos cr it ér ios de avaliação dos desfi les, novas r egulam ent ações sobr e o t em po de apr e-sent ação, a com er cialização e espet acular ização do car naval são dem onst rações de que os pr opósit os iniciais e as or igens das escolas de sam ba foram abandonados, ou sej a, “ ao invés de r epr esent ar um a for m a de cult ura popular espont ânea, nat ural e aut ênt ica, a escola de sam ba, no fi nal da década de 1970, t inha se t or nado em um m icro- em preendim ent o em busca de lucro, gerando serviços por cont rat os com a agên-cia de t ur ism o da cidade [ do Rio de Janeir o] ” ( RAPHAEL, 1990, p. 83) . Para Queir oz ( 1999) , a or dem e or ganização exist ent es nos desfi les com pr ovam a hegem onia e dom inação das cam adas super ior es em r elação às cam adas popular es, um a vez que est as pr ecisaram se or ganizar for m alm ent e, para adquir ir em legit im idade do Est ado e da sociedade em geral. Segundo Afolabi ( 2001) , as escolas de sam ba per deram sua t radicional espont aneidade e passaram a ser or ient adas por quest ões com er ciais. Araúj o ( 2009, p.62) salient a que a est r ut ura em pr esar ial adot ada pelas escolas de sam ba do gr upo especial da cidade do Rio de Janeir o pr opor cionou que as m esm as conquist assem “ excelência adm inist rat iva, aut oger ência e ot im ização dos lucr os”, ser vindo de m odelo para as agr em iações do gr upo de acesso.

Goldwasser ( 1975) obser va que a apr oxim ação da classe m édia se deu m uit o em função de m udanças no cont ext o nacional, pr incipalm ent e àquelas vinculadas a um m ovim ent o de valor ização da cult ura popular, que fi zeram as escolas de sam ba se t or nar em obj et o de int er esse para o consum o da sua ar t e pr oduzida. Esse m ovim ent o se iniciou na década de 1930, durant e o gover no de Get úlio Var gas, per íodo no qual ganhou dest aque a ideia de um a ident idade única do Brasil. Desse m odo, t udo que pudesse represent ar a m ist ura das “ raças” const it ut ivas do país seria, subst ancialm ent e, valor izado ( FERREI RA, 2004, p. 330) . Far ia ( 2009) , ao fazer um a análise dos t em as e enr edo de desfi le da Por t ela ao longo dos anos, dest aca que quest ões nacionalist as eram sem pr e levant adas e ser viam de font e de inspiração para o desfi le da escola, em bora, segundo o aut or, isso não t enha sido um a im posição do Est ado, m as um m ecanism o de fazer valer t ant o os int er esses do gover no quant o das pr ópr ias agr e-m iações que buscavae-m e-m ais legit ie-m idade. Fer nandes ( 2001) vai alée-m e afi r e-m a que, no per íodo da Segunda Guer ra Mundial, o Est ado adot ou um a post ura m uit o m ais de abandono do que de int er venção e cont r ole sobr e essas agr em iações. Por out r o lado, o aut or obser va que a conj unt ura int er nacional de confl it os exacer bou o nacionalism o, e a fi gura dos sam bist as com o r epr esent ação do nacional passou a ocupar lugar de dest aque no país, sendo inclusive et er nizado por Walt Disney com o per sonagem Zé Car ioca, que foi inspirado no Paulo da Por t ela ( FERNANDES, 2001) .

Paralelam ent e, a m ídia, de m odo geral, t am bém passou a se int er essar pelas agr em iações, com int uit o de com er cialização do espet áculo pr opor cionado nos dias de desfi le: “ para o advent ício ‘branco’, de ‘classe m édia’, os sinais m ais apar ent es de sua pr ópr ia infl uência est ão no luxo ost ent at ór io dos Desfi les, no t rat am ent o er udit o dos enr edos e, sobr et udo, nas concepções de cenografi a e fi gur inos” ( GOLDWAS-SER, 1975, p. 50- 51) . Na visão de Fer r eira ( 2004) , se, por um lado, a “ invasão” da classe m édia colocar ia em r isco a “ pur eza or iginal” das escolas de sam ba, por out r o, possibilit ou o r econhecim ent o e a valor ização dessa m anifest ação j unt o à sociedade com o um t odo, fazendo com que as escolas se consolidassem com o um a im por t ant e inst it uição cult ural e do car naval do país.

Autenticidade e Tradição Perdidas?

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aut ênt ica para um a or ganização descolada de sua or igem e t radição, em função da m er cant ilização do car naval e da “ invasão” da classe m édia, com o obser va Cavalcant i ( 2008) . No ent ant o, est a aut ora dest aca que essa é um a visão lim it ada, j á que enfat iza a dim ensão fest iva e com unit ária do desfi le em det rim ent o de um a análise m ais profunda sobre o carát er espet acular e com ercial que faz part e dessa hist ória. A visão rom ânt ica e nost álgica da cult ura popular acaba por cr iar um dilem a que coloca, de um lado, a cult ura do povo com o pura e or iginal e, de out r o, o sent im ent o de const ant e am eaça de degradação da t radição, violent ada pela m oder nidade e expansão do capit alism o. Esses ar gum ent os, cont inua a aut ora, são m et odologicam ent e insust ent áveis, j á que o acesso a um a supost a t radição pura é prat icam ent e im possível, além dos pr ópr ios const r uct os “ pur eza” e “ aut ent icidade” com por t ar em pr oblem as.

Na hist ór ia, podem os ver ifi car casos de par t icipação da elit e em m anifest ações popular es na Eur opa, nos séculos XVI a XVI I I . Na I dade Moder na eur opeia, fest as popular es e par t icipat ivas cederam lugar para espet áculos com er cializáveis. No Brasil, em fi ns do século XI X, gr upos da elit e, t am bém , fr equent avam fest as com o Bum ba-- Meuba-- Boi e o Car naval ( CAVALCANTI , 2008) ; além de int egrant es dessa classe conviba-- convi-ver em de per t o com os sam bist as, int eragindo dir et am ent e com eles, num a t radição j á consagrada no país de cont at os e r elações ent r e int elect uais e m úsicos da cam ada popular, que obj et ivava a cr iação da ident idade da cult ura popular brasileira, a par t ir de um a ação de car át er polít ico infl uenciada pelo sent im ent o de nacionalism o da dé-cada de 1930 ( FERNANDES, 2001; VI ANNA, 2004) .

Em seu t rabalho, Fer r eira ( 2004) m ost ra que, no fi nal dos anos de 1920, o gover no m unicipal do Rio de Janeir o j á assum ia um a post ura ger encial em r elação ao car naval. Na m edida em que os acont ecim ent os vinculados aos fest ej os car na-valescos passaram a ser vist os com o um a opor t unidade de negócio, a at ração de t ur ist as est rangeir os e a pr oj eção do car naval car ioca com o um a fest a de alcance int er nacional se t or naram um dos pr incipais obj et ivos naquele per íodo. A par t ir de ar t igos publicados em j or nais, no fi nal da década de 1920 e início da década seguint e, o aut or dem onst ra a im por t ância que o car naval car ioca est ava conquist ando, bem com o as est rat égias do gover no m unicipal para consolidá- lo com o um grande event o int er nacionalm ent e conhecido. Dent r e as not ícias da época, se r elat ava a chegada de t ur ist as est adunidenses em navios luxuosos, a pr esença de ingleses na sem ana que ant ecedia o car naval, além de t ur ist as ar gent inos, chilenos e ur uguaios. Com o “ est rat égia de m ar ket ing”, a pr efeit ura passou a fi nanciar a pr odução de vídeos dos ranchos e grandes clubes para pr opaganda e divulgação no ext er ior, com obj et ivo de at rair a elit e da Eur opa e dos Est ados Unidos. Acor dos com em pr esas or ganizadoras de excursões, lançam ent o de propagandas e anúncios na im prensa dos Est ados Unidos foram , t am bém , usados com o for m a de at rair divisas. No j or nal O Cr uzeir o, de 20 de j aneir o 1932, foi publicado um t ext o que r essalt ava “ O Car naval é um a m ina de our o ( ...) É fácil conver t ê- lo em libras e dólar es” ( FERREI RA, 2004, p. 324) .

A problem át ica, com o ressalt a Clifford ( 2008) , não seria, port ant o, a possibilidade de desapar ecim ent o de cost um es e valor es, m as a ideia, m esm o que im plicit am ent e pr esent e, de que coisas t ão essenciais e hist or icam ent e const r uídas possam se per-der de m aneira r ápida. Para o aut or, assum e- se que o im por t ant e é seu passado e não o seu pr esent e ou fut ur o. Essa lógica de r esgat e de t radições nos conduz a um a int r igant e r egr essão: “ em cada m om ent o que se encont ra um escr it or olhando para t r ás, para um lugar m ais feliz, para um m om ent o ‘or gânico’ per dido, encont ra- se um out r o escr it or, daquele per íodo ant er ior, lam ent ando um pr évio e sim ilar desapar eci-m ent o. O r efer ent e últ ieci-m o é, clar o, o Éden” ( CLI FFORD, 2008, p. 79) . Esse eci-m eseci-m o aut or, baseado no t rabalho de Raym ond William s ( 1973) , ar gum ent a que t al posição encar na um a nost algia cr ít ica, ou sej a, um a for m a de pr oduzir r om pim ent os com um pr esent e hegem ônico e cor r upt o, que assum iu o lugar de um passado r om ânt ico e aut ênt ico. Assim , há um a t ent at iva de cr iar r upt uras por m eio da afi r m ação de um a r ealidade alt er nat iva radical, um a vez que as ent idades sofr er iam de um const ant e pr ogr esso que, for çosam ent e, levar ia a per da das t radições.

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r elação est abelecida com a classe m édia dem onst ra- se r educionist a. Essa suposição car r ega consigo a pr em issa de que a cult ura da elit e consegue dom inar, se sobr epor e im por sua or dem cult ural ao m ais “ fraco”, de m odo que est e últ im o, de m aneira pas-siva, aceit e t al r elação. Essa noção é cont est ada por De Cer t eau ( 1994) que apont a o em pr ego das pr át icas dos “ fracos” que, em bora silenciadas, sut is e não pr ivilegiadas, não deixam de exer cer papéis im por t ant es na const it uição da vida social por m eio da ocasião, do im pr oviso, da invent ividade e da cr iat ividade. Em r elação à cult ura dom inant e, esse aut or afi r m a ainda que:

Por [ m ais] espet acular que sej a, o seu pr ivilégio cor r e o r isco de ser apenas apar ent e, caso sir va apenas de quadr o para as pr át icas t eim osas, ast uciosas, cot idianas que o ut ilizam . Aquilo que se cham a “ vulgar ização” ou “ degradação” de um a cult ura ser ia ent ão um aspect o, car icat urado e par cial, da r evanche que as t át icas ut ilizadoras t om am do poder dom inador da pr odução ( DE CERTEAU, 1994, p. 95) .

Nesse sent ido, um a for m a m ais apr opr iada ser ia ent ender que as cult uras são het er ogêneas, ou sej a, m ar cadas por aspect os pr ópr ios, bem com o por elem ent os de infl uência de out ras cult uras ( CUCHE, 2002) . A dicot om ia t radição/ m oder nidade difi cult a o ent endim ent o da com plexidade que envolve essa quest ão. A t radição não im plica, necessar iam ent e, em um a r ecusa às t ransfor m ações, assim com o o m oder no não r edunda num a im placável dest r uição das t radições ( CATENACCI , 2001) . Ao con-t r ár io disso, essas duas dim ensões dever iam ser encon-t endidas com o com plem encon-t ar es e não excludent es, com o par t e de um pr ocesso dinâm ico e não com o algo est át ico. Fer nandes ( 2001) ar gum ent a que:

A t ransfor m ação do sam ba e das escolas de sam ba em r epr esent ação nacional foi um pr ocesso m uit o m ais com plexo do que em geral se pensa, por que não dependeu apenas de sua escolha e incent ivo pelas cam adas polít icas e int elect uais, nem se r esum iu ao lugar- com um de inst r um ent o de m anipulação polít ica das classes popula-r es. Baseam o- nos não só naquilo que t eópopula-r ica e em pipopula-r icam ent e dem onst popula-ra a popula-r elat iva aut onom ia das classes subalt er nas para r eelaborar em os valor es que vêm de cim a, m as igualm ent e por que o espaço fest ivo não pode ser r esult ado de um a sim ples con-cessão ou da indifer ença, pois invar iavelm ent e é obj et o de disput a ent r e os dist int os gr upos sociais que pr ecisam est abelecer est rat égias e m anej ar com pet ências que lhes per m it am ganhar a at enção pública, at ender r ealm ent e a sua dem anda fest iva, inst aurando assim um clim a de fest a. E nesse sent ido as decisões sobr e o que e o com o deve ser celebrado são sem pr e r esult ados de elaborações de seus suj eit os ce-lebrant es, que negociam ent r e si e com a com unidade cece-lebrant e as diver sas opções exist ent es. ( FERNANDES, 2001, p. 146) .

O carnaval, j á no início do século XX, se confi gurava com o um rent ável negócio e as aut oridades não só t inham consciência disso, com o buscavam est im ular est e pot en-cial, algo não m uit o diferent e do que acont ece nos dias at uais. A concepção m ercant il do carnaval não seria, port ant o, algo recent e. Diferent e disso, aspect os com erciais e a at ração de t urist as fi zeram part e da gênese e consolidação do carnaval t ipicam ent e bra-sileiro, no que diz respeit o às m anifest ações que acabaram conduzindo ao aparecim ent o dos grandes desfi les das escolas de sam ba. As escolas de sam ba no Rio de Janeiro, port ant o, surgem em m eio a um am bient e que j á apresent ava um carát er com ercial e que buscava visibilidade int ernacional das diversas form as de organização fest ivas exist ent es na época. Ao longo dos anos, o foco do com ércio apenas alt erou, se direcio-nando para a nova font e de renda e at ração t uríst ica: o desfi le das escolas de sam ba.

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Quem pr oduz a fest a de Car naval, a faz, ant es de t udo, para si m esm o e não para os out r os. Um a escola de sam ba r epr esent a um bair r o, seus m orador es e com ponent es. A sua glór ia na avenida, m esm o que efêm era, decor r e ( ...) de um envolvim ent o efe-t ivo e afeefe-t ivo de quem faz aconefe-t ecer o desfi le e o pr oduz. Todos ganham ou per dem o Car naval, não apenas a dir et or ia ou o car navalesco. Todos são pr ot agonist as e pr o-dut or es e consum idor es dessa fest a e, enquant o t ais, são r esponsáveis pelo r esult ado alcançado. ( BLASS, 2007, p. 133) .

Na visão de Blass ( 2008) , a expr essão m áxim a da m oder nização da pr odução do desfi le das escolas de sam ba, t alvez, sej a a const r ução da Cidade do Sam ba no Rio de Janeir o. No ent ant o, ao cont r ár io do que possa par ecer, isso não alt era a for m a com o o desfi le é pr oduzido, ou sej a, não há per da ou diluição da ar t e, “ t radição” ou “ aut ent icidade” dessa pr odução, j á que a or ganização dos pr ocessos de t rabalho não se alt era de m aneira fundam ent al. Para a aut ora, um paradoxo m ar ca a exist ência at ual das escolas de sam ba: m esm o com a im plant ação de soluções de gest ão e or ganização em pr esar ial m oder nas, não há a invalidação ou dest r uição de um a “ t ra-dição” car navalesca que per pet ua há décadas na nossa sociedade ( BLASS, 2008) . A pr odução do desfi le pr opicia, em um dado grau, a r ecr iação de for m as t radicionais de or ganização baseadas no t rabalho ar t esanal, r em et endo às cor porações de ofício, ao m esm o t em po em que em pr ega m ecanism os m oder nos de gest ão da pr odução, com o ent rada do m at er ial no t em po cer t o, dist r ibuição das t ar efas por equipes, uso de novas t ecnologias de com unicação e infor m ação, cent ralização com binada com descent ralização de decisões ( BLASS, 2007) .

Esse paradoxo foi r et rat ado por Goldwasser ( 1975) em um a pesquisa r ealizada na Escola de Sam ba Est ação Pr im eira de Mangueira. A aut ora obser vou um a est r u-t ura de funcionam enu-t o na qual a fl exibilidade coexisu-t e com a bur ocracia. As decisões – m uit o r elacionadas com a capacidade de im pr ovisação do sam bist a – podem ser alt eradas e os prazos dilat ados, dem onst rando um car át er fl exível. Por out r o lado, a burocracia se m anifest a na divisão do t rabalho, especialização das t arefas e aut oridade de decisão. Em adição, a Escola ainda convivia com um excessivo núm er o de car gos nas difer ent es alas com o, pr esident e, vice- pr esident e, secr et ár ios, t esour eir os, fi scais et c., além de ofícios que for m alizavam a com unicação com inst âncias super ior es na escola. Nesse sent ido, a Mangueira se caract er izar ia com o um bur ocrat ism o ad hoc ( GOLDWASSER, 1975) . Em seu t rabalho r ealizado no bar racão do Gr êm io Recr eat ivo Escola de Sam ba I m perat r iz Leopoldinense, Ver gara, Moraes e Palm eira ( 1997) iden-t ifi caram um a espécie de or ganização vir iden-t ual e fl exível ou hologr áfi ca, em que o iden-t odo do bar racão é r epr esent ado nas par t es. No que concer ne às r elações de t rabalho, os aut or es ident ifi caram caract er íst icas volt adas ao aspect o r elacional, quais sej am , a sim pat ia, o par ent esco e o j eit inho.

Em últim a instância, podem os dizer que a vitalidade das agrem iações carnavalescas se deve, principalm ente, por serem estas um a form a de organização cuj a raiz do interesse despert ado nos seus m em bros ocorre de dent ro para fora, de m aneira espont ânea, a despeit o de qualquer m odelo ext erno, livros de polít ica, sociologia ( DA MATTA, 1997) ou adm inist ração, visando algum fi m inst rum ent al, dent ro de um a lógica de cust o/ benefício t ão cara ao m undo das organizações privadas. Menos ainda são provenient es dos Est a-dos Unia-dos ou de algum país da Europa por t erem sido um exem plo organizacional bem sucedido de associação social. Mas. ao cont rário disso, esse form at o refl et e diret am ent e a realidade brasileira e faz part e da nossa hist ória social e cult ural ( DA MATTA, 1997) . A aut ent icidade de um a escola de sam ba, port ant o, est aria ligada m uit o m ais ao seu hist órico de form ação, enquant o um a organização que em erge dent ro de um cont ext o social part icular com suas nuanças. Talvez, aqui resida o seu carát er m ais peculiar.

Organizações sem Fronteiras: escolas

de samba e práticas organizativas

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ent idade cuj as fr ont eiras não podem ser claram ent e defi nidas. Muit os são os at or es e int eresses envolvidos. Part e dos t rabalhos sobre escolas de sam ba assum e com o pont o de par t ida um a clara divisão ent r e t radição/ m oder nidade, elit e/ popular, com unidade/ classe m édia et c. A pr oblem át ica no uso de dicot om ias se dá pelo fat o delas det er m i-nar em , em pr incípio, as cat egor ias que explicar iam essa for m a de or ganização e sua pr odução do desfi le, ao invés de buscar com pr eender com o os diver sos int er esses são negociados na int eração ent r e os dois “ polos”. Além do m ais, a escola de sam ba é analisada, naqueles t er m os dicot ôm icos, com o um a ent idade com fr ont eiras claras que a separar ia de um “ m undo ext er ior ”, cuj as infl uências afet ar iam im placavelm ent e as pr át icas de or ganização das agr em iações car navalescas a par t ir de um a sim ples relação de causa e consequência. A própria cat egoria “ invasão” da classe m édia denot a a exist ência de algo de “ fora” que invade o que est á “ dent r o”, afet ando de m aneira unilat eral a dinâm ica social/ cult ural das escolas de sam ba.

Assum ir t ais cat egor ias não r eduz a im por t ância dos t rabalhos sobr e escolas de sam ba, dado que m uit os deles r ealizaram análises r icas e apr ofundadas sobr e aquilo que se pr opuseram a fazer e cont r ibuíram para r evelar um univer so par t icular m ent e brasileir o, com nuanças de nossa hist ór ia social, cult ural, econôm ica e polít ica. Po-r ém , difePo-r ent em ent e do enfoque dado na m aioPo-r paPo-r t e deles, pPo-r opom os m ovePo-r o foco da or ganização com o ent idade fi xa e claras divisões com o “ m undo ext er ior ” para as pr át icas or ganizat ivas5, sem est abelecer fr ont eiras r ígidas ent r e a or ganização e seu

“ am bient e” ( CZARNI AWSKA, 2009) . O enfoque dado às pr át icas est á alinhado com a m aior preocupação nos Est udos Organizacionais a respeit o daquilo que as pessoas fazem nas organizações enquant o realizam seu t rabalho, ou sej a, o processo de organizar vist o com o algo em const ant e est ado de ( re) const it uição6 ( ver LANZARA, 2009; LLEWELLYN;

SPENCE, 2009; MI ETTI NEN; SAMRA- FREDERI CKS; YANOW, 2009; GHERARDI , 2009) . Um a das caract er íst icas com um ent r e as t eor ias da pr át ica é, exat am ent e, superar as vár ias dicot om ias est abelecidas pelas t eor ias sociais m oder nas, com o suj eit o/ obj et o, m ent e/ corpo e agência/ est rut ura, deslocando a ênfase do agent e ou da est rut ura para as r elações ( SANDBERG; DALLL’ALBA, 2009) .

Consideram os, assim , que seria int eressant e um a análise organizacional a part ir da ideia de organizações sem front eiras. Dent ro dessa lógica, as organizações são t ra-t adas com o um aconra-t ecim enra-t o que envolve um pacora-t e de prára-t icas e arranj os m ara-t eriais ( SCHATZKI , 2006) . O espaço social, no qual se desdobra qualquer aspect o da vida, é com post o por um a m alha de prát icas hum anas e arranj os m at eriais que est ão pro-fundam ent e int erligados, represent ando o dom ínio do qual os fenôm enos fazem part e ( SCHATZKI , 2003; 2005) . As prát icas são const it uídas por um pacot e de at ividades organizadas ( SCHATZKI , 2005) , no qual os part icipant es operam em um a arena em que det erm inadas ações e fi ns são prescrit os ou aceit áveis em cert as ocasiões ( SCHATZKI , 2002) . Arranj os m at eriais são aqueles obj et os e pessoas que est ão present es nas prá-t icas sociais. Quando alguém age, isprá-t o é feiprá-t o a parprá-t ir de um arranj o que é consprá-t iprá-t uído, t am bém , por ent idades m at eriais. As prát icas est ão relacionadas um as com as out ras e percorrem os arranj os m at eriais int erconect ados ( SCHATZKI , 2003; 2005) .

Um a das t ar efas envolv idas na análise or ganizacional, a par t ir da ideia de or ganizações sem fr ont eiras, é delim it ar quais at ividades com põem um event o ou fenôm eno e t raçar a cadeia de ação dos elem ent os ( obj et os e pessoas) que cir culam e conect am as r edes de r elações que m ant êm ou t ransfor m am o fenôm eno social de int er esse ( SCHATZKI , 2003) . Podem os dizer que as or ganizações acont ecem , são r ealizações que ocor r em por m eio da per for m ance de diver sas ações e pr át icas que as const it uem e do desenvolvim ent o de event os desem penhados nos ar ranj os m at er iais que supor t am suas at ividades ( SCHATZKI , 2006) . Law ( 1992) salient a que a ent idade

5 Não pr et endem os ent r ar no m ér it o das diver sas abor dagens sobr e pr át icas, m as apenas indicar que

elas podem ser út eis par a a análise or ganizacional. Par a m aior es det alhes sobr e as per spect ivas de pr át icas, ver SCHATZKI ; KNORR- CETI NA; SAVI GNY, 2001; RECKWI TZ, 2002; GHERARDI , 2009.

6 Em bor a a noção de pr át icas nos EO t enha ganhado dest aque r ecent em ent e, o int er esse por esse

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or ganização é um pr ocesso, um conj unt o de r esist ências superadas. As or ganizações podem ser ent endidas, assim , com o realizações incom plet as em const ant e am eaça por vár ias for m as de int r usos ( BLOOMFI ELD; VURDUBAKI S, 1999) , j á que “ a or dem não ocor r e da m aneira com o foi pr evist a” ( MURNO, 2001, p. 398) . Por t ant o, a est abilidade da or ganização é sem pr e um a r ealização ( CZARNI AWSKA, 2009) , e alcançar o seu or denam ent o r equer m uit o esfor ço, j á que não há nenhum a for m a de or ganização a

pr ior i ( JONES; MCLEAN; QUATTRONE, 2004) . Em bora possam ser afet adas por

ex-per iências ant er ior es, as pr át icas or ganizat ivas pr ecisam ser r ealizadas novam ent e a cada dia ( CZARNI AWSKA, 2006) , ou sej a, organizar é um processo cont ínuo que nunca cessa ( BOUGEN; YOUNG, 2000; CZARNI AWSKA, 2004; JONES; MCLEAN; QUATTRONE, 2004; SPOELSTRA, 2005) . Esse processo, porém , não obedece, necessariam ent e, um a or dem fi xa de or ganização, nem pode ser assum ido com o um a dim ensão separada do “ am bient e ext er no” ( COOPER, 1986) .

A concepção binár ia ent r e or ganização e seu am bient e, na qual fr ont eiras a separar iam um a do out r o, na ver dade, r evela que o t rabalho r ealizado no pr ocesso de or ganizar ocor r e com o um a for m a de t ransfor m ar condições am bíguas em or denadas, pois o pr ocesso de or ganizar est á dir et am ent e r elacionado com a desor ganização, fazendo com que or ganização e desor ganização sej am int er dependent es e com ple-m ent ar es ( COOPER, 1986) . Uple-m a vez que or ganização e desor ganização coexist eple-m e est ão int im am ent e ligadas – o aum ent o de or ganização r eduz a desor ganização –, elas não são essencialm ent e dist int as, m as apenas se difer enciam em gradações ( NAYAK, 2008) . Assim , ao invés de pr essupor m os as or ganizações com o ent idades coer ent es que pr oduzem um a r ealidade claram ent e or denada e or ganizada, ser ia m ais pr odut ivos falar m os em r edes de r elações ( LAW, 1992; LATOUR, 2005) . Assim , par t indo da ideia de que os fenôm enos que analisam os são com ponent es do cam po da pr át ica ( SCHATZKI , 2001) , ser ia int er essant e pr ocurar ent ender as t ransfor m ações pelas quais as escolas de sam ba passaram , invest igando as int erações e r elações que se ( r e) const it uem no cot idiano dos at or es que com põem essas or ganizações ao invés de assum ir m os a exist ência de um a aceit ação passiva das im posições com er-ciais e m er cadológicas or iunda de um supost o m undo ext er ior ao das agr em iações car navalescas, do qual seus int egrant es não far iam par t e e não par t iciparam da sua const r ução. Com o obser vou De Cer t eau ( 1994) :

A pr esença e a cir culação de um a r epr esent ação ( ensinada com o código da pr om oção socioeconôm ica por pr egador es, por educador es ou por vulgar izador es) não indicam de m odo algum o que ela é para seus usuár ios. É ainda necessár io analisar a sua m anipulação pelos prat icant es que não a fabr icaram . ( DE CERTEAU, 1994, p. 40) .

Com o exem plo de divisão de fr ont eiras ent r e as escolas de sam ba e seu “ m un-do ext er ior ”, t em os o t rabalho de Rober t o DaMat t a ( 1997) . Apesar de apont ar essas agr em iações com o um a for m a or ganizacional inclusiva e quest ionar a ideia difundida de “ invasão” da classe m édia, para o aut or a est r ut ura de um a escola de sam ba t em um car át er dicot ôm ico, sendo sem elhant e a um com et a e obedecendo a um a dupla or dem or ganizat ór ia. Segundo ele, exist e um núcleo cent ral for m ado por pessoas com for t es laços sociais e de par ent esco e em t or no desse cent r o há um gr upo de pessoas que est abelecem um a r elação m ais fl exível e sem lealdade com a escola, r epr esent an-do a cauda an-do com et a. A cauda ser ia o espaço de inclusão daqueles indivíduos t ian-dos com o “ de fora” da escola. Em suas pr ópr ias palavras:

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Ao defi nir as duas or dens or ganizat ór ias, o aut or est abelece um a visão dicot ô-m ica a r espeit o da est r ut ura e for ô-m a de funcionaô-m ent o de uô-m a escola de saô-m ba, j á que ele lim it a os laços exist ent es dent r o de um a agr em iação a dois polos ant agôni-cos, um volt ado para o m undo int er ior ( fundador es) e out r o para o ext er ior ( sócios) . Esse ant agonism o ocult a a het er ogeneidade de r elações que se desdobram em um a escola de sam ba e exclui inúm eras out ras possibilidades de associação a agr em iação. O que exist em , na ver dade, são or dens sendo ( r e) const it uídas const ant em ent e com a cir culação de m últ iplos at or es. Não pr et endem os negar aqui a exist ência de fi guras m ar cant es que fazem par t e da hist ór ia das escolas de sam ba, m as m ost rar que o levant am ent o de fr ont eiras que separam essas or ganizações de um m undo ext er ior cor r upt o ( CLI FFORD, 2008) difi cult a, no plano analít ico, a com pr eensão de com o os m em bros das escolas de sam ba são, t am bém , at ores at ivos nessas relações e não m e-ros fant oches m anipulados por um grupo dom inant e que im põe seus valores e cult ura. Tom ar as escolas de sam ba com o or ganizações fl uidas e sem fr ont eiras r ígidas per m it e superar dicot om ias com o núcleo/ cauda, dent r o/ fora e quest ionar os pr es-supost os de que um a escola de sam ba t enha se t ransfor m ado em um a em pr esa em oposição a sua “ t radição”. Na década de 1970, Goldwasser ( 1975, p. 83) j á aler t ava que “ encarar a Escola com o m era ‘Em pr esa’ é t ão m eia ver dade quant o int er pr et ar o Desfi le sim plesm ent e com o ‘Pr odução’ com er cial”. Essa m eia ver dade par ece per-sist ir nos dias at uais, j á que, por um lado, um a escola de sam ba não é um a ent idade que opera exclusivam ent e em um a lógica em pr esar ial ( m oder nidade) , nem um a or ganização fechada em si m esm a e blindada de out ras pr át icas or ganizacionais não per t encent es ao m undo do sam ba ( t radição) . A t radição é r et rat ada, geralm ent e, na m aneira infor m al, sim ples e não pr ofi ssional de um gr upo de pessoas hist or icam ent e m ar ginalizadas que buscam em um a ent idade or ganizacional m anifest ar sua cult ura e cr iar um espaço de lazer salvaguar dado das elit es. A ideia de t radição par ece r efor çar e pr et ender a pr eser vação do que é de “ dent r o”, sem int er fer ência daquilo que vem de “ fora”. A m oder nidade pode ser t raduzida em elem ent os ext er nos incor porados em decor r ência da “ invasão” da classe m édia e sua lógica com er cial de t ransfor m ar t udo em m er cador ia a ser consum ida de m aneira fugaz, além de suas t écnicas de or gani-zação pr ovenient es das em pr esas pr ivadas e seu est ilo est ét ico r efi nado.

Cooper ( 1986) salient a que, de m odo geral, t em os a t endência de pensar de m aneira binár ia e polar izada, o que leva a est abelecer m os fr ont eiras que dem ar cam a separação ent r e a or ganização e seu am bient e. O car át er sem fr ont eiras de um a escola de sam ba cont r ibui para o est udo de out ras for m as de or ganização no sent ido de as ent ender m os m uit o m enos com o um a ent idade concr et a que exist e “ lá fora” e m uit o m ais com o a consequência da negociação de var iados int er esses que são colo-cados em pr át ica por m eio de r elações específi cas no cot idiano or ganizacional. Essas relações não cum prem , necessariam ent e, um a ordem organizat ória que segue padrões est áveis, m as est ão em const ant e t ensão e cont radição, podendo ocor r er em m eio à desor dem e confusão. Com o dest aca Schat zki ( 2005, p.479) , “ essa confusão t am bém im plica que as fr ont eiras ent r e um a or ganização e seu am bient e são fr equent em ent e indefi nidas”. E essa m anifest ação ocor r e por m eio das pr át icas or ganizat ivas que são, const ant em ent e, ( r e) const it uídas ao longo do t em po.

Considerações Finais

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en-t o para o enen-t endim enen-t o de ouen-t ras for m as or ganizacionais. Assim , apr esenen-t am os, de m aneira br eve, o per cur so do car naval no Brasil, desde a chegada dos colonizador es por t ugueses at é o apar ecim ent o das escolas de sam ba com seus desfi les, que r epr e-sent am , at ualm ent e, o pr incipal sím bolo do car naval brasileir o. A pr odução do desfi le de um a escola de sam ba r equer o envolvim ent o de um grande núm er o de pessoas e r ecur sos, que são r eunidos ao longo do ano para a pr eparação do car naval seguint e. As pr át icas or ganizat ivas para t al pr odução passam por um m odelo que possui algu-m as caract er íst icas das or ganizações ealgu-m pr esar iais algu-m oder nas, por ualgu-m lado, algu-m as que convivem com aspect os “ t radicionais” por out r o, cr iando um a especifi cidade t ípica dessas agr em iações.

As t ransform ações das escolas de sam ba t êm sido int erpret adas com o consequên-cia da m er cant ilização do car naval e daquilo que fi cou conhecido com o “ invasão” da classe m édia no m undo do sam ba. Est a invasão e o aspect o m er cant il ser iam r espon-sáveis pela per da da t radição e aut ent icidade das agr em iações. Tal posição, por ém , é pr oblem át ica, pois com o m ost ram os a com er cialização do car naval brasileir o j á se fazia pr esent e desde o início do século XX e a r elação dos sam bist as com a elit e é um fenôm eno de longa dat a. Com o m uit o bem r essalt ado por Fer r eira ( 2004) , aquilo que conhecem os hoj e por “ Car naval Brasileir o” – que envolve os desfi les das escolas de sam ba, em bora não se r eduza a eles – é o r esult ado de um a ar t iculação hist ór ica de difer ent es int er esses, de difer ent es cam adas da sociedade e de difer ent es at or es ( elit e, povo, escolas de sam ba, gover no, r ádios, gravadoras, t elevisão et c.) , que ao longo de anos est abeleceram um a sér ie de r elações e disput as de poder. São dife-r ent es int edife-r esses e at odife-r es cuj as dife-r elações m adife-r cam as escolas de sam ba com o aquilo que cham am os de or ganizações sem fr ont eiras, ou sej a, um t ipo de or ganização que não pode ser defi nida por aquilo que possui do lado de “ dent r o” e que é t ido com o essência em cont raposição ao que vem de fora, do am bient e ext er no, considerado com o est ranho, invasor.

Suger im os que ser ia im por t ant e invest igar as escolas de sam ba sem assum ir,

a pr ior i, as t radicionais dicot om ias que acabam por defi nir essa for m a or ganização

com o um a ent idade dot ada de fr ont eiras claram ent e defi nidas, cuj a r elação com o am bient e “ ext er no” se dar ia a par t ir da subm issão aos elem ent os pr ovenient es da cult ura dom inant e e das concepções ar t íst icas da elit e. Dessa for m a, ent endem os que per spect ivas volt adas para o cam po das pr át icas poder iam cont r ibuir para a análise desse for m at o or ganizacional, bem com o o conhecim ent o gerado em pesquisas r ea-lizadas em t ais agr em iações poder iam ser út eis para out ras for m as de or ganização. Com o discut ido no t rabalho, a par t ir do exem plo das escolas de sam ba, um pont o cent ral para a análise or ganizacional diz r espeit o ao car át er confuso das pr á-t icas or ganizaá-t ivas, possibiliá-t ando ená-t ender m os que as or ganizações convivem com a desor ganização. A desor ganização não excluir ia, no ent ant o, a or ganização; elas coexist em . A desor ganização pode ser, inclusive, um a for m a de or ganizar. Além do m ais, as fr ont eiras or ganizacionais não se m ost ram claram ent e defi nidas, dado que são at ravessadas por pr át icas e at or es diver sos. I sso nos aj uda a ent ender e est u-dar as or ganizações a par t ir da per spect iva das or ganizações sem fr ont eiras. Talvez, essa sej a a pr incipal cont r ibuição dest e t rabalho. Com eçar a analisar a r ealidade das or ganizações a par t ir das pr át icas ( des) or ganizat ivas pode aj udar a ár ea de Est udos Or ganizacionais a lidar m elhor com r ealidades que são desor denadas e confusas, em bora m uit o esfor ço sej a feit o para que elas se apr esent em com o ( ou par eçam ser ) or ganizadas e coer ent es.

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de or ganizar “ t radicionais” e “ m oder nas” dent r o de um m esm o espaço, bem com o de pr ofi ssionais cont rat ados e pessoas sem o dom ínio do conhecim ent o de adm inist ração são aspect os que poder iam ser invest igados, a fi m de ent ender m elhor quais são as pr át icas or ganizat ivas em pr egadas e com o elas são desenvolvidas.

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Referências

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