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Literatura e medicina: o território partilhado.

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Cad . Saúd e Púb lic a, Rio d e Jane iro , 16(1):245-248, jan-mar, 2000 O PIN IÃO O PINIO N

Lit erat ura e medicina: o t errit ório part ilhado

Lite rature and me d ic ine : the share d te rrito ry

1 Departam en to de Medicin a Preven tiva, Fu n d ação Facu ld ad e Fed eral d e Ciên cias M éd icas d e Porto Alegre. Ru a Sarm en to Leite 245, Porto Alegre, RS 90050-170, Brasil.

Moacyr Scliar 1

Abst ract Th e text De Pro fu n d is: Va lsa Len ta(De Profu n d is: Slow Waltz ), by Portu gu ese au th or José Card oso Pires, d escribin g th e ap h asia h e ex p erien ced after a strok e, w as u sed as a startin g p oin t t o st u d y t h e d ifferen t a p p roa ch es w rit ers a n d p h ysicia n h a ve rega rd in g t h e d isea se. Th e d ifferen ces in form an d con ten t of tex ts d escribin g th e d isease in literatu re an d m ed icin e fit in th e con flict betw een th e tw o cu ltu res, as d escribed by C.P. Sn ow, an d are typ ical of th e in creasin g sp ecializ ation . Th e ad d ition of literary texts in train in g p rogram s for d octors an d h ealth p rofes-sion als m ay h elp overcom e th is gap, m ak in g it easier to u n d erstan d th e d isease in its broad er d i-m en sion an d collaboratin g to ii-m p rove th e relation sh ip betw een p atien ts an d p rofession als.

Key words Literatu re; Med icin e; Med icin e in Literatu re; Med ical Ed u cation

Resumo Partin d o d o texto d o escritor p ortu gu ês José Card oso Pires, "De Profu n d is:Valsa Len ta", em qu e o au tor d escreve a afasia p ela qu al p assou em con seqü ên cia d e acid en te vascu lar cere-b ra l, sã o feit a s con sid era ções socere-b re o en foq u e d a d oen ça p or escrit ores e p or m éd icos. As d ife-ren ças ap on tad as, em term os d a form a e d o con teú d o d os textos qu e, n a literatu ra e n a m ed ici-n a, d escrevem a d oeici-n ça, eici-n qu ad ram -se ici-n o coici-n flito eici-n tre as d u as cu ltu ras, tal com o d escrito p or C. P. Sn ow , sen d o ca ra ct eríst ico d a crescen t e esp ecia liz a çã o. A in clu sã o d e t ex t os lit erá rios n o trein am en to d e m éd icos e d e p rofission ais d a saú d e p od e aju d ar a su p erar esse h iato, facilitan d o o en ten d im en to d a d oen ça em su a d im en são m ais am p la e con tribu in d o p ara u m m elh or rela-cion am en to p rofission al-p acien te.

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Nu m a co n ferên cia n a Un iversid a d e d e Ca m -b rid ge, em 1959, Ch a rles Peirce Sn ow la n ço u u m co n ceito q u e, n ã o sen d o d e to d o o rigin a l, teria , co n tu d o, va sta rep ercu ssã o. Tra ta -se d o

“con ceito das du as cu ltu ras”, qu e p ode ser assim su m arizad o: en tre a cu ltu ra cien tífica e a cu ltu -ra literária existe u m “abism o de m ú tu a in com -p reen são”: os cien tista s n ã o se in teressa m p or literatu ra, os literatos n ão en ten d em p rin cíp ios cien tífico s b á sico s co m o a segu n d a lei d a ter-m od in âter-m ica (Sn ow, 1982:5). O con feren cista ti-n h a credeti-n ciais p ara fazer tal observação; físico p or form ação, en sin ava em Cam bridge, m as era tam bém n ovelista e en saísta de certa rep utação. Nas qu atro d écad as qu e se p assaram a cres-cen te esp ecia liza çã o só fe z a u m en ta r o h ia to d escrito p or Sn ow – e as p reocu p ações em su -p erá-lo. O ob jetivo d o -p resen te artigo é exam in ar u m p articu lar caso in o relacioin am ein to iin -tercu ltu ral, q u al seja, a relação en tre m ed icin a e literatu ra. Trata-se d e u m a situ ação d iferen te d aq u ela exam in ad a p or Sn ow. Se con ceb em os a ciên cia com o u m a avaliação in variável e sem -p re -p red itiva d o u n iverso m aterial, a m ed icin a dificilm en te se en qu adrará n este con ceito. Mas, com o d izia Cab an is, a m ed icin a m od ern a b u s-ca, através d a ob servação cu id ad osa, d a classificação racion al e d o m étod o exp erim en tal, ad -q u irir u m a rela tiva , p rová vel e p rá tica certeza (Stau m , 1980). Ou seja: a m ed icin a se vê com o ciên cia. Fala a lin gu agem d a ciên cia e p ortan to se situ a n o âm b ito d a cu ltu ra cien tífica. De ou -tra p arte, a doen ça e a p rática m édica são tem as freqü en tes n a ob ra d e p oetas, rom an cistas, en -saistas. Textos clássicos o exem p lificam : A Mor-te de Ivan Illich ,d e Leon Tolstoi, fala d o p en oso con fron to com o térm in o d a existên cia e a p ro-b lem á tica rela çã o m éd ico -p a cien te n esta si-tu ação; A Mon tan h a Mágica,d e Th om as Man n , tem com o cen ário u m san atório d e tu b ercu lo-sos; O Alien ista,de Mach ado de Assis, é u m a sá-tira à p siquiatria autoritária do século dezen ove.

A a b o rd a gem q u e escrito res fa zem d a en -ferm idade é obviam en te diferen te daqu ela u sa-d a h a b itu a lm en te p ela m esa-d icin a . To m em o s o caso d aqu ele com u m texto m éd ico, a an am n e-se. O term o vem d o grego; sign ifica o con trário d a p erd a d e m em ó ria (a m n ésia ) o u seja , a re-cord ação. É o ato p elo qu al o p acien te rere-cord a, p a ra o m éd ico, a h istória d e seu p a d ecim en to ou d o agravo à su a saú d e. A p artir d aí se in icia o p rocesso d e d iagn óstico e tratam en to.

O registro d a en ferm id ad e n ão se restrin ge, obviam en te, à an am n ese. Pod e ser feito d e ou -tras m an eiras, in clu sive através d e u m texto li-terário, com o acon teceu com m u itos p oetas e escritores en ferm os. A com p aração en tre tal ti-p o d e texto e a an am n ese ilu stra as d iferen ças

en tre “as d u as cu ltu ras”, m as tam b ém evid en -cia a existên -cia d e u m território com u m , p arti-lh ad o, q u e p od e se revelar u m fértil cam p o d e exp eriên cia h u m an a e cien tífica.

Em 1995 o escritor p ortu gu ês José Card oso Pires teve u m a cid en te va scu la r cereb ra l. Fo i h o sp ita liza d o, e recu p ero u -se (u m segu n d o acid en te vascu lar cereb ral acarretaria su a m or-te, em 1998). Desse d u ro tra n se resu lto u u m cu rto, m as tran scen d en te texto (Card oso Pires, 1997), revela d o r d o s tem o res e d a a n sied a d e p ela s q u a is p a ssa u m p a cien te n esta situ a çã o lim ite. Texto este q u e con ta com d ois com p le-m en tos: u le-m p refácio, elab orad o p elo n eu rolo-gista q u e tra tou d e Ca rd oso Pires, o Prof. Joã o L. An tu n es, e u m p osfácio d o p róp rio escritor.

O a gra vo se m a n ifesto u d e fo rm a rela tiva -m en te sú b ita. Sen tad o à -m esa d o p eq u en o al-m oço, coal-m a esp osa e u al-m casal aal-m igo, José Car-d oso Pires Car-d eu -se con ta Car-d e q u e algo Car-d iferen te, e assu stad or, estava ocorren d o com ele: “Sin to-m e to-m al, n u n ca to-m e sen ti assito-m.” Voltou -se p ara a esp osa, e p ergu n tou -lh e com o se ch am ava.

“Pau sa. ‘Eu ? Edite.’Nova pau sa. ‘E tu ?’ ‘Parece qu e é Cardoso Pires’, respon di.”

Nestas d u as lin h as está exp ressa tod a o d ra-m a d e q u era-m atravessa a ira-m p recisa lin h a en tre sa ú d e e d o en ça . O escr ito r fa z à esp o sa u m a p ergu n ta in sólita, ab su rd a m esm o. Ela n ão resp on d e d e im ed iato. Há u m a resp au sa. Pau sa ten sa , co m o é fá cil d e im a gin a r. No s p o u co s se -gu n d os q u e p od e ter d u rad o tal p au sa, m u itas d ú vid a s d evem ter p a ssa d o p ela m en te d ela : estará ele b rin can d o ou estará p ertu rb ad o? Co-m o resp on d er à b rin cad eira, coCo-m o en fren tar a p ertu rb ação? Ela op ta p or resp on d er d e form a d ireta . Dep o is d a cu rta in terro ga çã o, q u e ex-p ressa a in d a a ex-p erex-p lexid a d e (“Eu ?”) d iz o seu n om e. E aí n ova p au sa, qu e corresp on d e ao d i-lem a : o q u e fa zer a go ra ? A p ergu n ta segu in te tem caráter in vestigativo: visa a d escob rir se h á u m a p ertu rb ação d a m em ória, e até qu e p on to vai tal p ertu rb ação. A resp osta con firm a a su s-p eita; s-p rim eiro, s-p orq u e d á s-p rossegu im en to ao d iálogo ab su rd o – o escritor p od eria ter d ito al-go com o “qu e h istória é essa d e p ergu n tar m eu n om e, tu sabes m eu n om e”; segu n d o, p o rq u e ele está claram en te in segu ro qu an to a algo qu e é fu n d am en tal p ara os seres h u m an os.

Há m a is, p orém . Dep ois d esta in trod u çã o, cu rta m as im p ortan te – o au tor coloca-a com o o cap ítu lo in icial – Card oso Pires vai além , e ex-p lo ra o d u ex-p lo sen tid o d e su a resex-p o sta . A fra se

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p ara José Card oso Pires, a verd ad eira – im p lica u m p ro cesso d e d esp erso n a liza çã o, d e p erd a d e id en tid ad e. Com o ob serva o p róp rio Card o-so Pires, n o texto, é estra n h o q u e n ã o ten h a u sa d o o p ren o m e, “o m ais sign ificativo en tre m arido e m u lh er e o ú n ico qu e n os era n atu ral”.

Fato om in oso. O n om e d e u m a p essoa tem u m tran scen den te sign ificado p sicológico e cu l-tural. Para os In uit do Can adá, o ser hum an o é o resu ltad o d e u m a associação en tre corp o, alm a e n om e – este tran sm itid o, n u m p rocesso an á-logo à rein carn ação, p or algum a outra p essoa ao recém -n a scid o, esta b elecen d o-se a ssim “u m a cadeia h om on ím ica qu e p rotege a criatu ra e lh e tran sm ite as cap acidades dos hom ôn im os”. Para os Sam o, d e Bu rkin a-Fasso, h á u m a con cep ção sem elh an te: a p essoa é com p osta d e su b stân -cias corp orais (carn e, san gue, esp erm a), de um a essên cia esp iritu al e de seu n om e. Qu e é u m in -d ica-d or -d e statu s: os escravos -d os rom an os n ão tin h a m d ireito a n o m e (Zo n a b en d , 1994). As-sim ,“...o n om e p róp rio in d ivid u aliza o su jeito, id en tifica-o e o p erson aliza. O con ju n to d e sig-n os qu e form a o sig-n om e próprio, além de servir de m arca form al design ativa do in divídu o para os ou tros, p ara a socied ad e, con stitu i-se com o u m referen cial ú n ico p ara o su jeito: ele o vive com o sen do ele m esm o.”(Martin s, 1991:43).

Nos d ias qu e se segu iram , várias vezes Card oso Pires foi ch am aCard o p elo n om e. Mas a sen -sa çã o d e estra n h eza p ersistia : “qu e n om e tão feio, con siderava eu”(p. 41). Com o d iagn óstico d e grave acid en te vascu lar cereb ral isq u êm ico é in tern a d o (co n tra a vo n ta d e: “era ain d a u m ú ltim o resto d e m im qu e p rotestava”, p. 28). Afásico, já n ão tem con trole sob re seu u n iverso vocab u lar: “era desvairada a n om en clatu ra qu e ele atribu ía aos objetos”(p. 33). Ma is q u e isto,

“...a d esm em ória n ão só o isolou d a realid ad e objetiva com o o destitu iu , pode dizerse, de sen -tim en tos.”(p. 38). E a p ergu n ta se im p õe, som -b ria: com o escrever, n esta situ ação? Ou , com o o p róp rio Card oso Pires a form u la: “O qu e rtaria d e m im n o h om em qu e ficou p ara ali es-ten dido à espera de coisa n en h u m a?”(p. 31).

De algu m a m an eira, n o en tan to, ele con ti-n ua escritor. Coti-n titi-n ua ficcioti-n ista. Se já ti-n ão pode colocar n o papel um a n arrativa, ele a vive, e n isto é, paradoxalm en te auxiliado pela própria desper-son alização qu e acom p an h a o qu ad ro. Para es-te ficcion ista, o ou tro Cardoso Pires, o doen es-te, é um a espécie de “doppelgän ger”. A experiên cia do “du p lo”, ou au toscop ia, é con h ecida desde Aris-tóteles. Pode ocorrer com p essoas n orm ais, m as é m ais com um en tre pacien tes deliran tes ou por-tadores de lesão cerebral. Fen ôm en os autoscópicos freqüen tem en te aparecem n a literatura, sem -p re an teci-p an do um a tragédia, com o o exem -p

li-LITERATURA E MEDICINA 247

ficam textos de Dostoievsky, Kafka, Mau p assan t e Poe (Reed, 1987). Particu larm en te in teressan -te, p orqu e, p elo h u m or, foge em p arte a esta re-gra, é o texto “Borges e eu”, de Jorge Lu is Borges:

“Ao ou tro, a Borges, é a qu em su ced em as coisas. Eu cam in h o p or Bu en os Aires e m e d e-m oro, já e-m ecan icae-m en te, a e-m irar o arco d e u e-m sagu ão e u m a p orta; d e Borges ten h o n otícias pelo correio e vejo seu n om e em u m trabalh o de p rofessores ou em u m d icion ário biográfico. Gosto dos relógios de areia, dos m ap as, da tip o-grafia do sécu lo XVIII, das etim ologias, do gosto d o café e d a p rosa d e Steven son ; o ou tro com -p arte estas -p referên cias, m as d e u m m od o vai-d oso qu e as con verte em atribu tos vai-d e u m ator. Seria exagerado dizer qu e n ossa relação é h ostil; eu vivo, eu m e d eixo viver p ara qu e Borges p osa tram ar su a literatu ra e esosa literatu ra m e ju s-tifica.”(Borges, 1960:69-70).

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(p. 68). Ou seja: o ficcion ista, qu e p od e ter sid o o o b ser va d o r d o Ou tro, a go ra é d isp en sa d o. Mesm o assim , o texto é rigorosam en te literário. O qu e o torn a ain da m ais im p ortan te. Com o ob serva o Prof. An tu n es n a in trod u ção (red igi-da sob form a de um a carta ao escritor): “Devo di-zer-lh e qu e é escassa a produ ção literária sobre a doen ça vascu lar cerebral. A razão é sim ples: é qu e ela seca a fon te d e on d e brota o p en sam en to ou pertu rba o rio por on de ela se escoa e assim é di-fícil explicar aos ou tros com o se dissolve a m em ó-ria, se su spen de a fala, se em bota a sen sibilidade, se con tém o gesto. E m u itas vezes a agressão, com o aqu ela qu e o assaltou , deixa cicatriz defin itva, qu e im pede o retorn o ao m u n do dos realm en te vivos. É por isso qu e seu testem u n h o é sin gu lar.”(p. 9). Sin gu larid ad e qu e fica m ais evid en te qu an -d o com p ara-d a à an am n ese m é-d ica. Esta n ão fi-gu ra n o livro, m a s texto s sem elh a n tes d iria m :

“Pacien te in tern ad o d e u rgên cia p or d istú rbio da palavra e da m em ória resu ltan te de provável acid en te vascu lar cerebral. Refere a esp osa qu e, p ela m an h ã, o p acien te su bitam en te p ergu n -tou -lh e com o se ch am ava. À ocasião, m ostrou d ú vid a sobre o seu p róp rio n om e...”A an am n e-se é u m texto com p reen sivelm en te ab reviad o, red igid o em lin gu agem técn ica, p ortan to n eu -tra, segu in d o u m roteiro p ré-estab elecid o cu jo o b jetivo b á sico é co n d u zir a u m d ia gn ó stico. Oca sio n a lm en te, a s p a la vra s d o p a cien te p o -d em ser tran scritas, m as isto acon tece q u an -d o sã o d em a sia d o ch a m a tiva s o u b iza rra s – e a í esta rã o a com p a n h a d a s d o vocá b u lo la tin o sic

(assim , assim m esm o). A red ação será correta, m as jam ais literária; n ão se trata d e u m a “ob ra a b e rta”, m a s sim d e u m p ro ce sso d e co m u n i-cação au to-exp licativo. O p acien te é q u e d eve fu n cion ar com o u m texto, con ceito qu e foi lan -ça d o p elo fa m o so clín ico Willia m Osler. Nu m

sem in al en saio p u b licad o n o in ício d este sécu-lo, Osler su geriu a o s p ro fesso res d e m ed icin a q u e afastassem os alu n os d os livros e os levas-sem ao leito d o en ferm o (Osler, 1904). Naqu ele m om en to, tal p osição era com p reen sível e n ecessária; tratavase d e evitar u m a p red om in ân -cia d a teoria sob re a p rá tica , u m a cu ltu ra m é-d ica livresca. Mas o p ên é-d u lo se in clin ou é-d em a-siad am en te n a d ireção op osta, con figu ran d o o hiato en tre culturas de que fala Sn ow. Por exem -p lo: ao form ato clássico d a an am n ese foi -p rop osta u m a m odificação, con h ecida com o rop ron -tu á rio o rien ta d o a p ro b lem a s ( Weed , 1968), qu e organ iza o relato m éd ico e os d ocu m en tos a ele an exos d e form a racion al m as in evitavel-m en te a cen tu a a d istâ n cia a d iferen ça en tre a an am n ese con ven cion al e textos com o o d e Jo-sé Cardoso Pires. A qu estão qu e se coloca é: co-m o su p era r ta l h ia to n a p rá tica d a co-m ed icin a e n o en sin o m éd ico? Nos ú ltim os an os vários au -tores (Brody, 1988; Klein m an , 1988; Coles, 1989) p ro p u sera m a in clu sã o d e texto s literá rio s n o cu rrícu lo m éd ico, d en tro d as ch am ad as h u m a-n id a d es m éd ica s, á rea q u e ia-n clu i h istó ria d a m ed icin a, ética m éd ica, an trop ologia e socio-logia m éd ica s, com u n ica çã o m éd ica . Ka th ryn M. Hu n ter, q u e co o rd en a esta á rea n a No rth western Un iversity Med ical Sch ool (USA), sin -tetiza as razões p ara a in trod u ção d os textos li-terá rio s n o cu rrícu lo m éd ico (Hu n ter, 1991), d em on stran d o qu e a gran d e literatu ra alarga o ca m p o d e visã o d o s p ro fissio n a is, situ a n d o a d oen ça n o con texto m a ior d a existên cia e d os va lores h u m a n os, revela n d o d e form a p rivile-giada – esclarecedora m as sem p re em ocion an te – os b astid ores d a d oen ça. Pod e assim colab o-rar p ara d im in u ir a d istân cia en tre as d u as cu l-tu ras, e tran sform á-las em u m a cu ll-tu ra só, qu e é a cu ltu ra d o ser h u m an o em su a totalid ad e.

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