rev bras ortop.2016;51(3):370–373
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
w w w . r b o . o r g . b r
Relato
de
caso
Variante
sólida
do
cisto
ósseo
aneurismático
na
extremidade
distal
do
rádio
em
uma
crianc¸a
夽
Adriano
Jander
Ferreira,
Sebastião
de
Almeida
Leitão,
Murilo
Antônio
Rocha,
Valdênia
das
Grac¸as
Nascimento
∗,
Giovanni
Bessa
Pereira
Lima
e
Antonio
Carlos
Oliveira
de
Meneses
UniversidadeFederaldoTriânguloMineiro,Uberaba,MG,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem5deabrilde2015 Aceitoem28demaiode2015 On-lineem9deoutubrode2015
Palavras-chave:
Cistosósseosaneurismáticos Neoplasiasósseas
Fraturasdorádio Crianc¸a
r
e
s
u
m
o
Avariantesólidadocistoósseoaneurismático(COA)éconsideradalesãorara,ocorrecom maiorfrequêncianospacientespediátricose nosossos datíbia,fêmur,pelveeúmero. Apresentamosocasodeumalesãolíticametafisárianaextremidadedistaldorádiode umacrianc¸aemque,aoexameradiográficofeitodevidoaumtraumadebaixaenergia,foi aventadaahipótesedefraturaemumossopatológicosecundáriaaumcistoósseo aneuris-mático.Apósabiópsia,acrianc¸afoisubmetidaaressecc¸ãointralesionalseminterposic¸ão deenxertoeoexamehistopatológicofoicondizentecomavariantesólidadocistoósseo aneurismático.
©2015SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Todososdireitosreservados.
Solid
variant
of
aneurysmal
bone
cist
on
the
distal
extremity
of
the
radius
in
a
child
Keywords:
Aneurysmalbonecysts Bonetumor
Radiusfractures Child
a
b
s
t
r
a
c
t
Thesolidvariantofaneurismalbonecysts(ABC)isconsideredrare.Itoccurswithgreater fre-quencyinpediatricpatientsandinthetibia,femur,pelvisandhumerus.Wepresentacaseof ametaphyseallyticlesiononthedistalextremityoftheradiusinachildwhoseradiograph wasrequestedafterlow-energy trauma.Thehypothesisofapathologicalbonefracture secondarytoananeurysmalbonecystwassuggested.Afterbiopsy,thechildunderwent intralesionalexcisionwithoutbonegraftingandthehistopathologicalfindingswere com-patiblewiththesolidvariantofaneurysmalbonecyst.
©2015SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.Allrightsreserved.
夽
TrabalhodesenvolvidonoServic¸odeOrtopediaeTraumatologia,HospitaldeClínicas,UniversidadeFederaldoTriânguloMineiro, Uberaba,MG,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:vallfmtm@yahoo.com.br(V.G.Nascimento).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2015.05.005
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Introduc¸ão
Ocisto ósseoaneurismático (COA)é umalesão expansiva, pseudotumoraldeetiologiadesconhecida,geralmente encon-tradanatíbia, fêmur,pelve eúmero.1 A variantesólida do
COAfoidescritaem1983porSanerkinetal.2 devidoà
pre-dominância histológica de material sólido do cisto ósseo aneurismático.Éconsideradalesãorara,ocorrendoentre3,4 e7,5%detodososcistosósseosaneurismáticos,sendomais comumnospacientespediátricos.3Adoréosintomamais
fre-quente,acompanhadaporedemadiscretoquepodeanteceder odiagnósticodefinitivoematé12meses.3Asimagens
radi-ográficasetomográficasrevelamlesãoosteolíticaexpansiva quesetornaindistinguíveldoCOA.4
Avariante sólidado cistoósseo aneurismáticoé carac-terizada por proliferac¸ão fibroblástica sem qualquer pleo-morfismocelularounuclear,áreasricasdecélulasgigantes semelhantesaosteoclastos,sinusoidesaneurismáticos, oste-oclastos diferenciados com produc¸ão de osteoide e focos ocasionaisdetecidofibromixoidecalcificantedegenerado.2
Os diagnósticos diferenciais incluem o cisto ósseo sim-ples,granulomareparativodecélulasgigantes,tumormarrom dohiperparatireoidismo,tumordecélulasgigantes,tumores primáriosmalignos,comocondrossarcoma,osteossarcomae sarcomadeEwing.5
Nesterelato apresentamosocaso deumapaciente por-tadora da variante sólida do cisto ósseo aneurismático diagnosticadaapós fratura da extremidade distaldo rádio secundáriaatraumadebaixaenergia.
Caso
clínico
Pacientededoisanosdeidade,dosexofemininolevadaao prontoatendimentocom históriadedoraoníveldopunho haviadoisdias,apósquedaaosolo,segundoinformac¸õesdos familiares.Paisnegavamhistóriadefebre.
Ao exame físico apresentava dor à palpac¸ão da extre-midadedistaldorádio direito, edema,limitac¸ão álgicaaos movimentospassivosderotac¸ãoeflexo-extensãodopunho, ausênciadebloqueioarticularedesinaisflogísticos.
Foramfeitasradiografiassimplesnasincidências antero-posterioreperfil(fig.1a-b)nasquaisfoivisualizadalesãolítica metafisária,querespeitavaoslimitesdafisedistaldorádio, predominantemente homogênea, adelgac¸ando as corticais, associadaàdescontinuidadecorticaldorsalevolarda extre-midadedistaldorádio.Apósaavaliac¸ãoinicial,foisolicitadaa tomografiacomputadorizada(fig.2a-e)quedemonstroucom melhorclarezaascaracterísticasdalesão.Acintilografiaóssea evidenciouumalesãomonostóticacomhipercaptac¸ãofocal dofármaco.Apósosexamesdeestadiamento,foiaventadaa hipótesedefraturadaextremidadedistaldorádioemumosso patológico,provavelmentetendocomolesãoprimáriaoCOA e,comodiagnósticosdiferenciais,ocistoósseounicamerale oosteossarcomatelangectásico.
Acrianc¸afoisubmetidaàbiópsiadalesão,cujoresultado apresentadofoiausênciadeneoplasia,porémsemdefinic¸ão diagnóstica.Optamospelotratamentocirúrgicopormeioda ressecc¸ãointralesional(curetagem),associada àadjuvância
Figura1–Radiografiasnasincidênciasanteroposterior(a) eperfil(b)quedemonstramalesãolíticametafisária daextremidadedistaldorádio.
comeletrocautério,seminterposic¸ãodeenxertoósseoe/ou cimento ortopédico. O material coletado foi enviado para o examehistopatológico e,após o fechamentoda ferida,a crianc¸afoiimobilizadacomtalagessadaantebraquiopalmar quepermaneceuporseissemanas.
O exame de histopatologia demonstrou a presenc¸a de célulasgigantesmultinucleadasdispersas,entremeadasa tra-béculasdeossoimaturoempartecomcalcificac¸ão,ausência denecrose,defigurasdemitoseedeespac¸osaneurismáticos; não houve evidência histopatológica de cisto ósseo sim-ples. O aspectohistopatológico ésuspeito para cistoósseo aneurismáticosólido,apesardafaltadeespac¸osvasculares aneurismáticos, conforme as imagens das lâminas abaixo (fig.3a-h).
Apósoitosemanasnovasradiografiasforamfeitas(fig.4 a--b)enoquartomêsdepós-operatórioasimagensradiográficas demonstravamesclerosemarginalreacional,distanciamento dalesãoinicialdafisedistaldorádioeespessamentodas corti-cais,alterac¸õesessascondizentescomlesãoinativa(fig.5a-b).
Discussão
Avariantesólidadocistoósseoaneurismáticoeogranuloma reparativodecélulasgigantesforamprimariamentedescritos nosossoscraniofaciaisepequenosossostubulares damão edopé.2Sãoconsideradaslesõesreativasenãoneoplásicas,
emborapossamlevaraoerrodiagnósticodetumordecélulas gigantes,tumormarromdohiperparatireoidismoe osteossar-coma,normalmentefibroblástico,ouvariantedebaixograu.6
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rev bras ortop.2016;51(3):370–373Figura2–Tomografiacomputadorizadaquedemonstranoscortesaxiais(aeb)alesãolíticaexpansivaeafratura associada;nocortecoronal(c)aextensãometafisáriadalesão.Noscortesaxiais(dee)comjanelaparapartesmoles nota-seatenuac¸ãodaspartesmolesdentrodalesãointraósseaquepoderepresentarcomponentesólidoouconteúdo líquidoespesso.
de baixa energia, o que nos levou à hipótese diagnóstica decontusãononíveldopunhoouatéumapossívelfratura (subperiostealouemtorus)da extremidadedistaldorádio, subtipos frequentemente encontrados nessa faixa etária.
A observac¸ão radiográfica de lesão expansiva metafisária com adelgac¸amentodas corticaisda extremidadedistaldo rádio que respeitava a fise de crescimento e ausência de reac¸ão periosteal sugeria fratura em um osso patológico,
Figura3–Imagensdahistopatologia:tecidoconjuntivofibrosodensomoderadamentehipercelularcontendocélulas gigantesmultinucleadasdispersas,comsanguerecentementeextravasadoeentremeadoatrabéculasdeossoimaturodo tipoentrelac¸ado(woven)empartecomcalcificac¸ão,emparte,semcalcificac¸ão(a-b).Emvoltadastrabéculasósseas
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Figura4–Radiografiasnasincidênciasanteroposterior(a) eperfil(b)apósseissemanasdepós-operatórioque demonstramaconsolidac¸ãodafratura.
Figura5–Radiografiasnasincidênciasanteroposterior(a) eperfil(b)apósquatromesesdepós-operatórioque demonstramlesãoinativanaextremidadedistaldorádio.
provavelmentetendocomocistoósseoaneurismáticoalesão primária.Emboranãoespecífico,adetecc¸ãodenívellíquido pelatomografiacomputadorizadae/ou ressonâncianuclear magnéticasugereodiagnósticodeCOA.7Apresenc¸ade
mate-rial sólido no interior da lesão intraóssea foi identificada pelosautoresapósavisualizac¸ãodasimagenstomográficas com janela para partes moles, porém a confirmac¸ão diag-nósticadavariantesólida docistoósseoaneurismáticofoi realizadasomentepeloexamehistopatológicocujolaudodo patologistafoidiscriminadocomo“aspectohistopatológicoé
suspeitoparacistoósseoaneurismáticosólido,apesardafalta deespac¸osvascularesaneurismáticos.Oossoesponjoso ima-turocommeduladetecidomixoideésuspeitoparacalode fraturaóssea”.
Relatosrecentesdaocorrênciadavariantesólidadocisto ósseoaneurismáticoincluemadoossohamatopor Mavroge-nisetal.,8adacolunacervicalporKarampalisetal.3eada
tíbiaporTakechietal.9Pornãohaverrelatossuficientesna
literaturasobreodiagnósticodavariantesólidadoCOAna extremidadedistaldorádio,emumacrianc¸a,consideramos relevanteapublicac¸ãodestecaso.
OtratamentopreconizadoparaoCOAincluiacuretagem associada à enxertiaóssea.Devido aofato de essas lesões apresentaremaltarecorrênciaquandotratadassomentecom acuretagemsimples,muitoscirurgiõesutilizama adjuvân-cia com fenol ou etanol. No presente caso, considerando a hipótese inicial de cisto ósseo aneurismático, e devido à proximidade da fise distal do rádio, optamos somente pela curetagem intralesional associada à adjuvância com eletrocautério, seminterposic¸ãode enxerto, com satisfató-ria evoluc¸ão, como demonstramas imagens atuais com a formac¸ãodeesclerosemarginal,distanciamentodalesãoda fisedistaldorádioeespessamentodascorticais,condizentes cominatividadedalesão.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
r
e
f
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r
ê
n
c
i
a
s
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